sábado, 11 de março de 2023

Série "Carnival Row" da Prime Video - uma fantasia intrigante misturada com investigação criminal, ação e lutas bem coreografadas

 

Depois de um longo tempo de espera, finalmente estreia a segunda e última temporada da série dramática de fantasia, Carnival Row, sendo que poderá ser vista em exclusivo na plataforma da Prime Video. Esta é a co-produção da Amazon Studios e Legendary Television protagonizada por Orlando Bloom e Cara Delevingne, cuja primeira temporada estreou em 2019 com 8 episódios, enquanto o final da história é composto por 10 episódios. Este projeto baseia-se na obra de Travis Beacham designada por A Killing on Carnival Row, tendo como produtores executivos, o showrunner Erik Oleoson, Orlando Bloom, Cara Delevingne, Brad Van Arragon, Sarah Byrd, Jim Dunn, Sam Ernst, Wesley Strick e Travis Beacham.

Num mundo de fantasia, um detetive humano e uma fada reacendem um caso perigoso, onde a paz inquietante da cidade colapsa quando uma série de assassinatos revela um monstro inimaginável.

Toda a narrativa decorre numa cidade neo-vitoriana, onde criaturas mitológicas e humanos não se dão bem, mas que têm de coexistir, tendo por isso levado a conflitos constantes entre ambos, nos quais estas criaturas se escondem depois de fugirem da sua terra natal que tinha sido destruída pela guerra. Além disso, temos a oportunidade de acompanhar a investigação de uma série de homicídios por resolver.

Já a segunda temporada começa com o ex-inspetor Rycroft Philostrate, também conhecido como Philo (Orlando Bloom), que investiga uma série de assassinatos que criam tensão social. Vignette Stonemoss (Cara Delevingne) e o Corvo Negro planeiam vingar-se da opressão infligida pelos líderes humanos de Burgo, Jonah Breakspear (Arty Froushan) e Sophie Longerbane (Caroline Ford). Tourmaline (Karla Crome) herda poderes sobrenaturais que ameaçam o seu destino e o futuro de The Row. E, após escapar de Burgo e do seu vingativo irmão Ezra (Andrew Gower), Imogen Spurnrose (Tamzin Merchant) e o seu namorado Agreus Astrayon (David Gyasi) encontram uma nova sociedade radical que coloca em perigo os seus planos. Com os humanos e as fadas divididos e a liberdade em jogo, cada herói vai enfrentar dilemas e provas impossíveis que definirão a sua alma no épico final de Carnival Row.

Pode conter spoilers!

Divulgação: Prime Video

Inicialmente, Rycroft Philostrate, também conhecido como Philo era um inspetor da polícia de Burgo que investigava uma conspiração obscura mesmo no coração da cidade, mas acabou por deixar de ser inspetor já na segunda temporada. Ele é um veterano de guerra que esconde um segredo relacionado com as suas origens, pois ele é metade humano e metade fada, tendo vergonha de o reconhecer. Por isso, acredita que ele sofrerá as consequências se alguém descobrir a verdade. Philo tem uma relação muito especial e por vezes complicada com Vignette Stonemoss que vai tendo os seus desafios e o deixa diversas vezes num ciclo de dilemas.

Philo tem uma personalidade muito complexa que está repleta de traumas, vergonhas e de esqueletos escondidos no armário, sendo que temos a chance de o conhecer melhor através da introdução de flashbacks do seu tempo na guerra. Ele tenta dar o seu melhor no mundo, estando constantemente em conflito consigo mesmo, lidando com memórias dolorosas e enfrentando diversos inimigos, sem saber em quem realmente confiar. Esta é daquelas personagens que eu considero que teve um bom desenvolvimento ao longo dos episódios e é interessante ver o modo como ele enfrentou os demónios da sua mente e o seu papel fulcral em muitas das coisas que aconteceram na cidade.  

Divulgação: Prime Video

Vignette Stonemoss é uma fada refugiada com um sotaque irlandês que fugiu da sua terra natal para Burgo e tem de lidar com os preconceitos dos humanos e a forma como eles tratam o seu povo. No passado, ela teve um relacionamento amoroso com Philo, em que acreditava que ele tinha morrido na guerra, mas na realidade, ele sobreviveu e voltam a reencontrar-se em Burgo. Num dia, ela envolve-se com um grupo de fadas rebelde conhecido como Black Raven que comete crimes e luta a favor da liberdade do seu povo, mas nem sempre agem da melhor forma, colocando-a em perigo iminente.

Já na segunda temporada vamos ter a chance de perceber melhor qual é o principal propósito de Vignette, sendo que ela luta com determinação por liberdade e amor e transforma-se mais numa guerreira que não deixa que ninguém lhe impeça de fazer aquilo que ela acha que seja mais correto. Por mais adversidades que lhe possam suceder, ela é uma autêntica lutadora, não desiste e enfrenta cada obstáculo com garra e sem nunca perder a esperança.

Quando um mundo é partilhado entre humanos e criaturas com uma essência mágica que não se respeitam entre si, tem tudo para correr mal, podendo levar a consequências devastadoras. Tudo isto acontece porque há humanos que têm um ar de superioridade e não aceitam estes seres mágicos e por isso, tratam-nos como se fossem lixo, ao mesmo tempo que os querem simplesmente humilhar ou eliminar. Mesmo assim, este povo devastado por ter perdido o seu lar não desiste de lutar pelos seus direitos e faz o que for preciso para sobreviver.  

Divulgação: Prime Video

Um dos principais focos desta história é sem dúvida a divisão evidente que existe entre os humanos e as criaturas, nas quais a tensão aumenta a cada dia que passa e basta uma faísca para tudo correr mal, destruindo a paz e trazendo o caos para a cidade de Burgo. Muitas destas criaturas tornaram-se refugiadas no The Row, um local desconhecido para elas, onde passaram a ser constantemente discriminadas pelos moradores humanos por serem diferentes, chegando a um ponto que acabavam por ser mais facilmente vítimas dos homicídios que foram ocorrendo pelas ruas da cidade. Além disso, mantinham-se as dificuldades em sobreviver, devido à falta frequente de comida e com condições de habitação e de trabalho terríveis, onde nenhum deles estaria a salvo de possíveis perigos.  

A série em si retrata temas que são cada vez mais abordados na sociedade atual e são importantes que sejam discutidos, tais como, o preconceito, racismo, emigração, discriminação, pobreza, crítica e justiça social, fome, liberdade, refugiados, violência, prostituição, sexismo e muito mais. Também observamos a influência que a política, corrupção, o poder e as diferenças entre classes sociais pode ter na população, maioritariamente aquela que é mais frágil. E não irá faltar muitos sacrifícios, traições, tragédias, ameaças, investigações, mortes, conspirações, perseguições, guerra, explosões, lutas, rivalidades, chantagens, rituais com magia negra, vinganças e momentos em que se coloca o instinto de sobrevivência em prática ao mesmo tempo que cresce a esperança de se alcançar uma vida melhor.

Divulgação: Prime Video

Relativamente à história, esta tem os seus altos e baixos, sendo que nem sempre é concisa e podem surgir momentos em que a pessoa pode perder-se e notar algumas falhas. Contudo, a primeira temporada teve a capacidade de prender mais facilmente a atenção do espetador, criando expetativas altas para a continuação da narrativa. Enquanto com esta última temporada, isso já não sucede, onde ficamos com a sensação que falta alguma coisa e que até esperávamos muito mais depois do que nos foi apresentado inicialmente. Porém, acaba por ter um tom muito mais misterioso e a pessoa tem curiosidade em saber o que irá acontecer com cada uma das personagens.

Carnival Row é uma produção original com uma história intrigante que trabalha bem a sua mitologia e consegue representar perfeitamente a época vitoriana em que a história está inserida, sendo constituída por roupas típicas da altura e com os cenários muito bem construídos, apresentando Burgo, como uma cidade dividida entre o seu bairro mais luxuoso, onde vivem os humanos mais ricos e The Row, nos quais temos os mercados de rua tão característicos e bem detalhados, tendo as criaturas como os moradores principais que vivem num ambiente de maior pobreza.

Divulgação: Prime Video

A fotografia foi uma escolha acertada já que dá um ar mais obscuro e misterioso e ainda, a forma como filmaram muitas das cenas mais impactantes foi adequada. Os efeitos visuais e a qualidade da produção são fantásticos, tendo conseguido criar um mundo credível com um tom mais negro e preciso, nos quais vemos as características únicas de cada um destes seres mitológicos (asas das fadas, cornos dos faunos), e ainda retratando assuntos pertinentes para os dias de hoje, partindo de uma ideia bem pensada e diferente se formos comparar com outras séries de fantasia.

Carnival Row chegou ao fim da sua jornada e foi interessante ter acompanhado a mesma, sendo que podem haver personagens com finais mais previsíveis do que outras. Foi uma boa aposta que conseguiu entreter e é uma sugestão acertada para uma maratona e para quem gosta de histórias de fantasia misturadas com investigação criminal, ação e lutas bem coreografadas.

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