Depois de um longo tempo de espera, finalmente estreia a segunda e última temporada
da série dramática de fantasia, Carnival Row, sendo que poderá ser vista
em exclusivo na plataforma da Prime Video. Esta é a co-produção da Amazon
Studios e Legendary Television protagonizada por Orlando Bloom e Cara
Delevingne, cuja primeira temporada estreou em 2019 com 8 episódios, enquanto o
final da história é composto por 10 episódios. Este projeto baseia-se na obra
de Travis Beacham designada por A Killing on Carnival Row, tendo como
produtores executivos, o showrunner Erik Oleoson, Orlando Bloom, Cara
Delevingne, Brad Van Arragon, Sarah Byrd, Jim Dunn, Sam Ernst, Wesley Strick e
Travis Beacham.
Num mundo de fantasia, um detetive humano e uma fada reacendem um caso
perigoso, onde a paz inquietante da cidade colapsa quando uma série de
assassinatos revela um monstro inimaginável.
Toda a narrativa decorre numa cidade neo-vitoriana, onde criaturas
mitológicas e humanos não se dão bem, mas que têm de coexistir, tendo por isso levado
a conflitos constantes entre ambos, nos quais estas criaturas se escondem
depois de fugirem da sua terra natal que tinha sido destruída pela guerra. Além
disso, temos a oportunidade de acompanhar a investigação de uma série de homicídios
por resolver.
Já a segunda temporada começa com o ex-inspetor Rycroft Philostrate,
também conhecido como Philo (Orlando Bloom), que investiga uma série de
assassinatos que criam tensão social. Vignette Stonemoss (Cara
Delevingne) e o Corvo Negro planeiam vingar-se da opressão infligida pelos
líderes humanos de Burgo, Jonah Breakspear (Arty Froushan) e Sophie
Longerbane (Caroline Ford). Tourmaline (Karla Crome) herda poderes
sobrenaturais que ameaçam o seu destino e o futuro de The Row. E, após
escapar de Burgo e do seu vingativo irmão Ezra (Andrew Gower),
Imogen Spurnrose (Tamzin Merchant) e o seu namorado Agreus Astrayon
(David Gyasi) encontram uma nova sociedade radical que coloca em perigo os seus
planos. Com os humanos e as fadas divididos e a liberdade em jogo, cada herói
vai enfrentar dilemas e provas impossíveis que definirão a sua alma no épico
final de Carnival Row.
Pode conter spoilers!
Divulgação: Prime Video
Inicialmente, Rycroft Philostrate, também conhecido como Philo
era um inspetor da polícia de Burgo que investigava uma conspiração
obscura mesmo no coração da cidade, mas acabou por deixar de ser inspetor já na
segunda temporada. Ele é um veterano de guerra que esconde um segredo
relacionado com as suas origens, pois ele é metade humano e metade fada, tendo
vergonha de o reconhecer. Por isso, acredita que ele sofrerá as consequências
se alguém descobrir a verdade. Philo tem uma relação muito especial e
por vezes complicada com Vignette Stonemoss que vai tendo os seus
desafios e o deixa diversas vezes num ciclo de dilemas.
Philo tem uma personalidade muito complexa que está repleta de traumas,
vergonhas e de esqueletos escondidos no armário, sendo que temos a chance de o
conhecer melhor através da introdução de flashbacks do seu tempo na
guerra. Ele tenta dar o seu melhor no mundo, estando constantemente em conflito
consigo mesmo, lidando com memórias dolorosas e enfrentando diversos inimigos,
sem saber em quem realmente confiar. Esta é daquelas personagens que eu
considero que teve um bom desenvolvimento ao longo dos episódios e é interessante
ver o modo como ele enfrentou os demónios da sua mente e o seu papel fulcral em
muitas das coisas que aconteceram na cidade.
Divulgação: Prime Video
Vignette Stonemoss é uma fada refugiada com um sotaque irlandês que
fugiu da sua terra natal para Burgo e tem de lidar com os preconceitos dos
humanos e a forma como eles tratam o seu povo. No passado, ela teve um
relacionamento amoroso com Philo, em que acreditava que ele tinha
morrido na guerra, mas na realidade, ele sobreviveu e voltam a reencontrar-se
em Burgo. Num dia, ela envolve-se com um grupo de fadas rebelde
conhecido como Black Raven que comete crimes e luta a favor da liberdade
do seu povo, mas nem sempre agem da melhor forma, colocando-a em perigo
iminente.
Já na segunda temporada vamos ter a chance de perceber melhor qual é o
principal propósito de Vignette, sendo que ela luta com determinação por
liberdade e amor e transforma-se mais numa guerreira que não deixa que ninguém
lhe impeça de fazer aquilo que ela acha que seja mais correto. Por mais
adversidades que lhe possam suceder, ela é uma autêntica lutadora, não desiste
e enfrenta cada obstáculo com garra e sem nunca perder a esperança.
Quando um mundo é partilhado entre humanos e criaturas com uma essência
mágica que não se respeitam entre si, tem tudo para correr mal, podendo levar a
consequências devastadoras. Tudo isto acontece porque há humanos que têm um ar
de superioridade e não aceitam estes seres mágicos e por isso, tratam-nos como se
fossem lixo, ao mesmo tempo que os querem simplesmente humilhar ou eliminar. Mesmo
assim, este povo devastado por ter perdido o seu lar não desiste de lutar pelos
seus direitos e faz o que for preciso para sobreviver.
Divulgação: Prime Video
Um dos principais focos desta história é sem dúvida a divisão evidente que
existe entre os humanos e as criaturas, nas quais a tensão aumenta a cada dia
que passa e basta uma faísca para tudo correr mal, destruindo a paz e trazendo
o caos para a cidade de Burgo. Muitas destas criaturas tornaram-se refugiadas
no The Row, um local desconhecido para elas, onde passaram a ser
constantemente discriminadas pelos moradores humanos por serem diferentes,
chegando a um ponto que acabavam por ser mais facilmente vítimas dos homicídios
que foram ocorrendo pelas ruas da cidade. Além disso, mantinham-se as
dificuldades em sobreviver, devido à falta frequente de comida e com condições
de habitação e de trabalho terríveis, onde nenhum deles estaria a salvo de possíveis
perigos.
A série em si retrata temas que são cada vez mais abordados na sociedade
atual e são importantes que sejam discutidos, tais como, o preconceito,
racismo, emigração, discriminação, pobreza, crítica e justiça social, fome, liberdade,
refugiados, violência, prostituição, sexismo e muito mais. Também observamos a
influência que a política, corrupção, o poder e as diferenças entre classes
sociais pode ter na população, maioritariamente aquela que é mais frágil. E não
irá faltar muitos sacrifícios, traições, tragédias, ameaças, investigações,
mortes, conspirações, perseguições, guerra, explosões, lutas, rivalidades, chantagens,
rituais com magia negra, vinganças e momentos em que se coloca o instinto de
sobrevivência em prática ao mesmo tempo que cresce a esperança de se alcançar
uma vida melhor.
Divulgação: Prime Video
Relativamente à história, esta tem os seus altos e baixos, sendo que nem
sempre é concisa e podem surgir momentos em que a pessoa pode perder-se e notar
algumas falhas. Contudo, a primeira temporada teve a capacidade de prender mais
facilmente a atenção do espetador, criando expetativas altas para a continuação
da narrativa. Enquanto com esta última temporada, isso já não sucede, onde ficamos
com a sensação que falta alguma coisa e que até esperávamos muito mais depois
do que nos foi apresentado inicialmente. Porém, acaba por ter um tom muito mais
misterioso e a pessoa tem curiosidade em saber o que irá acontecer com cada uma
das personagens.
Carnival Row é uma produção original com uma história
intrigante que trabalha bem a sua mitologia e consegue representar perfeitamente
a época vitoriana em que a história está inserida, sendo constituída por roupas
típicas da altura e com os cenários muito bem construídos, apresentando Burgo,
como uma cidade dividida entre o seu bairro mais luxuoso, onde vivem os humanos
mais ricos e The Row, nos quais temos os mercados de rua tão
característicos e bem detalhados, tendo as criaturas como os moradores
principais que vivem num ambiente de maior pobreza.
Divulgação: Prime Video
A fotografia foi uma escolha acertada já que dá um ar mais obscuro e
misterioso e ainda, a forma como filmaram muitas das cenas mais impactantes foi
adequada. Os efeitos visuais e a qualidade da produção são fantásticos, tendo
conseguido criar um mundo credível com um tom mais negro e preciso, nos quais vemos
as características únicas de cada um destes seres mitológicos (asas das fadas,
cornos dos faunos), e ainda retratando assuntos pertinentes para os dias de
hoje, partindo de uma ideia bem pensada e diferente se formos comparar com
outras séries de fantasia.
Carnival Row chegou ao fim da sua jornada e foi interessante ter acompanhado a mesma, sendo que podem haver personagens com finais mais previsíveis do que outras. Foi uma boa aposta que conseguiu entreter e é uma sugestão acertada para uma maratona e para quem gosta de histórias de fantasia misturadas com investigação criminal, ação e lutas bem coreografadas.
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