sábado, 1 de julho de 2023

Série "Titans" - uma visão arriscada, sombria e inovadora que conseguiu prender imediatamente a atenção

 

Quando falamos em séries focadas em super-heróis, Titans é daquelas que tem dado que falar, devido ao modo como foi arriscando ao longo das suas quatro temporadas, tendo dividido opiniões.

Titans foi criado por Akiva Goldsman, Geoff Johns e Greg Berlanti, tendo sido baseado nos Novos Titãs da DC Comics. A série é um original HBO Max que estreou em 2018, sendo que pode ser vista na plataforma da Netflix.

O elenco é constituído maioritariamente por Brenton Thwaites (Dick Grayson/Robin/Nightwing), Anna Diop (Kory Anders/Starfire), Teagan Croft (Rachel Roth), Ryan Potter (Gar Logan/Beast Boy), Curran Walters (Jason Todd/Robin), Conor Leslie (Donna Troy/Wonder Girl), Minka Kelly (Dawn Granger/Dove), Alan Ritchson (Hank Hall/Hawk), Esai Morales (Slade Wilson/Deathstroke), Joshua Orpin (Conner/Superboy), Damaris Lewis (Blackstar), Joseph Morgan (Sebastian Sanger/Brother Blood), Iain Glen (Bruce Wayne), entre outros.

A série conta a história de uma nova equipa de super-heróis que se unem na luta contra o mal por vários locais, tais como, Detroit, São Francisco e mais tarde, Gotham e Metrópolis, ao mesmo tempo que lidam com os seus próprios demónios e enfrentam o respetivo passado. Tudo se inicia com Dick Grayson, o antigo parceiro de Batman que encontrou finalmente uma nova família, ou seja, um grupo de jovens heróis que precisa desesperadamente de um mentor. Depois do grupo inicial ter sido dissolvido, os membros originais juntam-se à renovação dos Titans e aos seus novos elementos para lutarem lado a lado contra todo o tipo de perigos.  

Pode conter spoilers!

Inicialmente, Dick Grayson encontra-se a trabalhar como um detetive da polícia de Detroit que luta contra o crime como polícia e à noite se veste como vigilante. Ele está a tentar afastar-se do seu passado ao lado de Batman e tem de perceber quem é quando não está com o uniforme do Robin.

Ele não teve uma infância nada fácil depois da morte prematura dos seus pais. Bruce Wayne foi a pessoa que o criou e Dick não concordou com algumas das suas atitudes, enquanto Batman e quer fazer as coisas de uma forma diferente dele. Por isso, ele lida com os criminosos à sua maneira. Mas, isso nem sempre resulta bem. O Dick tinha-se transformado em alguém que não queria ser, mas que foi obrigado a ser para desempenhar o papel de Robin. Isso fez com que acumulasse raiva suficiente e levasse a um comportamento violento e, por vezes extremo, acabando assim, por descarregar nos criminosos com quem se cruzava.  

Dick Grayson tem os seus problemas e enfrenta os seus demónios, onde tem alturas em que está mais perturbado, aumentando a possibilidade de cometer loucuras, tornando-se assim, numa pessoa extremamente violenta e com comportamentos perigosos. Ele passou por diversas situações de frustrações, desilusões e conflitos, devido a ter trabalhado durante muito tempo com o Batman, chegando a um ponto que se sente atormentado e precisa de ter um recomeço. Por isso, ele tem de passar por uma jornada de autodescobrimento para saber quem ele é, enquanto herói e ser humano, com o objetivo de se tornar num novo tipo de herói e não seguir totalmente os ensinamentos do Batman, mas sim fazer diferente, porque não quer cometer os mesmos erros que foram feitos no passado pelo seu mentor.

Este é um Robin que nunca foi antes visto em adaptações anteriores, onde explora a sua infância e características da sua personagem que ainda não tinham sido mostradas. O protagonista é um dos membros originais da equipa dos Titans. Ele vai formar novamente este grupo, mas desta vez com elementos novos e antigos, em que finalmente assume mais tarde, a sua nova identidade, Nightwing com um uniforme apropriado. Dick vai tentar assumir uma posição de mentor perante estes jovens e tornar-se num líder mais confiante. Será que ele vai conseguir manter a sua equipa em segurança e ser o mentor que este grupo precisa? Esta é daquelas personagens que teve um ótimo desenvolvimento ao longo destas quatro temporadas.

Ao longo da primeira temporada, temos a oportunidade de conhecer melhor a história de Rachel e como lida com os seus poderes herdados do pai, Trigon, um demónio que tem planos específicos para trazer o caos. Além disso, ela tem de lutar contra a escuridão e lidar com os seus problemas familiares. Nesta série, Rachel acaba por representar uma mistura do terror com o sobrenatural e é interessante ver como as restantes personagens se comportam ao seu redor.

A segunda temporada é dedicada ao retorno oficial dos Titans, em que Dick é o novo líder da equipa com Rachel, Gar, Jason e muito mais a fazerem parte da mesma, juntamente com os membros antigos. Deathstroke, considerado como um assassino implacável é um dos principais adversários que possui um conflito muito pessoal com os Titans e os quer eliminar a todo o custo. Deathstroke foi um bom vilão que eu estava à espera que tivesse durado mais tempo!

Na terceira temporada, os acontecimentos desenrolam-se ao redor da cidade de Gotham que vai trazer boas surpresas com o aparecimento de mais personagens que eu acredito que irão deliciar os fãs! Sejam eles aliados ou vilões, a história vai mantendo a violência que faz parte da identidade desta série!

Já na quarta e última temporada, os Titans rumam até Metrópolis para uma visita atribulada aos Star Labs. A equipa fica em alerta quando Conner recebe um convite de um inimigo bem conhecido. Esse inimigo é Lex Luthor, um dos antagonistas mais populares de Superman. Porém, não irão faltar presságios, forças malignas, mortes, armadilhas, descobertas macabras, rituais, novos aliados e outras surpresas.

Nesta última temporada, a história também resolveu focar-se numa outra personagem da banda desenhada e o novo antagonista da história que é o Brother Blood. Como admiradora do trabalho de Joseph Morgan, a curiosidade de vê-lo a interpretar este vilão que passa por uma grande transformação era grande e não desiludiu!

Cada uma das personagens tem o seu próprio carisma, a sua história de origem, as suas vulnerabilidades e lutas internas, sendo que vão ser constantemente desafiadas, umas mais do que outras.

Um dos grandes destaques da série e que cria muita curiosidade é o Conner. Conner é o resultado genético de Superman com Lex Luthor que foi criado nos Laboratórios Cadmus. Ele possui habilidades dos dois e partes da personalidade de ambos. Um dia, ele consegue fugir das instalações com o cão Krypto depois de passar por muitas experiências. E assim, vai ter de se adaptar a uma vida plenamente desconhecida no mundo real. Também vai ter um conflito interno, relativamente às suas capacidades não só para o bem, mas também para o mal. Foi ótimo ter havido a oportunidade de conhecer esta versão deste jovem que tem a capacidade de criar uma empatia imediata com o público.

Estas são personagens que o que importa é que estão a tentar sobreviver à sua maneira, ao mesmo tempo que querem descobrir o seu propósito e têm de aprender a trabalhar e a lutar juntos como uma equipa, em que uma das principais bases para isso acontecer é a confiança. Uma coisa é certa! Aconteça o que acontecer, este novo grupo dos Titans funciona como uma família e fazem o que for preciso para se protegerem uns aos outros.

A série vai tendo um bom desenvolvimento em que as personagens vão aprendendo com os seus erros, lidando com os seus traumas e aprendendo as diferenças entre ser um vigilante e ser um herói. Mas, foi pena não ter sido mostrado mais o treino de cada uma delas.

Titans é uma série dinâmica, ousada, intensa e única de super-heróis que tem ação, aventura, investigação, drama, crime e thriller que consegue prender a atenção do espetador. É constituída por cenas pesadas e algumas delas chocantes que são desenroladas num ambiente mais obscuro, pesado e negro. E está relacionada com conflitos, explosões, nível alto de violência, dilemas, poderes, ameaças, tiroteios, batalhas, tortura, sangue, terror psicológico e visual, sofrimento, medo, dor, perda, amor, família, intriga, caos, traumas, crueldade, loucura, missões e muito mais.

Para além disso, o seu conteúdo é de boa qualidade e conseguiu inovar, tendo sido uma das apostas mais recentes que conseguiu juntar Robin com outros super-heróis da DC. Foi graças a esta série que deu origem ao spin-off, Doom Patrol, uma narrativa hilariante com uma identidade própria e completamente diferente daquilo que estaríamos à espera.

A série tem uma certa ligação com outras produções da DC Comics e ainda, referências a personagens emblemáticas do universo da DC como Batman, Wonder Woman, Superman ou a Justice League, sendo que também tem participações do Red Hood, Jonathan Crane ou o Scarecrow, um dos grandes vilões do Batman, Slade Wilson, Dr. Light e ainda cita o Joker, entre outros. Algumas das personagens têm um passado partilhado com alguns destes super-heróis e vilões, o projeto Cadmus também é referenciado nesta história e temos ainda, alguns crossovers bem agradáveis de se acompanhar.

Esta produção corajosa mostra um lado mais sombrio da DC que não tem nada a ver com séries como Flash, Arrow, Supergirl, Legends, Black Lightning do canal CW ou Gotham da Fox ou até mesmo a série de animação, Teen Titans. Existem momentos que fazem lembrar ligeiramente a série Daredevil e The Punisher da Netflix. Titans é a primeira série original da DC Universe com uma boa lista de easter eggs bem inserida que é explosiva e cativante com um conteúdo mais adulto, sem deixar de ter o seu lado mais aventureiro e com participações especiais.

A história de Titans é mais negra, complexa e madura, mas sem deixar de ter humor, segredos prestes a serem revelados e reviravoltas inesperadas. Tem os seus momentos que consegue brilhar de um modo eficaz, mas por vezes existem alturas, em que há uma falta de equilíbrio e de ritmo na forma como a história vai sendo contada e algumas falhas pelo meio que podem fazer perder o sentido em determinadas cenas. Num modo geral, nós conseguimos conectar com uma história mais adulta e até com as personagens em si. Apesar de nem todos os diálogos serem aliciantes de se acompanhar e termos a sensação que falta alguma coisa.

A série teve um desfecho satisfatório ao contrário de outras histórias, mas não é perfeita. Mesmo assim, a pessoa fica curiosa por ver o que vai acontecer de seguida, não deixa de ter vontade de continuar a acompanhar e consegue surpreender-se pela positiva. Tem os seus pontos fortes com bons efeitos especiais e partes empolgantes, onde resolveu arriscar e entregou um tom mais sombrio e violento que não ocorreu em outras séries focadas nas personagens deste universo. As cenas de luta foram bem coreografadas, empolgantes e mais violentas. As sequências de ação foram interessantes de se ver.

Assim, Titans é um ótimo produto de entretenimento com a sua própria essência e uma liberdade criativa para quem gosta de um tom mais sombrio e louco que foca em temas importantes como a saúde mental. E também nos leva a um território desconhecido que tem sido pouco abordado, mas é uma boa ideia para quem queira expandir os seus gostos perante o universo DC.

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