terça-feira, 28 de julho de 2020

Série "Brave New World" - uma história de uma sociedade que desenrola-se no futuro, na cidade de New London



A série “Brave New World” é um original da Peacock, constituído por 9 episódios, que estreou recentemente nesta plataforma de streaming da NBC Universal, e onde também está disponível na HBO Portugal, com o nome de Admirável Mundo Novo. Sendo produzida pela UCP, do Universal Studio Group, em associação com a Amblin Television, esta é baseada no romance best-seller clássico de Aldous Huxley, publicado em 1932, em que a criação desta história utópica está à responsabilidade de David Wiener e também tem como produtores executivos Darryl Frank, Justin Falvey, Brian Taylor, Grant Morrison, entre outros.

 

Esta história desenrola-se na cidade de New London, onde Bernard Marx (Harry Llyod) e Lenina Crowne (Jessica Brown Findlay) vivem numa sociedade perfeita em que toda a gente sente-se feliz e em segurança, sendo controlados por um medicamento chamado Soma. Um dia, Bernard e Lenina deslocam-se para as Terras Selvagens, onde têm a oportunidade de presenciar como a humanidade vivia antigamente, mas nem tudo corre da forma como julgavam, principalmente quando metem-se no meio de uma revolução muito violenta e correm perigo de vida, mas felizmente cruzam-se com John (Alden Ehrenreich), acabando por serem salvos por este selvagem e fugindo com ele, de volta a New London. Depois de regressarem a New London juntamente com John, Bernard e Lenina tentam voltar às suas vidas normais, mas eles não imaginavam que os eventos traumáticos pelos quais passaram seriam responsáveis por trazerem muitas mudanças e dúvidas constantes, que podiam colocar esta comunidade perfeita em risco, principalmente devido a John, que a qualquer momento, poderia vir a destabilizar o seu correto funcionamento.

 

O elenco é constituído por Alden Ehrenreich (John the Savage), Jessica Brown Findlay (Lenina Crowne), Harry Lloyd (Bernard Marx), Joseph Morgan (CJack60), Nina Sosanya (Mustafa Mond), Hannah John-Kamen (Willhelmina ‘Helm’ Watson), Kylie Bunbury (Frannie), Demi Moore (Linda), Sen Mitsuji (Henry Foster), Matthew Aubrey (Gary), entre outros.



 

Esta adaptação idealiza uma sociedade utópica que alcançou a paz e estabilidade, através da proibição da monogamia, privacidade, dinheiro, família e da história em si. Por isso, New London é um sítio, onde toda a gente é feliz ou pelo menos pensam que são e pessoas, tais como, Bernard e Lenina sempre viveram perante uma ordem social rígida, nos quais inclui um medicamento perfeito chamado Soma e uma cultura de gratificação instantânea e relações sexuais omnipresentes. 

 

É uma história que imagina um mundo que nunca foi visto e conta como a humanidade poderia utilizar a alta tecnologia no futuro, tendo como objetivo de prevenir as pessoas de estarem desconfortáveis em determinadas situações ou impedirem-nas de enfrentar possíveis ideias que são diferentes, mas que podem tornar-se numa mudança significativa para o seu modo de viver.



 

New London é um local constituído por várias restrições, onde não há violência, nem fome, sendo que todas as pessoas têm um sítio específico onde pertencem e com uma missão a cumprir. Supostamente este seria um sítio perfeito para qualquer um, mas não é bem assim, que tudo acontece, na realidade. Esta é uma comunidade que tem uma determinada ideologia perante variados assuntos e não questiona, ou seja, simplesmente aceita, pois é assim que funciona o seu condicionamento, tudo graças à alta tecnologia que construiu o sistema da Indra, que está constantemente, a controlar todos os passos de cada pessoa.

 


Mesmo a viverem num sítio tão peculiar quanto New London, estas pessoas sempre tiveram alguma curiosidade perante a Savage Land (Terras Selvagens, em português) e os seus habitantes chamados de Savages (Selvagens, em português), criando um mistério constante, pois nem todos estão autorizados a visitarem estas terras.

 

Para esta sociedade, os Selvagens eram pessoas repletas de violência e caos, que não sabiam comportar-se perante os outros, mas quando têm a oportunidade de conhecer um, a curiosidade acaba sempre por ser maior, fazendo com que neste caso, John torne-se num tipo de celebridade local e podemos ver o que acontece com ele quando se vê envolto numa cultura completamente diferente daquilo que ele está habituado.

 

Esta comunidade de New London não tem os hábitos e costumes que estes Selvagens têm, ou seja, consideram os Selvagens como um tipo de mito, onde ouvem cada lenda com muita atenção e são deslumbrados com as histórias relativamente a esta espécie, que são atualmente considerados como seres primitivos.



 

As Terras Selvagens acabaram por tornar-se num género de parque temático, dividido em seções ou casas, nos quais os visitantes tinham a oportunidade de experienciar a vida dos Selvagens, tendo direito a uma tour com guia incluído, realizada numa carrinha da escola para assim saberem mais sobre a história deste povo, tornando-se assim, numa visita divertida, segura e selvagem. Todos os visitantes podem visitar 4 casas que estão incluídas no Parque das Terras Selvagens que são a Casa do Querer, Casa da Consequência, Casa da Futilidade e Casa da Monogamia, nos quais cada uma oferece uma visão autêntica e fascinante da vida dos Selvagens e onde existem espetáculos ao vivo, protagonizados pelos mesmos. Para além disso, também podiam dormir lá, no Hotel Excelsion, visitar uma exposição contendo animais já extintos ou participarem em atividades mais sexuais.


 

Com a criação da Indra, isto permitiu que pessoas civilizadas formassem um novo Estado Mundial, mas os Selvagens recusaram esse destino, por isso continuaram a seguir até à atualidade, na sua existência mais primitiva, mantendo assim, a cultura e as suas tradições.

 

Os Selvagens têm uma perspetiva diferente de como o mundo realmente é, nos quais foram sempre considerados como seres resilientes, lutando sempre em situações que fossem realmente necessárias, sendo fundamentais para a sua vivência, mas nem sempre tudo corria da melhor forma, recorrendo por vezes à violência.

 



Visitar esta terra acaba por tornar-se desafiante para alguns dos seus visitantes, nos quais existem aqueles que já tinham vindo na adolescência. Estes têm a oportunidade de aprender mais sobre a vida dos Selvagens e ver quais são as suas tradições e as suas criações, tais como armas, carros, entre outros.  


Durante a tour, Bernard e Lenina acabaram por experienciar violência extrema num massacre autêntico e real, realizado pelos Selvagens a todos aqueles que estavam como visitantes do parque, ficando assim em perigo de vida. Por isso, tiveram de passar por momentos traumatizantes que os obrigaram a fugir para assim, garantirem a sua sobrevivência.


 

Após uma revolta ter ocorrido nas Terras Selvagens, John resolve fugir para New London, juntamente com Bernard e Lenina, pois percebeu que a sua vida ali já não tinha volta a dar. O que ninguém esperava é que John trazia consigo todas estas emoções, sentimentos e ideias, que poderiam trazer um grande impacto na população desta cidade perfeita.

 

Esta é uma sociedade que é feliz na forma como vê a vida, conseguindo alcançar a paz e a respetiva estabilidade. Mas há sempre aqueles que têm o desejo de explorar a vida para além do permitido e assim, têm a oportunidade de o fazer quando se deslocam às Terras Selvagens. Infelizmente nem tudo parece o que é na realidade, principalmente quando surge uma revolução por parte de um grupo que não está satisfeito com as condições atualmente existentes.



 

Nesta sociedade continua a existir a divisão por classes sociais, sendo avaliado de acordo com o seu nível e respetiva inteligência, representado através de um símbolo, por isso, as pessoas são classificadas em posições específicas. Os níveis são divididos em Alfas, Betas, Gammas, Deltas e Epsilons, nos quais o Alfa estava no topo da hierarquia, dependendo da sua classificação positiva ou negativa, o Beta existia apenas para satisfazer as necessidades e satisfações das pessoas com um nível superior e os restantes são os responsáveis por servir os elementos da elite, limpeza e outros tipos de serviços.

 



Bernard é um conselheiro, com um nível de Alfa +, que vai tornando-se cada vez mais importante na sociedade, mas é crítico, inseguro e ciumento, de uma forma que pode dar tudo a perder, ao mesmo tempo que toma uma grande quantidade de soma para evitar distrair-se. O seu principal trabalho é ser amigo e integrar o John nesta sociedade, que não será tarefa fácil, pois Bernard terá muita inveja deste selvagem, que torna-se no centro das atenções desta população.

 


Soma é um medicamento potente que ajuda a afastar o nervosismo ou outro tipo de pensamentos que as pessoas podem ter num momento específico. É constituído por comprimidos de diferentes cores, em que cada um tem o objetivo específico para controlar alguma possível perturbação que a pessoa possa ter numa determinada situação.

 


Esta é uma história que tem um pouco de caos, comédia, romance, violência, onde existe uma felicidade extrema que nem sempre é real, pois consideram que se a pessoa não é feliz, quer dizer, que na realidade não é nada ou ninguém. Para além disso, também faz com que o indivíduo possa duvidar da sua própria identidade, de acordo com as circunstâncias que vão sucedendo.


 

John tem uma perspetiva diferente de como o mundo funciona e torna-se para ele estranho, quando observa que as pessoas não estão a sentir aquilo que deveriam estar a sentir, nos quais presencia situações bizarras. Ele acaba por destabilizar a rotina das personagens que nunca tiveram dúvidas sobre o seu modo de viver e os conhecimentos que têm sobre as coisas, porque John representa todos os sentimentos e emoções que eles aprenderam a reprimir.

 

John é considerado como uma ameaça para o funcionamento correto do sistema da Indra, ameaçando comprometer a paz e a estabilidade desta sociedade utópica, tendo uma tendência elevada em destabilizar algo que parece tão perfeito, mas na realidade não o é. Por isso, ele resolve quebrar as regras e mostrar que este sistema não é assim tão perfeito e que afinal são meros seres vulneráveis a viverem numa fantasia e a serem constantemente controlados.

 

Esta é uma personagem que sabe como é sentir-se desvalorizado e ser visto como um indivíduo sem importância, mas quando chega a New London, ele acaba por ter a atenção que nunca teve, pois as pessoas têm curiosidade em saber mais sobre ele. Para além disso, ele vai tentar ajudar aqueles que mais precisam, principalmente os Epsilons 

 


Para as pessoas influentes desta sociedade, John é considerado como uma perturbação ou um tipo de vírus que está a atrapalhar todo o sistema da Indra, por isso não será fácil impedi-lo de mostrar a sua verdadeira personalidade, tornando-se num desafio difícil de concretizar.

 

As perturbações começam a acontecer quando as personagens ficam com a sensação de que algo está errado e ainda não sabem o que é, pois não têm as capacidades necessárias para o definir, mas chega uma altura que começam a dar cada vez mais relevância a determinados pormenores que podem vir a ajudar.

Quando as pessoas começam a duvidar da sua própria identidade ou da sua existência, estes começam a sentir-se diferentes daquilo que eram dantes, sem encontrarem qualquer tipo de justificação.

Para esta sociedade, existe uma determinada expetativa de como as pessoas devem comportar-se, por isso a estabilidade social é tudo o que é necessário para que o sistema funcione corretamente e todos estejam felizes, mas para isso acontecer é fundamental haver o controlo da toma de Soma mesmo que as pessoas não necessitem, evitando assim, possíveis ameaças ao sistema de Indra.  

Estes seres humanos servem exclusivamente a uma ordem dominante de uma sociedade de elite, sendo membros devotos e leais da cidade, nos quais deixaram de ser um mero indivíduo para tornarem-se numa população, com os mesmos pensamentos e atitudes, mas em determinadas situações poderiam tornar-se obsessivos e isso poderia trazer consequências e ser perigoso. Para além disso, também estão proibidos de abordar temas, tais como dinheiro, monogamia, privacidade, liberdade ou comentar seja sobre o passado ou futuro de alguém.


Frannie é uma personagem que acaba por estar muito ligada à Lenina, estando convencida, que partilham os mesmos pensamentos, gostos e atividades. Ela gosta de ser da forma que é, devido ao seu condicionamento, que faz com que a pessoa esteja ligeiramente inconsciente daquilo que está à sua volta. Por isso, Lenina resolve proteger Frannie da verdade, mesmo que a tenha de afastar, para evitar de a magoar.  

 

Lenina é uma pessoa que ficou diferente, depois dos acontecimentos que sucederam nas Terras Selvagens, tendo uma sensação de vazio dentro dela, que parecia que faltava algo e não estava a ser totalmente verdadeira para consigo própria. Ela acaba por estar à procura de algo, que ainda não sabe bem o que é, mas que pode tornar-se relativamente assustador para ela. Para além disso, Lenina terá a oportunidade de explorar a sua relação mais complexa tanto com John, como com Bernard 


 


Os Epsilons estão na classe social mais baixa e foram criados num laboratório, onde as emoções e respetiva evolução são reprimidas, fazendo com que não pensem no passado ou no futuro. 


CJack60 é um desses exemplos, nos quais segue um tipo de programação, onde não processa aquilo que lhe vai acontecendo e só reage à estimulação daquilo que lhe vai aparecendo à frente. Um dia, ele passa por uma experiência traumatizante, que faz com que fique diferente, começando a surgir mudanças que ele não consegue entender. CJack60 é algo que só reage a estímulos e programa as suas ações, mas tudo vai mudar quando cruzar-se com John, que irá ajudá-lo a compreender o que realmente se passa.


 

Ao longo dos episódios, o espetador pode acompanhar um processo de aprendizagem que vai decorrendo nas personagens, quando começam a descobrir emoções, sensações e sentimentos, que nunca tinham experienciado antes. As pessoas não sabem processar determinadas situações que possam vir a surgir ou como reagir perante elas e é interessante ver que afinal podem ter uma escolha pelas quais podem tomar uma determinada decisão, fazendo assim, toda a diferença nesta aprendizagem que vão adquirindo sobre a vida de cada um.

 



Helm é uma personagem que fala e cria sentimentos para os outros, mas que nunca teve oportunidade de realmente sentir algo. É uma artista criadora, relativamente próxima de Bernard, que recebe inspiração, ao mesmo tempo que é caótica, sendo assim, das pessoas que mais toma soma, relativamente aos outros. Tem um lado mais vulnerável, pressionando-se constantemente nas sensações e no tipo de prazer que vai criando para os seus clientes. Enquanto vai descobrindo novas ideias para pôr em prática, ela gosta de observar o que se passa ao seu redor e os efeitos causados por tudo aquilo que vai criando.

 

Nesta série podemos ver como é a comunidade num futuro, onde continua dividida em classes sociais, mas não existe família, privacidade, escolhas ou mesmo uma história do passado de cada personagem, sendo que a tecnologia mais avançada é utilizada para um bem comum. Neste caso, a humanidade é constituída por um nível de perfeição de excelência, onde não há qualquer tipo de violência, fome, solidão e completamente ligados ao seu próprio condicionamento, sem existirem segredos por revelar.

 


Esta série é constituída por momentos bem interessantes, onde tragédias sucedem, apesar de ter partes que são mais paradas e chatas de se acompanhar, mas sem dúvida que teve boas performances deste elenco, que eu considero que foi bem escolhido. Tanto os efeitos visuais, como a banda sonora também foram bem introduzidos, deixando o espetador a imaginar como seria um futuro, completamente dependente da alta tecnologia. O engraçado é que há partes nesta história que faz-me lembrar um pouco, a série Westworld, em determinados elementos inseridos no argumento.


 


Considero que esta seja uma história que mostra a importância que é termos liberdade, tendo a possibilidade de fazermos as nossas próprias escolhas e assim, pode ajudar-nos a refletir sobre aquilo que somos na realidade ou o que significa felicidade senão ter a junção de vários fatores fundamentais ao longo da vida, sendo que nem sempre é tão perfeita como as pessoas julgam.




sábado, 25 de julho de 2020

Série "Cursed" da Netflix - Nimue tem uma missão muito importante para realizar, tornando-se na portadora de uma espada misteriosa e na Rainha dos Fey



A série original Cursed é uma das principais apostas da Netflix para este ano, em que o próprio trailer criou expetativas para os admiradores das lendas do Rei Arthur e onde estreou recentemente nesta plataforma. Sendo constituída por 10 episódios, esta é baseada num romance escrito por Tom Wheeler e com a ilustração de Frank Miller, nos quais também têm o papel de produtores executivos e criadores da mesma.

 

Nimue (Katherine Langford) é uma jovem que vive numa aldeia, mas que não é bem aceite pelos outros, devido aos poderes que tem e por não ter a capacidade de os conseguir controlar. Um dia, a sua aldeia é atacada pelos Paladinos Vermelhos e a sua mãe dá-lhe uma missão muito importante que é entregar uma espada poderosa ao feiticeiro Merlin (Gustaf Skarsgård). Durante a sua jornada, Nimue vai passar por vários obstáculos e conhecer os aliados que serão fundamentais para que consiga proteger o seu povo da extinção, mas não será um caminho nada fácil de percorrer, principalmente quando cruza-se com um humano jovem chamado Arthur (Devon Terrell).


O elenco é constituído por Katherine Langford (Nimue), Devon Terrell (Arthur), Gustaf Skarsgård (Merlin), Daniel Sharman (The Weeping Monk), Sebastian Armesto (Uther Pendragon), Lily Newmark (Pym), Shalom Brune-Franklin (Sister Igraine), Bella Dayne (Red Spear), Matt Stokoe (Gawain), Peter Mullan (Father Carden), Emily Coates (Sister Iris), Polly Walker (Lady Lunete), Billy Jenkins (Squirrel), Adaku Ononogbo (Kaze), Catherine Walker (Lenore), Jóhannes Haukur Jóhannesson (Cumber – The Ice King), Sofia Oxenham (Eydis), Clive Russell (Wroth the Tusk Commander), Sophie Harkness (Sister Celia), Zoe Waites (The Widow), Andrew Whipp (Jonah), Nickolaj Dencker Schmidt (Dof) e Peter Guinness (Sir Ector).



Esta é uma série que não aborda as lendas do Rei Arthur da forma que estaríamos à espera, pois neste caso é contada, segundo a perspetiva de Nimue, que está destinada a tornar-se na mítica Lady of the Lake (Senhora do Lago em português). Esta apresenta um lado bem diferente daquilo que já lemos e vimos, seja na apresentação das respetivas personagens icónicas da história, que têm um passado diferente do original.

 

Esta é uma história mais dirigida para um público mais juvenil, dando para perceber na forma como a mesma vai sendo estruturada, ao longo dos episódios, onde a série aproveitou a sua liberdade criativa para fazer mudanças significativas neste universo que é tão conhecido pelo público. É uma nova invenção da lenda do Rei Arthur, que tem um lado mais moderno e não tão sério a nível de argumento.

 

O livro As Brumas de Avalon da norte-americana Marion Zimmer Bradley é um exemplo que conta estas lendas, segundo uma perspetiva feminina, considerado como um sucesso autêntico, desde que foi publicado no início dos anos 80.

 

Nimue é uma personagem que tem tido funções diferentes nas adaptações já existentes, onde ela protege e tem uma ligação forte com uma espada denominada por Excalibur, acabando por vir a entregar ao merecedor Arthur, mas neste caso, ela tem um papel muito mais significativo.



Desde muito nova, Nimue é uma jovem que manifesta poderes com uma intensidade bem superior ao que se esperava, mas ela considera que isto não seja um dom, mas sim, uma maldição que a permite aceder a forças obscuras poderosas, depois de ter sido atacada por um demónio. Mesmo assim, ela é eleita por uns seres místicos da floresta denominados por Ocults (Ocultos, em português), para ser a nova líder da sua comunidade, mas ela não concorda e tenta fugir ao seu destino.

 

Um dia, a sua aldeia é atacada pelos Red Paladins (Paladinos Vermelhos em português), onde consegue sobreviver, mas infelizmente presencia o assassinato da sua mãe Lenore pelas mãos de um destes soldados. Por isso, Nimue entra numa jornada perigosa, onde irá fazer os possíveis para cumprir a promessa que fez à sua mãe de entregar uma espada misteriosa a Merlin, que poderá salvar o futuro do seu povo, através da união que a espada pode criar entre as diferentes comunidades que vivem em diversos reinos.


 

Sendo Nimue, a protetora da Sword of Power ou Espada do Poder, em português (referência à lendária Excalibur) e a futura líder de uma revolução faz com que ela torne-se num alvo, tanto por Reis como pela própria Igreja, que querem adquirir esta espada, a todo o custo. Assim, temos uma lista vasta de inimigos que querem ter a espada para os seus próprios planos que não chegam a ser revelados e Nimue estará num perigo constante, para evitar que a espada possa vir a cair nas mãos erradas.

 

Inicialmente, Nimue foi toda a sua vida ignorada, atacada e humilhada pelos outros, acabando por ser abandonada pelo seu próprio pai. Ela é uma rapariga impulsiva e insegura, que não acredita em si própria, tendo muito por amadurecer, em que as pessoas da sua aldeia têm medo do quanto poderosa ela é. Assim, ela ainda não se sente preparada para seguir o seu destino e para além disso são muitos os obstáculos que terá de ultrapassar para cumprir com a sua missão.


 

Após ter morto uma alcateia com uma espada poderosa, Nimue começa a ficar conhecida como a Wolf Blood Witch (Bruxa de Sangue de Lobo, em português) e a sua história começa a chegar a todos os pontos do reino, conseguindo adquirir cada vez mais seguidores para a sua causa.

 

Ao longo dos episódios, ela passa por alguns momentos de insegurança, ao mesmo tempo que tenta ser corajosa quando enfrenta os seus inimigos ou está em perigo mortal, utilizando os seus poderes e a própria espada. Mesmo assim, Nimue terá de ter cuidado, pois a Espada do Poder é muito misteriosa e considerada amaldiçoada por muitos, nos quais é constituída por poderes inexplicáveis, que pode levar ao seu portador a ter momentos de pura obsessão e loucura.


 

Durante esta jornada, Nimue conhece um mercenário problemático chamado Arthur que torna-se no seu companheiro de viagem e acaba por ajudá-la no que for necessário para cumprir a missão de encontrar Merlin e entregar-lhe uma relíquia sagrada.

 

Esta rapariga precisa de viajar por terras desconhecidas para descobrir a sua própria identidade, ao mesmo tempo que tenta cumprir a promessa que fez à sua mãe, tornando-se mais tarde, na Rainha e líder da revolução da comunidade Fey, que são seres mágicos com poderes, que por vezes podem ser confundidos como humanos e onde a magia corre dentro de cada um.


 

Um dia, Nimue desloca-se ao esconderijo onde estão os Fey ou seja, uma espécie de povo das fadas, que sobreviveram aos ataques dos Paladinos. Ela torna-se num símbolo de esperança na luta contra os Paladinos Vermelhos e o Rei Uther, pois isso, também é importante que ela inspire o povo com a sua voz e através de ações e eu acho que houve pouco disso a acontecer. Eu acredito que ela tentou sempre fazer o que achava que é certo para proteger e salvar o seu povo de uma possível extinção, mas nem sempre tomou as melhores decisões, acabando por sofrer as consequências dos seus atos e diminuindo as hipóteses dos Fey sobreviverem.

 

O desenvolvimento de Nimue não é feito da melhor forma, principalmente na sua aprendizagem, seja a controlar os seus poderes ou na jornada que precisa de percorrer para tornar-se na líder nata que o seu povo precisa. Para além disso, também falta um pouco mais de brilho e capacidades de luta e ação na Nimue, que são fundamentais não só para a história, mas também para a importância da própria personagem.

 

Infelizmente, não dão espaço suficiente para que a Nimue possa desenvolver as suas capacidades para que depois possa metê-las em ação, de um modo muito mais realista e não tão artificial e forçado, como ocorreu em determinadas situações. Por isso, eu acho que a Nimue necessitava de mais tempo para se preparar e assim aprender a segurar e a lutar com uma espada, de uma forma eficiente e coordenada, fazendo com que as suas cenas de ação fossem muito mais interessantes e bem realizadas.


 

Arthur é um mercenário que apaixona-se por Nimue, tem capacidades boas para lutar com espadas e quer recuperar a honra da sua família. Neste caso temos um Arthur que tem um passado diferente da sua lenda e vemos uma perspetiva bem diferente desta personagem, nos quais achei que houve algumas falhas na sua interpretação, muito devido a não ter surgido a oportunidade de explorar muito mais sobre a mesma. Para além disso, eu considero que não houvesse muita química entre ele e Nimue, sendo que o romance entre os dois poderia ter sido introduzido e abordado mais tarde, pois nesta altura não achei que tivesse sido muito relevante para a história.

 

Será que Arthur é um mero mercenário ou será que terá um futuro brilhante pela frente?

 

A performance de Arthur ficou abaixo das expetativas esperadas para uma personagem tão marcante que tanto ficou na nossa memória, sempre que ouvimos falar da lenda do Rei Arthur.

 

Infelizmente, este Arthur não consegue transparecer a personalidade que tanto o caracteriza nesta lenda e por isso não me conseguiu conquistar da forma que outras versões o fizeram.


 

Merlin é daquelas personagens lendárias que continuam a ser interessantes, mesmo que tenha algumas mudanças significativas, relativamente à história original. Neste caso, Merlin é conselheiro do Rei Uther Pendragon, numa altura que pelos vistos já tinha passado pelos seus tempos mais gloriosos. Ele era considerado como um dos feiticeiros mais poderosos daquela época, mas perdeu as suas habilidades, apesar de ninguém saber.

 

Ele é uma pessoa imprevisível e inteligente, que tem atitudes impulsivas e está constantemente bêbado e perdido, sem saber qual é a sua missão atual. Ao mesmo tempo também sofre de rumores que espalham-se pelo reino de que perdeu a sua magia e já não era tão poderoso quanto foi no passado. Assim, acabamos por ver um Merlin sem magia, um pouco desleixado, mas que é divertido à sua maneira, continuando a aconselhar um Rei, sem precisar de usar os seus poderes.


Apesar de Merlin ter perdido os seus poderes, isso não significa que não tenha planos para pôr em prátca. 

 

Gustaf Skarsgård faz uma ótima interpretação desta versão do Merlin, dando um certo carisma à personagem e trazendo um lado muito mais divertido para a mesma.


 
Nesta história, a religião acaba por ser abordada, sendo que alguns tipos de ódio, raiva, dor e devoção são partilhadas e também podemos ver os tipos de preconceitos existentes, seja no caso do povo de Nimue tem por ela, devido ao medo que têm dela ou mesmo através do ódio que os Paladinos Vermelhos têm perante os Fey.

 

Os Paladinos Vermelhos são um exército de monges guerreiros cristãos liderados pelo Padre Carden, que têm como principal objetivo, acabar com todas as comunidades que sejam diferentes, como por exemplo, os Fey (povo das fadas), ou seja, querem eliminar todo o tipo de criaturas mágicas e assim, conseguir extinguir com a magia existente na terra. Estes utilizam a sua própria religião como justificação para cometerem atos terríveis.

 

O Padre Cadarn é um bom vilão, onde constantemente vai mostrando o quanto cruel é seja com os seus inimigos ou com mulheres e crianças inocentes. Ele considera que na guerra não pode haver misericórdia, pois está nesta luta a fazer o trabalho, em nome de Deus e assim, espalhar a sua religião do cristianismo, livrando o mundo de seres que não são humanos.


 

Uma das armas mais letais dos Paladinos Vermelhos é o The Weeping Monk (Monge Chorão em português). É um monge guerreiro e assassina que contém lágrimas no rosto e que luta de uma forma perspicaz como se fosse um ninja.

 

O Monge Chorão é uma pessoa muito misteriosa, com segredos por desvendar, nos quais as reviravoltas à volta desta personagem são bem empolgantes. Ao longo dos episódios que aparece, consegue-se perceber que ele tem uma dor profunda com a qual tem de lidar mais cedo ou mais tarde e também tem uma grande devoção pela sua missão, mas chega a um momento que ele não sabe se está a fazer o mais correto.


 

Este monge tem habilidades extraordinárias não só com a espada, mas também em encontrar os Feys, nos quais não se percebe como consegue caçar estas criaturas mágicas, da forma que o faz. Ele tem cenas bem interessantes, seja nas suas cenas de luta e ação ou mesmo através do seu silêncio, que vai transmitindo emoções ao público, cativando o mesmo.

 

Daniel Sharman faz uma boa performance desta personagem que vai criando curiosidade ao espetador, ao mesmo tempo que dá a entender, a sua importância cada vez mais vital na história.

 

As cenas de luta poderiam ter sido bem melhores, mesmo que as minhas favoritas tenham sido desempenhadas pelo Daniel Sharman, em que estava à espera que este tivesse estado mais presente nos episódios. Há partes que parece que este tipo de cenas são mais artificiais e que nem sempre a filmagem em câmara lenta funcionava da melhor forma. 

 

Ao longo dos episódios, as personagens vão passar por alguns desafios, mostrando assim, a sua coragem para lutarem e também podemos ver Nimue a ter ao seu lado para apoiar, um grupo de personagens femininas igualmente fortes e corajosas, disponíveis para fazerem o que é certo.


 

 

Um dos exemplos é a Irmã Igraine, nos quais Shalom Brune-Franklin interpreta de um modo bem competente, fazendo com que o público tenha curiosidade para saber mais sobre esta versão da personagem, principalmente no seu envolvimento com as artes das trevas, apesar de haver partes que poderiam ser desnecessárias de estarem presentes nesta 1ª temporada.

 

A Irmã Igraine tem os seus próprios segredos que irão fazer toda a diferença na sua jornada, enquanto descobre qual é a sua verdadeira missão, sendo que ela tem um destino muito mais importante do que ela julga.


 
Depois temos a Pym que é a melhor amiga de Nimue, sendo uma rapariga pouco desastrada e atrapalhada, que por vezes não sabe bem o que está ali a fazer, mas acaba por conquistar todos aqueles que estão à sua volta e dando à história um lado mais engraçado.


 

Uma personagem que também achei divertida foi o Squirrel, que é uma criança corajosa, muito amiga de Nimue que apesar de não ter experiência como guerreiro, quer proteger o seu povo a todo o custo, sem importar-se com as consequências e para além disso, tem as suas falas mais cómicas, principalmente quando tenta humilhar alguns dos seus inimigos. Squirrel acaba por ter como mentor, Gawain ou o Cavaleiro Verde, sendo um amigo de infância de Nimue e tem um papel importante na proteção dos Fey.


 

Esta versão de Uther Pendragon é aquela que menos gostei até agora, sendo uma pessoa irritante e mimada, sem qualquer brilho, sempre que aparece. Depois temos um viking que é o Rei Cumber, tendo como objetivo, obter o trono de Uther, pois considera-se como o herdeiro legítimo do mesmo. Por um lado, eu achei que foi interessante incluírem os vikings e as suas invasões nesta história que acabam por empolgar mais o lado da ação, por outro eu acho que foram introduzidos na altura errada, nos quais nem sempre fazia sentido, estarem presentes, em determinadas cenas.

 


Nem todas as personagens foram desenvolvidas da melhor forma e por vezes pareciam meros figurantes com poucas falas, como por exemplo, a irmã Iris que parecia um pouco perdida e deslocada deste argumento, nos quais considero que a sua jornada não foi bem construída. Para além disso quando existe uma certa evolução numa determinada personagem, mas infelizmente, essa é realizada de um modo muito mais lento, quando poderia ter sido a um ritmo mais intermédio, sem que houvesse grandes pressas.

 

Na minha opinião há determinadas cenas que são excessivas e que não deveriam ter sido introduzidas nesta altura inicial da história, mas quem sabe explorar mais numa eventual 2ª temporada, pois fariam muito mais sentido se fossem abordadas muito mais para a frente. Eu acho que deveriam ter incluído partes muito mais empolgantes para o espetador, com o objetivo de o cativar, aumentando cada vez mais a sua curiosidade em querer saber mais sobre a história.


 

Também poderiam ter aproveitado muito mais as personagens que estão incluídas na história e são tão carismáticas para o público, como por exemplo, o Merlin ou mesmo o Arthur.

 

É muito importante que tenha muita atenção à história, pois tem uma lista extensa de personagens que pode confundir o espetador relativamente à origem e à missão de cada um, pois é fornecida de repente, demasiada informação para uma só temporada. Assim, eu acho que em alguns episódios, a pessoa sente-se um pouco perdida e fica com a sensação que falta algo, porque há muita coisa a acontecer ao mesmo tempo.


 

Infelizmente, nem todos os episódios são constituídos por um bom ritmo, onde nem sempre há um equilíbrio do mesmo e nem todas as interpretações estiveram bem, que eu acredito que tenha sucedido, devido a falhas no argumento.

 

Ao contrário de outras adaptações, neste caso não sabemos em que época decorre a história ou em que reino tudo acontece, criando uma certa dúvida no espetador e também, alguns dos diálogos não são feitos, de acordo com uma pessoa que pudesse viver naquela altura medieval.


Apesar de conter cenas interessantes da pessoa acompanhar, a história continua a ter alguns problemas no seu argumento, que infelizmente nem sempre é sólido, perdendo um pouco o ritmo e levando a que possa diminuir a própria qualidade da série.


 

A série não trouxe batalhas emocionantes misturadas com uma quantidade considerável de magia e isso foi algo que senti muita falta de ver neste tipo de histórias de fantasia. Estas batalhas aconteciam poucas vezes, de um modo muito rápido e nem sempre foram bem coordenadas, nos quais mostrou situações que parecem improváveis de acontecer. Também acabamos por ver mais sangue e violência do que o habitual, relativamente às versões que já foram feitas destas histórias.

 

Eu achei interessante a forma como as cenas eram separadas umas das outras, através de animações relativamente semelhantes às de banda desenhada e dá para ver aqui o toque de Frank Miller. Também o genérico da série é muito bem feito, seja nas cores, nos próprios movimentos ou mesmo na sua identidade visual e as florestas são representadas de uma forma bem próxima aos contos de fadas, onde vemos uma certa simplicidade e beleza à volta deste local.



Por vezes, os efeitos visuais têm uma falta de equilíbrio de umas cenas para as outras, mas considero que são relativamente simples e competentes quando são introduzidos, de um modo bem leve, sem qualquer tipo de complexidade, mesmo que não estejam na lista dos melhores que eu já vi até agora, e a banda sonora está mesmo muito bem inserida para o tipo de história que é.

 

Sendo uma história tão clássica e ambiciosa que traz personagens tão tradicionais que é difícil a pessoa não se cativar, mas infelizmente neste caso, isso aconteceu em alguns episódios desta série, mesmo tendo os ingredientes necessários que poderia vir a interessar o espetador, desde o início até ao fim. 



Eu também acho que é muito interessante e importante incluir cada vez mais personagens femininas como as heroínas da história, sem precisarem da ajuda de ninguém, mesmo que tenham aliados disponíveis para o fazer. Por isso, eu gostaria de ter visto mais sobre a aprendizagem, as aventuras e a jornada mais pormenorizada da Nimue.

 

Esta série é uma versão peculiar e moderna da lenda do Rei Arthur contada a partir da perspetiva de Nimue e é sempre interessante de ver as aventuras de Merlin, Arthur e dos Cavaleiros da Távola Redonda, tais como Gawain, Lancelot e Percival, mesmo que sejam representações novas destas personagens tradicionais e tão icónicas nesta lenda. Para além disso, também existe uma grande diversidade de etnias no elenco desta série que sempre é um ponto positivo, quando queremos criar algo mais moderno.

 

Considero que seja uma história contada de um ângulo diferente, mas ao mesmo tempo interessante para quem é admirador destas lendas revolucionárias do Rei Arthur. Também é constituído por momentos intrigantes que surpreende o público na forma como a história vai-se desenrolando ao longo dos episódios.


 
Cursed é uma série de fantasia com os seus altos e baixos e não deixa de ser interessante à sua maneira, sendo uma versão completamente diferente daquilo que já estamos habituados a ver noutras adaptações, pois vemos um lado místico de um modo mais leve e que nem sempre é abordado na frequência que devia ter sido.

 

Para quem gosta de histórias de fantasia, esta é uma boa recomendação, onde temos lutas em climas empolgantes ou vistas bonitas de se ver, que faz lembrar este universo de magia e onde acontecem algumas reviravoltas inesperadas, sendo um bom entretenimento e valendo a pena a maratona. Sem dúvida que acabamos por ver um lado da história do Rei Arthur, constituído por um rumo diferente, mas não deixa de ser interessante, mas acredito que seriam necessárias algumas mudanças para que conseguisse chegar à qualidade que muitas outras versões desta lenda têm tido.

 

Esta história é uma ideia bem inteligente, com uma boa iniciativa e com muito potencial, tendo uma versão mais feminina, mas que eu acho que ainda tem por onde melhorar. Com um universo tão extenso e uma mitologia tão rica, ainda há muito por onde poderiam explorar nesta adaptação, caso tenham a oportunidade de voltar para uma nova temporada.