sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Série "Perry Mason" da HBO - a jornada de um detetive privado que torna-se num advogado para ajudar a resolver mistérios e crimes complicados

A série Perry Mason é uma das novas apostas da HBO, em que é transmitida na sua plataforma portuguesa sobre a história de um dos mais famosos advogados de defesa criminal da ficção norte-americana, que decorre no início das suas funções com um caso emblemático, incluindo pelo meio um pouco de drama, mistério e crime. Este drama, atualmente com 8 episódios que já foi renovado para uma 2ª temporada, é baseado nas personagens dos livros do autor, Erle Stanley Gardner que escreveu mais de 80 capítulos, desde 1933 até 1970, tendo várias versões desde filmes, emissões de 15 minutos na rádio, banda desenhada, séries, entre outros. Esta adaptação mais recente é criada por Rolin Jones e Ron Fitzgerald, tendo como produtores executivos, Amanda Burrell, Robert Downey Jr., Susan Downey, Ron Fitzgerald, Joe Horacek, Rolin Jones e Timothy Van Patten, que também é o realizador e para além disso, tem a produção de Matthew Rhys.

 

A história desenrola-se no ano de 1931, na cidade de Los Angeles. Perry Mason (Matthew Rhys) é um mero investigador privado que ajuda Elias Birchard “E.B.” Jonathan, um advogado a resolver crimes que estão possivelmente interligados com os seus clientes. Quando o rapto de uma criança tem consequências devastadoras para a sua família, que podem ou não estar relacionados com o crime, Perry resolve aceitar o caso tornando-se assim, primeiramente no seu investigador e mais tarde, num advogado de defesa criminal, tentando descobrir a verdade a todo o custo, mas não será uma tarefa fácil, principalmente quando existem várias pessoas que farão os possíveis para encobrir as pistas que poderão ser fundamentais para que consiga defender a sua cliente.  

 

O elenco é constituído por Matthew Rhys (Perry Mason), John Lithgow (Elias Birchard “E.B.” Jonathan), Juliet Rylance (Della Street), Tatiana Maslany (Irmã Alice McKeegan), Gayle Rankin (Emily Dodson), Chris Chalk (Paul Drake), Shea Whigham (Pete Strickland), Lili Taylor (Birdy McKeegan), Nate Corddry (Matthew Dodson), Robert Patrick (Herman Baggerly) e Stephen Root (Maynard Barnes).


 

Nesta época, a cidade de Los Angeles estava em constante evolução, com grandes inovações a serem criadas e onde a igreja evangélica tinha cada vez mais influência na sociedade enquanto o resto do país lutava contra a Grande Depressão, mas este era um sítio repleto de corrupção, crimes, racismo e homofobia que estava dividida na sua opinião sobre diversos assuntos marcantes para a altura.

 

Esta primeira temporada conta a história do caso mediático que envolve o rapto de um bebé de um ano chamado Charlie que corre muito mal, resultando na sua morte trágica, cujo objetivo principal dos sequestradores era conseguirem extorquir o máximo de dinheiro possível aos pais da criança, que só queriam ter de volta o seu filho, acreditando que o mesmo estava vivo, mas infelizmente não foi isso que aconteceu.

 


O caso de Charlie torna-se num dos mais emblemáticos e famosos desta época, pois tudo aconteceu de uma forma muito estranha que tinha pormenores macabros que seriam completamente insensíveis uma pessoa cometer a uma criança inocente. Os principais suspeitos do sequestro e homicídio de Charlie são os próprios pais que ao longo dos episódios vamos vendo todas as evidências contra eles.

 

Durante estes episódios, podemos acompanhar o caminho que é necessário que cada uma das personagens percorre para a sua própria redenção que pode fazer toda a diferença na resolução deste crime, tendo o espetador, a oportunidade de criar as suas próprias teorias sobre o que poderá ter acontecido com Charlie e quem é o verdadeiro culpado.

 


Herman Baggerly, um membro conceituado da igreja da Irmã Alice e um homem poderoso na cidade contrata os serviços do advogado E.B. Jonathan, nos quais este pede a ajuda de Perry Mason para solucionar o caso, pois este detetive costuma fazer alguns trabalhos de investigação sempre que é solicitado.

 


Perry Mason é um detetive privado que luta para sobreviver, tendo como seu braço direito e aliado, Pete Strickland e um dia são contratados pelo advogado, E.B. Jonathan, um género de mentor para Perry, para ajudarem a resolver um caso completamente desconcertante que é o caso do sequestro de Charlie Dodson, de um ano de idade, cujos pais, Matthew e Emily, membros da igreja da Irmã Alice receberam um pedido de resgaste no valor de 100 000 dólares.

 

Infelizmente, esta investigação acaba por tornar-se num crime de rapto e homicídio. Perry vai estar constantemente à procura da verdade que revela-se não sendo algo fácil de se concretizar, mas isso não o impede de fazer o que for preciso para descobrir o que aconteceu realmente com o bebé Charlie.

 

Perry Mason é uma pessoa muito simples que vive de uma forma bem humilde, ao mesmo tempo que é assombrado pelas experiências um pouco traumáticas que passou enquanto serviu em França. Ele cometeu muitos erros para com a sua ex-mulher e o seu filho, por isso tenta compensá-los sempre que consegue, mas nem sempre acaba da forma que pretendia.


 

Inicialmente, ele é definido por ser um veterano com problemas relativamente ao excesso de consumo de álcool que atua como detetive particular, depois de ter lutado na 1ª Guerra Mundial. Não tem cuidados a nível de higiene, vestindo-se mal, sendo assim, caracterizado de uma forma bem peculiar que inclui um chapéu, cigarro na boca e gravatas que são roubadas aos mortos da morgue.


Mason está sempre acompanhado da sua pequena máquina fotográfica que é fundamental nas suas investigações em métodos não muito legais e pouco tradicionais. Ele vive na quinta da sua família, sem condições e no meio de uma pista de aviação. É pessimista e constantemente atormentado por memórias do passado e com as suas dificuldades financeiras, ele aceita qualquer trabalho que lhe aparece à frente, pois são notórios os fracassos e erros que cometeu anteriormente.


 

De certa forma, Mason é um homem vulnerável e prático com um ligeiro tom misterioso, que sobrevive, sem ter qualquer tipo de expetativas de vir a ter uma vida melhor. Tanto ele, como o seu parceiro Pete Strickland ganham dinheiro, através de fotos que tiram a estrelas de Hollywood, em situações comprometedoras. Ele é uma pessoa que quebrava as regras para fazer o seu trabalho de investigador, tendo os seus próprios contactos, seja na morgue ou através de fontes fiáveis que são essenciais para extrair informações cruciais para os seus casos.

 

Mason é uma personagem que considera que de certa forma, toda a gente é culpada de tudo o que está a acontecer naquele momento em Los Angeles e por isso, defende quem ele acredita que é realmente inocente. Ele vai enfrentar quem for preciso para chegar à verdade, nem que tenha que percorrer meios menos ortodoxos, mas será que as ações de Perry são justificáveis ao ponto de ele não precisar de sofrer com as consequências?


 

Depois de ocorrerem várias peripécias no julgamento do caso de Charlie que fazem com que Emily Dodson seja acusada e considerada como a principal suspeita de ter tido algum envolvimento no sequestro e morte do seu filho, Mason resolve aceitar e tornar-se no seu advogado. Assim, ele começa a ter uma postura mais responsável que inclui tomar mais cuidados para consigo, como por exemplo, pentear-se ou mesmo fazer a barba. Por isso, vamos vendo um pouco, o processo de transformação de Mason como detetive para uma carreira de advogado, com planos bem definidos.

 

Na minha opinião, é bem interessante acompanhar a construção da personagem de Perry Mason e a sua própria evolução e jornada como pessoa, desde os seus dias como investigador privado até tornar-se num advogado diferente, sendo fundamental para defender aqueles que são inocentes, mas infelizmente têm muitas dificuldades para conseguirem provar. Mesmo tendo alguns defeitos na sua personalidade, ele é sem dúvida, a pessoa mais indicada para ajudar quem mais precisa e que é constantemente prejudicada pelo sistema de justiça do país e também dá-lhe uma oportunidade de se redimir dos erros do seu passado.


 

Matthew Rhys desempenha os diversos lados da personalidade Perry Mason, de um modo fantástico e bem realista. Temos a oportunidade de ver uma boa construção da personagem principal com uma mente brilhante, mas ao mesmo tempo perturbada com os seus fantasmas do passado, não conseguindo lidar com eles sempre da melhor forma, tendo assim, reações que nem sempre são as melhores e por isso, a utilização de flashbacks também são essenciais para termos uma noção dos traumas passados por este indivíduo.

 

Mason tem uma abordagem completamente diferente de qualquer outro advogado, tornando-o brilhante no seu trabalho, pois esta é uma luta de Mason contra o sistema judicial, em que ele utiliza as informações certas em alturas imprescindíveis. No caso de Emily, ele prepara-se para todo o tipo de teorias e pormenores que possam vir a surgir, para que não prejudique o seu cliente e não tenha nenhuma surpresa desagradável, mas será que consegue impedir os planos do procurador?


 

Perry Mason vai conseguindo alcançar aos poucos, todas as ferramentas necessárias para vencer o seu caso e assim derrotar um homem tão corrupto e ambicioso como é Maynard Barnes, mesmo que tenha de ultrapassar diversos obstáculos que não serão fáceis de enfrentar, incluindo más notícias dadas pelas pessoas em que ele mais confia, mas será que ele conseguirá provar que a sua cliente está inocente?

 


Maynard Barnes é o advogado distrital e um excelente manipulador que quer tornar-se no próximo presidente da câmara e por isso quer provar a todo o custo que a arguida e cliente de Mason é culpada, tendo sempre cartas na manga para a prejudicar, mesmo que não estejam relacionadas com o crime em si. Assim, é uma personagem que por vezes irrita, principalmente nas suas estratégias em tribunal querendo condenar alguém por cometer um erro que não está relacionado com o caso em questão.

 


E.B. Jonathan é um advogado com uma personalidade complexa e com algumas dificuldades e traumas por resolver. Assim, ele tem receio de pôr a sua carreira em risco, devido à situação de sequestro e assassinato misterioso, brutal e assustador de Charlie Dodson, pois este caso recebeu grande atenção por parte da comunicação social, por isso qualquer pessoa envolvida no caso ou era bem-sucedida ou era prejudicada na sua carreira e por isso é que resolve pedir a ajuda de Perry Mason, que não tem nada a perder.

 

Um dos pontos positivos da história também são as suas personagens femininas, como por exemplo Della Street, Irmã Alice e Emily Dodson, que representam uma importância crucial para os desenvolvimentos destes 8 episódios.

 


Della Street é a secretária criativa e jurídica do escritório de advogados de E.B. Jonathan e é uma personagem fundamental para a história que vai tendo uma grande evolução, pois é ela que fornece uma ajuda essencial para os casos, onde é a responsável pela pesquisa mais intensiva e aprofundada de cada pormenor e procura por informações sobre testemunhas existentes que podem fazer a diferença quando chegar a altura de depor em tribunal. É uma pessoa criativa, que tem um trabalho com várias funções, tendo também um objetivo específico que quer alcançar, mas acima de tudo, quer ajudar pessoas que são acusadas injustamente pela justiça americana.

 

A Irmã Alice McKeegan é a líder da igreja evangélica denominada por Radiant Assembly (Assembleia de Deus Radiante em português), que está constantemente a pregar para uma congregação faminta e uma audiência de rádio, por todo o país. Esta igreja tem uma ligação fulcral com a investigação, mas será que está envolvida diretamente com o sequestro e assassinato misterioso de Charlie Dodson?


 

A Irmã Alice é uma personagem carismática que ajuda o espetador a sentir-se mais envolvido na história. É uma oradora brilhante, cheia de seguidores, sendo que é algo que a pessoa não fica admirada, pois é muito devido aos seus sermões memoráveis que ela tem a capacidade de cativar qualquer um e assim, vai conseguindo angariar cada vez mais admiradores que têm fé nela e acreditam naquilo que prega.

 


Ela é uma pessoa misteriosa e cheia de talento, mas com uma personalidade muito complexa, onde nem sempre sabemos o que vai na sua cabeça, em que os seus discursos motivacionais são brilhantes mesmo que sejam repletos por um espetáculo cheio de peripécias e reviravoltas, mas que sem dúvida, fica na memória tanto dos seus seguidores, como do próprio público que está a assistir. Mas nem sempre tudo corre pelo melhor, principalmente quando a Irmã Alice enfrenta pressão por parte dos anciãos da igreja sobre as suas promessas de algo inconcebível. Por isso, a Tatiana Maslany está de parabéns pela interpretação fantástica desta personagem, em que podemos ver uma construção muito bem desenvolvida, que foi um dos pontos fundamentais para o sucesso alcançado desta história.

 


Esta é uma igreja que quer manter um determinado tipo de imagem para os seus crentes, mesmo que não seja real, sendo que começamos a ver aos poucos a verdadeira motivação desta instituição, sendo que acaba por serem reunidas evidências suficientes para que seja investigada pela equipa de Perry Mason, em que uma das suas conclusões é a manipulação intensiva que ocorre nesta instituição, entre outras. Assim, existe uma grande ligação entre o caminho que a Irmã Alice vai percorrendo que pode ter implicâncias no destino de outras personagens e na própria investigação de Mason.



 

Paul Drake também é uma personagem essencial na história, apesar de nem sempre estar presente em todos os episódios. Ele é um polícia negro que faz as suas próprias investigações, questionando as suas convicções e a razão pelo qual tornou-se num agente da lei, mas Paul tenta estar no lado certo da história, tentando buscar justiça para aqueles que a necessitam, acabando por ter alguns dilemas pelo caminho.

 

Apesar de ter dilemas morais, Drake tem uma boa intuição e lá no fundo não gosta de ver injustiças e isso vai-se comprovando ao longo dos episódios, mesmo que não seja mostrada a sua presença.



Infelizmente, muitos dos acusados eram culpados injustamente, pois não tinham os meios necessários para provarem a sua inocência e eram vários os fatores envolventes que impediam um final mais feliz, por isso não conseguiam ter alguém que se envolvesse de forma a lutar contra o sistema até aparecer pessoas como Perry Mason a defender o caso de Emily Dodson. Sendo a opinião pública considerada como muito potente e essencial, é interessante ver nesta história como esta vai sendo afetada de acordo com as situações que vão decorrendo.

 

Existe um lema do juiz que está afixado no interior do tribunal e que é abordado em alguns episódios, nos quais primeiro vem a verdade e depois a busca pela justiça, mas que infelizmente nem sempre é fácil de se cumprir e de se provar, principalmente quando determinados casos parecem jogos autênticos com uma complexidade bem evidente, tornando-se por vezes indecentes para as vítimas.

 


Ao longo dos episódios também temos a oportunidade de acompanhar o julgamento de Emily que inclui tanto testemunhas de acusação como também de defesa, ao mesmo tempo que são realizadas investigações a determinadas personagens que podem estar relacionadas com o rapto e morte de Charlie. Por vezes, as evidências são por vezes confusas, acabando por baralhar o caso, mas isso não faz o Mason desistir. Mas afinal quem serão os sequestradores de Charlie e poderão ter alguma ligação específica com algumas das personagens principais?

 


A história chega a um ponto que começamos a chegar à conclusão que isto é uma grande conspiração criada por pessoas importantes no poder que não querem saber se a pessoa é realmente culpada ou não, desde que possa ser vantajoso para eles. Nestas situações é muito importante que não exista qualquer tipo de influência quando o objetivo é descobrir a verdade, mas neste caso, podemos ver muito bem a corrupção existente, principalmente na polícia que utilizam o seu próprio estatuto para esconderem os seus rastos e usarem a seu favor. Será que os vilões da história vão ser apanhados e assim pagarem pelos seus atos?

 

A 1ª temporada acaba por abordar apenas um caso específico e por isso vão-se alongando a uma velocidade bem lenta que nem sempre favoreceu a própria história e por vezes pode decorrer alguns momentos de confusão, mas quase que a pessoa não dá conta. Infelizmente existem alguns episódios que são um pouco mais parados, sendo que acabam por ter um ritmo muito mais lento do que o necessário, mas depois é compensado na forma como a história se vai desenrolando até chegar a reviravoltas interessantes.


 

A história tem uma versão e um ponto de vista mais sombrio e violento, sendo constituída por um bom mistério que pode ser um pouco perturbadora, devido a algumas cenas mais assustadoras ou cenas de crimes horríveis que pode fazer impressão aos espetadores mais sensíveis, principalmente por desenrolar-se à volta de um caso mórbido.


 

Uma minissérie que acabou por transformar-se numa série a partir do momento que foi renovada para uma segunda temporada, pois torna-se num mistério intrigante e cativante com uma versão sombria, onde são mostradas as circunstâncias que levaram a este crime macabro e conturbado que foi o assassinato de uma criança, contendo reviravoltas interessantes e algumas delas até surpreendentes de certa forma, numa busca longa pela verdade.

 

Esta é a adaptação mais recente dos livros que ainda tem muito potencial por explorar e que foi baseada nas criações de Erie Stanley Gardner e como ainda não tive a oportunidade de ver as outras versões mais antigas não posso fazer qualquer tipo de comparações, mas posso dizer que gostei da forma como esta foi criada e estruturada.


A cidade de Los Angeles é representada de um modo mais antigo e com os costumes daquela década. A época em que está inserida está bem recriada que inclui uma fotografia que vai sendo escolhida, de acordo com a cena que estamos a acompanhar, mas também com uma banda sonora envolvente e uma ótima qualidade, contendo um estilo mesmo adequado para a altura, onde tudo encaixa e faz sentido, num geral.

 


A série é uma boa aposta para a HBO que surpreendeu o público na forma peculiar que resolveu fazer esta adaptação, incluindo uma personagem clássica que tornou-se marcante para os admiradores dos livros de Erle Stanley Gardner, tendo uma boa reconstrução da época, onde a história é inserida e está tudo filmado de um modo impecável, contendo uma boa dinâmica e um final satisfatório. Para além disso, é constituído por elenco talento repleto de performances interessantes que conseguiram desenvolver muito bem as suas personagens. Assim, eu estou curiosa para acompanhar os novos episódios da 2ª temporada que irão estrear em breve nesta plataforma.


domingo, 23 de agosto de 2020

As minhas visitas à Ilha das Berlengas - um sítio paradisíaco e maravilhoso que vale a pena visitar

 

Desta vez, eu resolvi falar-vos sobre as minhas visitas à Ilha das Berlengas que fiz em 2017 e também recentemente, sendo um local completamente preservado e com regras muito específicas relativamente à sua visita. 

As Berlengas são definidas como sendo um pequeno arquipélago português, composto por ilhas graníticas, que se localizam a cerca de 15 km, a Oeste do Cabo Carvoeiro em Peniche, na costa de Portugal e situado no oceano Atlântico. São constituídas por 3 ilhéus ou seja pela Berlenga Grande, as Estelas e os Farilhões-Forcados. A Berlenga Grande é a mais conhecida neste arquipélago, sendo que está dividida em duas partes, devido a uma falha sísmica que sucedeu, por isso a Berlenga Grande é composta por 2/3 da ilha enquanto a Ilha Velha representa a parte mais pequena da ilha. 

Desde 1000 a.C que as Berlengas são conhecidas pelo ser humano. Esta é considerada como uma Reserva Natural, sendo uma área protegida desde 1465, desde que o Rei Afonso V de Portugal proibiu qualquer tipo de ação que viesse a prejudicar a natureza deste local, como é o caso da caça e mais tarde, em 2011 foi declarada pela UNESCO, como a Reserva Mundial da Biosfera. Este é um arquipélago que contêm águas cristalinas com tons de verde, onde vivem várias espécies marinhas.

Esta Reserva Natural é constituída por trilhos que dão a oportunidade do visitante conhecer e presenciar de perto a beleza da própria ilha que inclui caminhadas de cerca de 2 km onde se pode observar diferentes aves e plantas, nos quais alguns são exclusivos, pois só existem neste paraíso português. Para além disso, também pode-se visitar dezenas de grutas que só podem acontecer, através de empresas autorizadas que têm tours específicas e até podem incluir algumas atividades subaquáticas, tais como o mergulho.

Os sítios que devem ser visitados são o Forte de São João Baptista, o Farol Duque de Bragança ao longe e a Praia do Carreiro do Mosteiro. Ao longo dos trilhos estão disponíveis pontos de observação, onde se tem a oportunidade de apreciar as melhores vistas, entre elas, sobre o Forte São João Baptista.

A chegada ao Forte São João Baptista pode ser feita de duas formas: através de barco ou descendo desde o topo da ilha e posso dizer que caso optem pela 2ª opção, preparem-se para um regresso, com uma subida longa e intensiva com centenas de degraus pelo caminho.

As grutas das Berlengas são maioritariamente acessíveis pelo mar, que são constituídas por histórias muito interessantes que são contadas pelos diversos guias turísticos que fazem parte dos serviços das empresas que realizam passeios de barco para visitarem muitas destas grutas.

Um dos trilhos principais chama-se o Percurso da Berlenga que inicia-se ou no Bairro dos Pescadores ou no Forte de São João Baptista, com cerca de 1 km de distância e uma hora de duração, sendo que os seus pontos de interesse são as Cisternas, Farol, Forte de São João Baptista e Cova do Sono. Este é sem dúvida, um percurso muito interessante, que está bem sinalizado e deixa o visitante explorar com toda a segurança, mas é importante que não saia do trilho para que tenha uma caminhada segura e que este local continue a ser bem preservado.

Neste trilho temos a oportunidade de fazer excursões seja a pé ou de barco e também ver as vistas a partir de diferentes ângulos e perspetivas, onde cada uma é especial à sua maneira.

A praia do Carreiro do Mosteiro situa-se junto ao Bairro dos Pescadores e ao cais, sendo que é muito pequena e talvez seja essa uma das pequenas desvantagens nesta visita, mas não deixa de ser uma visita inesquecível. Nas minhas 2 visitas tive a oportunidade de estar um pouco nesta praia, seja antes de ter iniciado a minha caminhada ou mesmo depois, mas eu cheguei à conclusão que é preferível ir apenas percorrer um dos trilhos disponíveis.

Esta é uma ilha que é restrita relativamente ao seu número de visitantes diários, sendo que existe um limite tanto de pessoas como de tempo que pode ser passado neste local mágico, com paisagens maravilhosas que mostram a beleza requintada das Berlengas.

Existem empresas que estão disponíveis para fazerem o transporte diário de ida e volta para as Berlengas que é realizado a partir da Marina da Ribeira, mas atenção que estas podem ser viagens relativamente difíceis, principalmente para quem tem a tendência de enjoar, por isso, no início do percurso são fornecidos sacos de plástico para quem necessite de vomitar. 

Caso tenha interesse em visitar as Berlengas é necessário que se desloque até Peniche, procurar pelo Cais de Embarque e apanhar um dos barcos disponíveis para chegar ao seu destino. É fundamental que reserve a viagem online e com antecedência, sendo que os preços variam de acordo com o mês e recentemente, no meu caso eu paguei cerca de 25 euros no mês de Agosto, na Viamar, mas atenção que quando comprar o bilhete, o mesmo tem uma hora de regresso que é importante cumprir.

Esta ilha representa uma natureza selvagem e bem preservada, com uma fauna marinha rica, contendo praias, passeios de barco de fundo de vidro que passam por algumas das grutas existentes, sendo que as suas águas são ricas em peixes e mamíferos marinhos, plantas e aves marinhas, entre outros. Ainda tem disponível um restaurante, alojamento limitado, parque de campismo com uma lotação bem limitada e é considerado como um ótimo sítio para a prática de atividades subaquáticas. 

Durante as minhas duas visitas tentei ver um pouco de tudo. Na minha primeira vez, tive a oportunidade de ir um pouco à praia, fazer um passeio de barco que incluía visita nos arredores da ilha e respetivas grutas, visitar com calma o Forte de São João Baptista que dá para ver as suas águas cristalinas, subir com alguma dificuldade as centenas de degraus com tamanhos diferentes até ao topo e fazer o trilho até ao cais para que no final apanha-se o barco de regresso. Na segunda vez, eu acabei por fazer o trilho a partir do Bairro dos Pescadores até à Cova do Sono, passando pelo Farol Duque de Bragança e pelo Forte de São João Baptista, descer alguns dos degraus que pertence ao percurso para chegar ao forte, com o objetivo de apreciar a sua vista magnífica. Depois, eu resolvi fazer o caminho de regresso até ao Bairro dos Pescadores, onde parei na praia do Carreiro do Mosteiro para dar um mergulho e apanhar um pouco de sol até chegar o momento de apanhar o barco para regressar a Peniche. 

As Berlengas são sem dúvida das ilhas mais bonitas que tive a oportunidade de visitar e que vale a pena fazer uma caminhada longa que permita conhecer todos os recantos possíveis da ilha.

Este acaba por ser um sítio de visita obrigatória nem que seja por apenas uma vez na vida, pois é um cantinho português que eu aconselho, principalmente aos amantes da natureza e a quem gosta de observar animais e plantas no seu habitat natural e a quem queira aproveitar para descontrair um pouco da sua rotina diária.

De seguida, partilho algumas das fotografias que tirei durante as minhas duas visitas às Berlengas.