quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Filme "A Minha Casinha" é um tesouro genuíno e autêntico que vai deixar uma marca no cinema português

A Minha Casinha (Autumn, como título internacional) é uma comédia dramática portuguesa que estreia esta semana nos cinemas nacionais. No Austin Film Festival 2023 que se realizou nos EUA, esta foi distinguida como a vencedora do prémio da audiência deste festival de cinema. Este é um filme de António Sequeira inspirado no livro “A Cidade e as Serras”, de Eça de Queirós e o elenco é constituído por Beatriz Frazão, Elsa Valentim, Miguel Frazão, Salvador Gil e com as participações especiais de Ricardo de Sá e Sara Barradas.

O filme retrata as dificuldades de uma família do interior a enfrentar mudanças e a encarar verdades desconfortáveis quando o filho sai de casa para estudar em Londres. Durante um ano e focando essencialmente as férias sazonais quando ele regressa à sua casinha (Inverno, Primavera, Verão e Outono), nós observamos momentos da crise de meia-idade do pai, da puberdade da filha, da emancipação do filho e da maneira como a mãe lida com o “ninho vazio”. O filme é uma exploração de dinâmicas familiares portuguesas quando confrontadas com a nova emigração do século XXI, e com a dificuldade de crescerem e envelhecerem.

Esta é uma comédia dramática sobre uma família portuguesa do interior cuja vida é virada do avesso quando o filho mais velho decide emigrar para estudar em Londres.

Para muitas famílias é difícil lidar com a ausência de um dos seus elementos quando toma a decisão de ir viver para fora do país, sendo que esta história também se inspira no tema da saudade e como o seu significado pode moldar-nos como seres humanos. Como a mudança para o estrangeiro do membro de uma família pode impactar os restantes elementos.

Saudade é uma palavra tipicamente portuguesa que nos traz um misto de emoções. No decorrer desta narrativa dividida em estações do ano, temos a oportunidade de ver o caminho de adaptação e por vezes até desconforto, de cada uma destas personagens perante o “ninho vazio” e a nova etapa da vida do filho. Ao mesmo tempo, tenta-se manter tradições familiares como ter o bacalhau como prato à mesa, sempre que o filho regressa a casa ou fazerem jogos personalizados em família. Tradições que acabam por não ter o mesmo impacto que tinham dantes e a conexão parece não ser a mesma. Porém, a lição que é dada faz refletir naquilo que realmente mais importa.  

Quem está a ver identifica-se com muitas das situações que vão acontecendo com cada um destes seres humanos, principalmente os pais que depois de muitos sacrifícios pelos seus filhos, têm de os ver ir embora para seguirem o seu caminho e encontrarem uma vida melhor. E além disso, não sabem o que devem fazer quando chega o momento de ficarem sozinhos na sua casinha. Devem manter a sua rotina habitual? Mudar as suas prioridades? Ou simplesmente tomarem a decisão de finalmente olharem para eles próprios e seguirem com os seus próprios sonhos? Arriscando novas carreiras, experimentando coisas diferentes ou até apostar num sonho antigo. No fundo, acabam por sofrer uma transformação que pode fazer toda a diferença na vida de cada um.

A história em si é bem construída e fluída que se foca no verdadeiro significado de família e felicidade, trazendo ao público uma combinação de emoções. É um filme apaixonante que decorre numa pequena cidade portuguesa do interior com paisagens soberbas, sendo focado em pessoas envolvidas numa família tradicional que nos relacionamos, desde o primeiro instante com as suas alegrias, brincadeiras, inseguranças, vulnerabilidades, preocupações e sonhos.

A Minha Casinha é um tesouro genuíno e autêntico que vai deixar uma marca no cinema português e nos dá uma lição muito importante, relativamente a família, depressão, sacrifício, desapego e amor. E onde acabamos por embarcar na nossa própria jornada de regresso a casa, damos valor ao nosso cantinho bem especial e também aquilo que é mais importante. A partir de 14 de Dezembro, já podem ver esta comédia emocionante completamente dedicada aos portugueses que vos irá divertir, fazer rir, chorar e até marcar de uma forma mágica.


1 comentário:

  1. Excelente análise. Ví no twitter a referência e vim cá espreitar, não me desiludiu. Vi hoje o filme no cinema (já não via um filme tuga desde a gaiola dourada), gostei muito do filme em si (Baião é bem interessante e fez-me vontade de lá ir), há partes em que a Elsa Valentim fazia-me lembrar a minha mãe. Tenho de destacar a personagem do Miguel Frazão (e a sua actuação), para mim foram eximias, sem sombra de dúvidas! Ainda bem que fui ver o filme " A Minha Casinha".

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