O
serviço de streaming HBO tem feito uma aposta forte em minisséries, onde
estreou mais recentemente, The Third Day, uma produção em conjunto com a Sky Studios. Esta é constituída por 6 episódios,
sendo dividido em duas partes designadas por Summer (Verão, em português),
protagonizada por Jude Law e Winter (Inverno, em português) protagonizada por
Naomie Harris, em que pelo meio temos um especial definido por Autumn (Outono,
em português) cerca de 12 horas sem interrupções e filmado num único plano
sequência que foi transmitido em direto nas redes sociais da HBO, tornando-se
em algo inédito e diferente no mundo do entretenimento. Tem a criação de Dennis
Kelly juntamente com o Felix Barrett da companhia de teatro chamada Punchdrunk
que fez um trabalho muito bom a nível de improvisação no especial referido
anteriormente e também tem um papel de realizador em conjunto com Marc Munder e
Philippa Lowthorpe.
O
elenco é constituído por Jude Law (Sam), Katherine Waterston (Jess), John
Dagleish (Larry), Mark Lewis Jones (Jason), Jessie Ross (Epona), Paddy
Considine (Sr. Martin), Emily Watson (Sra. Watson), Freya Allan (Kail), Börje
Lundberg (Mimir), Naomie Harris (Helen), Nico Parker (Ellie), Charlotte
Gairdner-Mihell (Talulah), Paul Kaye (Cowboy), entre outros.
Esta
minissérie é focada em duas personagens, em que cada uma faz uma viagem
separada à ilha misteriosa de Osea, numa época do ano específica e diferente
com razões bem distintas uma da outra, sendo baseada em fatos reais, pois esta
ilha situa-se no estuário do rio Blackwater, em Essex, no leste da Inglaterra,
onde encontra-se uma estrada bem antiga e peculiar que só se tem acesso, quando
a maré está baixa.
Inicialmente
acompanhamos a história de Sam (Jude Law) que durante um passeio pelo local,
onde o corpo do seu filho tinha sido encontrado há uns anos cruza-se com uma
jovem que está a tentar suicidar-se, sendo que ele chega a tempo de salvá-la e
levando-a de regresso à ilha de Osea. Este é um sítio que é caracterizado pelos
seus festivais anuais cheios de música e outras atividades que é a única altura
que costumam receber visitantes, pois são uma comunidade que têm dificuldade em
deixar um estranho entrar na mesma, mas será que a ligação de Sam com Osea é
maior do que ele pensava? Valerá a pena, ele descobrir mais sobre o que
realmente acontece na vida da população desta ilha? E será que Sam estava
simplesmente por coincidência juntamente ao sítio onde localiza-se a ilha de
Osea?
A
segunda parte desta minissérie designada por Winter, inicia-se meses após os
acontecimentos dos episódios anteriores, onde nos é apresentada Helen (Naomie
Harris) e as suas duas filhas, Ellie (Nico Parker) e Talulah (Charlotte
Gairdner-Mihell) que resolveram viajar de carro até à ilha de Osea para
comemorar o aniversário de Ellie, mas será que todas estão satisfeitas com esta
ideia de passar uns dias de férias? Quando chegam à ilha, elas encontram um
sítio completamente diferente do que estariam à espera ou seja, um local
deserto e destruído, como se uma tempestade tivesse passado por lá, onde os
seus habitantes tentam mandá-las embora, a todo o custo, mas será que irá
resultar ou os planos de Helen serão outros?
Situada
numa costa do Reino Unido, a ilha de Osea está ligada à restante civilização
através de uma estrada que tem milhares de anos, tendo sido construída pelos
romanos, mas nem sempre está acessível devido à própria maré, pois demora muito
tempo a estar disponível e pouco tempo, aberta ou seja cerca de 1h30. Será que Osea vai mudar a vida dos protagonistas para sempre?
Quando
chega à ilha, Sam é recebido pelos donos do alojamento local que é o casal Martin que vai ter um papel importante na sua jornada,
sendo que ele começa a sentir-se cada vez mais atraído pela vontade de querer explorar
este espaço e saber mais sobre a sua história, principalmente quando conhece
Jess, uma historiadora americana que lhe conta as tradições e costumes desta
comunidade que só recebe visitantes em épocas muito específicas do ano, por
isso, ele sente-se conquistado pelos moradores da ilha.
Sam
é um homem paciente que vive em Londres e atormentado pelas lembranças do
passado, principalmente a perda do seu filho. Ele fica atraído por uma ilha que não
descansa enquanto não a explorar totalmente, tentando perceber o que está a
acontecer neste local, ao seu redor e população respetiva, ao mesmo tempo que
vai lidar com muitos dos seus traumas mas será que irá conseguir superá-los ou
chega a um ponto sem retorno?
Durante
a sua expedição pela ilha, Sam vai conhecendo os rituais secretos cometidos
pelos habitantes da mesma que incluem sacrifícios de seres humanos e animais,
chegando a um ponto que sente-se isolado, sem ter por onde fugir, ao mesmo
tempo que tem de enfrentar a sua escuridão interior, tornando-se assim, numa
jornada bem complicada para Sam cheio de dificuldades e obstáculos, em que a
sua saída de Osea vai sendo constantemente adiada, sem que ele consiga perceber.
Sam
vai conseguir descobrir a sua ligação com a ilha de Osea que está relacionado
com a sua família, dividindo as opiniões dos seus moradores sobre se deve ser
nomeado como The Father (Pai, em português) que representa a pessoa que está
responsável pelo bem-estar da população de Osea, mas ele terá primeiramente de
vencer testes intensivos que irão ou não mostrar, a sua capacidade de liderar
esta população que serão realizados durante o episódio especial que divide a
minissérie em duas partes.
Ao
longo da história podemos observar o procedimento de como algumas personagens
lidam em algumas situações bem específicas, seja com o luto pela perda de um
ente querido ou com a culpa que sentem devido a determinadas ações que
cometeram ao longo da sua vida e isso vemos através da personalidade perturbada
de Sam que envolve surtos psicóticos e alucinações no meio de tanta dor e
sofrimento, sendo que ele nem sempre tem a capacidade de distinguir a realidade
da fantasia.
Inicialmente,
a população de Osea parece completamente simples, mas aos poucos começamos a
perceber que a ilha e os seus habitantes vivem num autêntico culto, onde existe
manipulação com o objetivo de influenciar as pessoas a seguirem com o seu papel
e em que a sua religião é representada de um modo bem estranho e quem não
seguir com a mesma, sofre com consequências bem violentas ou seja começamos a
ver um fanatismo religioso por algo que é complicado de se explicar, mas que
leva a cenas sangrentas e assustadoras, chegando a um ponto que começa-se a
questionar a sanidade mental destas pessoas que tentam preservar as suas
tradições a todo o custo.
Toda
a ilha é um mistério, constituída por uma história mesmo muito antiga que
envolve uma religião específica que pode não fazer muito sentido, pois são
modos de pensar muito diferentes e com costumes bem estranho. Inicialmente, a
pessoa fica confusa em saber quais são os objetivos da maior parte das
personagens ou se a simpatia de alguns tem realmente, segundas intenções, pois
parece que esta é uma população que está a ver constantemente ameaças ao seu
redor, mas esta é uma história em que tudo se vai encaixando, acabando por
fazer sentido mais tarde. Nestes últimos episódios há uma certa divisão da
comunidade, onde inicialmente não sabemos a razão pela mesma, podendo estar
relacionada com a insatisfação dos moradores perante circunstâncias que foram
sucedendo nos últimos tempos, em Osea.
Helen
tem uma missão oculta quando chega à ilha que inclui encontrar o seu marido que
tem estado desaparecido e que desconfia que possa ter passado por Osea, por
isso resolve perguntar à sua população sobre o seu paradeiro. Ela é uma pessoa
impaciente que chega a um ponto que explode, onde as emoções chegam com grande
intensidade, devido à quantidade de vezes que vai sendo pressionada para que
responda a perguntas relacionadas com a sua vida privada que ela não se sente
confortável para falar.
Durante
a sua estadia na ilha, alguns dos seus moradores não querem ajudar a Helen e as
suas duas filhas, sem se perceber a razão para tal acontecer, mas Helen tenta
ser solidária na mesma, mesmo que as suas ações possam vir a prejudica-la
futuramente, mas com as mentiras que vão sendo constantemente contadas, ela
sente-se traída e zangada com as situações que vão sucedendo, fazendo com que
venhamos a conhecer um lado diferente desta personagem. Mesmo assim, ela está determinada
a encontrar as suas respostas em Osea, mas a sua chegada vai criar uma mudança
radical na sua vida.
Quando
chega à ilha, Helen não tem qualquer conhecimento sobre Osea e os seus segredos
mais obscuros, tendo criado uma certa obsessão por este local, pois acredita
que é a única forma de obter as suas respostas e assim conseguir proteger as
suas filhas, pois esta é uma família que passou por momentos difíceis seja a
nível monetário, como também devido a comportamentos mais violentos de Ellie,
criando desconfiança e insegurança perante tudo o que viesse a acontecer no
futuro.
Esta
minissérie é um terror psicológico com uma mistura de emoções que não é
aconselhada para todo o tipo de público, pois é constituída por cenas
perturbadoras que podem ser sensíveis para alguns espetadores, mas para quem
gosta de thrillers e histórias mais pesadas pode ser uma boa opção. Esta
história cria um ambiente intimista, mas também obscuro, através da escolha
excelente de fotografia para apresentar a mesma, mas também pela forma como vai
cativando, fazendo com que a pessoa fique cada vez mais curiosa com o que vai
acontecer de seguida.
Como
já foi referido anteriormente, esta minissérie é constituída por seis
episódios, divididos por um especial ao vivo que tem a duração de 12 horas que
teve a colaboração da companhia de teatro britânica chamada Punchdrunk que foi
fundada por Feliz Barrett, onde os atores tiveram a liberdade de construir a
sua própria personagem. Este apresenta um dia inteiro em Osea, onde o espetador
tem a oportunidade de testemunhar tudo o que é captado em tempo real, como se
tivesse presente, ou seja, mostra como é passar um dia inteiro na ilha de Osea,
sem qualquer tipo de cortes, repetições, edições e filtros, pois é tudo filmado
numa única sequência, criando assim, um tipo de ligação entre as duas partes da
minissérie.
Milton
Lopes é um português que fez uma participação nesta produção tanto britânica
como americana, no tal episódio especial com a duração de 12 horas, tendo sido
transmitido em direto na plataforma e página de facebook da HBO, criando assim
a sua própria personagem e ter momentos de improviso próprios para colocar em
ação.
Este
episódio especial é designado por Autumn, sendo que acontece entre a primeira e
a segunda parte da minissérie, tendo a participação especial de Jude Law e
Katherine Waterson. Todos os anos, durante esta altura, Osea organiza um
festival chamado Esus and the Sea que marca a passagem das crianças da ilha
para a vida adulta.
Quando
Osea necessita de um novo líder, o nomeado para Father, o candidato tem de
passar por um teste que é percorrer o caminho de Esus para assegurar que é a
pessoal ideal para liderar a ilha e que a mesma o aceite. Para assim acontecer,
Sam terá de passar por uma procissão e um ritual em nome do deus Esus para
tornar-se no pai da comunidade, mas não será uma tarefa nada fácil de se
concretizar, pois terá pelo caminho, dificuldades, sacrifícios e alguma
violência para que consiga cumprir com os seus desafios que incluem testes que
desafiam a sanidade mental e a capacidade física do participante.
O
povo de Osea celebra com comida e bebidas a nomeação de um novo líder, mas será
que Sam vai conseguir tornar-se no Father de Osea? Para esta população, Osea é
o coração do mundo, sendo um sítio seguro e um bom refúgio e quando ela está
doente, o resto também está, por isso é fundamental que tenham uma pessoa
indicada para os liderar, mantendo os seus costumes que inclui festivais e
seguir com a sua religião. Infelizmente, nem sempre se compreende os rituais
secretos e estranhos que são feitos em Osea e quais são as razões para os fazer
e tenho pena que não tenha sido explicado com mais pormenor a mitologia da
ilha.
Esta
minissérie foi sem dúvida um grande desafio para toda a equipa da produção pela
forma como construíram tudo isto, sendo que foi ambicioso e corajoso aquilo que
resolveram fazer com o evento especial criando um bom resultado final, apesar
de não ter visto as 12 horas, mas sim um resumo da mesma e na minha opinião foi
tudo executado de uma forma bem surpreendente a nível positivo e com
improvisações bem interessantes de ver, principalmente por saber que foram
longas horas de performance. A interpretação que é feita tanto em teatro como
em televisão é mostrado através dos desempenhos dos atores, pois costumam ser
mundos bem separados.
Considero
que esta história com dinâmicas diferentes está cheia de surpresas e
reviravoltas, onde existe uma ligação convincente entre os dois protagonistas e
a ilha, contendo jornadas com caminhos inesperados e momentos sem dúvida,
assustadores a macabros. Cada um deles tem os seus traumas para ultrapassar,
mas não será uma tarefa fácil, principalmente quando chegam a um ambiente tão
pesado quanto Osea. Por isso, a visita a esta ilha torna-se num desafio
autêntico, tanto para Sam, como para Helen.
Será
que existe uma ligação entre as jornadas de Sam e Helen e será que estas
personagens pertencem a Osea e vão conseguir obter respostas para as suas
perguntas que já duram há muito tempo? Tanto Jude Law como Naomie Harris estão
de parabéns pelas suas ótimas interpretações, onde conseguiram mostrar as
fragilidades e medos das personagens respetivas e aproveitaram todos os
momentos para brilharem e representarem a complexidade da história das mesmas.
The
Third Day é uma minissérie de thriller e suspense arrepiante, sinistro e
violento, sendo constituída por uma ilha estranha e isolada, com muitos
segredos por desvendar e mistérios que demoram algum tempo a serem descobertos.
Tem uma banda sonora eficaz para o tipo de história, onde tem um argumento
muito bem construído e estruturado, com uma boa liberdade criativa e com falhas
ligeiras, mas não deixa de tirar a vontade de ver a mesma, mesmo que tenha
algum sofrimento, dor e agonia pelo meio.
Inicialmente,
o espetador pode sentir-se perdido, mas depois aos poucos vai perceber como a
comunidade de Osea funciona, pois muitas dúvidas vão surgindo e nem sempre são
dadas todas as respostas, em que existem episódios com mais revelações do que
outros. Nem todas as partes foram bem explícitas, pois resolveram não dar muita
importância ao mesmo, tendo ser difícil compreender as mesmas. Apesar de haver
episódios um pouco cansativos e mais parados do que deviam, esta é uma história
que vale a pena acompanhar tudo, desde o início ao fim, prendendo de certa
forma, a atenção do público, pois ele tenta perceber afinal o que é real e o
que é fantasia, mas atenção que existem cenas que possam ser mais perturbadoras
e violentas que possam ser difíceis de assistir.
Fica
a questão, se a ilha remota de Osea pode ser um tipo de refúgio para quem está a fugir de
algo, será que irá ter algum tipo de normalidade e paz depois da forma como a
minissérie terminou?
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