quarta-feira, 12 de junho de 2024

Série "Geek Girl" é uma história leve, animada e diferente que cria uma conexão própria com quem está a ver

 

Uma das estreias mais recentes da Netflix é Geek Girl, uma combinação de comédia com drama criada por Holly Smale e Jessica Ruston. É baseada nos livros da coleção homónima da autora britânica Holly Smale que inclui 6 best-sellers e foi lançado entre 2013 e 2017.

O elenco é composto por Emily Carey, Emmanuel Imani, Liam Woodrum, Tim Downie, Jemima Rooper, James Murray, Sarah Parish, Rochelle Harrington, Zac Looker, Daisy Jelley, Mia Jenkins, Hebe Beardsall e Alana Boden.

Esta é a história de Harriet Manners, uma adolescente desajeitada e neurodivergente, cuja vida é virada do avesso quando é descoberta como a próxima modelo. E embarca assim, numa jornada de autodescoberta, enquanto concilia a escola com a moda.

Esta é uma reviravolta radical na vida desta jovem estranha que inesperadamente torna-se modelo na Infinity Models, uma agência de modelos em Londres. Apesar de querer sentir-se integrada, ela nunca imaginava o que era preciso para seguir esta carreira e como cada detalhe da sua vida passa a ser controlado. Tudo isto começa quando a sua turma de Têxteis ganha uma viagem para a Semana da Moda de Londres, mas Harriet e a sua melhor amiga Nat sofrem um percalço de indumentária antes de lá chegarem. De seguida, Harriet chama acidentalmente a atenção de agentes da Infinity Models que acreditam que encontraram alguém com um talento único para seguir o caminho da moda.   

Harriet Manners é uma jovem insegura de si mesma, mas que é definida como uma autêntica Geek, pois é uma pessoa muito informada e curiosa sobre diferentes áreas e por isso, é alvo de bullying na escola. Apesar de não especificarem, ela tem autismo, logo a forma como ela vê as coisas ao seu redor é completamente diferente. Mesmo assim, ela tem um apoio fantástico no seu pai e na sua madrasta e também na sua melhor amiga Nat.

Tim Downie faz uma boa prestação, desempenhando o papel de um pai determinado com a sensibilidade necessária para apoiar a sua filha, em tudo aquilo em que ela mais deseja.

Por vezes, Harriet pode ser irritante, ter mau feitio ou até ser obcecada por algumas coisas, mas tenta ver o melhor nos outros. É ingénua com uma essência muito peculiar e especial, sendo que tem um bom coração e tem os seus momentos, onde é engraçada e tem um bom sentido de humor. No que toca a relacionamentos sociais não é muito boa, porém apesar de tudo, ela percorre esta jornada de autodescoberta, onde ela expõe-se, enfrenta os seus medos e supera obstáculos para encontrar o seu propósito, por mais contratempos que possam vir a surgir. Mesmo com uma condição neurodivergente, Harriet tem uma personalidade que acaba por nos unir de alguma forma.

Podemos acompanhar a jornada de aprendizagem de Harriet que é cheia de desafios, onde finalmente aprende a sentir-se mais confortável consigo mesma, tanto como modelo e como uma rapariga geek. E conhecemos a perspetiva desta jovem que está num processo de construção da sua auto-estima que é realizado de um modo relativamente saudável, enquanto aceita os erros, aprende com eles e permanece fiel a si mesma.

Temos a oportunidade de assistir em como funciona todo o processo de casting na área da moda que acaba por ser mais duro do que se pensava inicialmente. E ainda como é o trabalho de uma modelo e os respetivos bastidores, seja numa sessão fotográfica e até num desfile de uma estilista consagrada e popular. Além disso, também podemos perceber como a moda é considerado como fazendo parte de um mundo excêntrico e extremamente competitivo que pode tornar-se num ambiente caótico para uma jovem mais tímida e com ansiedade.

Geek Girl é uma história leve, animada e aconchegante com os seus momentos insólitos e comoventes, reviravoltas e intrigas que surpreende pela positiva, sendo que faz uma boa representação do autismo. Aqui estamos a falar sobre a experiência que Holly Smale, a autora dos livros teve durante a sua adolescência e que na altura não sabia do seu diagnóstico de autismo. E esta narrativa é tão realista, de tal forma que Emily Carey, a atriz que interpreta a protagonista também possui esta condição neurodivergente, trazendo assim, uma representação mais autêntica.

Mesmo assim, é tudo apresentado de um modo simples, diferente e muito informativo, sendo que haverão aqueles que se irão identificar e que também irão perceber que não estão sozinhos. Esta é uma das razões pelo qual tem a capacidade de criar uma ligação imediata e especial com o público. É possível sermos quem nós quisermos, onde o improvável pode acontecer e qualquer um pode tornar-se num sucesso inesperado e merecido na área que mais gosta.

Esta produção com uma boa qualidade é uma série fresca e divertida para toda a família que tem o seu lado mais juvenil e uma particularidade de romance, mas não tira o foco para aquilo que é mais importante. No entanto, tem a sua vertente inspiradora e encaixa em temas atuais que precisam de continuar a serem discutidos, tais como o bullying e a saúde mental, como é o caso da ansiedade. Também é relevante para os desafios que os adolescentes enfrentam nos dias de hoje nas escolas e na sociedade. E a chamada de atenção muito bem retratada, em relação ao impacto das redes sociais na vida de alguém que podem causar danos elevados. Infelizmente, existe uma realidade distorcida devido às redes sociais que precisa de ser discutida. Além disso, o bullying que ocorre tanto nas escolas, como nas redes sociais é cada vez mais cruel e repleto de maldade, sendo que por vezes é importante reagir quando se está a ser vítima de bullying.  

Geek Girl é relaxante, alegre e muito fácil de se ver, sendo que a pessoa descontrai de tal forma, que não dá conta pelo tempo a passar. Também contém o seu poder mais feminino e cria uma conexão própria com quem está a ver, transmitindo uma mensagem simples que como referido anteriormente, nós podemos ser quem nós quisermos e que não importa a opinião dos outros. Às vezes é difícil encontrar o nosso lugar no mundo, principalmente quando falamos de saúde mental, mas não devemos de desistir de seguir os nossos sonhos. E devemos encontrar a nossa paixão e respeitar-nos uns aos outros, sejam quais foram as peculiaridades de cada um. Por isso, não tem qualquer mal em termos o nosso próprio lado geek. Esta é uma narrativa original e envolvente que foi uma boa surpresa, funcionou bem, e captou a atenção do espetador. Assim, que venham mais episódios da jornada de aprendizagem e de amadurecimento de Harriet Manners.

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