terça-feira, 5 de maio de 2020

Série "Anne with an E" - uma jornada apaixonante e cativante que nos dá uma bela lição de vida



A série "Anne with an E" é escrita por Moira Walley-Beckett e constituída por 3 temporadas, sendo produzida e transmitida pela CBC no Canadá, e a Netflix foi a responsável pela distribuição através da sua plataforma. 

É adaptada a partir dos livros de "Anne of Green Gables", da autora Lucy Maud Montgomery, que foi publicado em 1908. Esta é a história da jornada e das aventuras de Anne Shirley (Amybeth McNulty) que decorre em 1908. Anne é uma jovem órfã, inteligente e com uma personalidade muito forte, que gosta muito de ler livros e após sofrer diversos abusos no orfanato, acaba por ser adotada pelos irmãos Matthew (R.H. Thomson) e Marilia (Geraldine James), e assim, começar a sua nova vida em Green Gables na Ilha do Príncipe Eduardo. Anne tem uma grande imaginação e vê o mundo de um modo completamente diferente e apaixonante, que acaba por cativar muito o espetador. 


O elenco é constituído por Amybeth McNulty (Anne Shirley), R.H. Thomson (Matthew), Geraldine James (Marilia), Lucas Jade Zumann (Gilbert Blythe), Dalmar Abuzeid (Bash), Dalila Bela (Diana), Ryan Kiera Armstrong (Minnie May), Kyla Matthews (Ruby), entre outros.

Esta é uma série que consegue transportar o espetador para uma outra época mais conservadora, nos quais tinham regras muito específicas e diferentes, que nem sempre faziam qualquer tipo de sentido e onde as tradições de família deviam ser respeitadas e cujo cada membro tinha um dever específico. São várias os temas abordados nesta história que acabam por ser lidados de uma forma delicada e sensível e também por nos dar uma bela lição de vida, como por exemplo: o preconceito, o racismo, o feminismo, o bullying, a adoção, a orientação sexual, a igualdade de géneros que era difícil de acontecer naquela época, a importância dos escravos na sociedade, a liberdade de imprensa, o assédio sexual, a etnia, a mortalidade, a justiça e a ganância. Os assuntos são abordados de um modo muito simples e natural, mas ao mesmo tempo, acessível e descontraído, nos quais o espetador compreende tudo aquilo que é falado. Também são utilizados alguns fatos históricos para debater estes assuntos e outras questões relevantes.

                              
A infância solitária de Anne foi passada maioritariamente num orfanato desde que se tornou órfã, pois foram várias as pessoas que a adotaram e se recusaram a ficar com ela e por isso acabou por crescer mais depressa do que devia. Por engano, esta jovem contagiante acabou por ir parar aos irmãos Matthew e Marilia em Green Gables, que tinham pedido especificamente um rapaz para os ajudarem nos trabalhos da quinta. Assim com medo de ser rejeitada, Anne fará os possíveis para demonstrar que merece ficar e consegue fazer o trabalho que eles precisam, ajudando-os em tudo o que for necessário, mas é algo que não será nada fácil, pois irá cometer alguns erros, devido a algumas das suas atitudes impulsivas.   

É incrível acompanhar as aventuras desta jovem que sonha com mundos de fantasia e cheia de energia e ainda assim, a conseguir transformar a vida de todos aqueles que a rodeiam, através da sua presença, inteligência, esperança e alegria, seja na escola que começa a frequentar ou na cidade de Avonlea. Também procura saber sobre as suas origens e trata todos com respeito e sem qualquer tipo de preconceito, mas nem sempre é vista da melhor forma, devido a atitudes pouco frequentes para uma pessoa daquela idade ou por artigos que escrevia no jornal da escola que faziam com que acabasse por ser castigada. 


Anne é uma rapariga curiosa, romântica, genuína e especial, que luta muito para defender a sua opinião e as suas convicções, utilizando a sua imaginação e inteligência, mas são vários os desafios que terá de passar para realizar os seus desejos. Ela vê o mundo de uma forma muito única e por vezes poética e assim, ensina as pessoas a tornarem-se numa versão melhor delas próprias. É impulsiva e imprevisível à sua maneira, lutando contra o preconceito, mas tem uma habilidade de contagiar e fazer a diferença na vida daqueles que a rodeiam, através dos seus dramas, acabando assim, por influenciar e conquistar, com os seus pensamentos positivos, todos aqueles que estão à sua volta.

Um dos pontos positivos desta história é a forma como a atriz irlandesa, Amybeth McNulty representa Anne, de um modo cativante que cria empatia com o público e nos guia perante a jornada desta personagem. Apesar de Anne ter uma personalidade muito forte e tornar-se irritante em alguns momentos, não chega a cansar o espetador. É também incrível assistir que, por mais adversidades que possa passar, Anne tenta sempre ver o lado bom da vida.


A jornada de Anne até chegar à sua idade adulta é muito interessante de se assistir, pois vamos adquirindo as mesmas aprendizagens que a personagem e vemos de acordo com a sua perspetiva, logo faz com que criemos uma ligação especial com ela e ao mesmo tempo explorarmos e aprendermos mais sobre temas, que ainda não tínhamos o conhecimento suficiente. Acompanhamos tanto a jornada como o crescimento dela e o seu desejo de se tornar independente e seguir os seus sonhos. Para além disso, também podemos ouvir todos os discursos que vai dando sobre diferentes assuntos, onde por vezes utiliza excertos de livros que leu e que acabam por ficar na memória tanto das personagens como do próprio espetador.

A forma como a série foi filmada também foi bem construída, pois capta a essência de como a vida era feita naquela época e para além disso, proporciona aos espetadores, umas bonitas paisagens, através de uma boa escolha a nível de fotografia. Inclui também alguns flashbacks do passado de Anne que vão sendo inseridos ao longo dos episódios. A banda sonora é muito bem implementada nesta história, como foi o caso do genérico que inclui uma música com o nome de "Ahead by a Century".


Não há muitas histórias que representam os sentimentos e respetivas emoções das crianças ou como determinadas situações podem fazer a diferença no crescimento destas, porque não são só os adultos, os únicos a sofrerem. Também existe o medo nas crianças em ultrapassarem determinados obstáculos ou a serem rejeitados pela sociedade. Está é uma série que inclui personagens reais que têm preocupações normais como todos nós.

Ao longo dos episódios, podemos ver um desenvolvimento bem interessante em cada personagem, de acordo com as experiências vividas, pois a história é contada ao seu próprio ritmo, sem qualquer tipo de pressa. Podemos observar algumas discriminações que algumas destas personagens sofrem. É triste que haja uma desconsideração, maldade e crueldade da população perante povos de origens diferentes, como é o caso, dos índios, que são considerados como um povo inferior e apesar de terem a sua própria cultura, não deixam de ser meros seres humanos. 


O racismo também é um dos temas abordados, nos quais são várias as críticas que Gilbert Blythe (Lucas Jade Zumann), um jovem branco vai sofrendo, devido à relação de amizade que tem com um negro chamado Bash (Dalmar Abuzeid). Gilbert é um rapaz que tem a cabeça no lugar e que pensa em ter um futuro melhor a ajudar os outros, acabando por começar a fazê-lo com Bash, que nunca teve uma vida fácil. A censura será muita, mas é algo que Bash irá aprender a viver, enquanto começa uma nova jornada.


Um dos pontos positivos é sem dúvida, as relações entre as personagens femininas, que tinham poucos direitos na altura. Era abordado a ligação que estas mulheres tinham entre elas e a própria sociedade, pois acabavam por questionar o seu papel na mesma. Podemos ver uma solidariedade entre as mulheres, através de ações tanto de amizade como de lealdade. É interessante observar a evolução do relacionamento que cada mulher tem uma com a outra.


Gostei muito de ver a evolução que foi decorrendo na relação entre Anne e os seus novos pais, pois estes acabam por ter uma educação muito tradicional e simples, que nem sempre é compreendida por Anne. Marilia é uma mulher muito tradicional que vai mudando as suas crenças graças à presença de Anne e Matthew é tímido, humilde e alguém muito mais calmo do que a sua irmã e lida com as dificuldades que vai tendo há medida que envelhece, pois vive para a sua família e quando Anne entrou na sua vida, acaba por ver as coisas de um modo diferente e também foram várias as mudanças que decorreram para que esta rapariga mudasse a vida destes irmãos. Por isso foi bonito ver as aprendizagens que tanto Anne como os irmãos foram adquirindo, ao longo destes episódios e também a sensação de felicidade que é ter um lar e uma família que se ama. 


Uma das minhas relações favoritas na série foi sem dúvida, a de amizade entre Anne e Gilbert. Gostei muito de acompanhar a evolução desta relação de amizade entre estes 2 jovens, desde o momento em que se conheceram, onde foram várias as peripécias e dilemas que passaram um com o outro, mas que acabou por fazer toda a diferença no final.


Esta história dá-nos esperança que a humanidade ainda pode sofrer uma mudança para melhor relativamente a todos os seus pensamentos e que o mundo ainda poderá ser um sítio melhor. Também inspira o espetador a procurar a sua própria independência e a conhecer e aceitar a sua própria identidade. Para além disso, esta é uma série que deixa sempre uma mensagem de esperança e de força, mesmo que ocorram acontecimentos menos felizes. Acaba por explicar a importância que é seguir em frente, por mais obstáculos e desafios que possam decorrer, pois é esse o significado de viver cada dia. 

Considero que esta é uma série que também tem um humor bastante genuíno e cativa o coração do espetador do início até ao fim. Acho que poderiam ter desenvolvido ainda mais, os temas que eram tabu naquela época e as histórias de algumas personagens. 

Foi feito um final satisfatório, apesar de achar que ainda havia muito para explorar, pois ficaram ainda histórias por contar. As mensagens foram muito bem transmitidas de uma forma que acabam por ficar na memória. Apesar de ter sido feita uma boa construção para o seu final, foi pena nem todos terem tido o seu final feliz.

Considero que esta seja uma história inspiradora e achei muitos dos diálogos bem interessantes, tornando-se alguns em momentos bem emocionantes e que ajudaram a criar argumentos fortes para abordar assuntos que têm sido um tabu para a sociedade e que ainda são falados atualmente. Esta é sem dúvida é uma boa série para toda a família assistir.

1 comentário:

  1. Eu amei está.serie a maneira de apresentar, as diferenças. Apaixonante para mim sem aquela violência extrema. Adorei.

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