quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Crítica ao filme "Enola Holmes", protagonizado por Millie Bobby Brown - as aventuras divertidas de uma jovem investigadora que desvenda mistérios

 

O filme de aventura designado por Enola Holmes estreou no passado dia 23 de Setembro na plataforma da Netflix, tendo sido produzido e protagonizado pela atriz, Millie Bobby Brown. Com produção da Legendary Pictures, realização de Harry Bradbeer e escrito por Jack Thorne, esta história de cerca de 2 horas é baseada na série de livros de mistério da personagem de Enola Holmes, de Nancy Springer publicados a partir de 2006 (um total de seis livros), em que neste caso designa-se por O Caso do Marquês Desaparecido.

 

Em 1884, Enola Holmes (Milly Bobby Brown) é uma jovem que sempre viveu no campo com a sua mãe, onde aprendeu temas desde literatura, ciência, desporto e até exercícios fundamentais para a sua sobrevivência, seja a nível físico e psicológico. No dia do seu 16º aniversário, a sua mãe desaparece e deixa-lhe apenas alguns presentes com enigmas por resolver e por isso, Enola resolve pedir ajuda aos seus irmãos Mycroft (Sam Claflin) e Sherlock (Henry Cavil) neste caso de investigação, mas eles estão mais interessados em enviá-la para um colégio interno para que tenha uma educação adequada e digna para uma mulher. Enola resolve fugir para Londres e pôr em prática o seu plano para resolver o mistério do desaparecimento da sua mãe, mas não será uma tarefa fácil de se concretizar, pois a sua vida irá mudar, com um caminho cheio de aventuras, enigmas e desafios, onde irá conhecer pessoas que poderão fazer toda a diferença para alcançar o seu objetivo.

 

O elenco é constituído por Millie Bobby Brown (Enola Holmes), Sam Claflin (Mycroft Holmes), Henry Cavil (Sherlock Holmes), Helena Bonham Carter (Eudoria Holmes), Louis Partridge (Lord Tewkesbury), Fiona Shaw (Miss Harrison), Adeel Akhtar (Lestrade), Frances de la Tour (The Dowager), Susie Wokoma (Edith) e Burn Gorman (Linthorn).


 

Quem não se lembra das histórias do enigmático Sherlock Holmes, escritas por Arthur Conan Doyle? Esta é uma história que conta as aventuras da irmã mais nova do detetive sobredotado e de Mycroft Holmes chamada Enola Holmes, sendo que viveu toda a sua vida na companhia da sua mãe no interior de Inglaterra, onde ensinou-lhe várias lições que inclui tipos diferentes de literatura, tais como Shakespeare, ciência, desporto que vai desde o ténis, o arco e flecha e passando pelas artes marciais, como é o caso do jiu-jitsu, e também exercícios que ajudassem a desenvolver a sua mente, como por exemplo, o xadrez.

 

Na manhã do seu 16º aniversário, a vida de Enola muda por completo quando dá conta que a sua mãe desapareceu misteriosamente, sem razão aparente, mas deixa-lhe dinheiro para que ela possa desenrascar-se sozinha. Será que Enola terá pela frente um mistério satisfatório para resolver, com a ajuda dos seus irmãos, Sherlock e Mycroft? O regresso dos seus irmãos poderá não ser das melhores ideias para Enola, pois pelos vistos eles preocupam-se mais com a reputação do que com aquilo que realmente importa, sendo que nem tudo corre como o previsto. Infelizmente, Mycroft e Sherlock querem mandá-la para uma escola de etiqueta para ter uma educação decente e própria para uma jovem desta época tornar-se numa mulher digna que seja aceite pela sociedade e assim, ter possibilidades de encontrar um bom marido.

 


Eudoria Holmes não é uma mãe típica como as outras e é fascinada por jogos de palavras, em que aproveitou para dar o nome de Enola com um significado específico, pois se colocarmos o nome da sua filha ao contrário temos Alone (sozinha, em português). Ela tinha a sua maneira de fazer as coisas, principalmente no que dizia respeito à educação de Enola, mas será que partilhava tudo com a filha ou tem alguns segredos a esconder?

 

Eudoria é uma mulher excêntrica e nada convencional que está determinada a criar a filha, do modo que acredita que seja o melhor para ela, por isso, ensina-lhe lições que tornam-se fundamentais para colocar na sua rotina e na sua vida nova por uma Londres antiga e estas vão sendo mostradas em formato de flashbacks, em alturas que Enola realmente precisa de se recordar.


 

Enola Holmes é uma jovem inocente, extraordinária, inteligente, especial e com um bom coração, cujo objetivo é tornar-se numa pessoa independente e seguir com a sua vida, fazendo as suas próprias escolhas, encontrando o seu caminho, a sua liberdade e o seu propósito e assim ser responsável pelo seu próprio futuro, seguindo os conselhos que foram dados pela sua mãe, nos últimos anos.

                                                                                                  

Ela é a filha mais nova da família Holmes, inteligente, resistente e com um talento nato para a investigação, tal como o seu irmão, Sherlock, mas será que ela irá superar as habilidades dele? Esta jovem quer criar o seu próprio caminho e quem sabe, tornar-se numa detetive privada, tal como o seu irmão.

 


Enola foi criada pela sua mãe no campo já que tinha perdido o seu pai quando era criança e longe dos seus irmãos. Não teve uma educação tradicional, ao contrário de Sherlock e Mycroft, por isso, ela sempre cresceu de uma forma livre, sem qualquer tipo de preocupações, tendo uma ligação muito forte com a sua progenitora que ensinou-a a ser independente e outras coisas, que nada tinha a ver com as obrigações para as mulheres daquela altura.

 

O mundo de Enola sofre uma reviravolta quando a sua mãe desaparece misteriosamente e por isso, ela quer descobrir o que realmente aconteceu com a pessoa mais importante da sua vida, mas será que esta teve razões suficientes para ter desaparecido, sem deixar qualquer tipo de rasto que seja evidente?


 

Esta jovem tem uma personalidade forte e corajosa, mas com algumas atitudes arrogantes e rebeldes, em que parece fazer parte da sua família. Para além de querer fazer a diferença no mundo em que vive, ela também quer criar a sua própria identidade, mesmo que os seus irmãos queiram definir o seu futuro e torna-la numa boa esposa, Enola já planeou exatamente aquilo que quer fazer, mas não será fácil enfrentar o mundo real e os seus perigos. Será que Enola vai conseguir encaixar-se numa sociedade que nada tem a ver com a sua personalidade?

 

Enola é uma personagem interessante, esperta, cativante, carismática, mas um pouco desajeitada que tem uma missão a cumprir, mas ao mesmo tempo, quer ajudar as pessoas, sendo que ela é a narradora da sua própria história, em que conta aquilo que é fundamental o espetador saber, como por exemplo, apresentar a sua família e chega a um ponto que torna-se realmente dinâmico, em que ela fala diretamente com o público, dando a oportunidade de participar na sua aventura, acabando por criar uma empatia e um relacionamento com o mesmo.


 

Após ter sido obrigada a ir para uma escola de etiquetas pelos seus irmãos, Enola resolve fugir para Londres e ir procurar pela sua mãe, seguindo as pistas que a mesma lhe deixou. Durante a sua fuga, ela tenta criar pistas falsas para que não seja encontrada tão facilmente, mas será que os seus irmãos vão ser enganados?

 

Enola é perspicaz e gosta muito de disfarces, principalmente para enganar quem realmente está à sua procura, por isso vestir-se de rapaz acaba por tornar-se num hábito para ela e até tem a sua piada, principalmente quando ela pede a rapazes para trocarem de roupa com ela.

 


Durante a sua jornada, Enola vai passar por um período de amadurecimento e pela primeira vez vai conseguir pôr em prática, tudo aquilo que aprendeu com a sua mãe e isso é notório, principalmente quando são partilhados flashbacks entre as duas sobre lições que podem ajudar, em determinadas situações que esta jovem vai enfrentando e por isso, temos a oportunidade de ver uma boa evolução nesta personagem e a forma como ela lida com a civilização. Para além disso, ela vai desvendando mistérios, onde todos os detalhes da sua personalidade vão sendo mostrados, de acordo com as circunstâncias que vão acontecendo.

 

A primeira experiência de Enola com o mundo real vai ser um grande desafio, pois ela teve uma educação diferente, relativamente aos seus irmãos e não gosta de ver injustiças, mas será que ela está preparada para enfrentar sozinha a sociedade e uma vida independente, numa cidade atribulada, como Londres?


 

Esta é uma sociedade, onde as mulheres independentes e inteligentes não são valorizadas, mas são tratadas como meras pessoas que só servem para servir os outros. Por isso, as pessoas têm determinadas expetativas para com ela, mas esta não dá importância e faz aquilo que realmente importa que é seguir o caminho que quer, transmitindo assim, uma mensagem relevante para aqueles que estão a acompanhar a sua jornada.



 

Durante o seu período de fuga, Enola é interrompida da sua principal missão, quando conhece num comboio, um jovem aristocrata que é fugitivo, mas que apresenta-se como sendo o Visconde Tewkesbury, Marquês de Basilwether. Este está envolvido num mistério que pode revelar uma conspiração e fazer toda a diferença no futuro da política britânica, apesar de não se saber inicialmente, as razões pelo qual ele saiu da sua mansão. Sem dúvida que a vida destes jovens vai mudar, em que Enola deseja salvar este rapaz que corre perigo de vida e a química partilhada entre esta dupla começa a tornar-se bem evidente.

 

Apesar de ter determinados privilégios, o lorde Tewksbury resolve fugir da sua família controladora que simplesmente quer que ele torne-se num soldado e não seguir os passos do seu pai que já tinha falecido, que era fazer parte da Câmara de Lordes Inglesa e apoiar uma reforma eleitoral e permitir que analfabetos e mulheres tivessem a possibilidade de votar. Ao mesmo tempo ele é alvo de um assassino misterioso que quer eliminá-lo a todo o custo, sem qualquer tipo de justificação, mas será que é por razões políticas? Assim, Enola desvia-se da sua missão principal e tenta resolver este mistério através da interpretação de pistas e criação de planos que podem ajudar a resolver o caso que pode alterar o rumo da história política em Inglaterra.

 

Millie Bobby Brown interpreta Enola Holmes de um modo impressionante, real, natural e único, mostrando o seu potencial como atriz. Vemos um lado bem diferente no trabalho desta atriz que é fazer comédia e até fez com eficácia e com um tom meramente sarcástico. Este é um trabalho mais maduro em comparação com os anteriores, onde ela interpreta com naturalidade e descontração e tem muito boa performance, conseguindo assim, criar empatia com o espetador.


 

Também vemos uma ligeira vulnerabilidade de Enola, principalmente numa cena que ela partilha com o seu irmão Mycroft. Segundo Mycroft, ela é uma criança selvagem que não tem boas maneiras e que precisa de ser educada como deve ser, por isso, coloca-la num internato é a única solução possível para que torne-se numa mulher que não o envergonhe.

 

Mycroft é um tipo de vilão, por ser uma pessoa cruel, irritante e interesseiro, tendo constantemente mau humor, apesar de existirem outras personagens que também funcionam como antagonistas. É uma personagem ligeiramente idiota e arrogante, mas muito bem interpretada pelo seu ator que faz com que o espetador tenha vontade de o odiar, devido aos seus atos.



 

Neste filme é apresentado uma versão do Sherlock Holmes bem diferente daquilo que estamos habituados a ver, pois é uma pessoa com empatia e até partilha as suas emoções com a protagonista da história. Não tem urgência em resolver o caso da matriarca da família Holmes, mas está mais preocupado com Enola, mas é sem dúvida, um Sherlock charmoso que poderia ter aparecido muito mais.

 

Sherlock é um pouco indiferente aquilo que se passa à sua volta, mas acaba por dar-lhe lições vitais a Enola que ela acaba por lembrar-se nas alturas certas. Eu gostava de ver a Enola a unir-se ao seu seu irmão Sherlock em algum caso que seja misterioso, de tal forma que só esta dupla de irmãos consegue resolver, pois eu achei que a química entre eles foi muito interessante de se acompanhar e tenho pena de não ter havido mais cenas partilhadas entre estas duas personagens e sinceramente, eu espero que aconteça caso seja feita uma continuação do filme.  


 

Uma das cenas que mais gostei deste filme foi sem dúvida, um dos momentos em que a Enola fala diretamente com a câmera, dando a oportunidade ao público de fazer parte da sua equipa e ajudá-la na sua investigação, criando assim uma ótima interação com o espetador, pois vemos a história de acordo com a perspetiva, os pensamentos da protagonista e aprendizagens respetivas, tornando-se assim, numa visão bem única. Assim, o espetador acaba por ser cúmplice da protagonista, devido à narração completamente confortável e descontraída perante a câmara.

 

Neste drama, o tema do feminismo é abordado de um modo bem leve, por ser indicado a um público mais jovem, sendo que não se sente grande intensidade quando o mesmo é referido, apesar de ter sido uma boa ideia para ser implementada na história.

 


O foco da história é no desenvolvimento desta jovem solitária que estava habituada a uma vida de campo cheia de liberdade, experiências de química para fazer juntamente com a sua mãe, livros para ler ou mesmo aulas de artes marciais e sendo contada de acordo com uma perspetiva feminina e bem peculiar, mas podendo ser constituído por alguns momentos de controvérsia.

 

Esta história inicia-se em Ferndell e é dividida em pelo menos dois mistérios, sendo que um deles não é muito bem explicado e é constituída por um ambiente sujo que representa uma Londres do século XIX que mostra ligeiramente a sociedade mais sofisticada e aquela com menos condições para sobreviver. É um filme de época plenamente britânico pela forma como está todo construído e desenvolvido e pelo sotaque tão caraterístico em que mostra como funciona a sociedade britânica fundamentalista do século XIX.


 

Enola é uma aventura dinâmica e cheia de mistério que tem uma história entusiasmante e repleta de energia criada com algumas características dos dias atuais, apesar de desenrolar-se numa época bem diferente, tendo uma boa montagem, edição e cinematografia, mas acima de tudo, as vistas que representam a época em que se insere a história. Também existem momentos que sente-se uma ligeira magia na forma como a história foi decorrendo, principalmente pela escolha da banda sonora respetiva que foi da responsabilidade de Daniel Pemberton e também pelo próprio elenco que foi bem escolhido.

 

Este filme contém uma história repleta de pistas para decifrar e de ação feita a um bom ritmo que até pode incluir uns movimentos de artes marciais, esta produção torna-se ainda mais como uma boa fonte de entretenimento, principalmente numa fase que estamos a passar menos positiva. A fotografia está mesmo muito bem escolhida, principalmente nas vistas, seja no campo ou mesmo na cidade de Londres, com cenários e com figurinos muito bem adequados, representando assim, a época do século XIX.


 

Quando eu vi o trailer deste filme pela primeira vez fiquei com boas expetativas e acima de tudo, curiosa com o desenrolar do mesmo, sendo que esteve ao nível do que eu esperava, mas que desiludiu ligeiramente em algumas partes, mas também me surpreendeu-me, principalmente quando a personalidade da Enola Holmes e alguns momentos da sua história faz-me lembrar outra personagem de uma série transmitida na Netflix chamada Anne with an E que também é baseada numa série de livros das aventuras de Anne of Green Cables, mas neste caso, da autoria de Lucy Maud Montgomery. É verdade, a personalidade da Enola Holmes tem algumas semelhanças com a de Anne Shirley que faz parte de uma das séries que ficou sem dúvida, na minha memória. Seja por cada uma destas histórias decorrer em épocas mais conservadoras, na forma como cada uma delas vêem o mundo à sua volta ou mesmo na maneira de ser de cada uma delas e para além disso, ambas cativam o espetador.

 


Relativamente aos pontos menos positivos, infelizmente, eu acho que houve uma perda de foco em determinadas partes do filme, chegando a um ponto de que pode existir ligeiras falhas no argumento e a personagem de Helena Bonham Carter não aparece muito, mas acredito que possa ser desenvolvido mais a sua personagem caso haja uma sequência do filme e aproveitem assim para fazerem algumas melhorias.

 

O final deste filme, eu consigo descrever em meras duas palavras, inesperado e estranho, mas quem for assistir ao filme vai perceber o que eu quero dizer e questionando-se porque foi feita uma decisão daquele tipo.

 


Enola é dirigido para um público mais jovem, mas não deixa de ser uma história simples e divertida para toda a família, sendo que contém um humor inglês sofisticado misturado com uma aventura empolgante e tendo no seu final, um genérico criativo e bonito de se ver. Para além disso, também tem enigmas que estão prontos para serem resolvidos, tanto pela protagonista como pelo público, onde as pistas que são deixadas na história são divertidas de se descobrir que vão depois ser essenciais para desvendar, um determinado mistério.

 

Este filme é divertido, repleto de mistério e de aventura e com reviravoltas pelo caminho e descobertas interessantes, com boas cenas de ação, edições bem elaboradas e efeitos especiais bem implementados. Enola mostra que é possível fazer tudo o que a pessoa deseja e sonha e tenta mudar o mundo, tornando-se assim, numa forma interessante de entreter e de animar o público e para além disso, estamos a acompanhar um lado bem diferente dos contos clássicos de Sherlock Holmes.

 

Agora fica a pergunta, será que vai acontecer uma nova saga sobre as aventuras desta jovem investigadora?

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