sábado, 24 de outubro de 2020

Minissérie "The Third Day" da HBO, protagonizada por Jude Law e Naomie Harris - um thriller intenso, onde na ilha misteriosa de Osea, tudo pode acontecer

 

O serviço de streaming HBO tem feito uma aposta forte em minisséries, onde estreou mais recentemente, The Third Day, uma produção em conjunto com a Sky Studios. Esta é constituída por 6 episódios, sendo dividido em duas partes designadas por Summer (Verão, em português), protagonizada por Jude Law e Winter (Inverno, em português) protagonizada por Naomie Harris, em que pelo meio temos um especial definido por Autumn (Outono, em português) cerca de 12 horas sem interrupções e filmado num único plano sequência que foi transmitido em direto nas redes sociais da HBO, tornando-se em algo inédito e diferente no mundo do entretenimento. Tem a criação de Dennis Kelly juntamente com o Felix Barrett da companhia de teatro chamada Punchdrunk que fez um trabalho muito bom a nível de improvisação no especial referido anteriormente e também tem um papel de realizador em conjunto com Marc Munder e Philippa Lowthorpe.

 

O elenco é constituído por Jude Law (Sam), Katherine Waterston (Jess), John Dagleish (Larry), Mark Lewis Jones (Jason), Jessie Ross (Epona), Paddy Considine (Sr. Martin), Emily Watson (Sra. Watson), Freya Allan (Kail), Börje Lundberg (Mimir), Naomie Harris (Helen), Nico Parker (Ellie), Charlotte Gairdner-Mihell (Talulah), Paul Kaye (Cowboy), entre outros.

 

Esta minissérie é focada em duas personagens, em que cada uma faz uma viagem separada à ilha misteriosa de Osea, numa época do ano específica e diferente com razões bem distintas uma da outra, sendo baseada em fatos reais, pois esta ilha situa-se no estuário do rio Blackwater, em Essex, no leste da Inglaterra, onde encontra-se uma estrada bem antiga e peculiar que só se tem acesso, quando a maré está baixa.     


 

Inicialmente acompanhamos a história de Sam (Jude Law) que durante um passeio pelo local, onde o corpo do seu filho tinha sido encontrado há uns anos cruza-se com uma jovem que está a tentar suicidar-se, sendo que ele chega a tempo de salvá-la e levando-a de regresso à ilha de Osea. Este é um sítio que é caracterizado pelos seus festivais anuais cheios de música e outras atividades que é a única altura que costumam receber visitantes, pois são uma comunidade que têm dificuldade em deixar um estranho entrar na mesma, mas será que a ligação de Sam com Osea é maior do que ele pensava? Valerá a pena, ele descobrir mais sobre o que realmente acontece na vida da população desta ilha? E será que Sam estava simplesmente por coincidência juntamente ao sítio onde localiza-se a ilha de Osea?


 

A segunda parte desta minissérie designada por Winter, inicia-se meses após os acontecimentos dos episódios anteriores, onde nos é apresentada Helen (Naomie Harris) e as suas duas filhas, Ellie (Nico Parker) e Talulah (Charlotte Gairdner-Mihell) que resolveram viajar de carro até à ilha de Osea para comemorar o aniversário de Ellie, mas será que todas estão satisfeitas com esta ideia de passar uns dias de férias? Quando chegam à ilha, elas encontram um sítio completamente diferente do que estariam à espera ou seja, um local deserto e destruído, como se uma tempestade tivesse passado por lá, onde os seus habitantes tentam mandá-las embora, a todo o custo, mas será que irá resultar ou os planos de Helen serão outros?


 

Situada numa costa do Reino Unido, a ilha de Osea está ligada à restante civilização através de uma estrada que tem milhares de anos, tendo sido construída pelos romanos, mas nem sempre está acessível devido à própria maré, pois demora muito tempo a estar disponível e pouco tempo, aberta ou seja cerca de 1h30. Será que Osea vai mudar a vida dos protagonistas para sempre?



 

Quando chega à ilha, Sam é recebido pelos donos do alojamento local que é o casal Martin que vai ter um papel importante na sua jornada, sendo que ele começa a sentir-se cada vez mais atraído pela vontade de querer explorar este espaço e saber mais sobre a sua história, principalmente quando conhece Jess, uma historiadora americana que lhe conta as tradições e costumes desta comunidade que só recebe visitantes em épocas muito específicas do ano, por isso, ele sente-se conquistado pelos moradores da ilha.

 

Sam é um homem paciente que vive em Londres e atormentado pelas lembranças do passado, principalmente a perda do seu filho. Ele fica atraído por uma ilha que não descansa enquanto não a explorar totalmente, tentando perceber o que está a acontecer neste local, ao seu redor e população respetiva, ao mesmo tempo que vai lidar com muitos dos seus traumas mas será que irá conseguir superá-los ou chega a um ponto sem retorno?

 


Durante a sua expedição pela ilha, Sam vai conhecendo os rituais secretos cometidos pelos habitantes da mesma que incluem sacrifícios de seres humanos e animais, chegando a um ponto que sente-se isolado, sem ter por onde fugir, ao mesmo tempo que tem de enfrentar a sua escuridão interior, tornando-se assim, numa jornada bem complicada para Sam cheio de dificuldades e obstáculos, em que a sua saída de Osea vai sendo constantemente adiada, sem que ele consiga perceber.

 

Sam vai conseguir descobrir a sua ligação com a ilha de Osea que está relacionado com a sua família, dividindo as opiniões dos seus moradores sobre se deve ser nomeado como The Father (Pai, em português) que representa a pessoa que está responsável pelo bem-estar da população de Osea, mas ele terá primeiramente de vencer testes intensivos que irão ou não mostrar, a sua capacidade de liderar esta população que serão realizados durante o episódio especial que divide a minissérie em duas partes.

 

Ao longo da história podemos observar o procedimento de como algumas personagens lidam em algumas situações bem específicas, seja com o luto pela perda de um ente querido ou com a culpa que sentem devido a determinadas ações que cometeram ao longo da sua vida e isso vemos através da personalidade perturbada de Sam que envolve surtos psicóticos e alucinações no meio de tanta dor e sofrimento, sendo que ele nem sempre tem a capacidade de distinguir a realidade da fantasia.

 



Inicialmente, a população de Osea parece completamente simples, mas aos poucos começamos a perceber que a ilha e os seus habitantes vivem num autêntico culto, onde existe manipulação com o objetivo de influenciar as pessoas a seguirem com o seu papel e em que a sua religião é representada de um modo bem estranho e quem não seguir com a mesma, sofre com consequências bem violentas ou seja começamos a ver um fanatismo religioso por algo que é complicado de se explicar, mas que leva a cenas sangrentas e assustadoras, chegando a um ponto que começa-se a questionar a sanidade mental destas pessoas que tentam preservar as suas tradições a todo o custo.

 

Toda a ilha é um mistério, constituída por uma história mesmo muito antiga que envolve uma religião específica que pode não fazer muito sentido, pois são modos de pensar muito diferentes e com costumes bem estranho. Inicialmente, a pessoa fica confusa em saber quais são os objetivos da maior parte das personagens ou se a simpatia de alguns tem realmente, segundas intenções, pois parece que esta é uma população que está a ver constantemente ameaças ao seu redor, mas esta é uma história em que tudo se vai encaixando, acabando por fazer sentido mais tarde. Nestes últimos episódios há uma certa divisão da comunidade, onde inicialmente não sabemos a razão pela mesma, podendo estar relacionada com a insatisfação dos moradores perante circunstâncias que foram sucedendo nos últimos tempos, em Osea.

 


Helen tem uma missão oculta quando chega à ilha que inclui encontrar o seu marido que tem estado desaparecido e que desconfia que possa ter passado por Osea, por isso resolve perguntar à sua população sobre o seu paradeiro. Ela é uma pessoa impaciente que chega a um ponto que explode, onde as emoções chegam com grande intensidade, devido à quantidade de vezes que vai sendo pressionada para que responda a perguntas relacionadas com a sua vida privada que ela não se sente confortável para falar.


 

Durante a sua estadia na ilha, alguns dos seus moradores não querem ajudar a Helen e as suas duas filhas, sem se perceber a razão para tal acontecer, mas Helen tenta ser solidária na mesma, mesmo que as suas ações possam vir a prejudica-la futuramente, mas com as mentiras que vão sendo constantemente contadas, ela sente-se traída e zangada com as situações que vão sucedendo, fazendo com que venhamos a conhecer um lado diferente desta personagem. Mesmo assim, ela está determinada a encontrar as suas respostas em Osea, mas a sua chegada vai criar uma mudança radical na sua vida.


 

Quando chega à ilha, Helen não tem qualquer conhecimento sobre Osea e os seus segredos mais obscuros, tendo criado uma certa obsessão por este local, pois acredita que é a única forma de obter as suas respostas e assim conseguir proteger as suas filhas, pois esta é uma família que passou por momentos difíceis seja a nível monetário, como também devido a comportamentos mais violentos de Ellie, criando desconfiança e insegurança perante tudo o que viesse a acontecer no futuro.


 

Esta minissérie é um terror psicológico com uma mistura de emoções que não é aconselhada para todo o tipo de público, pois é constituída por cenas perturbadoras que podem ser sensíveis para alguns espetadores, mas para quem gosta de thrillers e histórias mais pesadas pode ser uma boa opção. Esta história cria um ambiente intimista, mas também obscuro, através da escolha excelente de fotografia para apresentar a mesma, mas também pela forma como vai cativando, fazendo com que a pessoa fique cada vez mais curiosa com o que vai acontecer de seguida.

 

Como já foi referido anteriormente, esta minissérie é constituída por seis episódios, divididos por um especial ao vivo que tem a duração de 12 horas que teve a colaboração da companhia de teatro britânica chamada Punchdrunk que foi fundada por Feliz Barrett, onde os atores tiveram a liberdade de construir a sua própria personagem. Este apresenta um dia inteiro em Osea, onde o espetador tem a oportunidade de testemunhar tudo o que é captado em tempo real, como se tivesse presente, ou seja, mostra como é passar um dia inteiro na ilha de Osea, sem qualquer tipo de cortes, repetições, edições e filtros, pois é tudo filmado numa única sequência, criando assim, um tipo de ligação entre as duas partes da minissérie.

 



Milton Lopes é um português que fez uma participação nesta produção tanto britânica como americana, no tal episódio especial com a duração de 12 horas, tendo sido transmitido em direto na plataforma e página de facebook da HBO, criando assim a sua própria personagem e ter momentos de improviso próprios para colocar em ação.

 

Este episódio especial é designado por Autumn, sendo que acontece entre a primeira e a segunda parte da minissérie, tendo a participação especial de Jude Law e Katherine Waterson. Todos os anos, durante esta altura, Osea organiza um festival chamado Esus and the Sea que marca a passagem das crianças da ilha para a vida adulta.

 



Quando Osea necessita de um novo líder, o nomeado para Father, o candidato tem de passar por um teste que é percorrer o caminho de Esus para assegurar que é a pessoal ideal para liderar a ilha e que a mesma o aceite. Para assim acontecer, Sam terá de passar por uma procissão e um ritual em nome do deus Esus para tornar-se no pai da comunidade, mas não será uma tarefa nada fácil de se concretizar, pois terá pelo caminho, dificuldades, sacrifícios e alguma violência para que consiga cumprir com os seus desafios que incluem testes que desafiam a sanidade mental e a capacidade física do participante.

 

O povo de Osea celebra com comida e bebidas a nomeação de um novo líder, mas será que Sam vai conseguir tornar-se no Father de Osea? Para esta população, Osea é o coração do mundo, sendo um sítio seguro e um bom refúgio e quando ela está doente, o resto também está, por isso é fundamental que tenham uma pessoa indicada para os liderar, mantendo os seus costumes que inclui festivais e seguir com a sua religião. Infelizmente, nem sempre se compreende os rituais secretos e estranhos que são feitos em Osea e quais são as razões para os fazer e tenho pena que não tenha sido explicado com mais pormenor a mitologia da ilha.

 

Esta minissérie foi sem dúvida um grande desafio para toda a equipa da produção pela forma como construíram tudo isto, sendo que foi ambicioso e corajoso aquilo que resolveram fazer com o evento especial criando um bom resultado final, apesar de não ter visto as 12 horas, mas sim um resumo da mesma e na minha opinião foi tudo executado de uma forma bem surpreendente a nível positivo e com improvisações bem interessantes de ver, principalmente por saber que foram longas horas de performance. A interpretação que é feita tanto em teatro como em televisão é mostrado através dos desempenhos dos atores, pois costumam ser mundos bem separados.

 


Considero que esta história com dinâmicas diferentes está cheia de surpresas e reviravoltas, onde existe uma ligação convincente entre os dois protagonistas e a ilha, contendo jornadas com caminhos inesperados e momentos sem dúvida, assustadores a macabros. Cada um deles tem os seus traumas para ultrapassar, mas não será uma tarefa fácil, principalmente quando chegam a um ambiente tão pesado quanto Osea. Por isso, a visita a esta ilha torna-se num desafio autêntico, tanto para Sam, como para Helen.

 

Será que existe uma ligação entre as jornadas de Sam e Helen e será que estas personagens pertencem a Osea e vão conseguir obter respostas para as suas perguntas que já duram há muito tempo? Tanto Jude Law como Naomie Harris estão de parabéns pelas suas ótimas interpretações, onde conseguiram mostrar as fragilidades e medos das personagens respetivas e aproveitaram todos os momentos para brilharem e representarem a complexidade da história das mesmas.  



 

The Third Day é uma minissérie de thriller e suspense arrepiante, sinistro e violento, sendo constituída por uma ilha estranha e isolada, com muitos segredos por desvendar e mistérios que demoram algum tempo a serem descobertos. Tem uma banda sonora eficaz para o tipo de história, onde tem um argumento muito bem construído e estruturado, com uma boa liberdade criativa e com falhas ligeiras, mas não deixa de tirar a vontade de ver a mesma, mesmo que tenha algum sofrimento, dor e agonia pelo meio.

 

Inicialmente, o espetador pode sentir-se perdido, mas depois aos poucos vai perceber como a comunidade de Osea funciona, pois muitas dúvidas vão surgindo e nem sempre são dadas todas as respostas, em que existem episódios com mais revelações do que outros. Nem todas as partes foram bem explícitas, pois resolveram não dar muita importância ao mesmo, tendo ser difícil compreender as mesmas. Apesar de haver episódios um pouco cansativos e mais parados do que deviam, esta é uma história que vale a pena acompanhar tudo, desde o início ao fim, prendendo de certa forma, a atenção do público, pois ele tenta perceber afinal o que é real e o que é fantasia, mas atenção que existem cenas que possam ser mais perturbadoras e violentas que possam ser difíceis de assistir.

 


Fica a questão, se a ilha remota de Osea pode ser um tipo de refúgio para quem está a fugir de algo, será que irá ter algum tipo de normalidade e paz depois da forma como a minissérie terminou?


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