Finalmente
chegou à plataforma da Netflix, a minissérie de sete episódios chamada The
Queen’s Gambit (O Gambito da Rainha, em português), uma história que revela a
arte que é o jogo de xadrez, a complexidade do mesmo e como os jogadores se vão
preparando para cada competição, sendo baseada no livro de romance de 1983 com
o mesmo nome que foi escrito por Walter Tevis e tendo sido criada por Scott
Frank e Allan Scott, incluindo também a banda sonora de Carlos Rafael Rivera.
Esta
minissérie de drama conta a história de Elizabeth Harmon (Anya Taylor-Joy) que
passou a viver num orfanato católico, depois de ter sofrido um acidente de
carro com a sua mãe tornando-se assim, órfã. Beth vai ter uma jornada longa de
aprendizagens não só para se tornar numa mulher adulta, mas também para
desenvolver as suas capacidades extraordinárias no xadrez que aprendeu inicialmente
com o zelador do orfanato. Para tornar-se numa boa jogadora de xadrez, ela vai
aprender o que for necessário para vencer todos os seus adversários nas
diversas competições tanto nacionais como europeias que irá participar, mas
será que os seus vícios vão impedi-la de alcançar os seus objetivos?
O
elenco é constituído por Anya Taylor-Joy (Beth Harmon), Bill Camp (Sr.
Shaibel), Marielle Heller (Alma Wheatley), Patrick Kennedy (Aliston Wheatley),
Chloe Pirrie (Alice Harmon), Moses Ingram (Jolene), Thomas Brodie-Sangster
(Benny Watts), Harry Melling (Harry Beltik), Christiane Seidel (Helen
Deardoff), Rebecca Root (Lonsdale), Isla Johnston (Beth Harmon, em criança),
Akemnji Ndifornyen (Sr. Fergusson) e Jacob Fortune-Lloyd (D.L.Townes).
O
xadrez é considerado como um jogo muito complexo que necessita que a pessoa
tenha inteligência, atenção, sabedoria e um plano de estratégia para pôr em
prática em qualquer tipo de circunstância, nos quais os principais
participantes são do sexo masculino, pois acreditavam que as mulheres não
tinham as capacidades necessárias para participarem num jogo maioritariamente
de homens, mas sem dúvida, que Elizabeth Harmon provou o contrário ou seja, que
qualquer um, seja ele, homem ou mulher pode jogar xadrez, desde que tenha as ferramentas
necessárias para o fazer.
A
mente é muito utilizada neste jogo de tabuleiro devido à quantidade de
estratégias e planos que têm de ser criados para vencer o adversário, sendo que
é uma forma excelente de exercitar o cérebro que requer um bom nível de
paciência e é fundamental que a pessoa esteja atenta para não cometer erros
desnecessários. Assim, é importante que a pessoa esteja com atenção aos
movimentos do seu adversário para que possa quem sabe, prevenir as suas
jogadas.
Apesar
do tema predominante da história ser o xadrez, sendo considerado como
maioritariamente dominado por homens, também são abordados assuntos pertinentes
e que continuam a ser falados atualmente, tais como o excesso de consumo de
álcool e drogas e consequências respetivas e o papel das mulheres na sociedade.
Na
década de 1950 e depois de ter sobrevivido a um acidente de carro que tornou-se
fatal para a sua mãe biológica, Elizabeth Harmon vai viver para um orfanato de
raparigas chamado Methuen, sendo localizado na zona do Kentucky que é dirigido
por Helen Deardorff que dedicou toda a sua vida a esta instituição.
A relação de Beth com o Sr. Shaibel começa quando ela desce até à cave do orfanato para limpar os apagadores do quadro utilizado na sala de aula e vê um senhor sentado sozinho a olhar e a jogar algo que era desconhecido para ela. Inicialmente não foi fácil para a Beth satisfazer a sua curiosidade, pois o Sr. Shaibel é um pouco antissocial e parecia que não queria ter conversas com ninguém, mas aos poucos, Beth vai conseguir conquistá-lo e mais tarde, convencê-lo a ensiná-la a jogar xadrez, fazendo com que tivessem juntos, períodos longos fechados no interior da cave, sem que fossem interrompidos. Assim, Beth fica cada vez mais fascinada com aquele jogo de tabuleiro, aumentando a sua vontade em querer saber mais sobre o mesmo e aprender todas as técnicas possíveis do mundo do xadrez.
Beth
vê no Sr. Shaibel como um tipo de figura paterna que ensina-lhe lições vitais
para ela utilizar na sua vida adulta que na altura não percebe a importância
que podem vir a ter, mas depois começa a criar ligações que chegam a fazer todo
o sentido, pois em determinados momentos vão sendo mostrados flashbacks dela
com ele que podem ajudar em lidar com situações específicas.
Inicialmente,
Beth não estava habituada à toma de comprimidos que eram calmantes tomados por
todas as crianças do orfanato, mas depois chegou a um ponto que ela já era
completamente dependente deles, pois ela passou a ver no teto, imagens grandes
das peças de xadrez e assim, estudar possíveis estratégias para utilizar em
jogos futuros e acreditava que sem ver o que precisava, não conseguia vencer.
Por isso, ela achava que estas visões que foi tendo à noite representavam um
tabuleiro de xadrez que a ajudava a treinar vários movimentos que podiam vir a ser
útil nas suas partidas futuras, seja com o Sr. Shaibel ou mesmo nos torneios
que vai participando ou mesmo como forma de analisar as suas jogadas que já
tinha feito.
Depois de alguns anos a viver no orfanato, Beth é finalmente adotada por uma família que vive em Lexington, Kentucky, nos quais não tem a melhor das histórias, pois Alma tem um vício muito grande em álcool e o seu marido nunca está presente em casa, mas Beth e Alma acabam por uma criar uma ligação tão forte, principalmente quando Alma resolve apoiar Beth em competições de xadrez e acompanhá-la.
Beth
é uma mulher determinada que tem um talento nato para a sua paixão que é o
xadrez, sendo mesmo considerada como um prodígio do mesmo, estando plenamente
dedicada de tal forma que não desiste, mesmo que hajam circunstâncias
suficientes para o fazer, por isso vai cometendo alguns erros durante a sua
jornada de aprendizagem no mundo do xadrez que podem ser fundamentais para o
seu futuro como jogadora.
Esta
é uma rapariga no meio de tantos rapazes que é confiante naquilo que está a
fazer, principalmente se isso implica um jogo de xadrez, pois ela gosta de
explorar todas as formas possíveis e existentes quando cria a sua estratégia
antes de jogar com alguém, mas para isso acontecer, ela também lê livros sobre
o assunto, com o objetivo de ajudá-la a melhorar as suas prestações em cada
jogo, como por exemplo, o Modern Chess Openings. Ela joga de uma forma
implacável e sem misericórdia que faz com que alguns dos seus adversários
desistam logo, fazendo com que ela se torne a vencedora após poucas jogadas, mas
apesar de tentar controlar tudo o que se desenrola ao seu redor, nem sempre
consegue.
Beth
começou a competir muito jovem com outros amantes deste jogo de tabuleiro
através da sua participação em torneios de xadrez, onde começa a ganhar
dinheiro e reconhecimento e vence pessoas que têm muitos anos de experiência
nesta área. Para além dos torneios mais locais, ela também tem a oportunidade
de participar numa das competições mais importantes do xadrez que é o U.S. Open
ou mesmo em locais mais emblemáticos, tais como México, França e Rússia.
Elizabeth
Harmon é considerada como um prodígio quando falamos na arte de jogar xadrez de
uma forma exemplar e vencedora que está constantemente a analisar as diferentes
possibilidades para conseguir vencer, mas isso não a impede de ter as suas
fragilidades e ter um lado mais vulnerável.
Na
altura, eu achei bem divertido acompanhar uma Beth tão novinha a jogar xadrez
com várias pessoas experientes de um determinado clube de xadrez ao mesmo tempo
e dando a entender que era algo muito fácil de concretizar quando na verdade
não o era. Para além disso, no momento em que torna-se numa adolescente podemos
ver em Beth, um certo requinte na forma como ela comporta-se ao redor de outras
pessoas.
O
espetador tem a oportunidade de ver um pouco, o amadurecimento de Beth, desde
que ela passou a viver no orfanato até aos dias atuais que desenrola-se a
história. Ela é uma pessoa reservada, tímida, vulnerável e introvertida, mas
também é muito observadora, perspicaz e inteligente nas coisas que mais gosta e
ficamos com a noção que a partir do momento que ela começa a aprender xadrez
com o zelador do orfanato, esta já não está mais interessada em nada ao seu
redor e fazendo com que crie uma certa obsessão pelo xadrez que pode não ser
totalmente positiva, principalmente se envolve o excesso de comprimidos e mais
tarde, o de álcool.
Anya
Taylor-Joy desempenha a Elizabeth Harmon de um modo bem simples e
surpreendente, mas também cativante e interessante, não só pela forma como vai
interpretando a personagem, mas também através das suas expressões faciais que
transmite aquilo que é necessário o público saber, sem que sejam utilizadas
palavras.
Após
circunstâncias normais na vida terem sucedido, Beth terá de aprender a lidar
com as mesmas, mas não será uma tarefa fácil de concretizar que pode levar a um
caminho de autodestruição, pois chega a um ponto que ela começa a sentir a
pressão entre a pessoa que ela é e a pessoa que os outros querem que ela seja,
ficando com dúvidas da sua própria identidade e das decisões que tomou até
aquele momento específico, principalmente se envolve dinheiro. Infelizmente,
ela nem sempre lida com essa pressão da melhor forma, levando a que tenha uma
maior tendência a tomar comprimidos e a beber quantidades elevadas de álcool,
em que pode levar a uma altura que já não se reconhece. Assim, existe momentos
em que Beth perde o seu rumo, onde vem a cometer alguns erros, mas com o tempo,
ela começa a valorizar aquilo que é realmente importante para ela.
É
fundamental que ela enfrente um desafio bem complexo na sua vida que possa vir
a tornar-se numa bela lição de vida, mas será que a sua obsessão pelo xadrez
pode vir a prejudicar a sua sanidade mental?
Ao
longo da sua jornada, Beth tem a oportunidade de conhecer pessoas da sua faixa
etária e mais velhas que têm em comum, o gosto pelo xadrez, acabando por
enfrentá-las, seja em jogos de treino ou mesmo em torneios. Será que alguns dos
seus adversários vão conseguir descobrir a estratégia utilizada por Beth para
os vencer ou terá ela de esforçar-se mais?
Durante
a sua jornada de aperfeiçoamento na arte do xadrez, ela vai ter alguns mentores
que até chegaram a ser os seus adversários, nos quais temos Harry que fica
surpreendido com a sua eficácia no xadrez e Benny que apesar de ser uma pessoa
arrogante, também é muito bom a jogar xadrez, principalmente utilizando
movimentos rápidos. Eles vão ser fundamentais para ajudar Beth a preparar-se
para enfrentar um dos seus principais adversários que é o campeão mundial russo
chamado Borgov, sendo considerado como imbatível, devido à sua vasta
experiência. Será que a preparação de Beth vai ser suficiente para vencer
Borgov, o melhor jogador do mundo ou ainda tem por onde melhorar?
Beth
acredita que não é capaz de vencer, caso não tenha consigo, os seus
complementos que são os comprimidos e o álcool, mas ela também cria ligações de
tal forma fortes que chega a um ponto que vemos diferentes jogadores de xadrez
a trabalharem individualmente com ela e em equipa para ajudá-la a melhorar cada
vez mais a sua prestação em cada jogo, pois é sempre bom quando um tabuleiro de
xadrez é visto por outros olhos, por isso, ela vai ter uns bons aliados ao
longo da sua preparação.
Também
é interessante ver as relações de Beth com as outras personagens, como por
exemplo, com a Jolene, uma rapariga negra que vivia com ela no orfanato e que
tornaram-se amigas rapidamente, onde ensinou-a o modo como tudo funcionava
naquele sítio e apesar de terem estado separadas muitos anos, isso não impediu
que Jolene ajudasse Beth numa altura que fosse realmente necessária. Por vezes,
a amizade pode ser fundamental para que alguém consiga perder determinados
vícios, como os do álcool e drogas e isso é algo que a própria história vai
abordando.
Esta
é uma produção muito bem criada e desenvolvida, nos quais tem um argumento
interessante e cativante, muito devido ao desempenho dos atores, mas também
pelos figurinos, pela banda sonora, cinematografia e pela forma como a época
foi sendo representada ao longo dos episódios. É constituída por uma fotografia
muito bonita e uma ótima realização pela escolha que tiveram a nível dos
ângulos que foram filmando nas diferentes cenas que resultaram num resultado
final fantástico, em que também incluíram vistas maravilhosas seja do México,
França e Rússia.
Ao
longo dos episódios, o espetador está constantemente cativado com tudo o que
vai acontecendo, despertando cada vez mais a curiosidade em saber como
determinadas situações vão sendo resolvidas e como tudo termina. Este também fica
cheio de vontade de jogar xadrez, implementando estratégias e colocando em
prática, técnicas para conseguir derrotar o seu adversário.
Esta
minissérie tem todos os ingredientes necessários para se tornar numa história
de sucesso e fiquei completamente satisfeita com os sete episódios que me
prenderam a atenção desde o início ao fim e também por finalmente terem
abordado um tema tão interessante como é o xadrez, sendo que nem damos conta do
tempo a passar.
Eu
sempre fui uma apaixonada pelo xadrez, tendo jogado quando era mais nova e até
que conseguia vencer algumas partidas, mas sempre considerei o xadrez como algo
especial e entusiasmante em que podemos colocar a nossa mente em prática,
criando estratégias que nem sempre são fáceis de implementar, pois todas elas
dependem dos movimentos do adversário.
A
minissérie é constituída por um pouco de suspense que terminou de uma forma
muito bonita e satisfatória, sem entrar em grandes pormenores, onde Beth tem o
reconhecimento merecido como jogadora profissional de xadrez depois de todas as
dificuldades que foi passando até chegar a esse final, por isso, eu considero
que seja uma história que vale mesmo a pena de acompanhar, mesmo que não seja
um amante do xadrez.