sábado, 27 de fevereiro de 2021

Minissérie "It's a Sin" - uma história emocionante que se desenrola nos anos 80 que cria um impacto e transmite uma mensagem poderosa e importante sobre a comunidade homossexual

 

It’s a Sin é uma minissérie de drama de cinco episódios, que foi transmitida no canal britânico Channel 4, mas que está disponível, em exclusivo, na HBO Portugal e restantes países desta plataforma, cuja criação e escrita é de Russell T Davies e é produzida pela Red Production Company. Juntamente com Nicola Shindler, Russell T Davies também tem a função de produtor executivo desta história que tem como protagonista Olly Alexander, vocalista e líder da banda Years & Years e com realização de Peter Hoar.

Esta é uma história que retrata a vida de Ritchie (Olly Alexander), Roscoe (Omari Douglas) e Colin (Callum Scott Howells) enquanto eles resolvem começar uma vida completamente nova em Londres, no início dos anos 80. Apesar de não se conhecerem inicialmente, estes jovens homossexuais juntamente com a sua amiga Jill (Lydia West) cruzam-se e acabam por partilhar aventuras juntos, mas quando surge um novo vírus mortal, a vida de cada um deles muda de certa forma, sendo que vão ser colocados à prova de um modo inesperado. Mesmo com o impacto mortal que o VIH vai tendo ao longo dos anos, estes amigos estão determinados a viverem a vida ao máximo e a amarem, ao mesmo tempo que não vão desistir de lutar.

O elenco é constituído por Olly Alexander (Ritchie Tozer), Omari Douglas (Roscoe Babatunde), Callum Scott Howells (Colin Morris-Jones), Lydia West (Jill Baxter) e Nathaniel Curtis (Ash Mukherjee), mas também inclui Keeley Hawes (Valerie Tozer), Shaun Dooley (Clive Tozer), Neil Patrick Harris (Henry Coltrane), Stephen Fry (Arthur Garrison), Tracy Ann Oberman (Carol Carter) e tem a participação de David Carlyle (Gregory Finch), Moya Brady (Millie), Neil Ashton (Grizzle), Nicholas Blane (Sr. Hart), William Richardson (Sr. Brewster), Ashley McGuire (Lorraine Fletcher), Calvin A. Dean (Clifford), Nathaniel Hall (Donald Bassett), Jill Nalder (Christine Baxter), Andria Doherty (Eileen Morris-Jones), Nathan Sussex (Pete), Toto Bruin (Lucy Tozer), Shaniqua Okwok (Solly Babatunde), Michelle Greenidge (Rosa Babatunde), Delroy Brown (Oscar Babatunde) e Ken Christiansen (Karl Benning).

 

Esta minissérie aborda tanto a amizade como o amor durante a crise do VIH em Londres na década de 1980, sendo que tudo vai sendo contado, de acordo com a perspetiva de três jovens homossexuais em que optaram por se tornar independentes, através de uma nova vida pela cidade de Londres. A jornada destes rapazes não vai ser nada fácil com obstáculos e desafios pelo caminho, pois infelizmente existia na sociedade, comportamentos específicos de preconceito, homofobia, discriminação e muito mais, devido ao facto de serem gays. Para além disso, durante esta época começa a surgir um vírus mortal e sem cura, o VIH e SIDA, que atacavam as defesas do organismo, deixando-o completamente vulnerável a outras doenças e podia ser transmitida sexualmente, sendo que as suas principais vítimas faziam parte de um grupo específico que eram os homossexuais e por isso, o risco era grande, mas mesmo assim, estes amigos querem continuar a aproveitar a vida e amarem, enquanto conseguirem.

A história em si, não explora só a sociedade de Londres desta década, mas também especificamente, da comunidade homossexual que vivia numa época de terror que não era tolerada e passava por diversas dificuldades e para além disso, nem sempre conseguiam viver a vida que queriam, pois por vezes, tinham de esconder a sua verdadeira identidade para serem aceites e por isso, estes homens tinham medo de revelar quem eram e não se queriam sentir vulneráveis e impotentes. Até existiam sentimentos de vergonha de eles não quererem admitir que apanharam a doença ou então estavam em períodos de negação, escondendo o que estava a acontecer, mas eles queriam igualdade e reconhecimento e não desprezo por parte da população.

 

Ao longo dos episódios, vamos tendo a noção de que havia muita pouca informação sobre esta doença que atacava de uma forma silenciosa e só davam conta quando era tarde demais. Isto foi um tipo de pandemia que começou a estar presente em diferentes países, mas desconhecia-se na altura, sendo que começou por ser um género de mistério para muitos ou que até mais parecia um rumor ou um mito, acabando mais tarde por se tornar em algo bem real e fatal e assim, os médicos não sabiam identificar o problema e as pessoas não sabiam lidar com isso, principalmente com as suas vítimas que as consideravam como contagiosas e achavam que o mais importante era manterem quem estava doente, isolado de tudo e de todos, sendo que alguns chegavam a morrer sozinhos e abandonados. Infelizmente, o tratamento não era digno, nem eficaz e as práticas que os médicos utilizavam para tratar os pacientes que eram vítimas desta doença misteriosa não eram as mais corretas e por isso, havia muita ignorância e falta de informação.

Naquela altura, existia um medo sobre tudo o que era relacionado com o VIH que era grande, pois as pessoas tinham receio de serem infetadas e as famílias não queriam que os outros soubessem que tinham um elemento que tinha morrido de SIDA, mas depois haviam aqueles que continuam constantemente, a viver em silêncio ou até que aceitavam, sem comentarem. Para além disso, este era um assunto com uma vertente mais de tabu que não era falado numa Inglaterra governada por Margaret Thatcher e quando alguém adoecia, de um modo misterioso, infelizmente não existia preocupações por parte dos outros, pois simplesmente ignoravam a situação.

Inicialmente são apresentadas as histórias de cada uma destas personagens antes de se conhecerem entre si, as suas origens, quais são os seus desejos para o futuro e como se imaginam daqui a muitos anos. Um dia, Ritchie, Roscoe e Colin encontram-se e começam a partilhar um apartamento grande designado por Pink Palace, juntamente com Ash e Jill, o elo em comum entre eles e assim, cada um deles vai tendo o seu período de auto-conhecimento que não será uma tarefa fácil de se concretizar, mas não vão deixar de lutar por aquilo que mais querem, seja a nível de amor, amizade, sucesso profissional ou até na realização de sonhos e com um apoio incondicional que vão tendo uns pelos outros, tornando-se assim, numa família muito unida que não é obrigatório que seja de sangue, mas que foi escolhida por eles. Este grupo de amigos mostra que mesmo com todos os problemas que possam vir a surgir, ainda é possível sorrir e aproveitar a vida da melhor maneira.

Estes são rapazes homossexuais que sempre viveram em locais mais remotos, relativamente à cidade de Londres que desconhecem e o que implica ter uma vida diferente e independente por lá, e com momentos de descoberta pelo meio, mas eles acreditam que finalmente não precisam de esconder quem são e que podem ter as suas próprias personalidades, sendo que a narrativa foca neste grupo de amigos num período conturbado que passam por situações semelhantes, em que cada um tem de enfrentar e lidar com as suas preocupações e medos que se vai desenrolando de um modo próprio e de certa forma, até chegarem ao momento que conseguiram libertar-se das suas famílias mais conservadoras que não os deixavam ser livres. Para além disso, eles têm de enfrentar os desafios que é viver uma vida adulta e de lutar numa sociedade que tem dificuldades em aceitar e entender a identidade de cada um deles.

 

Ritchie Tozer é um adolescente que sempre escondeu a sua orientação sexual da sua família, por motivos de vergonha e por achar que eles não iam aceitá-lo, pois eram mais tradicionais e conservadores. Ele resolve ir estudar Direito para Londres e deixar a sua terra que era na Ilha de Wight, sendo que ele acaba por se sentir livre de uma educação rigorosa e depois de conhecer Jill na faculdade, ele opta por mudar a sua formação para Teatro e tornar-se num ator. Um dia, Jill acompanha Ritchie até ao seu lar para que ele contasse toda a verdade aos pais, mas a partir do momento que ele começa a contar uma parte, a família não reage bem e por isso, Ritchie decide omitir o resto. Infelizmente chega a um ponto que Valerie, a mãe de Ritchie tem um pensamento incompreensivo e egoísta perante o seu filho quando descobre toda a verdade, chegando a tomar atitudes inconcebíveis, pois ela continua em negação por mais que a tentem abrir os olhos e na sua própria realidade, sem ter a noção que está a magoar o seu filho, mas Jill acaba por dizer aquilo que pensa num modo direto e radical e deixando Valerie, sem palavras.

 

Roscoe Babatunde é um jovem negro, de origem nigeriana que cria um impacto e um choque para a sua família muito religiosa e conservadora quando finalmente revela-se e “sai do armário”, sendo que assume a sua verdadeira identidade para com os seus familiares e sai de casa para seguir com a sua vida em frente, sem olhar para trás. 

Colin Morris-Jones é um rapaz tímido, reservado, envergonhado e que não dá nas vistas, sendo que vem do País de Gales para ir viver para Londres, onde começa a trabalhar numa alfaiataria e vem a conhecer o seu primeiro amigo homossexual, Henry Coltrane que tem um companheiro português e que o vai proteger e fazer o que for necessário para que Colin se sinta bem-vindo neste local tão estranho e novo para ele. Ele acaba por admitir pela primeira vez que é gay numa conversa com Henry, chegando a um ponto que ele tem curiosidade em saber como casais homossexuais vivem a sua vida em Londres e também quer experimentar tudo aquilo que ainda não tinha conseguido fazer. Apesar de ter tido uma participação pequena, Neil Patrick Harris que interpreta Henry teve um grande destaque no modo como apresentou esta personagem que ajudou Colin a conhecer-se melhor.

 

Jill Baxter tem um papel fundamental na vida destes rapazes, seja como uma figura protetora ou como alguém que está disposta a mostrar o seu apoio e ajudar, seja qual for a circunstância e dificuldade. Ela tem um bom coração e representa aquilo que a humanidade devia ser a nível de aceitação, apoio e compreensão, mesmo que tenha os seus momentos mais obscuros, sendo que o espetador identifica-se com esta personagem e a sua maneira de pensar e agir e também os seus medos, perante tudo o que estava a ocorrer em determinadas alturas, mas não deixa de estar presente e sem dúvida que, a Lydia West está de parabéns pelo seu desempenho incrível.

Esta é uma história, com momentos de dor pura, em que mostram ao seu ritmo, a propagação rápida deste vírus que matou milhares, os seus perigos eminentes e a sua evolução, principalmente ao aparecimento de várias manchas pelo corpo e os cuidados redobrados que eram feitos para quem sofria desta epidemia, seja a nível de desinfeção, utilização de máscaras ou distanciamento físico, sendo constituído por finais mais trágicos, mas que era algo que se esperava. Vamos acompanhando de que forma é que esta pandemia começa a afetar a vida de cada um destes amigos, de maneiras bem distintas e as decisões que vão tomando, relativamente a uma doença que inicialmente ignoraram ou explorando o desejo sexual com vários parceiros sem terem cuidado, mas que acabam por se colocarem em risco e vir a sofrer as consequências dos seus excessos pelas noites de Londres em bares que podiam ser devastadoras. Para além disso, chegava a um ponto que estes rapazes podiam sentir-se culpados pela pessoa que se tornaram ou pela sua orientação sexual e por desiludirem quem mais amam, sendo que achavam que mereciam todo o sofrimento que podiam vir a ter, pois existia rejeição por parte de muitas famílias quando sabiam que um dos seus filhos tinha contraído o vírus ou simplesmente pela sua orientação sexual, mas felizmente ainda existiam familiares que aceitavam e apoiavam em situações mais complicadas.

 

Esta é uma minissérie que eu aconselho a verem, pois tem uma história credível que está bem equilibrada em que tem o seu tom dramático, mas não deixa de ter o lado mais cómico, descontraído leve e divertido que inclui música típica, sendo constituído por momentos de alegria e animação garantida que mostra a união que estes amigos têm uns com os outros e que sabem se divertir, apesar de algumas noites serem demasiado loucas. Durante esta década, temos a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento destas personagens que procuravam uma diferente forma de viver que podia ser feita através da liberdade não só de escolhas, mas também de um modo em que o indivíduo podia ser ele próprio e como eles são constantemente vítimas do preconceito, sendo que o VIH não só acabou por ligá-los de um modo peculiar, mas também criou um impacto e uma mudança para toda a comunidade homossexual.

 

It’s a Sin apresenta muito bem a essência da época numa realidade cruel e violenta e o tema que é abordado que continua a criar discussão na sociedade e também é feito de um modo bem simples, pessoal e intimista, pois é importante que seja retratado com equilíbrio, sendo que é o que acontece neste caso e fazendo com que o público aprenda, compreenda facilmente sobre como o VIH surgiu e se emocione com os acontecimentos que vão ocorrendo com as personagens e tirando as suas próprias conclusões. Também a mostra a importância da liberdade, do amor, da empatia e da amizade e o quanto isso pode unir todos por um objetivo em comum, transmitindo uma mensagem muito poderosa e importante e que é essencial que as pessoas que são vítimas desta doença tenham uma voz, que possam viver a sua verdade e não sejam completamente ignoradas, lutando pela vontade de amarem quem quiserem e de serem livres. Estes cinco episódios tiveram ótimas interpretações que fizeram as suas personagens brilharem, cada uma à sua maneira, com discursos interessantes e que faziam sentido, sendo constituído por uma boa realização, cinematografia e edição e com referências aos anos 80, tais como a música que foi sendo introduzida e para além disso, tem cenas que podem ser menos delicadas a pessoas mais sensíveis, como é o caso da violência que é utilizada pelas autoridades ou o ambiente festivo que por vezes é excessivo e descontrolado.

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Série "Alex Rider" - quando um adolescente se torna num agente secreto britânico no departamento de espionagem do MI6

 

Alex Rider é uma série de ação e de espionagem da Amazon Prime Video que estreou em 2020, nos quais tem a transmissão exclusiva no canal português, AXN. Com apenas uma temporada de oito episódios e já com uma segunda temporada confirmada, este suspense foi produzido pelo Eleventh Hour Films e Sony Pictures Television, sendo que foi criado por Guy Burt e foi baseado nos livros de Alex Rider do britânico Anthony Horowitz, em que estes dois nomes fazem parte da lista de produtores executivos, juntamente com Eve Gutierrez, Jill Green e Andreas Prochaska e também tem a produção de Mat Chaplin.

Esta história conta as aventuras de Alex Rider (Otto Farrant), um jovem agente secreto britânico que tem uma mudança drástica e radical na sua vida de adolescente quando descobre que o seu tio Ian Rider (Andrew Buchan) foi assassinado, devido a uma missão em que trabalhava como espião e assim, chegou a sua vez de seguir os passos do seu familiar. Alex irá ser pressionado para participar num trabalho que pode estar relacionado com a investigação da morte misteriosa do seu tio, em que ele tem de se infiltrar num colégio interno nos Alpes Franceses chamado de Point Blanc e descobrir os segredos escondidos nesta instituição de elite, mas será que ele vai ter capacidades suficientes para evitar que seja descoberto?

O elenco é constituído por Otto Farrant (Alex Rider), Stephen Dillane (Alan Blunt), Vicky McClure (Sra. Jones), Andrew Buchan (Ian Rider), Brenock O’ Connor (Tom Harris), Ronke Adékoluejo (Jack Starbright), Liam Garrigan (Martin Wilby), Ace Bhatti (John Crawley), Thomas Levin (Yassen Gregorovitch), Haluk Bilginer (Dr. Hugo Greif), Howard Charles (Wolf), Nyasha Hatendi (Smithers), Ana Ularu (Eva Stellenbosch) e Marli Siu (Kyra Vashenko-Chao).

 

Alex Rider começa a fazer parte do mundo da espionagem após o seu tio ter sido morto, mas não será um caminho fácil de percorrer, pois ele vai ter de passar por muitos obstáculos e perigos mortais que até pode colocar em risco, as pessoas que ele mais gosta. Será que Alex vai conseguir cumprir com a sua missão?

Inicialmente, Alex era um simples adolescente britânico que vivia uma vida normal em Londres, juntamente com o seu tio, Ian Rider e com a sua ama americana, Jack Starbright. Um dia, uma tragédia ocorre quando o seu tio morre num acidente de carro, segundo a polícia, mas Alex descobre que afinal a morte de Ian Rider não aconteceu por uma mera coincidência, mas sim devido a uma conspiração muito maior do que ele imaginava, através do seu trabalho como espião do governo britânico que ele desconhecia, pois Alex estava convencido e acreditava que o seu tio trabalhava num banco. Assim, Alex vai fazer o que for preciso e o que tiver ao seu alcance para tentar perceber o que aconteceu e desvendar a morte misteriosa do seu tio.

 

Durante as suas investigações, Alex acaba por se cruzar com o departamento de espionagem do MI6 que era na realidade onde o seu tio trabalhava como agente secreto ao lado dos seus colegas, Alan Blunt, Sra. Jones, Martin Wilby, entre outros. Esta agência começa a perceber as habilidades inesperadas e evidentes de Alex, sendo que ele é pressionado para que ajude na investigação da morte de dois bilionários e de Ian Rider que podem estar relacionados entre si e assim, este jovem é recrutado para que se possa infiltrar num colégio interno chamado Point Blanc que é localizado nos Alpes Franceses, mas para que isso possa acontecer, Alex vai ter de assumir uma nova identidade, treinando e preparando-se devidamente para que nada falhe, caso venha a ser interrogado. Afinal qual será a ligação desta escola com a morte do seu tio?

 

Point Blanc é um colégio privado que recebe jovens que tenham comportamentos mais rebeldes e que podem ser corrigidos, nos quais os seus pais ricos não conseguem controlar e lidar, mas depois eles voltam a casa como pessoas completamente diferentes, educadas e com atitudes exemplares. Este é um estabelecimento completamente isolado do mundo que tem o Dr. Hugo Greif como o seu diretor e Eva Stellenbosch como a responsável dos estudantes, em que qualquer tentativa de fuga poderia vir a se tornar mortal e que ocorrem acontecimentos muito estranhos, sendo que os seus alunos podem fazer parte de um plano muito maior e que pode vir a trazer consequências sérias. Qual é o verdadeiro propósito desta instituição? Isso é algo que Alex vai ter de investigar durante a sua permanência por lá, sem que ninguém desconfie.

 

Alex Rider é um rapaz misterioso, reservado, teimoso e inteligente que gosta de estar no seu canto, mas que ao mesmo tempo consegue adquirir informações facilmente e que vai enfrentar grandes desafios ao longo da sua jornada que vão criar mudanças para o resto da sua vida. Mesmo que inicialmente se recusa a cooperar com o departamento de espionagem do MI6, ele percebe que não tem outra escolha quando começa a ser ameaçado. Por isso, Alex participa numa missão secreta que inclui ser um agente infiltrado no colégio Point Blanc que por acaso é o mesmo local em que o seu tio estava a investigar antes de morrer, tentando obter o máximo de respostas possíveis já que não é fácil, existir no mundo da espionagem, um adolescente a fazer este tipo de trabalho e sem que seja desmascarado.

 

O que Alex não sabia é que o seu tio o estava a treinar como espião já que ele tinha habilidades específicas que eram bem úteis para o seu trabalho como agente secreto, seja a nível de arrombar fechaduras ou mesmo o facto de conseguir lidar bem e resistir à tortura ou até mesmo em situações em que tem de lutar, acabando por surpreender muitos profissionais da área, como Wolf, entre outros. Ele não tinha a noção que estava a ser preparado desde a sua infância e que parecia sem dúvida, um profissional mesmo sendo tão novo que pelos vistos foi treinado ao longo da sua vida, mas infelizmente isto não chegou a ser bem explicado.

 

Este espião julgava que a sua infiltração em Point Blanc fosse muito simples, mas não foi isso que aconteceu, sendo que acaba por desvendar segredos bem perturbadores desta instituição que vão fazer com que Alex arrisque e coloque a sua vida em risco para tentar impedir o que está acontecer com os alunos desta escola, tornando-se assim, numa missão muito mais perigosa do que pensava.

Alex cria uma certa curiosidade para com o público, pois eles querem saber mais sobre este adolescente que tem um talento peculiar para a espionagem e consegue fazer coisas que parecem impossíveis de serem colocadas em prática. Para além disso, o espetador fica com a sensação que Alex já estava muito mais bem preparado do que se pensava para ser um espião e com habilidades específicas e impressionantes que foram úteis em diversos momentos durante a realização da sua missão, tornando-se assim, as suas aventuras divertidas e interessantes de se acompanhar. 

 

Este thriller tem momentos que inclui conspirações, mistérios, surpresas, revelações, traições, mortes, lutas com pouca violência, cenas de ação e de adrenalina e situações de espionagem, mas não deixa de ter as suas alturas mais dramáticas. Uma das melhores partes é sem dúvida, as perseguições a alta velocidade em ambientes com neve que seriam difíceis para qualquer um de nós, mas que Alex Rider consegue com uma facilidade surpreendente e de certa forma, divertida que pode abranger descidas bem inclinadas.

 

A história aborda as relações familiares e os seus dramas respetivos, mas também tem o seu lado mais leve e cómico, principalmente nas cenas que participa Tom Harris, o melhor amigo e o apoio de Alex Rider que é uma pessoa impulsiva e atrapalhada. Alex e Tom têm uma amizade próxima entre si, nos quais o jovem espião tenta esconder a sua vida dupla do seu amigo para não colocá-lo em perigo, mas será que vai conseguir protegê-lo?

A música de abertura da série chama-se The World is Mine de Samm Henshaw, sendo constituída por uma mistura de imagens que estão muito bem e com uma montagem que tem efeitos criativos, apresentando o tipo de história que vamos ter ao longo destes episódios, juntamente com a sua banda sonora bem escolhida que vai sendo apresentada durante as cenas com mais suspense, aventura e ação.

 

A cinematografia está mesmo muito bem realizada com fotografia adequada ao tipo de história, com um argumento fácil de se compreender e com uma edição bem implementada e trabalhada. Infelizmente, o argumento teve as suas falhas e as suas faltas de detalhes que eram fundamentais que tivessem presentes para que fossem explicadas determinadas situações, pois houve muita coisa que poderia ter sido melhor desenvolvida, como por exemplo, a relação de Alex com Ian e Jack, as origens de cada um dos alunos de Point Blanc, principalmente de Kyra que eu acho que seriam interessantes de se conhecer e as motivações que fizeram com que um dos antagonistas da história quisesse colocar os seus planos em prática.

 

O público não teve tempo suficiente para criar ligação com qualquer uma das personagens, sendo que foi o desenrolar da história em si que foi fazendo sentido e que acabou por prender a atenção do espetador, como foi o caso da criação de uma mistura de um objeto curioso, utilizando ideias improváveis que poderiam vir a ser uma ferramenta útil para ser utilizado mais tarde, numa perseguição a alta velocidade fascinante que ocorreu num dos episódios, mas mesmo assim não houve assim tanto perigo como se esperava neste tipo de narrativa. Para além disso, houve pontos que poderiam ter sido melhor explorados em que espero que sejam na próxima temporada, e também tenho pena que tivesse havido poucas cenas de ação e que a preparação de Alex Rider que foi realizada pelo seu tio tivesse sido pouco abordada.

Apesar de existirem situações em que falta algo, esta ficção científica continua a ter potencial para ser muito mais do que foi apresentado nestes oito episódios em que tem condições para melhorar com várias possibilidades para aproveitar este universo que é o de Alex Rider e desenvolver melhor a história de cada uma das suas personagens.

 

Num geral, Alex Rider traz uma boa história de espionagem numa versão adolescente que cria interesse a quem está a assistir, principalmente para quem gosta deste tipo de produções, pois temos a oportunidade de acompanhar um jovem que foi recrutado para o departamento de espionagem do MI6 e se torna num agente secreto britânico com uma vida dupla que é algo que não vemos todos os dias, sendo que é adequada para entreter o público mais jovem, mas também é uma boa aposta para adultos. A série tem um estilo próprio e faz lembrar ligeiramente situações que são mais frequentes de acontecer em filmes de espionagem muito conhecidos do público, chegando a um ponto que até chegamos a considerar Alex Rider como um tipo de James Bond quando era mais jovem.

Na minha opinião, esta série foi uma boa surpresa sem deixar de ter os seus momentos com mais adrenalina e feito de um modo muito simples que se enquadra para quem gosta deste tipo de aventuras ou até de espionagem e aconselhado a toda a família, sendo que fiquei curiosa para acompanhar mais sobre o universo de Alex Rider e com expetativas que eu espero que possa vir a surpreender nos seus próximos episódios.




terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Série "Vikings" - uma história fascinante e surpreendente que apresenta as tradições, os rituais e costumes bem peculiares da comunidade dos vikings e as diferenças entre a religião nórdica e o cristianismo

Vikings é uma série histórica de 2013 que foi criada e escrita por Michael Hirst como um dos produtores executivos, em que é constituída por 6 temporadas, num total de 79 episódios e foi produzida e transmitida pelo History Channel, mas também está disponível nos canais portugueses, TVCine Action e AMC e nas plataformas Netflix e Amazon Prime Video. Esta é uma produção da MGM Television, Octagon Films, Take 5 Productions, Shaw Media e Corus Entertainment, sendo que Trevor Morris é o responsável pela banda sonora.

 

Esta história retrata a vida de Ragnar Lothbrok (Travis Fimmel), um famoso viking e agricultor, tendo sido conhecido por ter tido grandes conquistas na sua época e por ser reconhecido pelo seu povo, como um descendente de Odin, o Deus da Guerra. Para além de conhecermos melhor a sua família, também iremos acompanhar a jornada de Ragnar enquanto guerreiro implacável, ao mesmo tempo que explora novas terras e seguindo a tradição e as indicações dos deuses nórdicos.

 

O elenco é constituído por Travis Fimmel (Ragnar Lothbrok), Katheryn Winnick (Lagertha), Gustaf Skarsgård (Floki), Alexander Ludwig (Bjorn Lothbrok/Ironside), Georgia Hirst (Torvi), Alex Høgh Andersen (Ivar), Jordan Patrick Smith (Ubbe), Marco Ilsø (Hvitserk), Peter Franzén (Harald Finehair), Clive Standen (Rollo), John Kavanagh (Vidente), Linus Roache (Rei Ecbert), Alyssa Sutherland (Aslaug), George Blagden (Athelstan), Maude Hirst (Helga), Jennie Jacques (Judith), Moe Dunford (Aethelwulf), Adam Copeland (Kjetill Flatnose), Jasper Pääkkönen (Halfdan), Gabriel Byrne (Earl Haraldson), Jessalyn Gilsig (Siggy Haraldson), Ragga Ragnars (Gunnhild), Ferdia Walsh-Peelo (Alfred), Jonathan Rhys Meyers (Bispo Heahmund), Danila Kozlovsky (Príncipe Oleg), Ben Robson (Kalf), Donal Logue (Rei Horik), David Lindström (Sigurd), Alicia Agneson (Freydis), Steven Berkoff (Rei Olaf), Eric Johnson (Erik), Josefin Asplund (Astrid), Jefferson Hall (Torstein), entre outros.

 

Este drama histórico está relacionado com o caminho que Ragnar Lothbrok teve de percorrer para se tornar numa lenda para as diferentes comunidades dos vikings, sendo que durante a sua vida passou por obstáculos de todos os tipos, mas que nunca o fizeram desistir de ser um autêntico explorador e guerreiro e também deixando aos seus descendentes, lições vitais para sobreviverem e quem sabe, conseguirem o que ele não teve oportunidade de alcançar. Ragnar conseguiu ser bem-sucedido nas suas invasões a Inglaterra e França que anteriormente tinham sido um fracasso para o povo nórdico, mas sem dúvida que não foi uma tarefa fácil para ele, pois passou por diversas dificuldades para que conseguisse criar a sua reputação e ser uma referência futura para qualquer pessoa que quisesse seguir os seus passos e quem sabe, conquistar novos territórios.  

 

Esta série é inspirada nas lendas da Escandinávia medieval que desenrola-se no norte da Europa em que atualmente situa-se a Suécia, Dinamarca e Noruega, durante o período da Idade Média, sendo que inicialmente foi focado em Ragnar Lothbrok, na sua família e na cidade de Kattegat, mas aborda diversos temas relacionados com as histórias das expedições marítimas e as conquistas territoriais que foram acontecendo nesta época e temos a oportunidade de aprender mais sobre a cultura nórdica e as rotas de comércio que existiram naquela altura.

Esta é uma história que apresenta as tradições, os rituais e costumes bem peculiares da comunidade dos vikings e a própria mitologia nórdica com referências aos seus deuses, sendo que é repleta de reviravoltas, surpresas, conflitos, sexo, violência, guerra, violação, assassinatos, traições, manipulações, invasões, batalhas, vinganças, profecias, intrigas, morte, torturas e muito mais, mas sem que falte, momentos de perda, desilusão e de dor para cada um deles.

Tudo isto inicia-se com as aventuras de um guerreiro nórdico chamado Ragnar Lothbrok que viveu no período medieval e que era um simples agricultor, mas que queria ser algo mais, tendo sido considerado como um dos maiores guerreiros da sua época. Ele foi um líder lendário e uma figura viking que foi marcante para a história deste povo através das suas invasões a Inglaterra e França, ao mesmo tempo que negociava alianças e acordos, utilizando o medo dos seus adversários como vantagem para que fosse evitado mais derramamento de sangue e criando assim, melhores condições para o seu povo.

 

Ragnar é uma pessoa muito inteligente, resiliente, ambiciosa, curiosa que segue as tradições nórdicas e tem uma devoção muito grande aos deuses, já que acredita-se que ele seja um descendente do Odin, o Deus da Guerra, mas não deixa de desafiá-los que pode vir a ter as suas consequências. Ele é revolucionário de tal forma que quer começar por desafiar Earl Haraldson para um duelo e se vencer, poderá ser o novo rei de Kattegat, mas será que isso vai acontecer?

Para além disso, Ragnar quer conquistar e dominar o máximo de territórios disponíveis na Europa, mas será que vai conseguir? E se conseguir, será que é o suficiente para ele ou necessita de mais? Estas são perguntas legítimas, pois ele está constantemente à procura de mais e de melhor, por mais coisas que consiga obter. Este é um homem que quer invadir e explorar o desconhecido, sendo que percorreu um caminho de conquistas que tiveram as suas dificuldades até se tornar na lenda que ficou conhecido, tornando-se numa figura que entrou mesmo para a história da cultura nórdica.

Ragnar Lothbrok não é um viking qualquer, pois ele é um indivíduo peculiar, confiante no que está a fazer e muito carismático, mas com um pensamento de um autêntico explorador que cativa o espetador e que quer dar um novo rumo ao seu povo, nem que tenha de confrontar o rei Egbert de Wessex que tem o reino mais poderoso de Inglaterra, em que as cenas partilhadas por ambos são curiosas, principalmente durante os jogos de xadrez. Este guerreiro fez invasões a Inglaterra e França que fez com que criasse vários inimigos que terá de enfrentar para obter o que quer e ao longo da sua jornada, ele terá de lidar com muita coisa, mas sem dúvida, que tudo aquilo que Ragnar conseguiu conquistar acaba por impor respeito a todos aqueles que o conheceram ou que ouviram falar dele em que a sua história foi contada para as gerações seguintes. Ele sempre quis paz para a sua comunidade, mas não deixa de ter os seus defeitos, pois tomou decisões que nem todos aceitaram ou concordaram que consideravam como um tipo de traição para com o seu povo e isso fez com que ele não tivesse satisfeito com algumas das suas atitudes, chegando ao ponto de arrepender-se.

 

Este é um homem que é um ótimo lutador e um bom líder, mas que tem sonhos que parecem ser difíceis de realizar, mas ele não desiste, por mais obstáculos que possam aparecer, em que temos a oportunidade de ver o lado mais humano de Ragnar e os momentos que partilha com os seus filhos, mostrando o seu bom coração e fazendo com que crie empatia com o público de um modo natural, chegando a um ponto que a pessoa está a torcer por ele e até fica com saudades de ver a sua presença, mas que continua a ser falado através da perspetiva das restantes personagens. Ele aprende com os outros, mesmo que estejam em lados opostos da guerra, sendo que vai passar por um processo de amadurecimento não só com a sua personalidade, mas também relativamente à sua religião ao mesmo tempo que vai criando a sua reputação.

 

Travis Fimmel está de parabéns pelo desempenho brilhante desta personagem que foi muito bem trabalhada desde o início ao fim, sendo que tem uma personalidade complexa, em que temos a oportunidade de ver a sua evolução ao longo das temporadas de um modo surpreendente e cativante, fazendo com que o público nunca se vá esquecer da vida e do desenvolvimento respetivo de Ragnar Lothbrok, um herói para o seu povo e com espírito aventureiro.

 

Ao longo dos episódios, vai sendo retratado a religião nórdica e o cristianismo, em que surge situações de conversão para uma destas e um dos exemplos são as conversas interessantes entre o Ragnar e o Athelstan que são um viking e um cristão que compartilham entre si, os seus costumes, sendo que cada um tem curiosidade em saber mais não só sobre as tradições e o modo de viver, mas também da religião do outro e sem dúvida, que é uma ligação improvável de duas pessoas que têm religiões distintas. Ragnar aprendeu muito com Athelstan, valorizando outras culturas e outras vivências e Athelstan começa a compreender a cultura nórdica, depois de ter sido capturado por esta comunidade e também devido aos seus momentos passados com Ragnar.

 

Ragnar não seria a mesma pessoa se não fosse pela existência de uma das personagens mais engraçadas e interessantes da série que é o Floki, considerado como o seu melhor amigo e principal aliado. Floki é uma personagem excêntrica, divertida, caricata, leal e um grande construtor de barcos, mas vê as coisas de uma maneira bem diferente das outras pessoas. Para além disso, ele é um grande guerreiro viking que segue a vontade dos deuses, sempre pronto para lutar, mas tem uma linguagem corporal, bem característica da sua personalidade, sendo que por vezes, é considerado como uma pessoa louca. Com o tempo, Floki passa por uma mudança que transforma-o numa pessoa diferente, acabando por ter uma visão nova perante o mundo depois de todo o sofrimento e dificuldades pelos quais passou, principalmente depois da partida dos seus entes queridos.

 

Para além de Floki, Ragnar tem o apoio da sua família, o seu irmão Rollo, o seu filho mais velho, Bjorn Ironside e as suas mulheres, Lagertha e a princesa Aslaug, mas esta dinâmica familiar não será perfeita, pois irá passar por desafios constantes. Ragnar considera Lagertha como sendo o amor da sua vida, mas ele acaba por ter uma paixão e casar-se com outra mulher, Aslaug que tem muitos segredos e também irá dar-lhe mais descendentes para além de Bjorn que é o Ubbe, Hvitserk, Sigurd e Ivar. Será que os seus filhos vão conseguir seguir com o seu legado? Vai chegar o momento em que a história deixa de ser sobre a vida de Ragnar e passa a ser sobre a vida dos seus descendentes e o caminho que decidiram seguir que pode incluir vingança.

 

Lagertha é uma das melhores personagens femininas existentes até hoje, em que mostra a sua determinação, força e coragem, seja qual for a situação, pois inicialmente era uma agricultora que passou a ser uma escudeira eficaz e uma brilhante guerreira viking cheia de habilidades que teve de fazer sacrifícios para chegar onde queria. Ela é uma mulher que escolheu lutar ao lado dos homens em cada batalha e também é uma ótima líder, sendo que tem o seu próprio exército constituído maioritariamente por mulheres guerreiras e livres que são pessoas que sempre foram muito destemidas e nunca tiveram dificuldades em colocarem-se no campo de batalha. Mesmo sendo a principal aliada e o amor da vida de Ragnar, ela não consegue aceitar a traição dele quando escolheu Aslaug para sua nova esposa e tenta seguir em frente, pois nesta comunidade, as mulheres escolhiam quem queriam ser e ninguém as impedia e esta história mostra o papel que elas têm neste povo e a forma como lutavam no campo de batalha.

Apesar de ser uma personagem forte e ter capacidades de ser rainha de Kattegat, Lagertha também mostra o seu lado mais vulnerável e dramático, principalmente aquele que é decorrente das traições e perdas que foi sofrendo e sem dúvida, que ela conquistou respeito dos outros, mas também do próprio público, em que determinadas situações a pessoa identifica-se com ela.

 

Cada um dos filhos de Ragnar tem uma personalidade própria, mas complexa, sendo que cada um deles tem de enfrentar os seus demónios e utilizar os ensinamentos do seu pai para se tornarem na pessoa que é suposto serem, seja por exemplo, um explorador ou um líder ou um lutador nato, mas nem todos vão conseguir superar as suas dificuldades e a escuridão pode vir a ser mais forte do que qualquer outra coisa. Mesmo assim, cada um da linhagem de Ragnar quer ser relembrado pelos seus atos e pela sua identidade e não só por serem filhos deste guerreiro, por isso vão ter uma jornada longa e difícil pelo caminho para provarem quem são e o que estão dispostos a fazer para chegarem aquilo que querem, planeando os seus passos e para além disso, é interessante acompanhar os progressos dos descendentes de Ragnar Lothbrok em que cada um vai ter o seu momento para brilhar, uns mais do que outros.

 

Comecemos por Bjorn Ironside que teve um crescimento e evolução fascinante ao longo das temporadas que é corajoso como a mãe e tem uma relação próxima com ela. Ele tem semelhanças nos comportamentos de Ragnar, tanto a nível da sua personalidade como a nível dos seus desejos que tinha a essência de um excelente lutador, mas que ao mesmo tempo, tinha vontade de conhecer novas terras, sendo que acabou por fazê-lo durante a sua jornada pelo Médio Oriente que tive pena que não tivesse sido mais bem aproveitado, pois infelizmente não acrescentou muito à história.

 

Bjorn é uma pessoa atenta que tenta mostrar o seu valor perante o seu pai, sendo que não quer repetir erros que foram cometidos pela sua figura paternal e muitos dos atos que ele comete criam impacto para os outros. Ele acaba por tornar-se num líder nato em Kattegat, com os guerreiros vikings ao seu lado e consegue unir povos da mesma comunidade, mas separado por reinos que têm um grande respeito por ele de tal forma que mostram a sua lealdade quando Bjorn mais necessita, principalmente como aliados em batalhas para vencerem um inimigo em comum. Infelizmente, guerra entre irmãos é frequente de acontecer nesta história e isso sucede não só entre Ragnar e Rollo, mas também entre Bjorn e o seu irmão mais novo, Ivar que por vezes são causados por intrigas e ambições de uma das partes.

 

Ivar tem a alcunha de The Boneless e acaba por ser um dos principais antagonistas da história. Ele é uma pessoa mimada e muito inteligente, principalmente em criar estratégias para batalhas, mas tem um lado mais perigoso e violento que inclui os seus momentos de loucura e comporta-se como o vilão. Ivar passou por uma infância complicada cheia de sofrimento e com limitações físicas e por um caminho obscuro, onde tinha uma mãe muito protectora e tinha Floki que teve a tarefa de educá-lo e lhe deu muitos ensinamentos, mas de certa forma, até teve ocasiões em que passou com Ragnar.

 

O filho mais novo de Ragnar tem alturas em que é irritante e louco de uma forma que luta sempre contra os seus irmãos, apesar de por vezes ter o apoio de Hvitserk com quem tem uma relação de amor e ódio já que está sempre a atormentá-lo. As suas ações não têm limites tornando-se assim, numa pessoa perigosa e imprevisível, chegando a um ponto em que os seus ossos se podem partir a qualquer momento. O ator Alex Høgh Andersen fez uma ótima interpretação desta personagem, principalmente nas situações em que basta as expressões faciais de Ivar para descrever o que ele está a pensar, sendo que não são necessárias palavras e este é um bom exemplo para que o olhar possa ser a expressão da alma.

 

Ivar tem a oportunidade de viver a sua própria aventura em território russo, sendo que ficamos a conhecer mais sobre a história dos vikings russos que tiveram vivências bem diferentes dos restantes. Ele acaba por ter uma relação complexa e misteriosa com Oleg, que tem o seu lado maléfico e que quer ficar com o trono que pertence ao seu sobrinho, o príncipe Igor, mas que ainda é muito novo para reinar. Durante o seu tempo por este novo território, Ivar vai ter uma ligação muito próxima com o príncipe Igor, chegando a um ponto em que vemos um lado mais humano desta personagem.

 

Hvitserk é uma pessoa muito complicada com os seus vícios e que sempre teve na sombra dos seus irmãos, mas que nunca se sabe onde está a sua lealdade e tem uma escuridão tão obscura que tem dificuldades em lidar com a mesma. Enquanto Ubbe sabe quais são as suas prioridades e aquilo que quer fazer e apesar de gostar de estar em batalha, também considera-se como um explorador como o seu pai e prefere fazer expedições para conhecer novos territórios como foi o caso da Islândia, mas sem dúvida, que ele é um dos filhos mais leais, justos e determinados da família Lothbok.

Um dos aliados e um dos rivais dos filhos de Ragnar foi Harald Finehair que nunca conseguiu ter o amor que precisava e estava constantemente à procura de batalhas para que sentisse a adrenalina que costuma ter quando está a lutar contra os seus adversários. Ele quer obter poder, mas não quer estar sossegado, pois deseja sempre mais e aquilo que consegue alcançar não é suficiente para ele e pretende ter uma morte digna de um guerreiro e ser lembrado por aquilo que conquistou tal como aconteceu com outros heróis, como Ragnar. Infelizmente, não mostraram especificamente como foi o seu reinado de anos e a sua descendência.

Esta série de carácter de drama e ação não fala só sobre uma personagem específica ou é sobre a história de Ragnar Lothbrok e da sua família, mas sim de uma comunidade de seres humanos com as suas próprias tradições e costumes que são os vikings e que foi inspirada em figuras que existiram na realidade, tais como Ragnar, Lagertha, Bjorn, Ivar ou Alfred, contando como era a história que desenrolava-se na antiga Escandinávia que teve viagens por França, Inglaterra, Islândia, outros continentes e muito mais. Também mostra as diferenças entre duas religiões que têm fé em determinadas entidades, sejam os deuses nórdicos, Odin, Thor, Freya ou o deus católico e o seu filho, Jesus Cristo e a forma como lidam com as dúvidas que vão surgindo e como pode influenciar o comportamento de cada um deles, sendo que aparecem personagens que apresentam a sua devoção, mas ao mesmo tempo, as suas contradições, como por exemplo, o bispo Heahmund que é um guerreiro eficaz nas batalhas e utiliza a palavra de Deus para justificar as suas ações, defendendo a sua fé e o seu rei.

 

Estes vikings são forças da natureza, com um bom instinto de sobrevivência e uma mente aberta, sendo constituído por um povo violento que tem uma cultura diferente e oposta ao dos cristãos que considerava-os como selvagens. Não têm misericórdia pelos seus adversários e são daquelas sociedades que podiam ser levados a locais incertos, mas que acreditavam sempre no seu líder e nos deuses que os acompanham. Nem todos os vikings acreditavam nas promessas de Ragnar, mas ele conseguiu provar daquilo que era realmente capaz de fazer, impressionando muito daqueles ao seu redor.

Os vikings são exploradores, comerciantes, agricultores e guerreiros que acreditavam na mitologia nórdica que incluía ter fé em Odin, Thor, Freya, entre outros, sendo que faziam sacrifícios e comemorações em homenagem aos seus deuses e também outras festas e orações como forma de apresentarem a dedicação convicta nestas entidades. O público tem a oportunidade de aprender mais sobre a religião, a cultura, a lealdade e os costumes deste povo e as suas características e mudanças que possam vir a ter e tudo isto é apresentado de um modo informativo.

 

Estes guerreiros sem piedade e com comportamentos imprevisíveis gostam de ir para a guerra e têm essa necessidade, sendo que querem garantir que na batalha possam vir a ter uma morte decente e com honra e assim, eles iriam entrar em Valhalla que é considerado como o paraíso para este povo para festejarem com os seus deuses em grandes banquetes. Por isso, os vikings não têm medo de morrer em batalha, desde que seja a lutarem, mostrando toda a sua crueldade e criando medo e pânico nas pessoas com quem se cruzavam, pois eles vivem para a guerra e acreditam que os deuses estão muito presentes na batalha. Para além disso, eles são grandes navegadores com boas frotas, em que as suas deslocações nem sempre são fáceis, principalmente se aparecerem pelo caminho, tempestades que podem destruir os seus barcos que são vitais para chegarem ao destino e por isso, eu considero que a construção dos barcos é muito bem feita e representada na série. De uma forma resumida, temos os vikings divididos em dois grupos, aqueles que estão constantemente em batalhas e os outros que preferem explorar novos territórios, mas claro que não escapa invasões que possam ser realizadas por elementos do mesmo povo ou até acontecimentos que podem fazer toda a diferença e mudar o mundo dos vikings de uma forma significativa.

 

Os vikings não seriam os mesmos se não fosse pelos seus momentos de festejo, em que a cerveja é imprescindível para as suas inúmeras celebrações e brindes, sendo que quando eles elevam os copos, nos seus discursos inspiradores, uma das palavras mais utilizadas por estes é Skol que até fica na memória, mas sem dúvida, que não existe qualquer tipo de limites para estes guerreiros, relativamente ao consumo desta bebida ou até para a realização dos seus funerais que são sempre criativos.

 

Um dos primeiros destinos destes vikings acaba por ser Wessex que era uma localização que não estavam nada à espera e que não esperavam dificuldades, mas este é um reino que é governado pelo rei Ecbert que não vai facilitar e vai defender as suas terras, mas será que vão vencer ou terão de negociar? E quando chegarem a Paris, uma cidade que parece impenetrável, será que vão conseguir ultrapassar um desafio que parece impossível?

 

Cada uma destas personagens passam por desafios constantes e por uma luta interior que precisam de lidar mais cedo ou mais tarde que inclui momentos auto-destrutivos e mais negros, passando assim por uma viagem de auto-descoberta da sua identidade e existem aquelas que tentam corrigir os erros do passado, pois acabam por aprender com os mesmos e querem melhorar. Assim, o carácter de cada um destes indivíduos é posto à prova, mas nem todos vão conseguir enfrentar da mesma forma e seguir em frente, sendo que por vezes, há quem peça conselhos a um vidente específico que apesar de ser cego tem outras habilidades que possam ajudar a encontrar uma resposta. Depois, ao contrário da maior parte das pessoas, existem aquelas que querem simplesmente parar depois de muitos anos repletos de batalhas, pois chegou o momento de pousar a espada e tentar viver uma vida mais calma e simples. Por isso, chegamos à conclusão que cada uma destas pessoas tem o seu propósito, por mais dificuldades que tenham de passar para cumprir com o seu destino, mas que são livres para escolher o que acham que é o melhor para elas.

Uma boa banda sonora é fundamental para cativar quem está a assistir a uma série e neste caso fez toda a diferença e foi bem escolhida, chegando a um ponto que o tema de abertura tem a música, If I Had a Heart da sueca Karin Dreijer Anderson, com nome artístico, Fever Ray que fica no ouvido, criando impacto e encaixando-se tão bem de um modo misterioso que acrescenta imagens do mesmo tipo no genérico de Vikings, de tal forma que sempre que se ouve, esta acaba por ficar associada à história desta produção e todos os momentos musicais que são introduzidos em cenas importantes, tais como as de batalha.

 

Na minha opinião, as cenas das batalhas são extraordinárias, memoráveis, épicas e mesmo muito bem executadas, mostrando até os pormenores mais sangrentos e com coreografias de lutas impecáveis. Podem ser ataques com machados, facas, espadas, flechas juntando as formações utilizadas para a batalha, de acordo com a circunstância, seja para defender ou para atacar e com a ajuda de ferramentas que podem trazer vantagem para a invasão. As estratégias que são utilizadas em cada batalha são peculiares, principalmente quando se colocam em formação de uma parede de escudos ao mesmo tempo que mostram a resistência que estes guerreiros têm durante uma batalha e a vontade que têm de querer constantemente continuar a lutar.

O espetador fica impressionado e fascinado com as cenas das batalhas que vão sendo apresentadas, porque parecem mesmo reais pelo modo de como foram estruturadas e desenvolvidas, criando um resultado final com uma qualidade brilhante que até a pessoa fica com pena quando acabam. Não há falta de batalhas em que cada uma tem uma característica bem específica nem de violência e derramamento de sangue que é constante, chegando a um ponto que ficamos a torcer para que as nossas personagens favoritas não saiam da batalha, feridas ou algo pior. Para além disso, as sequências e diferentes ângulos utilizados para cada uma das batalhas são tão bem escolhidas e filmadas que até conseguimos ver os detalhes ou mesmo ver a cena de ação numa perspetiva mais próxima e através de visões panorâmicas.

 

Apesar de ser uma ficção histórica e não ser completamente fiel à história original, isso não deixa com que o público perca o interesse de acompanhar a mesma, pois muito do sucesso é devido ao modo como os atores interpretaram as suas personagens carismáticas que faz com que as pessoas fiquem cativadas com cada uma à sua maneira, consigam identificar-se com uma destas e perceber os motivos para alguns dos seus atos e assim, mantêm a vontade de querer continuar a seguir as aventuras destes vikings e companhia. Dá para perceber que o seu criador teve liberdade e aproveitou a sua criatividade para colocar ideias únicas e inesperadas que acabariam por surpreender o público, mas tenta ser fiel às pessoas reais que fizeram parte desta época e à história da forma mais fidedigna possível, sendo que houve momentos em que parecia que a série tinha o seu próprio universo.

É importante que a pessoa esteja atenta à história para não se perder, pois chega a um ponto que são tantas personagens que são relevantes para muitos dos acontecimentos que vão ocorrendo e assim, é fundamental que se consiga saber a identidade de cada uma destas que tem o seu papel específico.

 

Este drama é constituído por cliffhangers imperdíveis, principalmente se a pessoa estiver a ver um episódio semanal que foi o que aconteceu no meu caso, criando vontade de ver o que vai acontecer de seguida, mas que infelizmente tem de aguardar uns dias ou mais para que chegue à altura do próximo. O seu final não vai agradar a todos, pois foi bem inferior ao que se esperava, com momentos interessantes e satisfatórios, mas alguns deles foram demasiado apressados, sendo que a série foi tendo mudanças bem significativas que acabaram por influenciar o resto da história e foi pena, porque merecia algo épico, inesperado e inesquecível.

Não precisa de existir avaliação da série dos Vikings sobre se está a ser realmente fiel à sua história original, pois vão existir partes que isso não vai acontecer ou outras coisas que foram abordadas que eu acho que foram desnecessárias e não fizeram muito sentido, sendo que poderiam ter sido aproveitadas de outra forma, mas que de uma certa forma, é curioso para se ver alternativas que podem vir a funcionar no caminho que as personagens têm de percorrer e assim, o espetador ter a sua interpretação e perspetiva ao mesmo tempo que vai criando empatia com este povo. A história tem os seus altos e baixos, principalmente depois da mesma ter sido totalmente dedicada aos descendentes de Ragnar a partir da 5ª temporada, mas não deixam de ter momentos que criam mais emoção ao público. Para além disso, as personagens foram sendo bem construídas e desenvolvidas ao longo dos episódios, mas alguns dos finais não corresponderam às expetativas e outros até superaram as mesmas.

 

Apesar de ser uma série muito interessante não deixa de ter as suas falhas, seja a nível de argumento ou de ritmo ou de episódios mais parados e com pouca ação, mas mesmo assim, continua a captar a atenção de qualquer um que acaba por adquirir conhecimento sobre uma história de época que foi sendo adaptada, de acordo com os acontecimentos que foram ocorrendo. Como referido anteriormente, o ritmo nem sempre é equilibrado em que existem momentos que é demasiado rápido e apressado ou até mais para o lento, fazendo com que alguns episódios fossem mais chatos de acompanhar e não houvesse tanta ação como se esperaria neste tipo de história. Para além disso, houve núcleos que foram mais cansativos principalmente do grupo que foi explorar a Islândia com Floki, mas quando este foge das confusões criadas por aquela comunidade, o seu desfecho fica em aberto e envolto em mistério, parecendo que perde o sentido naquela parte da história que acaba por melhorar quando chega Ubbe, mas será que esta história vai ter um final digno?

 

Num geral, Vikings teve uma qualidade excelente ao longo destas seis temporadas e com performances espectaculares, sendo que é uma série que sempre criou expetativas altas ao longo dos seus episódios que vão ficar na memória do público, principalmente pela sua cultura nórdica, pelas suas personagens carismáticas e cativantes que percorreram uma jornada cheia de aventuras e obstáculos e pelas suas batalhas estrondosas que despertaram sempre um interesse no espetador que sente que está a testemunhar todos os acontecimentos, de tal forma que a curiosidade pelo próximo episódio era sempre elevada. Esta é uma boa opção para que se possa aprender mais sobre a era dos vikings e todos os seus costumes e tradições e também é uma ótima fonte de entretenimento que representa muito bem a época em que a história se desenrola.

 

Esta é uma história de ação e aventura dinâmica que consegue envolver quem está a ver, através da sua boa cinematografia e qualidade técnica e também misturar o real com a ficção, sendo constituída por cenários e figurinos que são muito bem desenvolvidos e parecem tão reais, atraindo o espetador com as suas personagens marcantes e bem desenvolvidas que são um destaque para uma série histórica que vicia em que é interessante ver o envelhecimento e as mudanças que vão sucedendo com cada uma destas. A fotografia foi sendo bem escolhida, mesmo que inicialmente a série tivesse um orçamento baixo, mas com o tempo isso foi aumentando ao longo das temporadas. Os efeitos visuais também são bem introduzidos em que temos a oportunidade de ver vistas estupendas, seja em florestas ou montanhas ou mesmo paisagens lindíssimas, principalmente quando são mostradas durante a viagem de auto-descoberta de Floki que tinha como objetivo submeter-se à vontade dos deuses para tentar saber a sua missão.

 

Infelizmente, eu fui daquelas pessoas que demorou algum tempo a acompanhar Vikings que acabou por influenciar de certa forma, a cultura pop a todos os níveis e depois chego à conclusão que deveria ter visto há muito mais tempo, pois é uma série que tem uma narrativa empolgante com um lado místico e com os seus momentos de tensão que inclui mortes épicas e memoráveis e boas surpresas, em que tem um universo que tem muito para ser explorado, mas que vale mesmo a pena ver e aprender mais sobre a história deste povo nórdico sobrevivente e os heróis que fizeram toda a diferença naquela época.

Ainda havia muito para falar sobre esta série de época fantástica e surpreendente que tem todos os ingredientes necessários e boas referências para o seu sucesso e para abordar este tema que é acompanhar o funcionamento da sociedade viking que ainda não tinha tido uma boa representação mais fiel ao real, destacando-se como uma das maiores produções já realizadas e conseguiram aproveitá-lo durante seis temporadas com personagens que têm um papel específico para os acontecimentos da história que eu tenho pena que tenha chegado ao fim, mas o melhor é verem pelos vossos próprios olhos e chegarem às vossas conclusões sobre esta era viking.

Sabiam que os atores portugueses Albano Jerónimo e Ivo Alexandre tiveram uma participação especial nesta série? Gostariam de saber mais sobre os bastidores de VikingsPodem aceder às perguntas exclusivas feitas ao ator Alexander Ludwig (Bjorn Ironside), através do seguinte link: https://ageektraveller.blogspot.com/2019/12/alexander-ludwig-o-bjorn-ironside-da.html