domingo, 3 de janeiro de 2021

Crítica ao filme "Wonder Woman 1984", protagonizado por Gal Gadot

 

Wonder Woman 1984 (Mulher Maravilha, em português) tem sido um dos filmes mais esperados de 2020, mas a sua estreia tinha sido adiada, devido à pandemia. Finalmente, o filme que faz parte do universo da DC chegou aos cinemas portugueses e também já está disponível na plataforma da HBO Max. Depois do sucesso alcançado em 2017, Wonder Woman da Warner Bros. Pictures está de volta desta vez nos anos 80 com a duração de cerca de 151 minutos, sendo protagonizada por Gal Gadot que também tem o papel de produtora e com a realização de Patty Jenkins que não só tem a função de produtora, mas também de argumentista, juntamente com Geoff Johns e Dave Callaham e para além disso, Hans Zimmer é o responsável da banda sonora.

Em 1984, Diana Price (Gal Gadot) tem de impedir dois inimigos que podem pôr em risco o bem-estar da humanidade, ao mesmo tempo que reencontra alguém que julgava ter perdido há muito tempo.  

Para além de Gal Gadot (Diana Price), o elenco também é constituído por Pedro Pascal (Maxwell Lord), Chris Pine (Steve Trevor), Kristen Wiig (Barbara Minerva), Robin Wright (Antiope), Connie Nielden (Hipolita), Lily Aspell (Diana mais nova), Amr Waked (Emir Said Bin Abydos), Natasha Rothwell (Carol), Ravi Patel (Babajide), Oliver Cotton (Simon Stagg), Lucian Perez (Alistair), Gabriella Wilde (Raquel), Kelvin Yu (Jake), Stuart Milligan (POTUS), Shane Attwooll, David Al-Fahmi (Sr. Khalaji), Wai Wong (Lai Zhong), entre outros.

Com um pouco de mitologia pelo meio, a história desenrola-se em 1984 à volta de uma relíquia que acredita-se que é muito poderosa, pois consegue concretizar os mais diversos desejos, sejam eles quais forem, mas estes não se realizam sem que aconteçam determinadas consequências. Quantos mais desejos forem realizados, mais a humanidade estará num perigo iminente, mas será que Wonder Woman vai conseguir impedir os planos de um dos antagonistas?

Temos a oportunidade de acompanhar as aventuras de Diana Price nos anos 80, mas desta vez na cidade de Washington, onde ela trabalha no Museu Smithsonian como antropóloga especialista em mitologia, sendo que mais ninguém tem conhecimento específico sobre determinadas culturas como ela, em que também é considerada como um tipo de Deusa guerreira na sua terra que é a ilha de Themyscira que acaba por ter a sua própria mitologia.  

Diana é definida por ser uma pessoa confiante, inteligente, amorosa, paciente, otimista e reservada, sendo que tenta levar uma vida simples, sem exuberâncias, nem muitas convivências e sem querer dar nas vistas. Ela prefere salvar as pessoas em perigo, mesmo que seja de um modo anónimo, sem precisar de ser mencionada como uma guerreira e por isso, ela tenta esconder os seus atos para que não seja descoberta a sua identidade, através da destruição de câmaras de vigilância ou pedindo segredo às pessoas que salvou.

Ao longo do filme vai sendo mostrado como é a vida quotidiana de Diana neste mundo mais moderno e a forma como se vai adaptando, sendo que também é empolgante vê-la nas cenas de ação ou com armaduras mais vistosas. Para além disso, também acabamos por ver mais Diana e a sua vulnerabilidade perante determinadas situações do que como a Wonder Woman e a fé que ela tem na humanidade por mais mentira, ganância, maldade, egoísmo e manipulação que possa existir no mundo, sendo que a história foca-se muito mais no lado humano da personagem, mostrando uma boa representação da mesma.

O público conecta-se com este lado mais vulnerável de Diana e torce para que ela consiga ultrapassar todas as adversidades que lhe possam surgir e a dor que tem sentido nos últimos anos por ter perdido o amor da sua vida. É interessante ver como Diana lida com uma possibilidade bem improvável de reencontrar o seu grande amor por quem ainda não tinha ultrapassado a sua perda.

Para Diana, a verdade deve ser sempre contada e tem muito mais força do que a pessoa julga, sendo que é fundamental para se tornar num verdadeiro herói e ela sabe disso, fazendo com que ocorra um crescimento na maneira de pensar de Diana, em que ela tem de enfrentar os seus próprios dilemas para que possa evoluir como super-heroína.

A sua relação com Steve Trevor é explorada, mantendo-se a química partilhada entre ambos, mas sem exageros, sendo que a personagem tem uma razão específica para estar presente de novo na vida de Diana.

Steve Trevor aprende com Diana, o modo como funciona a época onde veio parar e todas as suas modernidades, seja através da roupa, do metro ou mesmo da evolução dos aviões, sendo que existem momentos de humor que são maioritariamente protagonizados por ele. Ele é um bom aliado de Diana e ajuda-a no que for preciso, mesmo que tenha de colocar-se em risco e por isso, Steve está bem relacionado com a temática do filme.

Uma das minhas cenas favoritas foi quando Steve e Diana estavam no avião, pilotado por ele com destino ao Egipto e observavam os vários fogos de artifício que estavam a ser lançados por estar a ser celebrado o feriado de 4 de Julho, mas a perspetiva que tinham num nível superior às nuvens era simplesmente maravilhosa, bonita e impressionante de se ver.

Não foi só este piloto que aprendeu com Diana, sendo que ela utiliza os ensinamentos de Steve para aprender a voar enquanto Wonder-Woman e ela acaba por sentir uma sensação de liberdade quando está completamente sozinha por entre as nuvens.

Uma das melhores partes do filme é sem dúvida, a sequência inicial que foi muito bem montada e desenvolvida, apesar de ser um flashback em Temyscira, o lar das Amazonas. Esta foi das cenas que mais me prendeu na história acompanhando a jornada de uma Diana mais nova, enquanto enfrenta uma prova impressionante num campeonato empolgante com desafios bem complicados que faz parte do seu treinamento para se tornar numa grande guerreira e luta até ao fim para vencer por mais obstáculos que lhe possam surgir durante este teste, mostrando a sua determinação e coragem, onde também competia com mulheres muito mais velhas do que ela, mas será que ela vai conseguir vencê-las, apesar de ainda ser muito nova e inexperiente?

Uma das cenas que mais teve ação e que prenderam a atenção são retratadas num centro comercial quando um grupo de assaltantes tenta fugir depois de terem roubado objetos preciosos de uma loja que era fachada para a venda ilegal de outro tipo de itens. Assim que uma criança está em perigo, Wonder Woman surge para os impedir e luta com eles de formas bem engraçadas e divertidas, sem colocar ninguém em risco e salvando o dia.

Um filme de super-heróis não seria a mesma coisa se não fosse pelos seus vilões com as suas ambições e convicções para colocarem em prática os planos respetivos. Tudo começa quando chega ao Museu Smithsonian, um artefacto misterioso e bem antigo que não se sabe a sua origem, sendo que tem o poder de concretizar qualquer tipo de desejo, por mais impossível que possa ser, mas sem deixar de ter as suas consequências.

Esta é um tipo de pedra ou cristal que é definido por ser uma relíquia poderosa que pode trazer o caos para a humanidade, caso caia nas mãos erradas, levando a efeitos muito desastrosos para todos. Todas as personagens têm as suas razões para pedirem determinadas coisas, sendo que precisam de lidar com as consequências dos seus desejos, mas será que vão ter vontade suficiente para fazer o que é mais certo?

Relativamente aos antagonistas da história, comecemos por Maxwell Lord que é o fundador de uma companhia petrolífera e uma estrela de televendas em que tem como objetivo, fazer o que for preciso para tornar-se num dos homens mais ricos e poderosos do mundo. Ele é um homem de negócios com ideias inovadoras que nem sempre resultam, mas gosta de ser o centro das atenções, mesmo que tenha o seu lado mais humano que ele tenta disfarçar o máximo possível e vai sendo constantemente desafiado a esse nível.  

Maxwell Lord tem razões muito específicas para adquirir o artefacto histórico, pois quer dominar tudo e todos e ele acaba por ser um bom “vendedor” para obter o que quer, pois as pessoas são ingénuas e acreditam que ele lhes pode ajudar, sem desconfiarem de outras intenções e assim, ele vai atraindo as atenções e conquistar tudo o que precisa.

Este é um vilão egoísta que só arranja conflitos e tem planos bem perigosos para utilizar este artefacto para seu benefício próprio, mas que pode ter resultados devastadores para as pessoas ao seu redor.

Pedro Pascal é um ator conhecido pela sua variedade de trabalhos e neste filme não é exceção, pois temos a oportunidade de ver um lado diferente daquilo que estamos habituados a ver com a sua interpretação de Maxwell Lord que tenta obter o artefacto através do seu papel como suposto investidor do Museu Smithsonian.

Barbara Minerva é recém-chegada e a nova funcionária do Museu Smithsonian e começou a ter uma admiração por Diana de tal forma que gostaria de ser como ela. Ela é retratada como sendo uma pessoa solitária, pouco popular, desastrada, insignificante para os outros e mais ligada à área da geologia, sendo que sempre teve o desejo de ser notada e ter as atenções dos outros. As suas motivações para a realização de um determinado desejo são compreensíveis e fazem todo o sentido, mas depois ela não consegue lidar com os efeitos secundários das suas escolhas, chegando a um ponto que começa a perder a razão e os seus valores, tornando-se mais tarde na Cheetah (um tipo de mulher leopardo) em que uma fotografia mais escura acaba por disfarçar o CGI da mesma.

A personagem de Barbara Minerva tem uma grande evolução, mas também intensa na sua personalidade, desde uma mulher tímida que quer tornar-se numa pessoa completamente oposta de si, mas acaba por transformar-se numa vilã implacável, melhorando a sua auto-estima de uma forma bem significativa que não quer voltar atrás nas suas decisões, porque gosta de tudo aquilo que conseguiu adquirir graças a uma relíquia mágica e acabando por transformar-se numa boa adversária para Diana Price. Infelizmente, faltou saber o desfecho da história de Barbara que ficou sem resolução após uma batalha difícil com a Wonder Woman.

Estes são vilões bem trabalhados e credíveis que querem alcançar o sucesso, a todo o custo e sem pensarem nas consequências, sendo que a sua introdução foi eficaz para a história, tornando-se em bons adversários para a Wonder Woman. Cada uma destas personagens tem o seu caminho a percorrer até tornarem-se numa versão mais antagonista que foi criada, devido às decisões que foram tomando ao longo do tempo, sendo que cada escolha tem as suas consequências e o preço pode ser muito mais alto do que se julgava inicialmente.

Nesta história também são abordadas as tensões políticas que acontecem entre os Estados Unidos e a União Soviética, as tecnologias secretas do governo norte-americano, os líderes que continuam a ambicionar cada vez mais poder e alguns detalhes que fazem parte dos anos 80, com o seu ambiente muito mais leve e divertido, a sua moda peculiar que era utilizada naquele tempo, os penteados respetivos e muito mais, mas na minha opinião, esta época poderia ter sido muito mais bem retratada, pois fugiu um pouco à sua realidade.

Dá para se perceber que existiu uma maior liberdade na forma como todo o argumento foi construído, mostrando uma versão diferente, mas bem natural para o tipo de pessoa que Diana é e criando uma identidade bem notória para o universo das super-heroínas.

Este filme de ação e aventura é mais leve e simples com um lado muito mais emocional e humano do que a pessoa esperava, mas é algo que eu achei que foi muito bem introduzido, em que não vemos tanto a Diana como guerreira, mas como mulher, sendo que traz uma mensagem de esperança, paz, amor e empatia para a humanidade e mostra a importância de valores que poderão fazer parte da essência do ser humano como compaixão, entre outros. Foi tudo contado de um modo fluído, dinâmico e divertido sem complicações, com boas sequências de ação e uma fotografia maioritariamente colorida, tendo uma banda sonora adequada ao tema do filme.  

A história está repleta de romance, humor, esperança e verdade, sendo constituída por momentos muito bem estruturados e emocionantes e com cenas de ação empolgantes, bem executadas e complexas a nível técnico, mas que num geral resultaram bem, apesar de ter desiludido relativamente ao confronto final. Esta acaba por mostrar pontos fundamentais que infelizmente acontecem na sociedade e tentam ensinar que nada de bom acontece quando inicia-se por uma mentira tais como, uma pessoa que quer sempre alcançar o poder e conquistar tudo o que não tem, mas para fazer isso tenta enganar os outros.  

O importante é valorizar o momento atual e olhar para um futuro com esperança, em nem sempre é essencial vencer, mas o que realmente importa é a jornada e cada um deve pensar na sociedade num geral, tendo empatia uns pelos outros pelo bem geral, mantendo a paz e assim evitar o caos. A esperança de um mundo melhor e a importância que é não desistir, por mais dificuldades que possam vir a surgir e esta história entrega emoção com uma mensagem poderosa que merece ser vista e que vai tocar o coração da maior parte do público.

O filme surpreendeu, mas foi sem dúvida, de acordo com as expetativas, sendo que o tempo de duração de 2 horas e 35 minutos passou rápido, apesar de ser extenso, mas claro que poderia ter tido muitas mais cenas de ação, mas percebo a razão pelo qual isso não aconteceu. Existiram cenas que parecem improváveis mas que até resultam para satisfação do espetador, pois cativam e deixam-no a imaginar possíveis formas da mesma terminar.

Na minha opinião, Wonder Woman 1984 foi mesmo lançado na altura certa e é ótimo para ser visto, principalmente devido ao período mais conturbado que todos estamos a passar e transmite uma mensagem positiva, de esperança e de conforto para quem está a assistir. A história é bonita, mas maioritariamente, humana com bons desempenhos do seu elenco que criou numa época emblemática, uma mistura de sentimentos, cenas emocionantes e uma ligação com o público, sendo que é exatamente o que a maior parte de nós estava a precisar. Pode ter dividido opiniões, mas não deixa de ser uma boa fonte de entretenimento mais colorida para a pessoa descontrair em que trouxe boas surpresas que deixaram os fãs satisfeitos e que criou um bom resultado final e acima de tudo, eficaz com uma cena pós-créditos inesperada para alguns.

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