sexta-feira, 19 de junho de 2020

Minissérie "The Great" com Elle Fanning e Nicholas Hoult - a história de "Catherine - The Great" da Rússia, num modo sarcástico, divertido e pouco convencional



A minissérie "The Great" é a nova aposta do canal Hulu, que é transmitida no nosso país, através da HBO Portugal. É uma comédia com algum drama à mistura, constituída atualmente por 10 episódios, que conta ligeiramente a história de Catherine ("The Great"), a Imperatriz da Rússia, num modo sarcástico, divertido e pouco convencional.

Esta é baseada numa peça de Tony McNamara de 2008, que acaba por ser o mesmo responsável pela criação e pelo guião desta adaptação. Tanto ele como Elle Fanning são alguns dos seus produtores executivos.

A história desenrola-se à volta de Catherine (Elle Fanning), durante a sua juventude, o período em que esteve casada com o Imperador Peter III da Rússia (Nicholas Hoult) e a preparação de um golpe de estado para retirar o seu marido do poder. 

O elenco é constituído por Elle Fanning (Imperatriz Catherine), Nicholas Hoult (Imperador Peter III), Phoebe Fox (Marial), Sacha Dhawan (Orlo), Charity Wakefield (Georgina Dymova), Gwilym Lee (Grigor Dymov), Adam Godley (Arcebispo Archie), Douglas Hodge (General Velementov), Belinda Bromilow (Tia Elizabeth), Bayo Gbadamosi (Arkady), Sebastian de Souza (Leo Voronsky) e Louis Hynes (Vlad).


Esta figura tão poderosa e histórica já foi contada por diversas vezes, mas esta versão é completamente diferente daquilo que estamos à espera. Quando estamos a assistir a uma série histórica não temos a oportunidade de ver um lado mais cómico destas personagens. E mesmo que algumas das partes que acompanhamos sejam apenas ficção, não deixa de ser interessante de ver e também de achar piada.

Neste original da Hulu, é engraçado quando a própria série vai revelando que a história não é totalmente verdade, por isso, acredito que quando alguém resolve começar a acompanhar a mesma, já está informado e preparado para ver uma versão mais divertida, com alguns factos históricos em que não é usual isso acontecer noutras séries históricas.

Esta história invulgar torna-se surpreendente à sua maneira no modo como conseguem transformar diálogos que eram suposto serem mais sérios e complexos, em cenas de humor, em que acabam por serem bem inseridos, não tornando-se assim, em piadas secas. Também é constituída por violência e crueldade, que são representadas de formas inesperadas. 

Para além disso também temos a oportunidade de assistir a alguns tipos de torturas que são invulgares e podemos ver planos que têm tudo para dar errado, mas às vezes até correm bem ou então, ouvir várias piadas diferentes, relativamente a temas da sexualidade. 


Nas séries de época não é costume ver tantas faltas de respeito, como acontece em The Great. Neste caso, existe uma liberdade de expressão bastante superior ao que poderíamos estar à espera de ver numa corte de qualquer monarquia, mas isso não deixa de ter a sua piada, apesar de achar que por vezes, há um certo exagero em determinadas cenas. Também é engraçado observar, que muitos dos diálogos estão adaptados à época, sendo alguns sarcásticos, em vez de serem dramáticos, nos quais a criatividade acaba por ser muito importante neste caso.  

Temas que poderiam ser considerados como tabus naquela época, não acontecem nesta história, pois para estas personagens é algo de muito frequente de acontecer e por isso não questionam e também não criticam. Também tinham determinadas tradições, tais como partir os copos, depois de brindarem e gritarem Huzzah!

Ao longo dos episódios, podemos acompanhar uma corte muito mais animada e bem-disposta, do que estamos habituados a ver, pois não existem limites, seja a nível da quantidade de bebidas ou de sexo. Para além disso também inclui bastante violência, mas tentam representá-la, de uma forma mais divertida, mas ao mesmo tempo, chocante.


Nesta história ocasionalmente verdadeira, acompanhamos uma jovem ingénua e inocente, que é cheia de sonhos e ideias para tornar a Rússia, num país muito melhor, através da introdução da arte, poesia e outros tipos de conhecimentos, que já faziam parte de outros países. Depois de viver algum tempo na Rússia e de sentir-se desiludida com o seu casamento, Catherine começa a perceber que este sítio tem ideias muito mais primitivas do que pensava e que era fundamental que acontecesse uma grande mudança no país. Mas para isso acontecer, Catherine terá de passar por diversos obstáculos impostos não só pelo seu marido Peter, mas também pelo clero, nobreza e os próprios militares, com o objetivo de alcançar o poder e assim, teria de planear um golpe de estado em segredo e introduzindo aos poucos, os seus aliados.

Quando Catherine chegou à corte russa, ela estava à espera de apaixonar-se e casar-se com um homem que realmente amasse, mas infelizmente isso não aconteceu, diminuindo cada vez mais, as suas expetativas perante ter uma vida com amor. Apesar de cada um ter o seu respetivo amante, isso não significava que a relação entre este Imperador e Imperatriz fosse fácil, pois acabavam por despertar um no outro, emoções improváveis e por vezes destrutivas.

Ela é uma mulher determinada, corajosa, lutadora e que não desiste, enquanto não for ela a governar a Rússia, por isso irá ter todo o cuidado para colocar o seu plano em marcha. Para além disso é muito otimista relativamente ao seu futuro e é uma pessoa culta, interessada, manipuladora, que sabe o que quer. Nestes episódios podemos acompanhar o crescimento e evolução desta Imperatriz que quer fazer a diferença na Rússia.


Um dia, Catherine recebe um amante chamado Leo, oferecido por Peter, com o objetivo de a fazer feliz. Leo é o filho de um dos melhores amantes da Rússia, acabando por ser o amante ideal, já que é estéril. A atenção de Catherine vai-se dividindo, entre a preparação do seu golpe e os momentos partilhados com Leo.

A forma como Elle Fanning interpreta esta personagem faz com que cative o público e que o mesmo esteja constantemente, a torcer pelo seu sucesso, devido a todas as ideias gloriosas que vai tendo para depois serem incluídas numa Rússia muito mais moderna. Acho que esta atriz utiliza muito bem a sua expressão corporal para representar esta Imperatriz. Assim, é interessante acompanhar a jornada desta personagem e ver situações em que existem misturas entre a ironia e o drama.


Nicholas Hoult representa um Peter amargo, mimado, infantil, agressivo e impulsivo de uma forma muito divertida, nos quais é o Imperador da Rússia e casa-se com Catherine, mas infelizmente não dá valor à mulher com quem se casou e tenta inferiorizá-la, sempre que tem uma oportunidade, por mais boas ideias que ela possa vir a ter. 

Esta personagem destaca-se pela sua personalidade exuberante e as suas atitudes imprevisíveis, que acabam por ter a sua piada. Nós temos a oportunidade de assistir a um lado deste ator, que não estamos habituados a ver e sem dúvida, é interessante acompanhar este papel caricato que pode ser uma pessoa muito bem-disposta e exibicionista, mas ao mesmo tempo violenta e vingativa, em que devido à sua influência na corte russa, torna-se complicado enfrentá-lo.

Este ator tem tido uma evolução muito positiva na sua carreira da representação, em que tivemos a oportunidade de ver papeis bem diferentes uns dos outros. Este encaixou muito bem no papel de Peter, na forma como foi explorando esta personagem, ao longo destes episódios. Acredito que tenha havido um processo longo de construção, relativamente à personagem do Peter.


Este imperador é um mau líder, gosta de festas, bebida, sexo, contar anedotas sem piada e não consegue criar boas estratégias para lidar com a guerra contra os suecos. 

Peter quer ser amado pelo seu povo e ter um herdeiro, mas tem atitudes inconscientes e sente-se completamente à vontade de falar com qualquer pessoa sobre a sua sexualidade. Para além disso, também achei engraçado, a forma como Peter conta as suas piadas na corte e apesar de no início, as pessoas não se rirem por não acharem graça, acabam por fazê-lo, de um modo artificial, mas que para Peter é uma gargalhada genuína e verdadeira.


Considero que algumas das cenas partilhadas por Catherine e Peter são hilariantes de assistir, porque mostram um casal improvável, que num dia podem aliar-se a um objetivo comum, mas no outro podem estar de costas voltadas e a pensarem em formas de prejudicarem o outro. Por vezes é difícil, a pessoa não se rir de determinadas situações que vão sucedendo, que por mais exageros que possam existir, não deixam de ter a sua piada. Assim, esta história acaba por ter um humor improvável, mas divertido ao mesmo tempo, que vai surpreendendo cada vez mais o espetador.

Nesta altura, as mulheres não eram mesmo valorizadas, nem podiam ter ideias inovadoras e também houve quem achasse que a função principal destas, de servir os outros, como por exemplo, os maridos respetivos. Por isso, estas não podiam ser cultas, nem aprender a ler. Assim, Catherine resolveu criar uma escola para mulheres, mas infelizmente acabou por ser rejeitada pelo Imperador. Esta não foi nem seria a primeira da lista de ideias que seria recusada por Peter.

Chega um momento em que Peter começa a apaixonar-se por Catherine e começa a fazer-lhe algumas vontades, tais como incluir exibições de ciência e de arte, mas será que estas pequenas mudanças irão durar muito tempo? 


Para além de Catherine e Peter, também existem personagens bem interessantes nesta história. Orloy é um homem inteligente, que torna-se num dos aliados principais de Catherine no desenvolvimento do golpe de estado, mas por vezes, o seu nervosismo sempre foi mais forte do que ele. Depois temos, Velementov, que é um general que está sempre bêbado, mesmo nas horas de serviço, mas sempre teve um interesse especial em Catherine, sendo uma das figuras fundamentais para meter o golpe de estado, em prática. Por fim, temos Marial, que não gosta da forma como as coisas são feitas na Rússia e tem como principal objetivo, restaurar a sua posição na corte e assim será a primeira aliada de Catherine, em que não vai deixar nada por dizer. 

Considero que todas as dinâmicas da história são bem construídas, nos quais as emoções são bem representadas e podemos chegar à conclusão que todas as personagens foram fundamentais para um bom resultado final.

Apesar de ser uma comédia e não ser totalmente adaptado ao original, é fundamental que o espetador esteja na mesma com atenção, para não se perder, pois pode acontecer algumas informações relevantes passarem numa velocidade, que a pessoa nem dá conta, mas considero que a história apesar de ser desconfortável para algumas pessoas, acho que vai ganhando aos poucos, interesse por parte do público.

Para além de um argumento bem escrito, a parte técnica também está de parabéns. O modo como a corte russa é representada através dos cenários, figurinos, penteados, fotografia, danças, arte retratam muito bem a época em questão. Também mostram tudo aquilo que os russos mais valorizavam naquela altura, como por exemplo, a posição respetiva na corte ou a necessidade de ter de existir guerra ou mesmo a forma como as personagens tinham de se comportar.

Este drama satírico é constituído por uma criatividade muito impressionante, pois não é fácil transformar uma série histórica numa comédia e por vezes existe o risco de cair no exagero, tornando-se assim, aborrecida. Num geral, conseguiu haver um equilíbrio na forma como as piadas iam sendo contadas, mas houve algumas cenas que acabaram por ultrapassar um pouco, os limites de exagero, apesar de ser algo que já estaríamos à espera.


Quando a pessoa resolver ver qualquer série história, aumenta a sua curiosidade em querer saber mais sobre o que aconteceu na realidade e como funcionava a monarquia de cada país.   

Esta é uma história deslumbrante e completamente oposta do original, inspirada em alguns factos históricos, onde uma Imperatriz sempre teve uma grande imaginação, de como seria cumprir o seu destino, mas infelizmente, nem tudo correu como o esperado, pois a realidade da Rússia não era aquela que Catherine julgava ser a verdadeira. Mesmo assim, Catherine não irá desistir, criando um golpe de estado, com o objetivo de trazer mudanças para a Rússia.  


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