A série pós-apocalíptica de êxito global See tem sido uma das
apostas da plataforma da Apple TV+ que estreou recentemente a sua terceira e
última temporada com oito episódios, terminando assim, a história protagonizada
por Jason Momoa e criada por Steven Knight.
Além de Jason Momoa (Baba Voss), o elenco é constituído por Sylvia Hoeks
(Sibeth Kane), Hera Hilmar (Maghra Kane), Christian Camargo (Tamacti Jun),
Archie Madekwe (Kofin), Nesta Cooper (Haniwa), Tom Mison (Lord Harlan), Olivia
Cheng (Charlotte), Eden Epstein (Wren), Michael Raymond-James, David Hewlett,
Trieste Kelly Dunn, Alfre Woodard (Paris), Dave Bautista (Edo Voss), Joshua
Henry (Jerlamarel) e Yadira Guevara-Prip (Bow Lion).
Uma história que mistura drama com ação, ficção científica e aventura, desenrolando-se
num futuro brutal e primitivo, centenas de anos depois da humanidade ter
perdido a capacidade de ver. Como isso aconteceu, a humanidade teve de
encontrar novas maneiras de interagir, construir, caçar e principalmente de
sobreviver. Porém, tudo muda quando num dia uns irmãos gémeos nascem com este
sentido.
Um evento catastrófico ocorreu quando mais de metade da população mundial
foi exterminada por um vírus, enquanto aqueles que sobreviveram perderam
completamente a visão. Assim, a perda deste sentido acabou por ser passada nas
gerações seguintes, fazendo com que a humanidade tivesse de encontrar novos
modos de sobrevivência.
Pode conter spoilers!
Divulgação: Apple TV+
Baba Voss é um guerreiro nato, determinado, destemido e
líder da tribo Alkenny, mas também é o irmão de Edo Voss e o pai
adotivo de Kofun e Haniwa, crianças bem especiais que nasceram
com a habilidade de verem e que irão ter um impacto importante no futuro deste
universo. Ele fará os possíveis para proteger e garantir a segurança da sua
família e tribo dos caçadores de bruxas e outros inimigos. Esta história também
mostra o amor de um pai e tudo aquilo que é capaz de fazer para proteger a sua
família. Infelizmente em determinadas situações, Baba está na realidade
a colocá-los em mais perigo.
Além disso, é pertinente ver em determinadas situações como apesar de ser
cego, o Baba se movimenta lentamente não só para ouvir onde está o seu
adversário, mas também para esconder a sua própria localização.
Apesar de vermos um lutador violento, selvagem, eficaz e muitas vezes age
com cautela, Baba Voss também tem os seus momentos mais vulneráveis e um
lado mais humano que teremos a oportunidade de acompanhar com aqueles que ele
mais ama.
Divulgação: Apple TV+
Como não podia ter filhos, este protagonista decide tomar conta e criar as
crianças de Maghra como suas. Quando Maghra foi deixada por Jerlamarel
(o pai biológico das crianças), ela conheceu Baba Voss e como precisava
de proteção acabou por se casar com ele e juntou-se à tribo Alkenny.
Será que Baba Voss vai colocar todos em risco de vida por causa do
segredo que este novo casal esconde? Uma coisa é certa! Baba irá ter uma
jornada difícil pela frente e cheia de obstáculos!
Jason Momoa encaixa-se completamente no papel deste protagonista que
desempenhou de um modo fantástico e é na minha opinião um dos melhores papéis
da sua carreira!
A 1ª temporada acaba por nos introduzir um mundo completamente diferente e
original daquilo que já vimos em outras produções, ou seja, um evento
catastrófico que neste caso causou a morte de uma boa parte da humanidade e
aqueles que sobreviveram ficaram cegos, levando a que tivessem de se adaptar a
estas novas circunstâncias. Porém muitos anos depois com o nascimento de duas
crianças com o poder de ver, a vida neste universo nunca mais seria a mesma. E
por isso, temos a oportunidade de assistir aos efeitos que o surgimento da
visão irá ter nesta nova sociedade e como irão lidar com tudo isso.
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Essas crianças são Kofun e Haniwa e filhos de Maghra e
Jerlamarel, um homem procurado pela rainha Kane por ter a
capacidade de ver e acaba por ser uma ameaça para esta líder, chegando a um
ponto que ele tem de estar constantemente a fugir para não ser apanhado. Jerlamarel
consegue criar o seu impacto à sua maneira, sendo que acredita que foi
escolhido por Deus para trazer de volta a visão ao mundo e considera-se como um
tipo de salvador da humanidade. Já Maghra é uma mulher justa que faz
tudo o que for preciso para proteger os seus filhos e tem um lado mais frágil
com aqueles que ela mais ama, tal como acontece com Baba Voss.
A pessoa começa a imaginar como será o futuro destas crianças e todos
aqueles que nasceram com o dom de ver e aos poucos começamos a observar que são
constantemente alvo de preconceitos e perseguidas por caçadores, os Witchfinders
e ainda são considerados como bruxos que supostamente mereciam morrer. Será que
voltar a existir a visão no mundo é uma bênção ou uma maldição? Será que
possuir o sentido da visão terá as suas vantagens?
Divulgação: Apple TV+
Uma coisa é certa, a rainha Sibeth Kane é a irmã mais velha de Maghra
e uma governante implacável e detestável do Reino de Payan que não tem
misericórdia e mata quem espalhar heresias sobre o tema da visão. Tanto ela
como o seu exército de caçadores de bruxas querem eliminar todos aqueles que
promovam o conceito da visão e que possuem conhecimentos mais específicos sobre
o tema.
Um dos seus principais aliados será Tamacti Jun que é quem lidera este exército, sendo considerado como um soldado leal, brilhante e violento com a missão de encontrar todos aqueles que possuem o sentido da visão. Esta é daquelas personagens que terá um desenvolvimento muito interessante ao longo das três temporadas desta série, mostrando as suas aptidões bem peculiares e tudo aquilo que vai aprendendo com as suas experiências de vida.
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Kofun e Haniwa são os gémeos que nasceram com a habilidade mística de ver
e acabam por se tornarem alvos de uma rainha que se sente ameaçada pela
presença deles, ou seja, pessoas que conseguem ver. E por isso, ela não vai
parar, enquanto não os capturar e eliminar toda a gente que tenha esse dom.
Entretanto, Kofun e Haniwa passam por um processo de aprendizagem
diversificada, relativamente aos restantes membros da sua tribo que é
utilizarem os livros que continham os conhecimentos que precisavam para
aprenderem a ler e a adquirirem novas habilidades. Estes livros cheios de
sabedoria eram considerados como uma ameaça direta à própria sociedade atual. Aos
poucos, começamos a perceber que cada um deles têm uma visão do mundo
completamente diferente. Enquanto Kofun é inteligente e mais cauteloso, Haniwa
é uma jovem determinada, forte, orgulhosa e com um lado mais rebelde e curioso
sobre o passado do mundo e as suas próprias origens que pode vir a deixá-la em
sarilhos.
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Já a segunda temporada é dedicada praticamente ao confronto entre Baba
Voss e o seu irmão Edo e com a participação de outros núcleos. Além
disso, o protagonista tem de lidar com as consequências dos eventos ocorridos e
neste caso precisa de resgatar a sua filha ao mesmo tempo que luta para
garantir a sobrevivência da sua família. No entanto, Baba Voss tem um reencontro
inesperado que é uma ameaça muito pior que Jerlamarel, pois ele terá de
enfrentar o seu irmão, Edo Voss que tem um exército poderoso do seu
lado.
Nesta terceira e última temporada já passou quase um ano desde que Baba
Voss derrotou o irmão e némesis, Edo e despediu-se da família para
viver remotamente na floresta. Mas quando um cientista trivantiano desenvolve
uma nova forma devastadora de armamento para videntes que ameaçam o futuro da
humanidade, Baba regressa para proteger a sua tribo.
Para a maior parte das personagens deste universo foram os indivíduos com
visão que tiveram a responsabilidade de destruírem o mundo, devido
maioritariamente ao uso de tecnologia e a guerras constantes. A existência
destas pessoas com o dom da visão eram ameaça suficiente para aqueles que são
líderes desta nova sociedade e o que não faltavam eram receios sobre um
possível regresso desse mesmo sentido. Este era um tema que se tornou num mito
e num autêntico tabu e quem falaria sobre o assunto estaria a cometer um ato de
heresia e teria de ser castigado.
Por conta do poder e da fé inabalável, os seres humanos que nasciam com
visão viviam sempre com medo, sendo constantemente caçados e eram definidos
como serem trabalho do diabo. Por vezes, devido a rumores que iam surgindo
haviam pessoas inocentes que acabavam por serem queimadas vivas por serem
suspeitas de serem bruxas. Mesmo assim, havia sempre uma vantagem estratégica
em ver!
Divulgação: Apple TV+
Este é um mundo que nos apresenta uma civilização completamente distinta
daquela que conhecemos nos dias de hoje, onde não existem avanços tecnológicos,
mas sim maneiras diferentes de se expressarem. Esta é uma sociedade nova de
cegos com uma forte ligação com a natureza que voltou a construir as suas
próprias armas, as suas casas e que caçavam para sobreviverem ou seja, no qual
a sua população passou a viver, de acordo com o seu instinto.
Esta é uma civilização com tradições mais primitivas que funciona com
regras diferentes e está dependente de sons e cheiros que ganham amplitude para
que consigam sobreviver. De uma certa forma é maravilhoso ver a adaptação dos
seres humanos às adversidades e ainda terem a arte de se reinventarem, como por
exemplo, escrever algo, utilizando nós em cordões. Ainda demonstra a capacidade
humana de se superar e até de julgar os outros, pois acabam por seguir os seus
próprios instintos. Apesar de serem cegos, os outros sentidos acabaram por
serem muito mais desenvolvidos e mais tarde virem a ser bem úteis na
sobrevivência de cada um.
Quem convive com alguém que tenha deficiência visual consegue reconhecer na
série diversos elementos que fazem parte, como por exemplo, o sistema de
comunicação utilizado que é baseado no tato e a importância que o aumento da
sensibilidade dos outros sentidos tem para se sobreviver. É de louvar o facto
de fazerem parte tanto no elenco como na equipa técnica, pessoas cegas ou
deficientes visuais.
Com esta série é incrível o modo como foi construído um mundo em que a
visão não existe há muito tempo, tendo atenção a todos os detalhes e onde
observamos como determinadas coisas pertencentes ao passado são apresentadas
como se fosse pela primeira vez.
Divulgação: Apple TV+
Até foi criado um estilo de luta único e emblemático para aqueles que não
conseguem ver e ainda inclui o uso de espadas, lâminas e muito mais. As cenas
de ação e de luta são espetaculares e incríveis de se acompanharem, brutais e
muito bem coreografadas e considero como um dos destaques principais desta
produção, conquistando o espetador num instante. As lutas apresentadas são
completamente de tirar o fôlego e os seus métodos são bem diferentes de tudo o
que foi apresentado até agora e o mesmo acontece com as estratégias e técnicas de
combate.
Depois de tantas produções abordarem o tema clássico dos efeitos que surgem
após um apocalipse, esta série consegue ter a capacidade de ser inovadora e
apresentar uma perspetiva bem inédita e original. Contudo, esta história
intrigante com o seu lado mais sombrio e estranho foi uma aposta arriscada e
ousada que teve os seus frutos e foi eficaz a contar a sua narrativa, sendo que
não faltaram as batalhas sangrentas, guerras, escravos, traições, conflitos,
rivalidades, profecias, perseguições, torturas, caos, destruições,
manipulações, rumores, conspirações, armadilhas, preconceitos, tensões
familiares, intrigas políticas, revoltas, crueldades, mentiras, ameaças
constantes, verdades, lealdades, crenças, explosões e muitos segredos que
acabaram por serem revelados.
Divulgação: Apple TV+
Com See foi criado algo completamente novo e inovador que criou uma curiosidade
e uma vontade imediata no espetador de querer continuar a ver a história a se
desenvolver, onde o tema da religião foi um dos focos. Temos a oportunidade de
ver boas interpretações por parte do elenco, vistas exuberantes de diferentes
florestas e outros cenários impressionantes, uma fotografia impecável, uma boa escolha
na banda sonora e figurinos e ainda contém um genérico bem típico para este
tipo de mundo. Apesar de tentar manter o seu bom nível de qualidade acaba por
não ser perfeita, porque por vezes as mudanças de ritmo não ajudam e criam mais
problemas ligeiros. Porém, não tiram a vontade de continuar a ver a série.
Este é um mundo pós-apocalíptico envolvido no caos com nações, reinos e
tribos que têm receio pelo desconhecido e deixa qualquer um a pensar, pois a
pessoa começa a imaginar desde o primeiro momento como seria viver sem um dos
principais sentidos que é a visão e que tipo de adaptações teriam de ser feitas
para que se consiga sobreviver com a ausência da mesma.
Esta história é inteligente, interessante, intensa e bem pensada, apresentando
uma visão totalmente fora da caixa de um mundo distópico que consegue
sobreviver de um modo tão natural sem conter algo que nós estamos tão
habituados que esteja ali tão presente, chegando a um ponto que nos
questionamos em como estas pessoas têm talentos tão fantásticos de construção
de armas sem precisarem de ver ou como conseguem lutar tão bem contra os seus
adversários, utilizando apenas outros sentidos. E também nos faz refletir em
como seria o nosso mundo se existisse a falta de visão e se tínhamos a
capacidade de nos adaptarmos ao que estava disponível como fizeram as
personagens da série ou até de nos comunicarmos de maneira diferente.
Divulgação: Apple TV+
See é uma das séries mais caras dos últimos tempos que merece o seu
reconhecimento. É bem desenvolvida e realizada com o seu suspense e com muita ação que
infelizmente não é muito falada. Mas é peculiar e retrata muito bem o
preconceito e a cegueira, mostrando a perspicácia que estas pessoas têm em agir
mesmo sendo cegas. Num geral, esta produção é bem organizada e consegue envolver
quem está a ver e cumprir com aquilo que promete, sendo de acordo com as
expetativas que o público cria para esta história e a sua conclusão é
profundamente satisfatória e de uma certa forma poética e épica que prende a
atenção e está cheia de revelações que a pessoa não vai querer perder.
É uma novidade excelente que vale a pena assistir e conquistou um público que se tornou fiel da história e das suas personagens, apresentando o fim da realidade como a conhecemos num mundo original com pontos de vista únicos sobre a religião, cultura, política e a civilização em si e colocando pontos de reflexão bem interessantes, sendo que nunca foi antes feita desta forma e tem os seus momentos mais impactantes, onde os seres humanos estão numa batalha pela sobrevivência e a aquisição de informação importante pode ser poderosa neste lugar.