sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Filme "Bugonia" - o que esperar do próximo projeto de Yorgos Lanthimos protagonizado por Emma Stone e Jesse Plemons

 

Estejam preparados que o próximo projeto de Yorgos Lanthimos não vai deixar ninguém indiferente. Bugonia é o novo filme deste realizador que é o remake de uma comédia de ficção científica sul-coreana, Save the Green Planet!, de Jang Joon-hwan (2003).

Em Portugal, Bugonia estreou na 2ª edição do Tribeca Festival Lisboa no recinto do The Chapel, a Igreja do Convento do Beato que foi transformada numa sala de cinema para receber a exibição de diferentes filmes, tanto nacionais, como internacionais.

Este filme é protagonizado por Emma Stone, Jesse Plemons, Aidan Delbies, Stavros Halkias e Alicia Silverstone.

Toda esta história é desenrolada ao redor de dois jovens obcecados por conspirações que decidem raptar a poderosa diretora-geral de uma grande empresa, convencidos de que ela é uma extraterrestre que pretende destruir o planeta Terra.

A designação de Bugonia também está ligada a uma certa lenda. Falamos de uma referência a uma crença antiga na qual se acreditava que as abelhas nasciam a partir da carcaça de um boi morto.

O que não falta aí são inúmeras teorias da conspiração, sendo que tudo o que envolve extraterrestres e a presença de vida noutros planetas são das mais frequentes.

Desta vez, temos uma reflexão sobre o mundo atual pelos olhos do peculiar Yorgos Lanthimos que tem uma perspetiva muito particular e muita coisa para dizer. E por vezes, aquilo que transmite chega a ser um pouco abstrato e dando assim, a oportunidade ao espetador de ter a sua própria visão daquilo que está a assistir.

Tudo se inicia com a determinação dos primos Teddy (Jesse Plemons) e Don (Aidan Delbies) em provar a existência de extraterrestres no planeta Terra, não importa o custo. Eles estão convencidos que uma raça alienígena está a viver entre os humanos e têm um plano específico para destruir o planeta Terra.

Para comprovarem as suas suspeitas, eles resolvem raptar Michelle (Emma Stone), uma bilionária e CEO de uma farmacêutica muito bem-sucedida que eles acreditam que ela é a representante da espécie extraterrestre. Mas, será que eles estão certos em relação às suas suspeitas e Michelle é realmente uma extraterrestre? Uma resposta que vai ter os seus desafios.

Bugonia é mais uma viagem bizarra e negra com a sua dose de loucura, o seu lado selvagem e deveras excêntrico que possui um humor com um tom muito próprio que é envolvida em conspirações e dilemas morais que questionam muitos temas pertinentes e importantes para a atualidade, sendo que alguns continuam a trazer muita polémica à mistura. À sua maneira, consegue criticar a sociedade atual e a forma como as fake news, a desinformação e as notícias acabam por influenciar como as pessoas olham para o mundo e até prejudicar, principalmente em termos de saúde mental.

Um dos principais destaques vai sem dúvida para a performance, tanto de Emma Stone, como de Jesse Plemons que brilham intensivamente, cada um à sua maneira. O desempenho de Jesse Plemons é uma enorme surpresa, pois vemos um registo diferente dos trabalhos anteriores deste ator, sendo que ele dá vida a um apicultor obcecado pela existência de extraterrestres e como quer provar isso a tudo o custo, mesmo que tenha de ter comportamentos mais selvagens e executar medidas mais agressivas. E ele também está completamente devastado e até convencido de que a empresa liderada pela Michelle é a principal responsável pela diminuição significativa das abelhas. Juntando a isso, esta mesma empresa também feriu significativamente a sua mãe problemática, devido a medicamentos experimentais utilizados para a abstinência de opioides. Por isso, temos aqui um homem que acredita que está a salvar o mundo de uma invasão alienígena e ao mesmo tempo com razões suficientes para ver Michelle como culpada de tudo o que está a acontecer.

Já Emma Stone apresenta uma figura poderosa com uma reputação invejável que é a CEO de uma empresa que tem um impacto global, sendo que ela manipula com distinção, aproveitando as fraquezas e inseguranças de quem a raptou. A sua entrega não é só psicológica, mas também física, onde por vezes basta um simples olhar ou outra expressão corporal para dar ênfase à cena em si.  

Com Bugonia assistimos a um jogo misterioso de poder, tortura e de manipulação psicológica com uma ligeira reviravolta no final, onde nem tudo o que parece realmente é. É envolvido em ironia, delírio e caos e nota-se que é uma crítica ao presente. De uma certa forma, soa como um aviso para a sociedade, mostrando o quanto esta está a destruir extremamente o planeta e o quanto é cada vez mais difícil fazer uma mudança que importa e que deixa uma marca importante.

Yorgos Lanthimos apresenta em quatro atos diferentes a sua assinatura nesta sátira e um método muito próprio que é típico do estilo dele, misturando elementos de drama, ficção científica e suspense com uma comédia mais negra. E não irão faltar momentos absurdos, esquisitos, paranoicos, radicais e exagerados. No entanto, sente-se que falta algo no seu argumento com falhas e por vezes, tem os seus altos e baixos e até chega a perder-se, podendo mesmo dividir opiniões. Mesmo assim, deixa a sua reflexão e é interessante assistir às interpretações de Emma Stone e Jesse Plemons. Além disso, a escolha perante a banda sonora combina muito bem para a história que está a ser contada e às vezes, até tem um lado mais engraçado em determinadas cenas.

Para terminar, A Geek Traveller esteve presente uns dias durante o BFI London Film Festival, onde o icónico Royal Festival Hall também recebeu Yorgos Lanthimos, Emma Stone e Jesse Plemons para apresentar este novo filme que está a dar falar.

A energia e o ambiente foram surreais – um momento único para qualquer fã de cinema! Por isso, partilho com vocês, o vídeo exclusivo da Premiere de Bugonia em Londres.


sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Filme "Springsteen: Deliver Me From Nowhere" - o que esperar desta obra dedicada ao ícone do rock americano, Bruce Springsteen

 

Chegou o momento de ver a adaptação cinematográfica do livro homónimo de Warren Zanes sobre a vida e carreira do ícone do rock americano, Bruce Springsteen. Springsteen: Deliver Me From Nowhere é realizado por Scott Cooper e tem Jeffrey Allen White a representar este artista musical.

Para além de Jeffrey Allen White como o protagonista, o elenco é constituído por Jeremy Strong, Paul Walter Hauser, Stephen Graham, Odessa Young, Gaby Hoffman, Marc Maron e David Krumholtz.

Esta visão narra a produção de “Nebraska”, o álbum lançado por Bruce Springsteen em 1982 – um disco acústico, cru e assombrado, que marcou um momento decisivo na vida do artista e é considerado como uma das suas obras mais impactantes e duradouras.

Também acompanha Bruce Springsteen ainda jovem, no limiar do sucesso mundial, num momento em que lutava para conciliar as exigências do sucesso com os fantasmas do passado. Gravado num gravador de 4 faixas no quarto da casa de Springsteen na Nova Jérsia, “Nebraska” tornou-se num marco da sua carreira – um álbum íntimo e sombrio, habitado por almas perdidas à procura de um motivo para acreditar.

Divulgação: 20th Century Studios Portugal

Em 1981, logo após o êxito de “The River Tour” temos este jovem artista a atravessar um momento crítico da sua vida. Enquanto sente o peso da fama e dos traumas de um passado conturbado, ele decide afastar-se durante algum tempo numa casa em Colts Neck, Nova Jérsia. Este lugar torna-se num tipo de refúgio silencioso, onde faz uma reflexão mais profunda que leva a que escreva novas canções extremamente pessoais.

Springsteen: Deliver Me From Nowhere não é uma simples história biográfica, é sim, a apresentação do homem por detrás da música que está à beira de ser uma superestrela global que enfrenta um capítulo exigente da sua vida e os fantasmas do seu passado. De uma maneira muito particular, testemunhamos a sua vulnerabilidade que vai estando associada às suas inseguranças, enquanto compreendemos o papel principal e a força que a música tem para ele.

Divulgação: 20th Century Studios Portugal

Desde o início, dá para perceber a razão pelo qual “Nebraska” foi um dos seus trabalhos mais duradouros, pois ele passou por dificuldades, mergulhou profundamente e em silêncio perante as suas feridas, medos e memórias que não foram fáceis de encarar. Ele sempre foi definido como um ótimo storyteller e foi o facto de sair da sua zona de conforto, lidar com a sua saúde mental e acompanharmos todos os passos da produção de “Nebraska” que torna esta jornada tão interessante.

Ficamos a saber mais sobre o seu trauma não resolvido e a conhecer melhor esta figura tão conhecida que tinha os seus momentos de solidão e as suas fragilidades. E que ainda, gravou um álbum inteiro sozinho em casa isolado do sucesso e do mundo da fama, cujas faixas não precisavam de ter um som perfeito. Um ícone do rock americano que procurava inspiração, paz em casa e no seu processo criativo, fazendo com que o espetador crie uma ligação maior com ele.

Divulgação: 20th Century Studios Portugal

Um dos maiores destaques vai para a interpretação de Jeffrey Allen White como Bruce Springsteen. Foi uma boa surpresa, principalmente por ver este ator num registo completamente diferente daquilo que já tinha visto e por ter tido uma ótima performance nas apresentações ao vivo e a representar a diferentes níveis a personalidade complexa e real do Boss.

Além disso, foi maravilhoso assistir à dinâmica única e especial de Bruce Springsteen e Jon Laudau, o histórico manager e confidente do músico. Jeremy Strong encaixou na perfeição a dar vida à pessoa que mais apoiou e acreditou em Bruce, sendo que dá para a ver que tinha uma sensibilidade muito própria e um sentido de proteção para com ele, porque para Jon aquilo que importava era o Bruce Springsteen e nada mais.

Esta é daquelas relações tão naturais que muitos de nós admira e muito devido ao amor, lealdade, confiança e o sentido de responsabilidade que têm um pelo outro. As cenas que mais apreciei foram protagonizadas por esta dupla que fazem com que o público tenha logo uma ligação imediata e próxima com estes dois. E algumas destas cenas até tiveram os seus momentos mais comoventes e verdadeiros.  

Outro ator que vale a pena referir pelo seu bom trabalho é o de Paul Walter Hauser que tem surpreendido cada vez mais e aqui interpreta o técnico de guitarra Mike Batlan, trazendo um lado mais leve e cómico à história em si.

Divulgação: 20th Century Studios Portugal

Springsteen: Deliver Me From Nowhere é uma viagem mais emocional por um outro lado deste artista icónico que parece incompleto e saber a pouco. Além disso, poderia ter beneficiado muito mais, se tivesse tido mais atuações ao vivo, mostrando assim, a força da natureza que é Bruce Springsteen no palco. E ainda, ter mais cenas partilhadas entre Bruce e o seu manager, Jon Laudau, cuja relação é um dos pontos mais fortes do filme. Isso também teria sido uma excelente adição.

Não há dúvidas, que ele mostra com intensidade a sua verdade contra tudo e todos e os sacrifícios que teve de fazer. E é transmitida a sua determinação e coragem para se enfrentar a si mesmo e o seu passado complicado, mas não é o suficiente para se destacar da mesma forma, em relação a outras histórias dedicadas a outros artistas musicais que tiveram um impacto muito maior.  

Divulgação: 20th Century Studios Portugal

Mesmo assim, é uma obra inspiradora bem editada que apresenta a criação da canção popular “Born in The USA” e também o processo artístico por detrás de um disco peculiar. Enquanto isso, também honra o legado de Bruce Springsteen e não deixa de ser interessante acompanhar alguns dos anos mais difíceis deste músico visionário que foi crucial para a evolução da sua carreira e visão artística, sendo que continua a ser um ícone na música internacional, uma inspiração para uma geração de artistas e músicos e também é um autêntico espetáculo cheio de energia no palco. E para quem já assistiu a um concerto ao vivo, como eu, sabe bem daquilo que eu falo.

Por isso, não vão com expetativas e aproveitem o momento para conhecer um pouco mais sobre a vida e carreira do astro de rock, Bruce Springsteen numa perspetiva diferente e até identificarem-se com alguns dos temas abordados nesta narrativa.


domingo, 19 de outubro de 2025

Filme "After the Hunt" - vale a pena ver este drama psicológico realizado por Luca Guadagnino e protagonizado por Julia Roberts?

 

After the Hunt (Depois da Caçada, como título em português) é um drama psicológico realizado por Luca Guadagnino, cujo elenco é constituído por Julia Roberts, Ayo Edebiri, Andrew Garfield e Michael Stuhlbarg.

A estreia foi no Festival de Cinema em Veneza, onde integrou a competição e ainda passou pelo BFI London Film Festival.

Esta trama conta como Alma Imhoff (Julia Roberts), uma professora de filosofia da Universidade de Yale (EUA) vê-se envolvida numa situação complexa que gira em torno das acusações de má conduta sexual dirigidas a Hank (Andrew Garfield), um colega com quem mantém uma relação de grande proximidade. A suposta vítima é Maggie (Ayo Edebiri), uma aluna muito inteligente que tem sido protegida dela. A situação vai-se agravando até Alma se dar conta de que um segredo sombrio do seu próprio passado pode deitar tudo a perder.

Esta professora universitária vê a carreira e integridade colocadas à prova, a partir do momento em que um estudante acusa um colega professor de agressão sexual. À medida que o caso ganha mediatismo, ela é forçada a confrontar questões do seu passado, bem como os limites da sua responsabilidade institucional e pessoal.

Tudo isto faz com que ela se encontre numa encruzilhada pessoal e profissional, onde as suas escolhas podem trazer repercussões. Além disso, ela nunca fala de si mesma, da sua vida pessoal e da sua família, sendo que a necessidade dela em ter privacidade faz parecer que está a esconder algo.

Uma coisa é certa. Alma tem de estar preparada para as consequências dos seus atos, pois para a aluna, ela foi sempre uma mentora para esta jovem e quando Maggie teve a coragem de se manifestar e quem sabe, inspirar outras pessoas que sofrem, Alma não a apoiou. Agora, será que Alma sabe a verdade e simplesmente não a quer dizer? Se assim é, então porque não contesta? Será que aquilo que Maggie revelou é uma invenção? Estas são algumas das questões que vão surgindo.

After the Hunt é um drama inquietante e tenso cheio de segredos que representa uma metáfora filosófica complexa, onde a verdade depende de quem a diz e o confronto é inevitável, questionando o que é certo. Enquanto isso, temos um maior foco num escândalo de abuso sexual que é enrolado num jogo de poder, cujo discordar de alguém sobre um assunto delicado pode realmente trazer consequências. E também mostra que a perspetiva pode mudar tudo e que nós nem sempre vemos as coisas como elas são.

Apesar do tema abordado ser sensível e ter potencial, a história em si tem um lado emocionante que não é suficiente para impactar totalmente, fazendo com que se torne tão desconfortável de se assistir pelo facto do argumento perder-se ao longo do seu desenrolar, chegando a um ponto que desilude quem está a ver.

Dá para ver que o realizador não tem medo de arriscar e apresentar o seu ponto de vista. Porém, neste caso não o fez da maneira mais inteligente. Até em termos técnicos, houve erros, onde determinadas cenas foram filmadas numa luminosidade dura que se torna num ponto de distração que retira o foco no ator.  

Mesmo assim, foi interessante a banda sonora escolhida para este filme de suspense que coloca um certo mistério e contagem decrescente à narrativa, sendo que ter a universidade prestigiada de Yale como palco da mesma foi positivo. A escolha de algumas das músicas serem de língua portuguesa foi inesperada e boa. E tanto Julia Roberts, como Andrew Garfield entregaram boas performances.

Concluindo, After the Hunt era daqueles filmes que tinha uma maior curiosidade em assistir em 2025, mas infelizmente acabou por não ser aquilo que eu esperava e irá sem dúvidas, dividir opiniões.

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Filme "Tron: Ares" - o que esperar do novo capítulo desta saga

 

Chegou o momento para o próximo filme da inovadora saga Tron, com a estreia de Tron: Ares que é realizado por Joachim Rønning e tendo sido baseado nas personagens criadas por Steven Lisberger e Bonnie MacBird.

O elenco é composto por Jared Leto, Greta Lee, Evan Peters, Hasan Minhaj, Jodie Turner-Smith, Arturo Castro, Cameron Monaghan, Gillian Anderson e Jeff Bridges.

A trama segue um programa sofisticado, Ares, que é enviado do mundo digital para o mundo real numa missão perigosa, marcando o primeiro encontro da humanidade com seres de I.A.

Cada vez mais estamos a evoluir para uma tecnologia mais sofisticada, onde a I.A. é o destaque principal, sendo que já foram retratados de diversas maneiras, como seria o futuro da humanidade perante o desenvolvimento da tecnologia.

Divulgação: Disney

Neste caso, Ares é um programa de segurança de excelência que é também considerado como o soldado perfeito e possui uma inteligência que ultrapassa qualquer tipo de expetativas. No entanto, este ser de I.A tem uma restrição relevante que é ter a capacidade de estar presente no mundo real durante cerca de 30 e tal minutos. Depois disso, é automaticamente destruído e regressa à rede que é o mundo digital onde foi criado.

Este sempre cumpriu com as ordens dadas pelo seu criador, sem questionar. Até que um dia, tudo mudou, quando começa a conhecer melhor o lado bom da humanidade, chegando a um ponto que surgem situações em que ele acaba por compreender qual é o significado de um sentimento e até a questionar determinadas ordens que recebe. Além disso, a premissa da narrativa transforma-se de um modo previsível na vontade dele em querer viver sem limites no mundo real.

Quando dois mundos estão prestes a colidir, tem tudo para correr mal. Porém, existe uma solução que pode evitar que isso aconteça. Por isso, começa a procura por um mito que pode ser a solução ideal não só para o Ares concretizar o seu desejo, mas para melhorar o futuro da humanidade.

Divulgação: Disney

Tron: Ares é um espetáculo visual impressionante que é acompanhado por uma banda sonora brilhante composta pela banda Nine Inch Nails que fica no ouvido. Este filme merece ser visto em IMAX pelos seus efeitos visuais e cenas de ação que atraem desde o início. No entanto, peca no seu argumento chegando a uma altura em que se torna desleixado e onde algumas personagens são meros figurantes. Já em relação às cenas de luta, estas poderiam ter sido mais bem desenvolvidas.

Pelo contexto visual e pela excelente banda sonora que vai sendo rodeada por um design criativo e um bom trabalho cinematográfico, é interessante ver o resultado desta produção desenrolada a um ritmo rápido, onde em algumas circunstâncias ficamos com a sensação de que estamos a experienciar o que está a acontecer no momento. E até foi engraçado ter uma adição dos anos 80 a algumas das suas cenas.

Este novo capítulo desta saga poderia ter sido mais bem aproveitado em termos de história, cenas de luta e desenvolvimento das personagens. Por isso, o melhor é não ir com nenhuma expetativa e deixar o seu lado mais visual e sonoro entreter.


sexta-feira, 3 de outubro de 2025

"The Smashing Machine: Coração de Lutador" - o que esperar deste filme protagonizado por Dwayne Johnson e Emily Blunt

 

Depois de ter sido aplaudido durante cerca de 15 minutos na estreia mundial do Festival de Veneza de 2025 e até recebido o Leão de Prata de Melhor Realizador que foi atribuído a Benny Safdie, The Smashing Machine: Coração de Lutador criou uma certa expetativa para o público.

Com Dwayne Johnson como protagonista que também teve Emily Blunt e Ryan Bader a completar este elenco, este filme independente é produzido e distribuído nos EUA pela A24.

Toda esta narrativa é inspirada na história verídica de Mark Kerr, lenda do MMA nos primórdios da UFC, onde apresenta um homem que está dividido entre a glória no ringue e o caos na vida pessoal, num retrato intenso sobre superação, vício e identidade.

É inicialmente focado no auge da sua carreira, sendo que em pleno ano 2000, ele enfrenta uma batalha interna marcada pelo vício, a pressão da vitória, o amor e a fragilidade das amizades.

Esta era uma era implacável para este desporto de combate, em que o mínimo erro podia deitar tudo a perder. E aquilo que não se vê e que acaba por ser o lado negro da coisa é a tensão constante que existe entre a glória exterior e o colapso interior que pode acontecer a qualquer momento.

Divulgação: A24 e NOS Audiovisuais

The Smashing Machine: Coração de Lutador apresenta como um desporto tão brutal e exigente pode ter o seu lado menos bonito, sendo que se transforma numa batalha interna que envolve ter de fazer sacrifícios e lidar com vícios perigosos e todo o tipo de emoções que vão surgindo. Enquanto isso, vai percorrendo um caminho com um tom obscuro que acompanha a queda e a luta pela redenção de um campeão, em que não basta ter só força. E também explora a resiliência profunda, a trajetória desafiante e o lado mais vulnerável deste protagonista que acreditava plenamente que nada o iria deitar abaixo e que nunca iria sentir a sensação de perder um combate.

É interessante assistir a um registo completamente diferente do trabalho de representação de Dwayne Johnson que iniciou a sua carreira nos ringues da WWE. Dá para perceber que foi um papel bastante rigoroso para esta figura emblemática que deu vida ao icónico Mark Kerr, um lutador que entrou numa rota de colisão com os seus próprios limites e cujo sucesso desportivo já não era suficiente para o manter de pé. E houve momentos que deu para sentir o impacto emocional que a interpretação de Dwayne Johnson quis transmitir deste lutador que teve de enfrentar os seus próprios demónios, enquanto testava os seus limites físicos e morais. Por isso em algumas cenas, ele com o seu desempenho conseguiu surpreender pela positiva.   

Para além disso, houve uma dinâmica que caso tivesse sido mais explorada, teria sido uma forma de melhorar significativamente a trama geral. Neste caso, seria a relação de companheirismo entre Mark Kerr e Mark Coleman que poderia ter trazido uma vantagem significativa para o resultado desta produção. Além disso, ocorreram alturas em que a pessoa fica com mais interesse em saber mais sobre a carreira e jornada de Mark Coleman do que acompanhar o inapropriado desequilíbrio que existiu em contar a história do próprio Mark Kerr.

Como admiradora de artes marciais, os combates para mim foram um dos destaques, sendo que a pessoa sente um pontinho de adrenalina quando está a assistir. Também foi boa ideia mostrarem alguns dos treinos de preparação que são necessários para que os lutadores estejam no seu melhor nível.

Divulgação: A24 e NOS Audiovisuais

Em relação ao papel de Emily Blunt como Dawn Staples, existiram alturas em que perdia a sua relevância, chegando a protagonizar cenas mais cansativas. No entanto, uma das cenas mais poderosas do filme foi uma discussão intensa e esgotante entre as personagens Mark Kerr e Dawn Staples que se tornou num ótimo trabalho de representação, tanto de Dwayne Johnson, como de Emily Blunt.

Num modo geral, The Smashing Machine: Coração de Lutador é um filme de superação que foi mal aproveitado, perdeu um pouco o seu controlo e poderia ter sido apresentado de uma forma mais interessante. É que ficou tão preso a determinados períodos que levou a caminhos sombrios que perderam o encanto. E que acabaram por influenciar e trazer um rumo desequilibrado na sua narrativa, chegando a perder-se por diversas vezes. Assim, a sua duração não deveria ter sido tão longa como foi.  

Não é um filme mau, sendo que a narrativa em si poderia ter sido organizada de um modo diferente e até ter tido uma melhor abordagem em pontos mais interessantes relacionados com este desporto de combate, os respetivos bastidores e as dificuldades que os lutadores sentem realmente na pele. Mas infelizmente, não foi o resultado esperado.


sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Filme "One Battle After Another" é um espetáculo de cinema implacável e verdadeiramente americano

 

Chegou um dos grandes filmes de 2025! One Battle After Another (Batalha Atrás de Batalha, como título em português) é realizado por Paul Thomas Anderson, um dos mestres mais aclamados na realização da atualidade.

O elenco reúne o trio Leonardo DiCaprio, Sean Penn e Benicio Del Toro, sendo que se juntam a eles, Regina Hall, Teyana Taylor, Chase Infiniti, Wood Harris e Alana Haim.

Esta é a história de Bob (Leonardo DiCaprio) que vive há anos em fuga, tentando deixar para trás um passado feito de confrontos e perdas. Mas, quando o destino o obriga a regressar, descobre que há batalhas que não podem ser evitadas. Entre memórias que assombram e inimigos que regressam mais fortes, Bob terá de enfrentar a luta definitiva: proteger a filha Willa (Chase Infiniti) e descobrir até onde pode ir um pai pelo amor à família.

Aqui temos Bob, um sobrevivente e um talento nato para explosivos que fez parte de um grupo revolucionário. Mas, que depois teve de desaparecer e assumir uma nova identidade, tornando-se assim, em alguém tão paranoico e convencido de que mais cedo ou mais tarde, o seu passado lhe irá fazer uma visita.

Divulgação: Warner Bros. Pictures Portugal e Cinemundo

One Battle After Another é uma viagem intensa, explosiva e completamente caótica de sobrevivência, amor incondicional e redenção, tendo sido envolvida num tom humorístico bem peculiar. E que se transforma numa obra cinematográfica extraordinária, em que cada uma das suas cenas é perfeitamente executada.  

Esta é daquelas produções em que a pessoa pode esperar pelo inesperado, principalmente em termos técnicos. Uma das cenas de maior destaque vai para a perseguição que parecia que nunca mais acabava e que trouxe uma sensação imediata de que estávamos realmente a perseguir o carro em frente, chegando a um ponto que se podia sentir algumas tonturas, devido às características da estrada e pelo ritmo da cena ser mais acelerado.  

Este é um drama psicológico poderoso com um visual brilhante e arrebatador que é repleto de violência, sendo constituído por uma narrativa impactante que mostra a fragilidade da humanidade, enquanto mistura bons momentos de ação e de suspense, onde não faltou diferentes combinações de comédia. Nesta história com relevância política, revolta e cheia de conflitos e tensão, onde o ser humano é constantemente testado e até traído, também iremos ver que cada detalhe importa e tudo é desenvolvido com criatividade e inteligência.

Divulgação: Warner Bros. Pictures Portugal e Cinemundo

O elenco foi bem escolhido, sendo que num geral, as dinâmicas entre as personagens foram equilibradas e engraçadas de se observar. Um desses exemplos vai para as personagens desempenhadas por Leonardo DiCaprio e Benicio Del Toro que tiveram cenas que trouxeram um lado mais descontraído a esta história arrojada. Já Chase Infiniti que se estreava no grande ecrã foi uma ótima surpresa no trabalho que teve com a sua Willa, sendo que as suas cenas partilhadas com a personagem arrogante e perigosa interpretada por Sean Penn prenderam a atenção. No entanto e infelizmente, houve personagens que não tiveram grande interesse e que até se tornaram irritantes sempre que apareciam no ecrã.    

One Battle After Another é um filme ousado e uma aposta acertada com uma excelente qualidade que proporciona ao espetador uma adrenalina imediata com todo o caos envolvido e o perigo no qual as personagens se vão encontrando. Aqui é-nos mostrado um mundo semelhante ao nosso atual, onde neste caso, temos uma revolução composta por elementos extremamente dedicados à sua causa que se sacrificaram e atingiram significativamente os seus alvos, levando a que fossem bem-sucedidos por algum tempo. Enquanto isso, transmite a mensagem de que há batalhas de que não podemos escapar e mostra que quando temos um propósito e estamos a lutar pela nossa família surge uma capacidade única de determinação para fazer o que for preciso.

Este é absolutamente um espetáculo de cinema implacável e verdadeiramente americano que apresenta o peso da realidade e é acompanhado por uma ótima banda sonora que traz o tom certo em cada uma das suas cenas. E também é um dos maiores filmes de 2025, cuja experiência precisa de ser vivida em IMAX® e que merece o devido reconhecimento.

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Filme "The Long Walk" - o que esperar da adaptação cinematográfica de mais uma obra de Stephen King

 

Chegou a adaptação cinematográfica de mais uma obra de Stephen King! The Long Walk é uma produção de terror realizada por Francis Lawrence.

O elenco é constituído por Judy Greer, Mark Hamill, Cooper Hoffman, David Jonsson, Ben Wang, Charlie Plummer, Cooper Hoffman, Garrett Wareing, Jordan Gonzalez, Joshua Odjick, Tut Nyuot e Roman Griffin Davis.

Ambientado num futuro distópico, acompanha um grupo de 100 adolescentes que se inscrevem num concurso anual arriscado. O vencedor ganha o que quiser pelo resto da sua vida, enquanto todos os perdedores são condenados à morte. Para ganhar, é preciso seguir duas regras: não parar e andar mais rápido do que 6,4 km/h.

Por isso, cada passo é uma escolha e desacelerar não vai ser uma opção!

Tudo isto desenrola-se nos Estados Unidos perante um regime autoritário, onde este grupo de jovens participam numa competição inédita que implica caminhar sem parar até que reste apenas um sobrevivente. Aconteça o que acontecer, não se pode parar. Senão, irão pagar o preço.

Propositadamente é referido que qualquer um dos participantes pode ganhar, mas não podem todos ganhar. Para isso têm de andar ou então, são alvejados mortalmente.

The Long Walk apresenta uma realidade pura e dura de um regime militar levado ao extremo, onde proporciona uma experiência radical emocionalmente devastadora que envolve a audiência desde o início ao fim, apesar de haver cenas que podem deixar alguns desconfortáveis. Por isso, pode acontecer não ser adequada para os mais sensíveis.

No entanto, este concurso anual mostra como depois de uma guerra que mudou a ordem mundial fez com que os comportamentos destes seres humanos chegassem a um nível tão obscuro de intensidade, brutalidade e de crueldade que ultrapassam todos os limites daquilo que é aceitável.

Surgem alturas em que ficamos com a sensação de que estamos presentes em cada etapa desta loucura, a caminhar com eles, lado a lado e a acompanhá-los nesta jornada bastante real que leva qualquer um à exaustão. E este é sem dúvida, um desafio que poucos conseguiriam enfrentar e a própria pessoa chega a questionar-se, o que faria no lugar deles para vencer. Além disso, dá para ver o próprio desgaste físico e emocional dos atores que interpretam estas personagens, sendo que tiveram de fazer uma preparação específica para as filmagens desta longa caminhada.

A narrativa foi desenvolvida a um bom ritmo, mesmo que para alguns pode tornar-se um pouco cansativa. Contudo, acabou por ter as suas falhas, como a falta de desenvolvimento na maioria das personagens que fez com muitos dos jovens fossem indiferentes, facilmente esquecíveis e assim, acabava-se por não se criar qualquer tipo de conexão. Depois, poderia ter sido mais bem aprofundado as razões que estão por trás desta competição e ainda, saber mais sobre as características deste mundo destruído onde a trama se insere. E se tivesse sido mais imprevisível, então seria uma mais-valia.

Um dos grandes destaques vai para as interações entre as diferentes personagens, umas que foram mais profundas do que outras. Mas, foi graças à dinâmica e cumplicidade entre a dupla desempenhada muito bem por Cooper Hoffman e David Jonsson, que foram os responsáveis por prender a atenção do público ao longo desta caminhada. Eles conheceram-se no começo desta marcha e devido a tudo aquilo que tiveram de passar acabaram por automaticamente e de um modo natural, criar uma ligação imbatível que apresenta o significado real do que é fazer parte de uma irmandade. E por isso, desde o início, o espetador cria uma empatia imediata por estas duas personagens que faz com que se queira acompanhar mais esta longa caminhada, enquanto se torce por elas.

Além disso, temos a oportunidade de assistir a um registo diferente do trabalho de Mark Hamill que dá vida ao Major e que é a figura responsável por liderar esta competição. Mesmo não tendo muito tempo de ecrã, este antagonista psicótico e aterrorizante destacou-se desde o primeiro instante com a sua frieza e os seus atos tiranos. E é por isso, que faz com que o público sinta repulsa e até ódio por ele, torcendo assim, para que ele tenha o final que realmente merece.

The Long Walk é uma produção intensa e emocionante que tem a capacidade de entreter com sucesso o público, devido à sua história perturbadora, tensa e repleta de uma violência sem filtros. Podem até existir ligeiras semelhanças com a saga Hunger Games, mas mesmo assim, é apresentado como um filme sólido de terror psicológico que mostra a mente a pregar partidas e ainda, testa o estado mental de cada um, sendo que acompanhamos o estado em que o ser humano pode chegar em situações de completa exaustão. Tudo isto cria um impacto brutal para quem for assistir.

Garantidamente, The Long Walk ficará marcado na história deste género cinematográfico.

Então, preparados para esta longa caminhada tão diferente e fora do comum? Uma coisa é certa! Este thriller enrolado num ambiente militar de horror não deixará ninguém indiferente!