Nomadland – Sobreviver na América é um dos filmes mais falados no
momento e já está disponível nos cinemas portugueses, sendo que foi
recentemente o vencedor na edição 2021 da cerimónia dos Óscares nas categorias
de Melhor Filme, Melhor Atriz (Frances McDormand) e Melhor Realização (Chloé
Zhao), mas também venceu outros prémios consagrados, tais como quatro BAFTA (Melhor
Filme, Melhor Realização, Melhor Atriz e Melhor Fotografia), dois Globos de
Ouro para Melhor Filme de Drama e Melhor Realização, um Leão de Ouro de Melhor
Filme, no Festival de Cinema de Veneza, entre outros.
Este drama de 2020 é baseado na
obra de 2017, Nomadland: Surviving
America in the Twenty-First Century, de Jessica Bruder, com argumento e
realização de Chloé Zhao. O elenco é constituído por Frances McDormand (Fern),
David Strathairn (Dave), Linda May (Linda), Charlene Swankie (Swankie) e Bob
Wells (Bob).
A história apresenta Linda May,
Swankie e Bob Wells, verdadeiros nómadas, como mentores e companheiros de Fern (Frances McDormand) durante a sua
viagem pelas vastas paisagens do oeste americano. Após ter ocorrido o colapso
económico de uma cidade empresarial situada na zona rural de Nevada, Fern resolve preparar a sua carrinha e
partir pela estrada fora, explorando uma vida fora da sociedade convencional,
como uma autêntica nómada moderna.
Divulgação: NOS AUDIOVISUAIS
São vários os efeitos que a crise económica pode ter na vida de qualquer um, mas no caso de Fern implicou uma mudança súbita na sua vida, sendo que esta é uma mulher viúva que perdeu tudo e que acabou por comprar uma carrinha e assim, viajar pelas estradas e vastas paisagens do oeste americano, ao mesmo tempo que foi arranjando trabalhos temporários para que conseguisse sobreviver sozinha.Fern é uma mulher de 60 anos que fez uma escolha de vida corajosa e
ousada que foi começar uma vida nova e sozinha como uma nómada e seguir um
futuro incerto, pois já não tinha mais nada a perder. Ela acaba por estar à
procura de um tipo de significado para seguir com a sua vida depois de ter
perdido o seu emprego numa fábrica que fechou em Empire e o seu marido, mas pelo caminho vai tendo trabalhos
temporários, alguns deles sazonais. Será que ela vai encontrar as respostas que
procura?
Após abandonar a cidade de Empire, Fern está constantemente a movimentar-se na sua carrinha que foi
remodelada para funcionar como um lar bem simples e prático que contém as memórias
da sua vida passada. Assim, ela é daquelas pessoas que nunca fica muito tempo
no mesmo sítio, já que ela visita diferentes acampamentos ao longo do deserto
ou fica em estacionamentos por pouco tempo e por isso, nós vamos acompanhando o
seu dia a dia na sua vida como nómada.
Divulgação: NOS AUDIOVISUAIS
Ao longo da sua jornada, Fern vai fazendo descobertas e tendo uma
transformação eficaz numa nómada dos tempos modernos que tem um determinado
significado e acaba por ser uma autêntica aventura para ela, sendo que vai
conhecendo pessoas desta comunidade que lhe dão lições bem úteis para viver neste
estilo de vida bem específico. Estas são pessoas com quem ela se cruza que lhe
deram conselhos e dicas de como sobreviver ou lições sobre a vida num geral e
que não podem estar presentes a toda a hora, mas que sem dúvida, deixaram uma
marca na vida de Fern como
companheiros, amigos, mentores e confidentes.
Divulgação: NOS AUDIOVISUAIS
Fern é uma personagem complexa, forte e impaciente, mas também
humilde e simpática que sabe ter uma conversa séria quando é necessário e
também sabe tratar todos muito bem e com respeito. Após o fecho da fábrica onde
trabalhava, ela acaba por ficar maioritariamente dependente de um trabalho que
vai tendo na Amazon em períodos específicos do ano. Ela é uma mulher que vive
uma vida solitária e repleta de sofrimento devido a várias perdas que foram
surgindo na sua vida, mas lida de um modo muito próprio, sendo que dá para ver
que existe uma solidão e uma tristeza no olhar de Fern.
Esta é uma mulher muito prática
que tem uma nova rotina e se define por não ser uma pessoa sem um lar, mas sim
alguém que só não tem uma casa. Uma vida sem grandes confortos é o suficiente
para ela estar bem. Quando uma expressão facial transmite aquilo que precisamos
de saber sobre o modo como alguém se está a sentir sem serem necessárias palavras
e isso é algo que acontece frequentemente com Fern.
Frances McDormand está de
parabéns por um desempenho notável em que consegue mostrar ligeiramente e com
eficácia, as vulnerabilidades da sua personagem e por isso, ela mereceu o Óscar
de Melhor Atriz pela sua interpretação de Fern.
Infelizmente é frequente quando
um negócio falha ou neste caso, uma fábrica que teve de fechar as suas portas, devido
a uma crise económica, fazendo com que muitas pessoas perdessem a sua fonte de
sustento e levando a escolhas de vida inevitáveis. Por isso, as pessoas são
afetadas com mudanças repentinas e por vezes, radicais nas suas vidas depois de
sofrerem grandes perdas.
Divulgação: NOS AUDIOVISUAIS
Num mundo que não dá valor a todos, uma vida de um nómada nem sempre se inicia por opção, mas sim por pura necessidade e muitas vezes devido a razões económicas que é uma realidade para muitos americanos. A vida na estrada não é fácil, pois estas pessoas passam por situações de perigo, frio e pobreza e sem dúvida, que é uma longa jornada que têm de percorrer, passando por experiências e enfrentando escolhas que vão ocorrendo ao longo da sua viagem.
Temos a oportunidade de
acompanhar uma jornada que inclui a história e a vivência de verdadeiros
nómadas que são pessoas que não têm casa e vão viajando pelo país nas suas
carrinhas ou caravanas que têm as suas próprias rotinas, culturas, costumes e
tradições que escolheram este caminho por vontade própria ou devido às
circunstâncias que ocorreram nas suas vidas. É uma jornada constituída por
altos e baixos que mostra uma realidade crua em que algumas pessoas vivem, dilemas
que vão tendo pelo caminho, situações pelas quais têm de passar para
conseguirem sobreviver com o mínimo de necessidades e o que fazem quando há
falta de recursos.
Divulgação: NOS AUDIOVISUAIS
Este filme aborda vários temas
que são relevantes para a sociedade como é o caso do capitalismo e as
consequências devastadoras que pode vir a ter para a população, uns mais do que
outros. Seja o modo como se convive com a solidão e se lida com o luto, noções
sobre o que significa viver de verdade, a desigualdade, as injustiças e os
diferentes tipos de expetativas que podem existir não só para os nómadas, mas
também para os seus familiares que nem sempre compreendem totalmente este modo
de vida.
Esta é uma história bem real sobre
pessoas e as suas respetivas vidas que têm valor e ajudam a refletir não só
sobre a nossa existência como seres humanos, mas também pela forma como
decidimos viver a nossa vida, onde damos importância a coisas que nem sequer
valem a pena em vez de valorizarmos aquilo que mais importa. Ao longo deste
caminho vai mostrando as dificuldades e adversidades que qualquer um de nós
pode vir a passar ao longo da nossa vida.
Este é um bom drama que é intenso
e onde entrega mensagens importantes que podem fazer toda a diferença no modo
como interpretamos a vida e as expetativas que vamos tendo ao longo do caminho,
pois a pessoa acaba por processar tudo aquilo que está a ver, principalmente
nos seus momentos mais silenciosos e deixa-nos com uma mistura de sensações e
pensamentos que vamos questionando e acabamos por inserir num momento de pura reflexão
e valorizando aquilo que é mais importante.
Divulgação: NOS AUDIOVISUAIS
Basta uma mensagem tão simples
como “nos vemos na estrada” que dá
uma sensação de esperança e ao mesmo tempo de afinidade de que se vai voltar a
ver essa pessoa num futuro reencontro, porque a comunidade dos nómadas que tem
uma ligação especial com a Natureza e passam bons momentos juntos não só se
apoiam uns aos outros, mas também mostram a realidade dura em que vivem, a sua
resiliência, luta diária, adaptação e criatividade num modo de vida bem
diferente do que qualquer um possa estar habituado e o desejo de viverem uma
vida tranquila por mais obstáculos que possam vir a surgir em que podem fazer
muito com tão pouco disponível e onde a solidão não importa.
Nomadland tem um tema interessante que apresenta com uma
sensibilidade e com uma qualidade técnica maravilhosa, principalmente a nível
de cinematografia e montagem, sendo constituído por um ritmo bem lento, mas de
certa forma leve e bem simples, mesmo que aborde temas significativos para a
sociedade que deixa qualquer um a pensar e por uma fotografia muito bem
adequada à história que estão a contar. A realização é cuidadosa e organizada
de um modo inteligente, em que tenta mostrar o ponto de vista de cada uma
destas pessoas de uma forma próxima, sem complicar e fazendo de um modo bem natural e fluído, mas
acima de tudo, respeitoso em que os enquadramentos apresentam exatamente aquilo
que precisamos ver.
Divulgação: NOS AUDIOVISUAIS
O que não faltam são planos
abertos que mostram paisagens bonitas e naturais que podem ser desertos
americanos, em que ao mesmo tempo são locais pelo qual a pessoa está num
isolamento completo e a viver muitas vezes no meio do nada, mas dá para
perceber que acabam por estar em contacto com a Natureza e com uma grande
sensação de liberdade.
Esta é uma história sensível, humana,
bem delineada e com uma boa credibilidade que não cria exageros, mas que representa
a vida de uma comunidade diferente que é feita com a participação de pessoas
reais que são experientes na vida nómada e estão a contar a sua história sobre
o seu estilo de vida que vai tendo condições bem peculiares, mostrando as
dificuldades pelas quais vão passando, pois não é uma vida fácil de se viver e
apresenta a simplicidade da vida de um nómada, o seu lado mais bonito e outras
vezes bem duro, mas acima de tudo, livre.
Divulgação: NOS AUDIOVISUAIS
Nomadland é um drama com diálogos interessantes que cria uma
discussão e apresenta a essência do que é viver como um nómada que vai sendo
mostrado em diversos ângulos. Este consegue criar o seu impacto para com o
público que consegue identificar-se com a história que está a ser contada, prendendo
assim, a sua atenção e onde também explora as relações humanas. E temos a
oportunidade de olhar para a vida através da perspetiva dos nómadas, dando
valor às pequenas coisas da vida, criando assim, uma certa curiosidade e
interesse em saber mais sobre este tipo de vida e tudo o que é implicado.
Este é um filme de reflexão que consegue misturar bem o real com a ficção, cumpriu com o seu propósito e toca a pessoa com a sua história delicada que é contada com facilidade e é realizada com todo o cuidado e elegância, mas que se torna numa experiência simples, mas enriquecedora para o espetado por tudo aquilo que vai aprendendo, entre elas, lições vitais sobre a vida. Pode não ser muito bem compreendido por todos e assim podem gostar, como podem não gostar, mas é uma obra cinematográfica que vale a pena ver e ter assim, uma noção sobre um tema que não é muito falado e assim, aprendermos mais sobre esta comunidade e todas as vantagens e desvantagens sobre as suas escolhas de vida ou circunstâncias que fizeram com que tivessem de tomar decisões difíceis.
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