Finalmente
chegou uma das estreias e apostas mais aguardadas do ano que é a minissérie The
Undoing, transmitida em exclusivo na HBO Portugal. Este drama é baseado no
romance de 2014, designado por You Should Have Known, de Jean Hanff Korelitz,
sendo constituído por apenas 6 episódios, em que é criado e escrito para
televisão por David E. Kelley (responsável também por Big Little Lies da HBO) que
também tem a função de produtor executivo pela David E. Kelley Productions,
juntamente com a realizadora e vencedora de um Emmy, de um Óscar e de um Globo
de Ouro, Susanne Bier, Nicole Kidman e Per Saari pela Blossom Films, Bruna
Papandrea pela Made Up Stories, Stephen Garrett e Celia Costas.
Esta
minissérie retrata a história do casal Grace (Nicole Kidman) e Jonathan Fraser
(Hugh Grant) que estão a viver a vida que sempre quiseram repleto de luxo,
sucesso e felicidade juntamente com o filho de ambos, Henry (Noah Jupe). Um dia
tudo muda para esta família perfeita e muito unida quando acontece uma morte
violenta seguida de uma cadeia de terríveis revelações, em que Jonathan é
considerado como o principal suspeito deste homicídio. Depois do choque inicial
e de não se ter apercebido de muitos segredos do seu marido, Grace vai ter que
criar outra vida para o filho e para a família. Para além disso, afinal quem
será a pessoa responsável pela morte da jovem Elena Alves (Matilda de Angelis)?
The
Undoing é constituída por um elenco de luxo, tais como: Nicole Kidman (Grace
Fraser), Hugh Grant (Jonathan Fraser), Noah Jupe (Henry Fraser), Donald
Sutherland (Franklin Reinhardt), Matilda de Angelis (Elena Alves), Edgar
Ramirez (Detetive Joe Mendoza), Ismael Cruz Cordova (Fernando Alves), Lily Rabe
(Sylvia Steinetz), Michael Devine (Detetive Paul O’Rourke), Edan Alexander
(Miguel Alves) e Noma Dumezweni (Haley Fitzgerald).
Grace
Fraser é uma mulher muito bem-sucedida no seu ramo como psicóloga em que ajuda
todos os seus pacientes nos mais diversos assuntos, por mais sensíveis que
possam ser e faz parte do grupo de mães que organiza eventos para a comunidade
escolar. Ela tem um casamento muito feliz com Jonathan Fraser que para muitos é
definido como sendo perfeito, sem nada a apontar, onde têm uma vida luxuosa no
bairro do Upper East Side, na cidade de New York (NY ou Nova Iorque, em
português) e este casal também tem um filho em comum chamado de Henry Fraser. Será
que Grace e Jonathan formam o casal perfeito ou não é bem assim?
Esta
é uma família rica, poderosa, repleta de privilégios e que parece intocável,
mas na realidade tudo pode acontecer, principalmente se surge uma tragédia que
cria um impacto para toda esta sociedade de elite e que consequentemente pode
criar uma mudança devastadora para os Fraser. Este tipo de reconhecimento e
privilégio permite que as pessoas possam contratar os advogados mais caros,
lidando assim com os problemas com mais segurança e eficácia, sendo culpados ou
não.
Tudo
parecia estar a correr lindamente até que Grace e Jonathan participam num
evento de leilão que inclui doações para o colégio privado de elite chamado The
Reardon, localizado na cidade de NY, onde o filho deles estuda. Ela conhece
Elena Alves, uma artista plástica que é a mãe de Miguel, um rapaz que também
frequenta o mesmo colégio que Henry, sendo que Grace desenvolveu uma simpatia e
empatia por ela, mesmo que se tenham conhecido por um breve período de tempo e ela não
imagina que está a conversar com a amante do seu marido, mas uma tragédia
acontece quando mais tarde é anunciada a notícia de que esta mulher com quem Grace
tinha trocado umas meras palavras tinha sido brutalmente assassinada no seu
estúdio de arte e a pessoa que a viu viva pela última vez foi o seu marido
Jonathan que resolveu fugir de repente.
Nesta
sociedade, o privilégio e a reputação é muito importante para o status social
de uma determinada pessoa, em que tudo pode mudar de um dia para o outro,
influenciando tudo ao seu redor, principalmente se for com alguém que esteja
envolvido num escândalo mediático que acaba por ser aquilo que veio a suceder
com Grace na escola do seu filho.
Grace
tenta digerir sobre estar envolvida no meio de uma investigação de homicídio e
a revelação difícil sobre o seu marido ser um homem infiel e mentiroso que
fugiu enquanto vai sendo interrogada de um modo intensivo pelos detetives do caso
chegando a um ponto que ela questiona-se se a estão a tratá-la como suspeita,
devido à abordagem que tiveram para com ela, mas uma das formas que ela tem
para lidar com tudo aquilo que lhe tem acontecido até agora é fazer caminhadas
longas pela cidade, seja pelo Central Park ou mesmo durante a noite por outros sítios. É
interessante ver a quantidade de caminhadas extensas que Grace costuma fazer
para ajudá-la a descontrair e a pensar nos seus problemas, mesmo que sejam
durante a noite, levando a que possa tornar-se suspeito, principalmente pelas
horas e locais em que as faz.
Esta
é uma mulher muito inteligente e com sucesso na sua área que não passa
despercebida, destaca-se na sua personalidade e tem um estilo próprio e elegante
que inclui os seus casacos coloridos. Ela sofre por uma luta interna constante, onde tenta processar tudo aquilo que vai acontecendo ao seu redor, ao mesmo tempo que tenta
chegar à verdade dura que poderá implicar o seu marido ser um autêntico
sociopata e um monstro que ela não conseguiu ver nenhum sinal anteriormente ou prever essa
opção. Assim ela vai tendo dilemas e passando por momentos em que se sente
totalmente perdida, sem saber o que pensar, mas será que Grace falhou na sua
própria intuição ou os conselhos que vai dando aos seus pacientes, ela não
chega a pôr em prática na sua vida privada?
A
interpretação de Nicole Kidman é brilhante, intensa e carismática em que as
suas expressões faciais resultam numa transparência de tal forma que não são
necessárias palavras para que transmita ao público aquilo que está realmente a
sentir no momento com a personagem ou descrever qualquer tipo de emoção que
possa vir a ter. Para além disso, o genérico da minissérie é apresentado ao som
de Dream a Little Dream of Me que é cantado pela própria atriz, com uma
delicadeza bem simples, suave e descontraída.
Este
é daqueles tipos de casos mais mediáticos que vão abalar a elite de NY e chamando
a atenção de toda a comunicação social. Enquanto a história vai-se desenrolando, muitos vão ser os segredos que estão à espera para serem revelados que poderão
ser fundamentais para que o caso seja resolvido, mas será que serão suficientes
para causar a destruição de uma família aparentemente perfeita?
Jonathan
é um oncologista pediátrico num hospital e um homem charmoso em que é
especializado em tratar crianças com doenças terminais que resolveu fugir após
a revelação da morte de Elena Alves, pois tinha medo que fosse considerado como
suspeito já que tinha uma ligação muito especial com ela, mas depois resolveu voltar
pela sua família para provar a sua inocência.
Como
Jonathan fugiu após o assassinato de Elena, as pessoas incluindo o próprio
espetador começam a tirar as suas conclusões de que foi ele o responsável por
esta morte e que tinha motivos suficientes para tal, pois tinha um caso com ela e era o pai do recém-nascido de Elena e de certa forma até acredita-se que
queria esconder o seu segredo da sua família a todo o custo, mas Grace quer
muito acreditar no seu marido, pois não imagina que ele fosse capaz de fazer
algo tão monstruoso e violento, sendo ele, um médico amoroso com empatia pelos
seus pacientes. Por isso, ela ouve com atenção, a versão da história de
Jonathan que conta que conheceu Elena na altura em que estava a cuidar do filho
mais velho desta, Miguel que tinha um cancro muito agressivo e depois os
sentimentos foram-se desenvolvendo, acusando-a de ser obcecada por ele e por
Grace e para além disso, ele referiu que não a matou, mas será que ele está
realmente a dizer a verdade sobre ser inocente daquilo que está a ser acusado?
Por
aquilo que conhecemos de Elena, ela parece estar um pouco perturbada e incomodada com
algo que se passa, em que não chegamos a saber o que é, mas dá para perceber que
ela tem uma certa obsessão por Grace, apesar da mesma não ter sido desenvolvida,
devido à sua morte prematura e inesperada.
Grace
não teria o apoio necessário para ultrapassar toda esta situação se não fosse
pelo seu pai. Franklin é um homem reformado economista, milionário, poderoso e
lúcido que gosta de xadrez e é encarregado de proteger a família a todo o custo
quando surgem revelações inquietantes que fazem parte de um grande escândalo,
pois ele é uma pessoa que possui muitos recursos que pode utilizar para ajudar a sua família e
assim que o caso começou a ser investigado, tanto Grace como Henry, um miúdo de
12 anos com talento para o violino foram viver para a sua casa com uma vista
magnífica para o Central Park. Uma das suas ajudas fundamentais para com a sua
filha acaba por incluir a contratação de Haley, uma das advogadas mais
experientes, vencedoras e determinadas da cidade que vai ter um belo desafio
pela frente que é provar a inocência de Jonathan durante a sua condução perante
este caso trágico.
Para
além das personagens que fazem parte da história, a cidade de NY também
é uma das suas protagonistas, mostrando a sua beleza e percorrendo as suas
ruas, sendo que tem o seu lado mais obscuro e vazio enquanto vemos Grace Fraser
nas suas caminhadas noturnas e também tem o seu lado mais agitado quando as pessoas
estão a deslocar-se com pressa para chegarem ao seu destino, mas não deixamos
de apreciar um dos mais bairros mais falados, elegantes, luxuosos, chiques e
ricos da cidade que é o Upper East Side.
A
história desenrola-se maioritariamente ao redor do julgamento de Jonathan
Fraser que vai fazer os possíveis para provar que não é o culpado do homicídio
de Elena Alves que foi encontrada pelo seu filho, Miguel que ficou chocado com
a violência intensa pelo qual a sua mãe morreu. O julgamento criou momentos e
reviravoltas empolgantes e ligeiramente surpreendentes e por mais chocantes que
possam ser as evidências apresentadas pela advogada de acusação, será que vão
conseguir comprovar a inocência de Jonathan ou simplesmente ele é um psicopata
que não tem capacidade de sentir emoções, como arrependimento ou empatia?
Esta
minissérie é repleta de emoções, mentiras, reviravoltas, intrigas, tensão, suspense
e mistérios para serem resolvidos, onde as aparências por vezes enganam. É
interessante ver a forma como a comunicação social cria um impacto para quem
está a acompanhar o caso através dos noticiários, comentando o que vai
sucedendo no julgamento e influenciando a pessoa que está a ver de possíveis resultados, devido às
opiniões que vão sendo dadas relativamente a quem é o possível assassino (a) e a quantidade
de mudanças que vão sendo feitas, dependendo das circunstâncias e assim acaba
por não ser a abordagem mais eficaz ou certa para se seguir.
O
espetador cria imensas teorias à volta deste caso misterioso, onde são várias
as pistas que vão sendo inseridas que até podem vir a ser consideradas falsas,
mas que o mesmo vai descobrindo por si próprio, pois é interessante a forma como a história
consegue manipular, jogar e confundir o público e as suas expetativas de um modo inesperado, onde vai introduzindo vários suspeitos que até podem ter
motivos para matar Elena para além de Jonathan, desde o marido dela, Fernando até à
Grace. Assim, a história quis deixar-nos na dúvida sobre quem seria o assassino
e uma das maneiras que fizerem isso foi através das visões que foram sendo
mostradas que a pessoa não sabe se são flashbacks ou simplesmente o
fruto da imaginação das personagens e claro que depois vai finalmente chegar o momento em que vai ser revelado a pessoa que foi a responsável pela morte de
Elena, mostrando como tudo aconteceu.
Este
argumento empolgante sobre uma família rica e privilegiada relativamente aos
outros também prende e atrai a atenção da pessoa desde o seu início até ao
final destes seis episódios com reviravoltas interessantes e criando uma
história curta, mas que cativa o espetador pelo tipo de mistério que vai sendo
contado, fazendo com que haja mais vontade por parte do público em querer saber
mais, pois o mesmo sente-se participativo e finge por uns momentos que é um detetive na
investigação do caso e tenta juntar todas as peças do puzzle para resolver um
homicídio e criar as suas próprias teorias, tornando-se divertido para quem
está a assistir.
A
minissérie é constituída por uma cinematografia magnífica que mostra a visão
singular da realizadora, uma fotografia elegante e bonita, mas chocante quando
é necessário, sendo que pode até existir uma ou outra cena perturbadora, por
isso é preciso ter atenção, principalmente aos espetadores mais sensíveis.
Apesar de ter cenas maioritariamente com um ritmo mais lento, também temos a
oportunidade de ver uma ou outra cena com um pouco mais de ação e onde existem
episódios com cliffhangers bem envolventes que a pessoa nem sabe o que pensar sobre o que está a ver naquele momento,
pois ainda é incerto o que pode vir a acontecer, mas isso acontece com maior
regularidade quando são episódios semanais, mas como já está tudo disponível
na plataforma, quem for assistir agora pode não ter essa sensação.
The
Undoing foi uma boa aposta da HBO para quem gosta deste tipo de dramas e thrillers
mais policiais que tem uma história com uma ótima qualidade e que foi muito bem
produzida e filmada na cidade de NY, sendo que atrai a atenção das pessoas, nem que
seja pela interpretação excelente deste elenco de luxo, mas sem dúvida, que eu
aconselho a verem. Pode ser uma versão diferente do livro, mas não deixa de ser
muito interessante, mesmo que o público não tenha lido o romance pelo qual foi
baseada e para além disso, o mesmo fica com curiosidade em saber o que acontece
após a descoberta da identidade da pessoa responsável por este homicídio que
foi um caso mediático para esta sociedade, mas infelizmente não chega a
aparecer na história e assim, fica na nossa própria imaginação como é que cada
uma das personagens acabou por seguir com as suas vidas em frente.
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