quarta-feira, 3 de julho de 2024

Kinds of Kindness - o que esperar da nova obra peculiar de Yorgos Lanthimos que é protagonizada por Emma Stone

 

A dupla Emma Stone e o realizador Yorgos Lanthimos está de regresso para mais uma colaboração e desta vez com o filme Kinds of Kindness (Histórias de Bondade, como título em português) da Searchlight Pictures. A estreia mundial foi feita na edição deste ano do Festival de Cannes. Já podem assistir na plataforma de streaming da Disney+.

Para além de Emma Stone, temos no elenco, nomes como Jesse Plemons, Willem Dafoe, Margaret Qualley, Hong Chau, Joe Alwyn, Mamoudou Athie e Hunter Schafer.

Este filme que combina drama com comédia é composto por uma fábula tríptica que acompanha um homem sem escolha que tenta assumir o controlo da sua própria vida; um polícia que está alarmado com o facto da sua mulher, que estava desaparecida no mar, ter regressado e parecer uma pessoa diferente; e uma mulher determinada a encontrar uma pessoa específica com uma capacidade especial, que está destinada a tornar-se um prodigioso líder espiritual.

Divulgação: Searchlight Pictures e 20th Century Pictures Portugal

Yorgos Lanthimos cria três histórias plenamente diferentes que poderiam ser muito interessantes, caso tivessem um tipo de conexão entre elas. Contudo, não foi isso que transpareceu. Garantidamente, cada uma delas tinha a sua peculiaridade, trazendo assim, diversas reações de quem estivesse a assistir.

Já estamos habituados às excentricidades inimagináveis deste realizador que sempre nos surpreende, cada vez que vemos uma das suas obras. E este não é exceção, sendo que neste caso, o seu trabalho singular foi completamente oposto daquilo que sucedeu em Poor Things, fazendo com que dividisse as opiniões de quem vê a um nível superior ao que se esperava. É daquelas narrativas que não vai mesmo agradar a todos e é dirigido a um público muito específico que consiga entender o incompreensível. A pessoa precisa de abrir a mente de tal forma e não ter expetativas para assim, conseguir acompanhar algo incomum que pode por momentos não fazer sentido nenhum.   

Cada uma destas histórias tem o seu próprio impacto, mas não envolve do modo que se poderia estar à espera. É verdade que automaticamente começa a imaginar-se os vários fatores que eram necessários para algo daquele género acontecer, sendo por vezes, mesmo improvável de alguma vez ocorrer na realidade. Mesmo assim, conseguem cada uma à sua maneira, captar a atenção do espetador, ao mesmo tempo que o seu próprio raciocínio está constantemente a ser testado.

Divulgação: Searchlight Pictures e 20th Century Pictures Portugal

Kinds of Kindness é um misto de comportamentos estranhos, aterrorizantes e perturbadores que deixam qualquer um a processar cada uma das suas histórias com intensidade. Mas, que pode vir a tornar-se para alguns numa experiência meramente insuficiente, cansativa e até facilmente esquecível. Não é um filme para todos os gostos e pode ser devido à sua complexidade elevada que vai tendo as suas falhas. Também temos uma falta de equilíbrio e consistência, de um argumento sólido e de um ritmo adequado. Porém, não se tira o mérito à criatividade única de Yorgos Lanthimos e à forma como apresenta esta sua produção, principalmente à ligação arrepiante e bem executada da banda sonora em cada cena. O elenco em si cumpriu muito bem com o seu papel, onde em cada história desempenharam personagens diferentes e deu para perceber que algumas cenas devem ter sido difíceis de filmar.

Um dos maiores destaques vai para a sua loucura imprevisível repleta de momentos absurdos e combinados com um humor mais negro, sem esquecer de mostrar o que as pessoas são capazes de fazer por amor, poder e controlo. Podem existir alturas em que o diálogo ultrapasse os limites da coerência, sendo que pode tornar-se muito confuso de se compreender tudo e até chegar a perder todo o sentido. Por isso é essencial que a pessoa esteja atenta a todos os pormenores que vão sendo mostrados e tenha uma mente mais abstrata e extremamente aberta. Este filme possui uma arte desafiante e é mais longo do que deveria ser, sendo que deixa muitas mais perguntas do que respostas, testando os limites do absurdo e dando a escolha ao espetador de fazer a sua própria interpretação. Yorgos Lanthimos apresenta um caminho único, intrigante e mais sombrio para a bondade num ambiente obscuro que está cheio de sacrifícios, erros e particularidades, deixando quem está a ver perplexo e exausto com cada uma destas três histórias ousadas com uma dose de terror.


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