terça-feira, 29 de setembro de 2020

Minissérie "DES" - uma história verídica sobre Dennis Nilsen, um assassino em série que foi preso, apesar de ser muito inteligente e manipulador

 

A minissérie DES é um drama policial constituído por 3 episódios, em que conta a história de Dennis Nilsen, um assassino em série escocês que foi preso em 1983, após terem sido descobertos restos mortais, perto da sua casa. Inicialmente foi exibido pelo canal britânico ITV, mas estreou no passado dia 15 de Setembro, em exclusivo na HBO Portugal. É baseada no livro de Brian Masters designado por Killing for Company, onde este tenta entrar no interior da mente de um assassino e tentar perceber a razão pelo qual cometeu tais homicídios. Tem a realização de Lewis Arnold, com argumento de Luke Neal e Kelly Jones, produção de David Meanti e produção executiva de Willow Grylls, Kim Varvell, Charlie Pattinson, Elaine Pyke, Polly Hill, Lewis Arnold, Luke Neal e David Tennant.

 


Dennis Nilsen (David Tennant) era um funcionário público exemplar e simples que passou cerca de cinco anos a assassinar rapazes e jovens que foi conhecendo nas ruas de Londres de 1978 a 1983, em que ficou conhecido como o “assassino gentil”, tendo sido preso em 1983. Apesar de ter confessado ter morto quinze homens, num período de cinco anos, Nilsen não se recorda dos nomes das suas vítimas e por isso, o Detetive Peter Jay (Daniel Mays) terá pelo caminho um processo longo de investigação para descobrir tudo aquilo que aconteceu, mas não será uma tarefa fácil, principalmente quando a principal testemunha do caso é Nilsen que pode ou não estar a manipular as informações que vai fornecendo à polícia. Para além disso, também temos Brian Masters (Jason Watkins) que sendo o biógrafo de Nilsen poderá ter uma perspetiva diferente que pode vir a ajudar a resolver estes assassinatos, mas será que vai ser útil para a investigação?

 

Esta minissérie é protagonizada por David Tennant (Dennis Nilsen), Daniel Mays (Detetive Peter Jay) e Jason Watkins (Brian Masters), tendo também a participação de Ron Cook (Geoff Chambers), Barry Ward (Steve McCusker), Jamie Parker (Alian Green), Pip Torrens (Ivan Lawrence), Ken Bones (David Croom-Johnson), entre outros.

 

Estes três episódios são contados, de acordo com a perspetiva de cada uma destas três personagens que foram baseadas numa história verídica e que chocou naquela época, a sociedade na Grã-Bretanha, sendo o detetive, o criminoso e o biógrafo do anterior a dar o ponto de vista respetivo.  



 

Dennis Nilsen ou DES, como ele gosta de ser reconhecido, é uma pessoa reservada, manipuladora e muito inteligente que consegue esconder muito bem as suas verdadeiras intenções, em que enganava as suas vítimas com facilidade, dando-lhes conforto e atenção para depois matá-las, através de estrangulamento.

 

Ele escolhia e optava por pessoas do sexo masculino sem-abrigo ou que tivessem muitas dificuldades de tal forma que viviam sem eletricidade que este foi conhecendo nas ruas de Londres, desde os anos de 1978 até 1983, onde oferecia comida e caso fosse necessário, alojamento para passar a noite no seu apartamento no norte desta cidade, mas infelizmente a noite não acabava da melhor forma para quem aceitasse o seu convite.

 

Com a generosidade deste estranho era normal que estes homens aceitassem o seu convite, sem pensarem duas vezes, pois tinham necessidades bem específicas, nem que fosse apenas comida quente e um sítio para dormir temporariamente.



 

Nilsen tem uma personalidade peculiar, complexa e perturbadora, onde consegue esconder de uma forma impressionante aquilo que realmente pensa e planeia e são várias as oportunidades em que podemos acompanhar a sua manipulação perante os outros que pode levar a prejudicar ou mesmo facilitar o seu próprio julgamento.



No dia 9 de Fevereiro de 1983, Nilsen foi finalmente preso por ter assassinado quinze homens nos últimos cinco anos, mas o que ninguém esperava é que ele fosse tão aberto sobre o assunto, admitindo o crime, apesar de não se lembrar do nome das suas vítimas e também referindo onde tinha enterrado as mesmas. Tudo parecia tão simples quando na realidade não o era, principalmente se o objetivo principal era dar um nome a cada uma das vítimas deste serial killer que sem dúvida, seria um desafio, encontrá-las quando não existe evidências forenses suficientes para confirmar o ADN respetivo.  

 

Não parece haver uma justificação plausível para Nilsen ter cometido estes crimes, mas será que foi planeado pelo mesmo ou simplesmente este já foi diagnosticado com um determinado problema psiquiátrico que desse um motivo suficiente para isto tudo ter acontecido?

 

David Tennant interpreta este assassino de um modo incrível e plenamente natural, em que o próprio espetador não consegue entender as suas motivações. A sua performance é bem simples, mas cativante para quem está a assistir e sem dúvida, que fez um trabalho excelente a desempenhar este vilão.

 



O detetive Peter Jay é completamente viciado no seu trabalho, fazendo com que a sua vida pessoal seja prejudicada e assim, acaba por não ter qualquer tipo de relação com os seus filhos. Um dos seus objetivos é obter justiça para o maior número de vítimas que sofreram nas mãos de Nilsen, chegando a um ligeiro ponto de obsessão pelo caso, levando a que possa ser fundamental para resolver esta investigação.

 



Nesta história temos a oportunidade de entrar na mente de um assassino em série, principalmente devido às suas conversas com o seu biógrafo, Brian Masters, mas será que chegamos a entender os motivos que levou Nilsen a assassinar cerca de 15 homens ou ficamos pelas nossas teorias? Também Brian Masters tenta entender o porquê dos atos de Dennis Nilsen, mas será que ele consegue chegar a algum tipo de conclusão?


 

Nilsen tem um plano para pôr em prática, mas será que vai conseguir enganar todos com a sua colaboração? Lidar com um homem como Nilsen pode ter consequências para as pessoas ao seu redor, seja a nível pessoal ou mesmo a nível profissional, dependendo do indivíduo.

 


Ao longo da investigação, o detetive Peter Jay e a sua equipa vai fazer os possíveis para identificar todas as vítimas e comprovar ao tribunal que houve premeditação nestes crimes e sendo que Nilsen tem responsabilidade total perante os seus atos, mesmo que seja uma tarefa bem difícil de concretizar, mas eles não irão desistir.

 

Esta minissérie de drama foca num dos serial killers mais famosos na história do Reino Unido em que inclui crimes estranhos que deixam qualquer um perplexo e com vontade de saber as razões pelas quais tudo aconteceu. Para além disso, também podemos ver a sentença que foi dada a este homem depois de um período longo de investigação e ponderação que foi dado a este caso e saber se Nilsen estava em plena consciência quando cometeu os crimes ou se estava tudo planeado ao máximo pormenor?


 

Será que a polícia vai conseguir angariar provas suficientes para condenar este criminoso ou ele conseguiu destruir as evidências por completo e a tempo? Apesar de a polícia conter recursos para fazer a sua investigação, estes acabam por ser limitados, pois é necessário mais dinheiro para investir em mais funcionários e os superiores não estão interessados em resolver este crime, mas sim fechá-lo o mais depressa possível para que não lhes afete a reputação do departamento policial.



Esta é uma história que está muito bem realizada e estruturada a nível técnico, em que o espetador tem a oportunidade de ver esta versão verídica e assim, ter a sua própria opinião sobre este crime e o respetivo final. Para quem gosta de temas relacionados com crime, histórias verídicas, investigação e drama, esta é uma boa opção que sem dúvida, deviam ver, mesmo que não tenha sido muito referenciada pela imprensa.


 

Ao longo destes três episódios são várias as reviravoltas surpreendentes que vão sucedendo nesta história criminal, em que existe a possibilidade de ocorrer identificações de algumas das vítimas deste assassino em série e vamos acompanhando o julgamento do mesmo e o trabalho destes investigadores que apesar de conterem recursos limitados, estes fazem o melhor que conseguem, mas fica a pergunta, é se será suficiente para condenar Dennis Nilsen e assim, fazer-se justiça para com as suas vítimas?


quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Crítica ao filme "Enola Holmes", protagonizado por Millie Bobby Brown - as aventuras divertidas de uma jovem investigadora que desvenda mistérios

 

O filme de aventura designado por Enola Holmes estreou no passado dia 23 de Setembro na plataforma da Netflix, tendo sido produzido e protagonizado pela atriz, Millie Bobby Brown. Com produção da Legendary Pictures, realização de Harry Bradbeer e escrito por Jack Thorne, esta história de cerca de 2 horas é baseada na série de livros de mistério da personagem de Enola Holmes, de Nancy Springer publicados a partir de 2006 (um total de seis livros), em que neste caso designa-se por O Caso do Marquês Desaparecido.

 

Em 1884, Enola Holmes (Milly Bobby Brown) é uma jovem que sempre viveu no campo com a sua mãe, onde aprendeu temas desde literatura, ciência, desporto e até exercícios fundamentais para a sua sobrevivência, seja a nível físico e psicológico. No dia do seu 16º aniversário, a sua mãe desaparece e deixa-lhe apenas alguns presentes com enigmas por resolver e por isso, Enola resolve pedir ajuda aos seus irmãos Mycroft (Sam Claflin) e Sherlock (Henry Cavil) neste caso de investigação, mas eles estão mais interessados em enviá-la para um colégio interno para que tenha uma educação adequada e digna para uma mulher. Enola resolve fugir para Londres e pôr em prática o seu plano para resolver o mistério do desaparecimento da sua mãe, mas não será uma tarefa fácil de se concretizar, pois a sua vida irá mudar, com um caminho cheio de aventuras, enigmas e desafios, onde irá conhecer pessoas que poderão fazer toda a diferença para alcançar o seu objetivo.

 

O elenco é constituído por Millie Bobby Brown (Enola Holmes), Sam Claflin (Mycroft Holmes), Henry Cavil (Sherlock Holmes), Helena Bonham Carter (Eudoria Holmes), Louis Partridge (Lord Tewkesbury), Fiona Shaw (Miss Harrison), Adeel Akhtar (Lestrade), Frances de la Tour (The Dowager), Susie Wokoma (Edith) e Burn Gorman (Linthorn).


 

Quem não se lembra das histórias do enigmático Sherlock Holmes, escritas por Arthur Conan Doyle? Esta é uma história que conta as aventuras da irmã mais nova do detetive sobredotado e de Mycroft Holmes chamada Enola Holmes, sendo que viveu toda a sua vida na companhia da sua mãe no interior de Inglaterra, onde ensinou-lhe várias lições que inclui tipos diferentes de literatura, tais como Shakespeare, ciência, desporto que vai desde o ténis, o arco e flecha e passando pelas artes marciais, como é o caso do jiu-jitsu, e também exercícios que ajudassem a desenvolver a sua mente, como por exemplo, o xadrez.

 

Na manhã do seu 16º aniversário, a vida de Enola muda por completo quando dá conta que a sua mãe desapareceu misteriosamente, sem razão aparente, mas deixa-lhe dinheiro para que ela possa desenrascar-se sozinha. Será que Enola terá pela frente um mistério satisfatório para resolver, com a ajuda dos seus irmãos, Sherlock e Mycroft? O regresso dos seus irmãos poderá não ser das melhores ideias para Enola, pois pelos vistos eles preocupam-se mais com a reputação do que com aquilo que realmente importa, sendo que nem tudo corre como o previsto. Infelizmente, Mycroft e Sherlock querem mandá-la para uma escola de etiqueta para ter uma educação decente e própria para uma jovem desta época tornar-se numa mulher digna que seja aceite pela sociedade e assim, ter possibilidades de encontrar um bom marido.

 


Eudoria Holmes não é uma mãe típica como as outras e é fascinada por jogos de palavras, em que aproveitou para dar o nome de Enola com um significado específico, pois se colocarmos o nome da sua filha ao contrário temos Alone (sozinha, em português). Ela tinha a sua maneira de fazer as coisas, principalmente no que dizia respeito à educação de Enola, mas será que partilhava tudo com a filha ou tem alguns segredos a esconder?

 

Eudoria é uma mulher excêntrica e nada convencional que está determinada a criar a filha, do modo que acredita que seja o melhor para ela, por isso, ensina-lhe lições que tornam-se fundamentais para colocar na sua rotina e na sua vida nova por uma Londres antiga e estas vão sendo mostradas em formato de flashbacks, em alturas que Enola realmente precisa de se recordar.


 

Enola Holmes é uma jovem inocente, extraordinária, inteligente, especial e com um bom coração, cujo objetivo é tornar-se numa pessoa independente e seguir com a sua vida, fazendo as suas próprias escolhas, encontrando o seu caminho, a sua liberdade e o seu propósito e assim ser responsável pelo seu próprio futuro, seguindo os conselhos que foram dados pela sua mãe, nos últimos anos.

                                                                                                  

Ela é a filha mais nova da família Holmes, inteligente, resistente e com um talento nato para a investigação, tal como o seu irmão, Sherlock, mas será que ela irá superar as habilidades dele? Esta jovem quer criar o seu próprio caminho e quem sabe, tornar-se numa detetive privada, tal como o seu irmão.

 


Enola foi criada pela sua mãe no campo já que tinha perdido o seu pai quando era criança e longe dos seus irmãos. Não teve uma educação tradicional, ao contrário de Sherlock e Mycroft, por isso, ela sempre cresceu de uma forma livre, sem qualquer tipo de preocupações, tendo uma ligação muito forte com a sua progenitora que ensinou-a a ser independente e outras coisas, que nada tinha a ver com as obrigações para as mulheres daquela altura.

 

O mundo de Enola sofre uma reviravolta quando a sua mãe desaparece misteriosamente e por isso, ela quer descobrir o que realmente aconteceu com a pessoa mais importante da sua vida, mas será que esta teve razões suficientes para ter desaparecido, sem deixar qualquer tipo de rasto que seja evidente?


 

Esta jovem tem uma personalidade forte e corajosa, mas com algumas atitudes arrogantes e rebeldes, em que parece fazer parte da sua família. Para além de querer fazer a diferença no mundo em que vive, ela também quer criar a sua própria identidade, mesmo que os seus irmãos queiram definir o seu futuro e torna-la numa boa esposa, Enola já planeou exatamente aquilo que quer fazer, mas não será fácil enfrentar o mundo real e os seus perigos. Será que Enola vai conseguir encaixar-se numa sociedade que nada tem a ver com a sua personalidade?

 

Enola é uma personagem interessante, esperta, cativante, carismática, mas um pouco desajeitada que tem uma missão a cumprir, mas ao mesmo tempo, quer ajudar as pessoas, sendo que ela é a narradora da sua própria história, em que conta aquilo que é fundamental o espetador saber, como por exemplo, apresentar a sua família e chega a um ponto que torna-se realmente dinâmico, em que ela fala diretamente com o público, dando a oportunidade de participar na sua aventura, acabando por criar uma empatia e um relacionamento com o mesmo.


 

Após ter sido obrigada a ir para uma escola de etiquetas pelos seus irmãos, Enola resolve fugir para Londres e ir procurar pela sua mãe, seguindo as pistas que a mesma lhe deixou. Durante a sua fuga, ela tenta criar pistas falsas para que não seja encontrada tão facilmente, mas será que os seus irmãos vão ser enganados?

 

Enola é perspicaz e gosta muito de disfarces, principalmente para enganar quem realmente está à sua procura, por isso vestir-se de rapaz acaba por tornar-se num hábito para ela e até tem a sua piada, principalmente quando ela pede a rapazes para trocarem de roupa com ela.

 


Durante a sua jornada, Enola vai passar por um período de amadurecimento e pela primeira vez vai conseguir pôr em prática, tudo aquilo que aprendeu com a sua mãe e isso é notório, principalmente quando são partilhados flashbacks entre as duas sobre lições que podem ajudar, em determinadas situações que esta jovem vai enfrentando e por isso, temos a oportunidade de ver uma boa evolução nesta personagem e a forma como ela lida com a civilização. Para além disso, ela vai desvendando mistérios, onde todos os detalhes da sua personalidade vão sendo mostrados, de acordo com as circunstâncias que vão acontecendo.

 

A primeira experiência de Enola com o mundo real vai ser um grande desafio, pois ela teve uma educação diferente, relativamente aos seus irmãos e não gosta de ver injustiças, mas será que ela está preparada para enfrentar sozinha a sociedade e uma vida independente, numa cidade atribulada, como Londres?


 

Esta é uma sociedade, onde as mulheres independentes e inteligentes não são valorizadas, mas são tratadas como meras pessoas que só servem para servir os outros. Por isso, as pessoas têm determinadas expetativas para com ela, mas esta não dá importância e faz aquilo que realmente importa que é seguir o caminho que quer, transmitindo assim, uma mensagem relevante para aqueles que estão a acompanhar a sua jornada.



 

Durante o seu período de fuga, Enola é interrompida da sua principal missão, quando conhece num comboio, um jovem aristocrata que é fugitivo, mas que apresenta-se como sendo o Visconde Tewkesbury, Marquês de Basilwether. Este está envolvido num mistério que pode revelar uma conspiração e fazer toda a diferença no futuro da política britânica, apesar de não se saber inicialmente, as razões pelo qual ele saiu da sua mansão. Sem dúvida que a vida destes jovens vai mudar, em que Enola deseja salvar este rapaz que corre perigo de vida e a química partilhada entre esta dupla começa a tornar-se bem evidente.

 

Apesar de ter determinados privilégios, o lorde Tewksbury resolve fugir da sua família controladora que simplesmente quer que ele torne-se num soldado e não seguir os passos do seu pai que já tinha falecido, que era fazer parte da Câmara de Lordes Inglesa e apoiar uma reforma eleitoral e permitir que analfabetos e mulheres tivessem a possibilidade de votar. Ao mesmo tempo ele é alvo de um assassino misterioso que quer eliminá-lo a todo o custo, sem qualquer tipo de justificação, mas será que é por razões políticas? Assim, Enola desvia-se da sua missão principal e tenta resolver este mistério através da interpretação de pistas e criação de planos que podem ajudar a resolver o caso que pode alterar o rumo da história política em Inglaterra.

 

Millie Bobby Brown interpreta Enola Holmes de um modo impressionante, real, natural e único, mostrando o seu potencial como atriz. Vemos um lado bem diferente no trabalho desta atriz que é fazer comédia e até fez com eficácia e com um tom meramente sarcástico. Este é um trabalho mais maduro em comparação com os anteriores, onde ela interpreta com naturalidade e descontração e tem muito boa performance, conseguindo assim, criar empatia com o espetador.


 

Também vemos uma ligeira vulnerabilidade de Enola, principalmente numa cena que ela partilha com o seu irmão Mycroft. Segundo Mycroft, ela é uma criança selvagem que não tem boas maneiras e que precisa de ser educada como deve ser, por isso, coloca-la num internato é a única solução possível para que torne-se numa mulher que não o envergonhe.

 

Mycroft é um tipo de vilão, por ser uma pessoa cruel, irritante e interesseiro, tendo constantemente mau humor, apesar de existirem outras personagens que também funcionam como antagonistas. É uma personagem ligeiramente idiota e arrogante, mas muito bem interpretada pelo seu ator que faz com que o espetador tenha vontade de o odiar, devido aos seus atos.



 

Neste filme é apresentado uma versão do Sherlock Holmes bem diferente daquilo que estamos habituados a ver, pois é uma pessoa com empatia e até partilha as suas emoções com a protagonista da história. Não tem urgência em resolver o caso da matriarca da família Holmes, mas está mais preocupado com Enola, mas é sem dúvida, um Sherlock charmoso que poderia ter aparecido muito mais.

 

Sherlock é um pouco indiferente aquilo que se passa à sua volta, mas acaba por dar-lhe lições vitais a Enola que ela acaba por lembrar-se nas alturas certas. Eu gostava de ver a Enola a unir-se ao seu seu irmão Sherlock em algum caso que seja misterioso, de tal forma que só esta dupla de irmãos consegue resolver, pois eu achei que a química entre eles foi muito interessante de se acompanhar e tenho pena de não ter havido mais cenas partilhadas entre estas duas personagens e sinceramente, eu espero que aconteça caso seja feita uma continuação do filme.  


 

Uma das cenas que mais gostei deste filme foi sem dúvida, um dos momentos em que a Enola fala diretamente com a câmera, dando a oportunidade ao público de fazer parte da sua equipa e ajudá-la na sua investigação, criando assim uma ótima interação com o espetador, pois vemos a história de acordo com a perspetiva, os pensamentos da protagonista e aprendizagens respetivas, tornando-se assim, numa visão bem única. Assim, o espetador acaba por ser cúmplice da protagonista, devido à narração completamente confortável e descontraída perante a câmara.

 

Neste drama, o tema do feminismo é abordado de um modo bem leve, por ser indicado a um público mais jovem, sendo que não se sente grande intensidade quando o mesmo é referido, apesar de ter sido uma boa ideia para ser implementada na história.

 


O foco da história é no desenvolvimento desta jovem solitária que estava habituada a uma vida de campo cheia de liberdade, experiências de química para fazer juntamente com a sua mãe, livros para ler ou mesmo aulas de artes marciais e sendo contada de acordo com uma perspetiva feminina e bem peculiar, mas podendo ser constituído por alguns momentos de controvérsia.

 

Esta história inicia-se em Ferndell e é dividida em pelo menos dois mistérios, sendo que um deles não é muito bem explicado e é constituída por um ambiente sujo que representa uma Londres do século XIX que mostra ligeiramente a sociedade mais sofisticada e aquela com menos condições para sobreviver. É um filme de época plenamente britânico pela forma como está todo construído e desenvolvido e pelo sotaque tão caraterístico em que mostra como funciona a sociedade britânica fundamentalista do século XIX.


 

Enola é uma aventura dinâmica e cheia de mistério que tem uma história entusiasmante e repleta de energia criada com algumas características dos dias atuais, apesar de desenrolar-se numa época bem diferente, tendo uma boa montagem, edição e cinematografia, mas acima de tudo, as vistas que representam a época em que se insere a história. Também existem momentos que sente-se uma ligeira magia na forma como a história foi decorrendo, principalmente pela escolha da banda sonora respetiva que foi da responsabilidade de Daniel Pemberton e também pelo próprio elenco que foi bem escolhido.

 

Este filme contém uma história repleta de pistas para decifrar e de ação feita a um bom ritmo que até pode incluir uns movimentos de artes marciais, esta produção torna-se ainda mais como uma boa fonte de entretenimento, principalmente numa fase que estamos a passar menos positiva. A fotografia está mesmo muito bem escolhida, principalmente nas vistas, seja no campo ou mesmo na cidade de Londres, com cenários e com figurinos muito bem adequados, representando assim, a época do século XIX.


 

Quando eu vi o trailer deste filme pela primeira vez fiquei com boas expetativas e acima de tudo, curiosa com o desenrolar do mesmo, sendo que esteve ao nível do que eu esperava, mas que desiludiu ligeiramente em algumas partes, mas também me surpreendeu-me, principalmente quando a personalidade da Enola Holmes e alguns momentos da sua história faz-me lembrar outra personagem de uma série transmitida na Netflix chamada Anne with an E que também é baseada numa série de livros das aventuras de Anne of Green Cables, mas neste caso, da autoria de Lucy Maud Montgomery. É verdade, a personalidade da Enola Holmes tem algumas semelhanças com a de Anne Shirley que faz parte de uma das séries que ficou sem dúvida, na minha memória. Seja por cada uma destas histórias decorrer em épocas mais conservadoras, na forma como cada uma delas vêem o mundo à sua volta ou mesmo na maneira de ser de cada uma delas e para além disso, ambas cativam o espetador.

 


Relativamente aos pontos menos positivos, infelizmente, eu acho que houve uma perda de foco em determinadas partes do filme, chegando a um ponto de que pode existir ligeiras falhas no argumento e a personagem de Helena Bonham Carter não aparece muito, mas acredito que possa ser desenvolvido mais a sua personagem caso haja uma sequência do filme e aproveitem assim para fazerem algumas melhorias.

 

O final deste filme, eu consigo descrever em meras duas palavras, inesperado e estranho, mas quem for assistir ao filme vai perceber o que eu quero dizer e questionando-se porque foi feita uma decisão daquele tipo.

 


Enola é dirigido para um público mais jovem, mas não deixa de ser uma história simples e divertida para toda a família, sendo que contém um humor inglês sofisticado misturado com uma aventura empolgante e tendo no seu final, um genérico criativo e bonito de se ver. Para além disso, também tem enigmas que estão prontos para serem resolvidos, tanto pela protagonista como pelo público, onde as pistas que são deixadas na história são divertidas de se descobrir que vão depois ser essenciais para desvendar, um determinado mistério.

 

Este filme é divertido, repleto de mistério e de aventura e com reviravoltas pelo caminho e descobertas interessantes, com boas cenas de ação, edições bem elaboradas e efeitos especiais bem implementados. Enola mostra que é possível fazer tudo o que a pessoa deseja e sonha e tenta mudar o mundo, tornando-se assim, numa forma interessante de entreter e de animar o público e para além disso, estamos a acompanhar um lado bem diferente dos contos clássicos de Sherlock Holmes.

 

Agora fica a pergunta, será que vai acontecer uma nova saga sobre as aventuras desta jovem investigadora?

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Crítica ao filme "Devil All The Time" da Netflix, protagonizado por Tom Holland - um thriller misterioso que aborda a religião e a violência

 

O filme designado por Devil All The Time (O Diabo de Cada Dia, em português) foi considerado como uma das estreias mais esperadas da Netflix, principalmente devido ao seu elenco de luxo, tendo estreado recentemente. Este thriller de cerca de 138 minutos é baseado no romance com o mesmo título de 2011, do escritor Donald Ray Pollock, tendo sido criado e realizado por Antonio Campos e com a produção de Jake Gyllenhaal.

 

O elenco é constituído por Tom Holland (Arvin Russell), Bill Skarsgård (Willard Russell), Sebastian Stan (Lee Bodecker), Mia Wasikowska (Helen Hatton), Robert Pattinson (Preston Teagardin), Jason Clarke (Carl Henderson), Riley Keough (Sandy Henderson), Drew Starkey, Harry Melling (Roy Laferty), Haley Bennett (Charlotte Russell), Eliza Scanlen (Lenora Laferty), Douglas Hodge (Tater Brown), Gregory Kelly (Bobo McDaniels), Pokey LaFarge (Theodore), entre outros.


 

A história desenrola-se na zona rural das cidades de Knockemstiff, no sul de Ohio e em Coak Creek, na Virgínia Ocidental, após o final da 2ª Guerra Mundial e até 1960, onde são apresentadas personagens que são estranhas à sua maneira, mas que têm um objetivo específico a alcançar, enquanto percorrem a jornada respetiva. Desde um jovem que passa por uma infância conturbada, um casal de serial killers com os seus próprios planos e um pregador que chega à cidade para arrasar, utilizando os seus discursos arrebatadores. Será que os caminhos de cada um vão ser cruzados de alguma forma?

 

Este drama aborda temas, tais como, evangelismo, violência, corrupção, vingança e o poder que a religião pode ter nos outros, tendo a capacidade de influenciar as pessoas mais sensíveis a cometerem atos terríveis e desenrolando-se no período que vai desde 1939 até 1945 e também até 1960, onde é mencionada a Guerra do Vietname, em que algumas das cenas são mostradas através de flashbacks.

 



Willard Russell é um veterano atormentado que regressa da guerra, tentando criar uma vida nova, longe dos seus demónios e traumas até que um dia, ele apaixona-se perdidamente por uma rapariga muito simples e simpática que chama-se Charlotte e trabalha num café.

 

Ele considerava-se como uma pessoa religiosa, mas perde a sua fé após tudo aquilo que presenciou na guerra, sendo que vai vivendo a sua vida, de um modo muito perturbado, devido aos acontecimentos que foram sucedendo, ao mesmo tempo que resolve aos poucos retomar a fé que tinha dantes, mas não será uma tarefa fácil, principalmente quando a vida lhe prega uma partida e a sua mulher é diagnosticada com um cancro agressivo e terminal.

 


Willard tenta a todo o custo impedir que Charlotte morra, que inclui sacrifícios sanguinários que ele coloca no seu altar improvisado e também obrigando o seu filho, Arvin a rezar com intensidade através de chantagem emocional, mesmo que este possa não ter qualquer tipo de vontade de o fazer. Infelizmente as suas inúmeras orações não têm o efeito desejado, fazendo com que ele tome atitudes plenamente destruidoras, pois ele tem estado a sacrificar-se de formas indescritíveis para salvar a sua mulher que não chegaram a dar em nada e assim, acaba por não aguentar com a sua dor de a ter perdido.

 

O ator que interpreta Willard Russell fez um trabalho brilhante representando um veterano que tenta lidar com os seus traumas e lutar com os seus fantasmas, sendo que são efeitos secundários de ter participado na guerra, demostrando que esta personagem é capaz de fazer tudo o que for preciso para salvar quem mais ama.

 


Arvin Eugene Russell é o filho órfão de Willard e Charlotte, que passou por uma infância complicada e conturbada, desde bullying, a doença da sua mãe e os acontecimentos devastadores que aconteceram à sua família. Quando ele cresce, tenta proteger as pessoas que mais ama, ao mesmo tempo que tenta ser um homem bom, mas tem um lado mais violento, que nem sempre consegue controlar.

 

Inicialmente Arvin é um jovem que está no seu canto, não quer ter problemas e é perturbado pelos outros da sua idade em que chega a um ponto que vai acumulando aos poucos, a sua raiva interior ao longo dos anos e quando não consegue aguentar mais, ultrapassa todos os limites, recorrendo à violência, mesmo que tente a todos os custos ser uma boa pessoa e proteger aqueles que mais gosta ou por uma questão de instinto de sobrevivência.


 

Este é um jovem que tem uma vida marcada por perdas de pessoas que ama, traumas e tragédias que passou durante a sua infância e a influência que o cancro da sua mãe teve nas ações cometidas pelo seu pai. Arvin luta contra as forças do mal que ameaçam ele e a sua família, fazendo-o questionar as suas crenças religiosas, ao mesmo tempo que cruza-se com pessoas bem estranhas que podem ser, desde um casal de assassinos em série a um xerife corrupto.

 

Num dos seus aniversários, Arvin recebe a arma do seu pai que foi um soldado na 2ª Guerra Mundial e chega a um ponto que vê a sua vida a mudar de uma forma caótica, onde testemunha situações inexplicáveis. Ele tem boas intenções, mas apesar de ser um homem com um bom coração acaba por ter os seus momentos mais violentos.


 

Arvin tem uma carga emocional intensa, em que eu fiquei surpreendida com o tempo que demorou a tomar atitudes mais impulsivas, mesmo que tivesse sido criado por uma avó fanática pela sua religião.

 

O espetador até consegue criar uma certa ligação com esta personagem mesmo que não tenha tido tempo suficiente para o fazer ou por acontecer situações mais violentas que possam distrair o público de uma possível conexão.

 

Tom Holland fez um desempenho excelente, surpreendendo na forma como interpreta a sua personagem e onde podemos ver um lado bem mais dramático, relativamente a trabalhos anteriores deste ator, fazendo com que a pessoa fique na expetativa e com curiosidade em ver mais versões deste tipo no trabalho futuro do mesmo, ao longo da sua ainda curta carreira.


 

Na vida de Arvin também temos Lenora Laferty que é sua meia irmã e foi criada como uma católica autêntica, onde vive o seu próprio inferno de uma forma que não imaginava que algum dia viesse a suceder, mas será que Arvin vai conseguir protegê-la?

 



Carl e Sandy Henderson são um casal que têm um segredo muito grave por desvendar, mas será que vão sofrer com as consequências dos seus atos? Estes são uma dupla de assassinos em série, pois eles percorrem as estradas norte-americanas, oferecendo boleia a estranhos, mas têm um objetivo muito específico que inclui a vítima ser modelo fotográfico por umas horas e depois acabando por ter um fim terrível e macabro.

 

Este casal espalha simpatia por quem se cruzam, principalmente perante homens que podem ser adequados para os seus planos, que inclui posar em posições comprometedoras, mas infelizmente esta dupla de serial killers gostam de deixar os seus crimes registados em fotografias.

 


Como pessoas fanáticas pela sua religião, a comunidade está cheia de expetativas e ao mesmo tempo ansiosa quando chega à sua terra, um pregador chamado Preston Teagardin que é motivo de celebração, em que cada família traz comida para este homem saborear, mas nem todos são recebidos da melhor forma por este indivíduo.

 

Preston Teagardin é uma personagem cruel e manipuladora que aproveita-se das pessoas mais vulneráveis para benefício próprio, utilizando os seus discursos emblemáticos, mas que não pode fazer sentido para todos e que infelizmente, nem sempre têm os melhores efeitos nas pessoas.

 

O ator interpreta de um modo excelente esta personagem, em que ele acaba por protagonizar muitas das cenas mais odiadas do filme, pois ele é muito credível na forma como vai desempenhando as mesmas, principalmente quando utiliza o poder de Deus para o seu próprio benefício e para conseguir alcançar aquilo que quer.


 

Lee Bodecker é um xerife corrupto, sendo cobarde em determinadas situações e em outras, não tem equilíbrio nas suas atitudes e faz os possíveis para manter e preservar as aparências na cidade, protegendo assim, a sua reputação.


 

Por fim, Roy é um pregador que inicialmente tinha uma fobia por aranhas até que encontrou a sua fé em Deus, perdendo esse medo por completo. Tem como aliado, Theodore, que tem sequelas físicas, mas não é por isso que deixa de tocar a sua guitarra. Será que Roy vai cometer atos completamente imperdoáveis em nome do seu Deus?

 

Esta é uma história bem violenta que decorre após a 2ª Guerra Mundial e até 1960, principalmente na cidade de Knockemstiff, numa zona rural de Ohio e também em Coak Creek, na Virgínia Ocidental, em que acompanha-se a evolução de personagens obscuras durante cerca de 20 anos e onde um dos temas predominantes é a religião, como esta pode afetar cada personagem e o que isso significa para cada uma delas e também a ligação que estas duas localizações podem ter uma com a outra.


 

Estas são comunidades muito religiosas que definem cada decisão da sua vida, de acordo com a vontade de Deus, sendo que as pessoas tentam aliviar as suas mágoas ou simplesmente procurar respostas a algo que para elas é um ser superior e por isso, fazem o que for necessário para que as suas orações sejam atendidas que por vezes podem incluir atitudes extremas que não têm qualquer tipo de justificação.

 

Este filme é narrado pelo próprio autor do livro com o mesmo nome em que é baseado, nos quais vai contando a história de cada personagem e é essencial que o espetador vá ficando atento a cada pormenor deste suspense e assim, evitando perder-se no seu decorrer. A forma como o autor vai narrando a história até pode influenciar de certa forma, quem o está a ouvir e a experiência que adquire do filme, dependendo da intensidade e entoação com que utiliza a sua voz enquanto vai contando a mesma.

 

Esta história vai sendo uma aprendizagem para quem assiste, mas também para cada uma das suas personagens, em que vemos lições de vida e possíveis consequências que podem dar origem a um acumular de raiva, levando a ataques sucessivos de violência ou mesmo situações que vão decorrendo e como as personagens vão reagindo a elas, podendo ser vital na sua evolução como pessoas.


 

Este é um thriller psicológico em que as personagens vão sendo constantemente desafiadas, principalmente a nível emocional e nem todas conseguem vencer, pois são vários os traumas com que têm de lidar e nem sempre têm a força suficiente para os enfrentar. Neste caso, existem personagens bem perturbadoras que não conseguem lidar com as adversidades da vida.

 

Também temos a oportunidade de ver cada personagem a procurar por algo específico que acaba por tornar-se num desafio difícil, mas não quer dizer que seja impossível e para além disso, também vemos representações sobre como a fé é vista por estas pessoas, pois a religião afeta a vida das pessoas de uma forma bem específica, principalmente se é uma comunidade que vive num sítio mais rural.


 

Pode acontecer o espetador não chegar a torcer totalmente por uma personagem, mas não deixa de ser curioso, ver como a história de cada um vai terminar, podendo ser por vezes, surpreendente. Mesmo que sejam abordadas as histórias de uma quantidade vasta de personagens, a pessoa não se perde e é interessante a ligação que vão fazendo umas com as outras, acabando por fazer todo o sentido. Assim, as histórias das diferentes personagens são cruzadas de forma inteligente.

 

Este filme tenta mostrar o significado que é ter uma vida religiosa e o que pode estar no interior de cada um de nós, onde nos questionamos se faz sentido ou não, que determinados atos devem ser cometidos pelas próprias mãos da pessoa. Sem dúvida, que dá para refletir sobre vários temas fundamentais, tais como a manipulação, rejeição, vingança ou influência e como devemos reagir aos mesmos.


 

Também tentam mostrar que o ser humano tem um monstro no seu interior. Isso até me faz acreditar que chegamos à conclusão que todos nós acabamos por ter dois tipos de lobos, dentro de nós, um com luz e outro com escuridão e existe uma luta intensa entre os dois que têm o objetivo de estar no controlo e assim, temos de ser nós a escolher quem realmente queremos ser. Assim, este filme deixa refletir sobre o que acabou de acontecer e a forma como lidamos com a nossa própria vida e onde se baseia a nossa fé, sejamos pessoas religiosas ou não.

 

Infelizmente são vários os atos que são cometidos de uma forma conveniente para uma determinada personagem, onde esta utiliza como justificação, a sua fé e a mensagem de Deus, em vez de admitir que é por benefício próprio ou para propósitos específicos. Estas pessoas aproveitam-se da crença dos outros para cometerem ações terríveis, sem pensarem nas consequências e nas vítimas respetivas. Assim, a moral das personagens acaba por ser constantemente questionada, principalmente devido a atos de violência pura e excessiva, existindo conflitos morais que podem influenciar a própria construção da personalidade da pessoa e possíveis atitudes que podem vir a ter.

 

Quando pessoas religiosas que deveriam estar a fazer o bem acabam por estar a fazer o contrário, em benefício próprio e justificando as suas ações como sendo feitas em nome de Deus, sendo que estas acabam por ser classificadas como os diabos que vivem neste planeta. Nesta história são apresentadas personagens bondosas e humildes que revelam-se completamente o contrário, em que tudo é feito a partir de aparências, onde estas utilizam a sua influência para os seus próprios planos, que por vezes até podem vir a ser macabros. Assim, este filme mostra como pessoas mais vulneráveis podem ser influenciadas, devido à sua religião ou devido à manipulação de líderes que deveriam estar o fazer bem em vez de utilizarem a fé das pessoas para objetivos peculiares.


 

Num geral, estas personagens são bem complexas, apesar de cada uma ter a sua peculiaridade, em que podemos ver a jornada e aprendizagem de cada um deles, que nem sempre pode acabar bem, pois são alguns que vão ter os seus fins trágicos, uns mais surpreendentes do que outros. Existem cenas que podem causar um impacto imediato a quem está a assistir, devido à sua intensidade, por isso é um filme que não é indicado aos espetadores mais sensíveis e pode não agradar a todos por ser uma história mais pesada.

 

Infelizmente, eu acho que algumas das personagens não faziam muita falta ao filme, pois poderiam atrapalhar e tirarem o brilho a outras mais relevantes e fundamentais para a continuação da história. Poderia fazer todo o sentido, caso esta produção tivesse sido uma minissérie, mas num filme nem sempre existe tempo suficiente para desenvolver suficientemente as personagens, quanto mais introduzir outras que podiam bem ter sido dispensadas.

 

Este filme consegue reunir um elenco de luxo, em que temos a oportunidade de ver a versatilidade de muitos destes atores, em que estamos habituados a ver em registos bem diferentes do que acontece nesta produção e para além disso, também podemos assistir a vários momentos dramáticos em ambientes pesados, onde vemos o trabalho incrível dos atores deste projeto.


 

A história é contada a um ritmo bem lento, onde vamos estando em períodos de tempo diferentes, dependendo da jornada em que está situada determinada personagem. Também é constituída por um argumento bem desenvolvido, uma boa cinematografia e uma fotografia mais sombria que pode representar uma falta de esperança e fé que as personagens vão tendo, enquanto percorrem o seu caminho e considero que seja a mais indicada para este suspense. Para além disso, a edição deste filme está muito bem implementada e a banda sonora também ajuda a criar o clima e a tensão necessária para um thriller deste tipo, em que faz todo o sentido quando chegamos ao seu final, pois todas as ligações entre as personagens foram bem realizadas.

 


Este filme de drama e terror tem uma história misteriosa, cheia de suspense, com muita tensão e tragédias pelo caminho e com personagens bem sinistras que mostram um pouco a hipocrisia e a maldade da humanidade com algumas controvérsias pelo meio, em que são introduzidas pessoas fanáticas por uma determinada religião que nem sempre têm bom senso e usam a violência de um modo excessivo, em nome de Deus e tornando-se por vezes angustiante.

 

Como não tive oportunidade de ler o livro pelo qual este filme foi baseado não posso fazer comparações sobre esta adaptação, apesar de achar que nesta história pode haver uma certa crítica a esta religião específica e os seus simbolismos, onde ajuda a refletir sobre o que vai acontecendo com as cenas mais tensas e dolorosas que o público vai acompanhando e para além disso, também mostra que por mais luz que uma determinada pessoa possa vir a ter, não deixa de ter o seu lado mais obscuro.


 

Este é daqueles filmes pesados que tenho a certeza que vão dividir opiniões pois houve um tempo excessivo do mesmo que poderiam ter aproveitado para aprofundar muito mais determinadas personagens que eu considerei vitais para o desenrolar da história, mas não deixa de ser interessante de ver para que o espetador possa tirar as suas próprias conclusões e para isso acontecer é essencial que esteja com muita atenção para não perder a noção de espaço e tempo.

 

Devil All The Time é uma crítica ao ser humano e aos seus atos de maldade que comete perante outras pessoas mais vulneráveis que simplesmente são manipuladas facilmente, mas que deixa refletir em possíveis semelhanças com a realidade, por isso eu acho que esta história até traz uma discussão interessante e aconselho a verem.