It’s a Sin é uma minissérie de drama de cinco episódios, que foi transmitida no canal britânico Channel 4, mas que está disponível, em exclusivo, na HBO Portugal e restantes países desta plataforma, cuja criação e escrita é de Russell T Davies e é produzida pela Red Production Company. Juntamente com Nicola Shindler, Russell T Davies também tem a função de produtor executivo desta história que tem como protagonista Olly Alexander, vocalista e líder da banda Years & Years e com realização de Peter Hoar.
Esta é uma história que retrata a vida de Ritchie (Olly Alexander), Roscoe (Omari Douglas) e Colin (Callum Scott Howells) enquanto eles resolvem começar uma vida completamente nova em Londres, no início dos anos 80. Apesar de não se conhecerem inicialmente, estes jovens homossexuais juntamente com a sua amiga Jill (Lydia West) cruzam-se e acabam por partilhar aventuras juntos, mas quando surge um novo vírus mortal, a vida de cada um deles muda de certa forma, sendo que vão ser colocados à prova de um modo inesperado. Mesmo com o impacto mortal que o VIH vai tendo ao longo dos anos, estes amigos estão determinados a viverem a vida ao máximo e a amarem, ao mesmo tempo que não vão desistir de lutar.
O elenco é
constituído por Olly Alexander (Ritchie Tozer), Omari Douglas (Roscoe Babatunde),
Callum Scott Howells (Colin Morris-Jones), Lydia West (Jill Baxter) e Nathaniel
Curtis (Ash Mukherjee), mas também inclui Keeley Hawes (Valerie Tozer), Shaun
Dooley (Clive Tozer), Neil Patrick Harris (Henry Coltrane), Stephen Fry (Arthur
Garrison), Tracy Ann Oberman (Carol Carter) e tem a participação de David
Carlyle (Gregory Finch), Moya Brady (Millie), Neil Ashton (Grizzle), Nicholas
Blane (Sr. Hart), William Richardson (Sr. Brewster), Ashley McGuire (Lorraine
Fletcher), Calvin A. Dean (Clifford), Nathaniel Hall (Donald Bassett), Jill
Nalder (Christine Baxter), Andria Doherty (Eileen Morris-Jones), Nathan Sussex
(Pete), Toto Bruin (Lucy Tozer), Shaniqua Okwok (Solly Babatunde), Michelle
Greenidge (Rosa Babatunde), Delroy Brown (Oscar Babatunde) e Ken Christiansen
(Karl Benning).
Esta minissérie aborda tanto a amizade como o amor durante a crise do VIH em Londres na década de 1980, sendo que tudo vai sendo contado, de acordo com a perspetiva de três jovens homossexuais em que optaram por se tornar independentes, através de uma nova vida pela cidade de Londres. A jornada destes rapazes não vai ser nada fácil com obstáculos e desafios pelo caminho, pois infelizmente existia na sociedade, comportamentos específicos de preconceito, homofobia, discriminação e muito mais, devido ao facto de serem gays. Para além disso, durante esta época começa a surgir um vírus mortal e sem cura, o VIH e SIDA, que atacavam as defesas do organismo, deixando-o completamente vulnerável a outras doenças e podia ser transmitida sexualmente, sendo que as suas principais vítimas faziam parte de um grupo específico que eram os homossexuais e por isso, o risco era grande, mas mesmo assim, estes amigos querem continuar a aproveitar a vida e amarem, enquanto conseguirem.
A história
em si, não explora só a sociedade de Londres desta década, mas também
especificamente, da comunidade homossexual que vivia numa época de terror que não
era tolerada e passava por diversas dificuldades e para além disso, nem sempre
conseguiam viver a vida que queriam, pois por vezes, tinham de esconder a sua
verdadeira identidade para serem aceites e por isso, estes homens tinham medo
de revelar quem eram e não se queriam sentir vulneráveis e impotentes. Até
existiam sentimentos de vergonha de eles não quererem admitir que apanharam a
doença ou então estavam em períodos de negação, escondendo o que estava a
acontecer, mas eles queriam igualdade e reconhecimento e não desprezo por parte
da população.
Ao longo dos episódios, vamos tendo a noção de que havia muita pouca informação sobre esta doença que atacava de uma forma silenciosa e só davam conta quando era tarde demais. Isto foi um tipo de pandemia que começou a estar presente em diferentes países, mas desconhecia-se na altura, sendo que começou por ser um género de mistério para muitos ou que até mais parecia um rumor ou um mito, acabando mais tarde por se tornar em algo bem real e fatal e assim, os médicos não sabiam identificar o problema e as pessoas não sabiam lidar com isso, principalmente com as suas vítimas que as consideravam como contagiosas e achavam que o mais importante era manterem quem estava doente, isolado de tudo e de todos, sendo que alguns chegavam a morrer sozinhos e abandonados. Infelizmente, o tratamento não era digno, nem eficaz e as práticas que os médicos utilizavam para tratar os pacientes que eram vítimas desta doença misteriosa não eram as mais corretas e por isso, havia muita ignorância e falta de informação.
Naquela altura, existia um medo sobre tudo o que era relacionado com o VIH que era grande, pois as pessoas tinham receio de serem infetadas e as famílias não queriam que os outros soubessem que tinham um elemento que tinha morrido de SIDA, mas depois haviam aqueles que continuam constantemente, a viver em silêncio ou até que aceitavam, sem comentarem. Para além disso, este era um assunto com uma vertente mais de tabu que não era falado numa Inglaterra governada por Margaret Thatcher e quando alguém adoecia, de um modo misterioso, infelizmente não existia preocupações por parte dos outros, pois simplesmente ignoravam a situação.
Inicialmente são apresentadas as histórias de cada uma destas personagens antes de se conhecerem entre si, as suas origens, quais são os seus desejos para o futuro e como se imaginam daqui a muitos anos. Um dia, Ritchie, Roscoe e Colin encontram-se e começam a partilhar um apartamento grande designado por Pink Palace, juntamente com Ash e Jill, o elo em comum entre eles e assim, cada um deles vai tendo o seu período de auto-conhecimento que não será uma tarefa fácil de se concretizar, mas não vão deixar de lutar por aquilo que mais querem, seja a nível de amor, amizade, sucesso profissional ou até na realização de sonhos e com um apoio incondicional que vão tendo uns pelos outros, tornando-se assim, numa família muito unida que não é obrigatório que seja de sangue, mas que foi escolhida por eles. Este grupo de amigos mostra que mesmo com todos os problemas que possam vir a surgir, ainda é possível sorrir e aproveitar a vida da melhor maneira.
Estes são
rapazes homossexuais que sempre viveram em locais mais remotos, relativamente à
cidade de Londres que desconhecem e o que implica ter uma vida diferente e independente
por lá, e com momentos de descoberta pelo meio, mas eles acreditam que
finalmente não precisam de esconder quem são e que podem ter as suas próprias
personalidades, sendo que a narrativa foca neste grupo de amigos num período
conturbado que passam por situações semelhantes, em que cada um tem de
enfrentar e lidar com as suas preocupações e medos que se vai desenrolando de
um modo próprio e de certa forma, até chegarem ao momento que conseguiram
libertar-se das suas famílias mais conservadoras que não os deixavam ser
livres. Para além disso, eles têm de enfrentar os desafios que é viver uma vida
adulta e de lutar numa sociedade que tem dificuldades em aceitar e entender a
identidade de cada um deles.
Ritchie Tozer é um adolescente que sempre
escondeu a sua orientação sexual da sua família, por motivos de vergonha e por
achar que eles não iam aceitá-lo, pois eram mais tradicionais e conservadores.
Ele resolve ir estudar Direito para Londres e deixar a sua terra que era na Ilha de Wight, sendo que ele acaba por
se sentir livre de uma educação rigorosa e depois de conhecer Jill na faculdade, ele opta por mudar a
sua formação para Teatro e tornar-se num ator. Um dia, Jill acompanha Ritchie até
ao seu lar para que ele contasse toda a verdade aos pais, mas a partir do
momento que ele começa a contar uma parte, a família não reage bem e por isso, Ritchie decide omitir o resto. Infelizmente
chega a um ponto que Valerie, a mãe
de Ritchie tem um pensamento
incompreensivo e egoísta perante o seu filho quando descobre toda a verdade,
chegando a tomar atitudes inconcebíveis, pois ela continua em negação por mais
que a tentem abrir os olhos e na sua própria realidade, sem ter a noção que
está a magoar o seu filho, mas Jill
acaba por dizer aquilo que pensa num modo direto e radical e deixando Valerie, sem palavras.
Roscoe Babatunde é um jovem negro, de origem nigeriana que cria um impacto e um choque para a sua família muito religiosa e conservadora quando finalmente revela-se e “sai do armário”, sendo que assume a sua verdadeira identidade para com os seus familiares e sai de casa para seguir com a sua vida em frente, sem olhar para trás.
Colin Morris-Jones é um rapaz tímido, reservado,
envergonhado e que não dá nas vistas, sendo que vem do País de Gales para ir
viver para Londres, onde começa a trabalhar numa alfaiataria e vem a conhecer o
seu primeiro amigo homossexual, Henry
Coltrane que tem um companheiro português e que o vai proteger e fazer o
que for necessário para que Colin se
sinta bem-vindo neste local tão estranho e novo para ele. Ele acaba por admitir
pela primeira vez que é gay numa
conversa com Henry, chegando a um
ponto que ele tem curiosidade em saber como casais homossexuais vivem a sua
vida em Londres e também quer experimentar tudo aquilo que ainda não tinha
conseguido fazer. Apesar de ter tido uma participação pequena, Neil Patrick
Harris que interpreta Henry teve um
grande destaque no modo como apresentou esta personagem que ajudou Colin a conhecer-se melhor.
Jill Baxter tem um papel fundamental na vida destes rapazes, seja como uma figura protetora ou como alguém que está disposta a mostrar o seu apoio e ajudar, seja qual for a circunstância e dificuldade. Ela tem um bom coração e representa aquilo que a humanidade devia ser a nível de aceitação, apoio e compreensão, mesmo que tenha os seus momentos mais obscuros, sendo que o espetador identifica-se com esta personagem e a sua maneira de pensar e agir e também os seus medos, perante tudo o que estava a ocorrer em determinadas alturas, mas não deixa de estar presente e sem dúvida que, a Lydia West está de parabéns pelo seu desempenho incrível.
Esta é uma
história, com momentos de dor pura, em que mostram ao seu ritmo, a propagação
rápida deste vírus que matou milhares, os seus perigos eminentes e a sua evolução,
principalmente ao aparecimento de várias manchas pelo corpo e os cuidados
redobrados que eram feitos para quem sofria desta epidemia, seja a nível de
desinfeção, utilização de máscaras ou distanciamento físico, sendo constituído
por finais mais trágicos, mas que era algo que se esperava. Vamos acompanhando de
que forma é que esta pandemia começa a afetar a vida de cada um destes amigos,
de maneiras bem distintas e as decisões que vão tomando, relativamente a uma
doença que inicialmente ignoraram ou explorando o desejo sexual com vários
parceiros sem terem cuidado, mas que acabam por se colocarem em risco e vir a sofrer
as consequências dos seus excessos pelas noites de Londres em bares que podiam ser
devastadoras. Para além disso, chegava a um ponto que estes rapazes podiam
sentir-se culpados pela pessoa que se tornaram ou pela sua orientação sexual e
por desiludirem quem mais amam, sendo que achavam que mereciam todo o
sofrimento que podiam vir a ter, pois existia rejeição por parte de muitas
famílias quando sabiam que um dos seus filhos tinha contraído o vírus ou
simplesmente pela sua orientação sexual, mas felizmente ainda existiam
familiares que aceitavam e apoiavam em situações mais complicadas.
Esta é uma minissérie
que eu aconselho a verem, pois tem uma história credível que está bem
equilibrada em que tem o seu tom dramático, mas não deixa de ter o lado mais
cómico, descontraído leve e divertido que inclui música típica, sendo
constituído por momentos de alegria e animação garantida que mostra a união que
estes amigos têm uns com os outros e que sabem se divertir, apesar de algumas
noites serem demasiado loucas. Durante esta década, temos a oportunidade de
acompanhar o desenvolvimento destas personagens que procuravam uma diferente
forma de viver que podia ser feita através da liberdade não só de escolhas, mas
também de um modo em que o indivíduo podia ser ele próprio e como eles são
constantemente vítimas do preconceito, sendo que o VIH não só acabou por ligá-los
de um modo peculiar, mas também criou um impacto e uma mudança para toda a
comunidade homossexual.
It’s a Sin apresenta muito bem a essência da época numa realidade cruel e violenta e o tema que é abordado que continua a criar discussão na sociedade e também é feito de um modo bem simples, pessoal e intimista, pois é importante que seja retratado com equilíbrio, sendo que é o que acontece neste caso e fazendo com que o público aprenda, compreenda facilmente sobre como o VIH surgiu e se emocione com os acontecimentos que vão ocorrendo com as personagens e tirando as suas próprias conclusões. Também a mostra a importância da liberdade, do amor, da empatia e da amizade e o quanto isso pode unir todos por um objetivo em comum, transmitindo uma mensagem muito poderosa e importante e que é essencial que as pessoas que são vítimas desta doença tenham uma voz, que possam viver a sua verdade e não sejam completamente ignoradas, lutando pela vontade de amarem quem quiserem e de serem livres. Estes cinco episódios tiveram ótimas interpretações que fizeram as suas personagens brilharem, cada uma à sua maneira, com discursos interessantes e que faziam sentido, sendo constituído por uma boa realização, cinematografia e edição e com referências aos anos 80, tais como a música que foi sendo introduzida e para além disso, tem cenas que podem ser menos delicadas a pessoas mais sensíveis, como é o caso da violência que é utilizada pelas autoridades ou o ambiente festivo que por vezes é excessivo e descontrolado.
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