quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Minissérie "The Queen's Gambit" da Netflix - a história incrível de Elizabeth Harmon, considerada como um prodígio na arte de jogar xadrez

 

Finalmente chegou à plataforma da Netflix, a minissérie de sete episódios chamada The Queen’s Gambit (O Gambito da Rainha, em português), uma história que revela a arte que é o jogo de xadrez, a complexidade do mesmo e como os jogadores se vão preparando para cada competição, sendo baseada no livro de romance de 1983 com o mesmo nome que foi escrito por Walter Tevis e tendo sido criada por Scott Frank e Allan Scott, incluindo também a banda sonora de Carlos Rafael Rivera.

 

Esta minissérie de drama conta a história de Elizabeth Harmon (Anya Taylor-Joy) que passou a viver num orfanato católico, depois de ter sofrido um acidente de carro com a sua mãe tornando-se assim, órfã. Beth vai ter uma jornada longa de aprendizagens não só para se tornar numa mulher adulta, mas também para desenvolver as suas capacidades extraordinárias no xadrez que aprendeu inicialmente com o zelador do orfanato. Para tornar-se numa boa jogadora de xadrez, ela vai aprender o que for necessário para vencer todos os seus adversários nas diversas competições tanto nacionais como europeias que irá participar, mas será que os seus vícios vão impedi-la de alcançar os seus objetivos?

 

O elenco é constituído por Anya Taylor-Joy (Beth Harmon), Bill Camp (Sr. Shaibel), Marielle Heller (Alma Wheatley), Patrick Kennedy (Aliston Wheatley), Chloe Pirrie (Alice Harmon), Moses Ingram (Jolene), Thomas Brodie-Sangster (Benny Watts), Harry Melling (Harry Beltik), Christiane Seidel (Helen Deardoff), Rebecca Root (Lonsdale), Isla Johnston (Beth Harmon, em criança), Akemnji Ndifornyen (Sr. Fergusson) e Jacob Fortune-Lloyd (D.L.Townes).

 


O xadrez é considerado como um jogo muito complexo que necessita que a pessoa tenha inteligência, atenção, sabedoria e um plano de estratégia para pôr em prática em qualquer tipo de circunstância, nos quais os principais participantes são do sexo masculino, pois acreditavam que as mulheres não tinham as capacidades necessárias para participarem num jogo maioritariamente de homens, mas sem dúvida, que Elizabeth Harmon provou o contrário ou seja, que qualquer um, seja ele, homem ou mulher pode jogar xadrez, desde que tenha as ferramentas necessárias para o fazer.

 

A mente é muito utilizada neste jogo de tabuleiro devido à quantidade de estratégias e planos que têm de ser criados para vencer o adversário, sendo que é uma forma excelente de exercitar o cérebro que requer um bom nível de paciência e é fundamental que a pessoa esteja atenta para não cometer erros desnecessários. Assim, é importante que a pessoa esteja com atenção aos movimentos do seu adversário para que possa quem sabe, prevenir as suas jogadas.



 

Apesar do tema predominante da história ser o xadrez, sendo considerado como maioritariamente dominado por homens, também são abordados assuntos pertinentes e que continuam a ser falados atualmente, tais como o excesso de consumo de álcool e drogas e consequências respetivas e o papel das mulheres na sociedade.

 

Na década de 1950 e depois de ter sobrevivido a um acidente de carro que tornou-se fatal para a sua mãe biológica, Elizabeth Harmon vai viver para um orfanato de raparigas chamado Methuen, sendo localizado na zona do Kentucky que é dirigido por Helen Deardorff que dedicou toda a sua vida a esta instituição.


 

A relação de Beth com o Sr. Shaibel começa quando ela desce até à cave do orfanato para limpar os apagadores do quadro utilizado na sala de aula e vê um senhor sentado sozinho a olhar e a jogar algo que era desconhecido para ela. Inicialmente não foi fácil para a Beth satisfazer a sua curiosidade, pois o Sr. Shaibel é um pouco antissocial e parecia que não queria ter conversas com ninguém, mas aos poucos, Beth vai conseguir conquistá-lo e mais tarde, convencê-lo a ensiná-la a jogar xadrez, fazendo com que tivessem juntos, períodos longos fechados no interior da cave, sem que fossem interrompidos. Assim, Beth fica cada vez mais fascinada com aquele jogo de tabuleiro, aumentando a sua vontade em querer saber mais sobre o mesmo e aprender todas as técnicas possíveis do mundo do xadrez.



Beth vê no Sr. Shaibel como um tipo de figura paterna que ensina-lhe lições vitais para ela utilizar na sua vida adulta que na altura não percebe a importância que podem vir a ter, mas depois começa a criar ligações que chegam a fazer todo o sentido, pois em determinados momentos vão sendo mostrados flashbacks dela com ele que podem ajudar em lidar com situações específicas.  

 

Inicialmente, Beth não estava habituada à toma de comprimidos que eram calmantes tomados por todas as crianças do orfanato, mas depois chegou a um ponto que ela já era completamente dependente deles, pois ela passou a ver no teto, imagens grandes das peças de xadrez e assim, estudar possíveis estratégias para utilizar em jogos futuros e acreditava que sem ver o que precisava, não conseguia vencer. Por isso, ela achava que estas visões que foi tendo à noite representavam um tabuleiro de xadrez que a ajudava a treinar vários movimentos que podiam vir a ser útil nas suas partidas futuras, seja com o Sr. Shaibel ou mesmo nos torneios que vai participando ou mesmo como forma de analisar as suas jogadas que já tinha feito.



 

Depois de alguns anos a viver no orfanato, Beth é finalmente adotada por uma família que vive em Lexington, Kentucky, nos quais não tem a melhor das histórias, pois Alma tem um vício muito grande em álcool e o seu marido nunca está presente em casa, mas Beth e Alma acabam por uma criar uma ligação tão forte, principalmente quando Alma resolve apoiar Beth em competições de xadrez e acompanhá-la. 


 

Beth é uma mulher determinada que tem um talento nato para a sua paixão que é o xadrez, sendo mesmo considerada como um prodígio do mesmo, estando plenamente dedicada de tal forma que não desiste, mesmo que hajam circunstâncias suficientes para o fazer, por isso vai cometendo alguns erros durante a sua jornada de aprendizagem no mundo do xadrez que podem ser fundamentais para o seu futuro como jogadora.


 

Esta é uma rapariga no meio de tantos rapazes que é confiante naquilo que está a fazer, principalmente se isso implica um jogo de xadrez, pois ela gosta de explorar todas as formas possíveis e existentes quando cria a sua estratégia antes de jogar com alguém, mas para isso acontecer, ela também lê livros sobre o assunto, com o objetivo de ajudá-la a melhorar as suas prestações em cada jogo, como por exemplo, o Modern Chess Openings. Ela joga de uma forma implacável e sem misericórdia que faz com que alguns dos seus adversários desistam logo, fazendo com que ela se torne a vencedora após poucas jogadas, mas apesar de tentar controlar tudo o que se desenrola ao seu redor, nem sempre consegue.



 

Beth começou a competir muito jovem com outros amantes deste jogo de tabuleiro através da sua participação em torneios de xadrez, onde começa a ganhar dinheiro e reconhecimento e vence pessoas que têm muitos anos de experiência nesta área. Para além dos torneios mais locais, ela também tem a oportunidade de participar numa das competições mais importantes do xadrez que é o U.S. Open ou mesmo em locais mais emblemáticos, tais como México, França e Rússia.

 

Elizabeth Harmon é considerada como um prodígio quando falamos na arte de jogar xadrez de uma forma exemplar e vencedora que está constantemente a analisar as diferentes possibilidades para conseguir vencer, mas isso não a impede de ter as suas fragilidades e ter um lado mais vulnerável.



 

Na altura, eu achei bem divertido acompanhar uma Beth tão novinha a jogar xadrez com várias pessoas experientes de um determinado clube de xadrez ao mesmo tempo e dando a entender que era algo muito fácil de concretizar quando na verdade não o era. Para além disso, no momento em que torna-se numa adolescente podemos ver em Beth, um certo requinte na forma como ela comporta-se ao redor de outras pessoas.


 

O espetador tem a oportunidade de ver um pouco, o amadurecimento de Beth, desde que ela passou a viver no orfanato até aos dias atuais que desenrola-se a história. Ela é uma pessoa reservada, tímida, vulnerável e introvertida, mas também é muito observadora, perspicaz e inteligente nas coisas que mais gosta e ficamos com a noção que a partir do momento que ela começa a aprender xadrez com o zelador do orfanato, esta já não está mais interessada em nada ao seu redor e fazendo com que crie uma certa obsessão pelo xadrez que pode não ser totalmente positiva, principalmente se envolve o excesso de comprimidos e mais tarde, o de álcool.

 

Anya Taylor-Joy desempenha a Elizabeth Harmon de um modo bem simples e surpreendente, mas também cativante e interessante, não só pela forma como vai interpretando a personagem, mas também através das suas expressões faciais que transmite aquilo que é necessário o público saber, sem que sejam utilizadas palavras.


 

Após circunstâncias normais na vida terem sucedido, Beth terá de aprender a lidar com as mesmas, mas não será uma tarefa fácil de concretizar que pode levar a um caminho de autodestruição, pois chega a um ponto que ela começa a sentir a pressão entre a pessoa que ela é e a pessoa que os outros querem que ela seja, ficando com dúvidas da sua própria identidade e das decisões que tomou até aquele momento específico, principalmente se envolve dinheiro. Infelizmente, ela nem sempre lida com essa pressão da melhor forma, levando a que tenha uma maior tendência a tomar comprimidos e a beber quantidades elevadas de álcool, em que pode levar a uma altura que já não se reconhece. Assim, existe momentos em que Beth perde o seu rumo, onde vem a cometer alguns erros, mas com o tempo, ela começa a valorizar aquilo que é realmente importante para ela.

 

É fundamental que ela enfrente um desafio bem complexo na sua vida que possa vir a tornar-se numa bela lição de vida, mas será que a sua obsessão pelo xadrez pode vir a prejudicar a sua sanidade mental?



 

Ao longo da sua jornada, Beth tem a oportunidade de conhecer pessoas da sua faixa etária e mais velhas que têm em comum, o gosto pelo xadrez, acabando por enfrentá-las, seja em jogos de treino ou mesmo em torneios. Será que alguns dos seus adversários vão conseguir descobrir a estratégia utilizada por Beth para os vencer ou terá ela de esforçar-se mais?

 



Durante a sua jornada de aperfeiçoamento na arte do xadrez, ela vai ter alguns mentores que até chegaram a ser os seus adversários, nos quais temos Harry que fica surpreendido com a sua eficácia no xadrez e Benny que apesar de ser uma pessoa arrogante, também é muito bom a jogar xadrez, principalmente utilizando movimentos rápidos. Eles vão ser fundamentais para ajudar Beth a preparar-se para enfrentar um dos seus principais adversários que é o campeão mundial russo chamado Borgov, sendo considerado como imbatível, devido à sua vasta experiência. Será que a preparação de Beth vai ser suficiente para vencer Borgov, o melhor jogador do mundo ou ainda tem por onde melhorar?

 

Beth acredita que não é capaz de vencer, caso não tenha consigo, os seus complementos que são os comprimidos e o álcool, mas ela também cria ligações de tal forma fortes que chega a um ponto que vemos diferentes jogadores de xadrez a trabalharem individualmente com ela e em equipa para ajudá-la a melhorar cada vez mais a sua prestação em cada jogo, pois é sempre bom quando um tabuleiro de xadrez é visto por outros olhos, por isso, ela vai ter uns bons aliados ao longo da sua preparação.

 


Também é interessante ver as relações de Beth com as outras personagens, como por exemplo, com a Jolene, uma rapariga negra que vivia com ela no orfanato e que tornaram-se amigas rapidamente, onde ensinou-a o modo como tudo funcionava naquele sítio e apesar de terem estado separadas muitos anos, isso não impediu que Jolene ajudasse Beth numa altura que fosse realmente necessária. Por vezes, a amizade pode ser fundamental para que alguém consiga perder determinados vícios, como os do álcool e drogas e isso é algo que a própria história vai abordando.

 

Esta é uma produção muito bem criada e desenvolvida, nos quais tem um argumento interessante e cativante, muito devido ao desempenho dos atores, mas também pelos figurinos, pela banda sonora, cinematografia e pela forma como a época foi sendo representada ao longo dos episódios. É constituída por uma fotografia muito bonita e uma ótima realização pela escolha que tiveram a nível dos ângulos que foram filmando nas diferentes cenas que resultaram num resultado final fantástico, em que também incluíram vistas maravilhosas seja do México, França e Rússia. 



 

Ao longo dos episódios, o espetador está constantemente cativado com tudo o que vai acontecendo, despertando cada vez mais a curiosidade em saber como determinadas situações vão sendo resolvidas e como tudo termina. Este também fica cheio de vontade de jogar xadrez, implementando estratégias e colocando em prática, técnicas para conseguir derrotar o seu adversário.

 

Esta minissérie tem todos os ingredientes necessários para se tornar numa história de sucesso e fiquei completamente satisfeita com os sete episódios que me prenderam a atenção desde o início ao fim e também por finalmente terem abordado um tema tão interessante como é o xadrez, sendo que nem damos conta do tempo a passar.


 

Eu sempre fui uma apaixonada pelo xadrez, tendo jogado quando era mais nova e até que conseguia vencer algumas partidas, mas sempre considerei o xadrez como algo especial e entusiasmante em que podemos colocar a nossa mente em prática, criando estratégias que nem sempre são fáceis de implementar, pois todas elas dependem dos movimentos do adversário.

 

A minissérie é constituída por um pouco de suspense que terminou de uma forma muito bonita e satisfatória, sem entrar em grandes pormenores, onde Beth tem o reconhecimento merecido como jogadora profissional de xadrez depois de todas as dificuldades que foi passando até chegar a esse final, por isso, eu considero que seja uma história que vale mesmo a pena de acompanhar, mesmo que não seja um amante do xadrez.



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