quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Filme "Frankenstein" - o que esperar desta nova adaptação tão esperada e realizada por Guillermo del Toro

 

Uma das adaptações mais esperadas de 2025 chegou à plataforma de streaming da Netflix. Frankenstein é a próxima produção realizada pelo icónico Guillermo del Toro, tendo sido baseada na criação da Mary Shelley.

O elenco é constituído por Oscar Isaac, Jacob Elordi, Mia Goth, Christopher Waltz, Charles Dance, Felix Kammerer, David Bradley, Lars Mikkelsen e Christian Convery.

Tudo é desenrolado ao redor do Dr. Victor Frankenstein que quer criar vida nova a partir da morte, sem prever o que viria a seguir. Em uma história com dois lados, quem realmente é o monstro?

Já houve diversas versões desta figura tão enigmática e popular. No entanto, quando foi anunciado que iríamos ter uma nova visão nas mãos do grande Guillermo del Toro, a expetativa para assistir era elevada. Mas será que este cineasta irá deixar a sua marca impactante o suficiente para transformar Frankenstein em algo que ainda não tenhamos visto?

Primeiramente, a história é dividida em duas partes, sendo que a primeira parte do filme é contada do ponto de vista do cientista, o Victor Frankenstein. E ao longo desse período há alguma incerteza em relação ao quanto é credível a história de Victor, onde pode ser questionado se existe realmente uma criatura. Já a segunda parte é dedicada a vermos pelos olhos da criação de Victor. No final, acabamos por acompanhar um tipo de dinâmica familiar invulgar e complexa.

Relativamente a Victor, ele é aquele tipo de personagem principal que se torna o vilão e muito disso, está relacionado com as consequências dos seus atos, devido àquilo que passou na sua infância, principalmente com o seu pai e chegando a um ponto que parece um género de dor geracional que ocorreu e que passou entre gerações. Ele tinha o objetivo de ultrapassar os conhecimentos e habilidades do seu pai e criar algo único no mundo. Além disso, ele é alguém que tinha uma dor muito profunda e queria muito que o seu irmão o amasse.

Enquanto conta o seu lado da história, nós conseguimos de certa forma, entender a dor de Victor e a obsessão dele em criar o homem perfeito. Inicialmente, ele teve uma visão que se transformou numa ideia que ganhou forma na sua mente e desde aí, foi inexorável até se tornar verdade. Até mesmo nas etapas iniciais que ele testou num público específico, parte do que lhes iria dizer seria um facto. Porém, outra parte não, sendo que tudo acaba por tornar-se numa verdade absoluta.

Agora, depois de ter concretizado o seu desejo e ter superado os limites da ciência, Victor acreditou plenamente que criou algo verdadeiramente horrível e tinha determinado que a memória dos seus males deveria morrer consigo. Na opinião dele, ele ao procurar a vida, acabou por criar a morte. Mas, será isso mesmo verdade? Será que o grande Victor Frankenstein cometeu um erro? Uma coisa é certa. Ele não considerou o que viria após a criação e é preciso destacar o Oscar Isaac que teve uma performance excelente em transmitir a personalidade peculiar e toda a loucura e destruição deste Victor. E para saber as respostas às perguntas feitas anteriormente, é essencial que se conheça a versão da sua criatura.

Afinal que criatura é esta? Em primeiro lugar, é completamente diferente daquilo que já tivemos a oportunidade de assistir noutras adaptações e ao longo do filme percebemos a razão para esta conclusão. Depois do criador dele ter contado a sua história, agora ele vai contar a dele.

Esta é uma criatura feita de pedaços de cadáveres de um campo de batalha que Victor Frankenstein monta como se fosse um puzzle. Ele é um tipo de ser original e é claramente composto por pessoas diferentes, sendo que se recorda de fragmentos e de memórias de vários homens. No entanto, desde o início há uma pureza nele que nos identificamos imediatamente, criamos empatia e em certos momentos, começamos a torcer por ele.

Enquanto isso, há quem o considere como um monstro como é o caso de Victor Frankenstein, o criador dele. E tal como qualquer ser humano, quando alguém tem medo de algo e neste caso, de alguém, a tendência é caçar e matar apenas por ser uma criatura fragmentada e discriminada e também tudo o que possa ser considerado como desconhecido.

Temos a possibilidade de ver o desenvolvimento difícil desta criatura que bastava uma palavra ou um simples olhar para se compreender o que estava a sentir. Apesar de ter sido maltratado e excluído por Victor, ele simplesmente queria uma companheira ao seu lado para viver em paz. E caso o amor lhe fosse negado, então iria entregar-se à ira e o principal alvo seria o seu criador.

Para este tipo de personagem já adaptado diversas vezes, sabia-se que precisava de se ver alguém com potencial e que conseguisse prender a atenção do público. Jacob Elordi encarnou com tanta elegância e dedicação esta criatura e à medida que a história foi ocorrendo, o seu próprio movimento corporal é pensado numa maneira diferente, sendo que depois lhe deu mais expressividade e realidade.

Frankenstein é uma obra eletrizante e arrebatadora que nos proporciona uma experiência imersiva e nos apresenta com inteligência, uma visão louca e espetacular desta trama passada no século XIX. Esta não é apenas uma história de um cientista brilhante que foi capaz de criar vida e muitas outras coisas. É também retratada a fragmentação do ser humano, o luto, a relação complexa de pais e filhos, a solidão e isolamento e a necessidade de pertencer e de ser amado. E também está a ser contada histórias de pessoas cheias de maldade que têm uma ambição sem limites e são cruéis e egoístas. E tudo isto é uma forma mais real de ver o mundo e entender cada história.

Automaticamente faz questionar-nos não só o mundo e a humanidade, mas também a nossa própria identidade. Quem sou eu e porque estou aqui? Afinal, qual é o meu propósito? Podemos encontrar redenção? E também nos transmite a ideia de amar uma personagem que é imperfeita e de perdoar essas imperfeições.  

Guillermo del Toro deu tudo de si nesta produção, sendo que para mim estava destinado a fazer Frankenstein e a transformá-lo atualmente num dos seus filmes mais bonitos visualmente. Era mesmo inevitável isso acontecer, pois ele já estava a pensar há muito tempo na sua visão perante o livro de Mary Shelley. E dá para ver que também tinha uma estratégia muito precisa de como decidiu filmar este filme, enquanto mostrava o amor que tem por ele, sendo que fez coisas que normalmente um realizador não faz e estava disposto a correr mais riscos.

Apesar de existirem mudanças em relação a diferentes adaptações de Frankenstein, este cineasta queria impulsionar a sua visão e encontrou uma maneira de permanecer fiel ao romance original, mas moldando de acordo com a sua marca, o seu estilo e a sua maneira de demonstrar emoções. E são muito poucos os cineastas que realmente são capazes de criar mundos e proporcionar uma experiência única ao espetador.

Frankenstein possui uma energia própria envolvida numa história comovente que é fluída e repleta de espontaneidade. E é uma homenagem a um ambiente gótico combinado com o sobrenatural que automaticamente relacionamos com este mundo. Além disso, mergulhamos profundamente para o mundo de Frankenstein, graças ao trabalho brilhante a nível do design de produção, cinematografia, guarda-roupa muito adequado à época representada, maquilhagem e banda sonora com música que faz amplificar as emoções do filme e as loucuras da situação que está a acontecer no momento. Também a iluminação estava muito bem incorporada e os efeitos especiais foram ótimos. Assim, todos estes elementos juntos foram fulcrais para funcionarem em conjunto e assim, darem vida a esta obra impressionante e com uma ótima qualidade.

Um desses exemplos, vai para os cenários que foram construídos. Estes foram fundamentais para definirem o tom em que como seria esta adaptação de Frankenstein. A cela da criatura foi construída de raiz e o laboratório é o derradeiro cenário onde a criação acontece. O laboratório era um local completamente louco com muitas partes de cadáveres e sangue espalhados por todo o lado, sendo que Victor fez o que fosse necessário para provocar uma tempestade e relâmpagos. E claro que não faltaram explosões e muito mais.

Outra coisa que gostaria de destacar e que dá para perceber o trabalho espantoso de cenografia foi o navio preso no gelo do Ártico, onde se dá grande parte da ação. E fiquei ainda, mais surpreendida pela positiva, por saber que construíram o navio de verdade, tanto o interior, como o exterior. Este acaba por ser um dos grandes símbolos desta produção.

A obra deste génio que é o Guillermo del Toro é mesmo digna de se ver e é apresentada em grande escala como este mundo funciona, levando a momentos muito ativos de loucura e a cenas brutalmente violentas, transmitindo todo o tipo de emoções e também mostrando a importância que era contar a história da criatura. E para além disso, acredito que vai permanecer para sempre na memória de muitos admiradores deste universo do Frankenstein.


Sem comentários:

Enviar um comentário