sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Filme "Companion" - como seria se tivessem a oportunidade de experienciar um amor feito à medida?

 

Preparem-se que do estúdio que nos trouxe The Notebook e dos criadores de Bárbaro, chegou Companion, onde nos dão a experimentar um novo tipo de amor! Com argumento e realização de Drew Hancock, o elenco é composto por Sophie Thatcher, Jack Quaid, Lukas Cage, Megan Suri, Harvey Guillén e Rupert Friend.  

Como seria se tivéssemos a oportunidade de experienciar um amor feito à medida? Onde tudo o que poderíamos querer num parceiro seria possível de se concretizar. Parece um sonho praticamente impossível, mas com a evolução da tecnologia, nunca se sabe o que pode vir a acontecer no futuro.  

Agora, e se encontrasses alguém que fosse criado exatamente para ti e que podias controlar, então o que farias? Este é um dos pontos retratados nesta narrativa que deixa qualquer um a refletir.

Divulgação: Warner Bros. Pictures Portugal e Cinemundo

Já vos aconteceu irem assistir a um filme sem qualquer tipo de expetativas e de repente, sair de lá completamente surpreendido. E de certa forma, ainda a processar aquilo que nos foi mostrado? A mim, sem dúvida e Companion é mais um desses exemplos!

Podia ser simplesmente uma bonita história de amor, mas no relacionamento entre Iris (Sophie Thatcher) e o seu namorado Josh (Jack Quaid), há muito mais do que se aparenta. Será que Iris é a mulher de sonhos e a companheira perfeita de Josh ou é o seu maior pesadelo?

O que parecia uma viagem relaxante de carro e com tempo para namorar tornou-se em algo inesperado, onde segredos estavam prestes a ser revelados.

Divulgação: Warner Bros. Pictures Portugal e Cinemundo

Companion é um thriller de comédia cheio de surpresas e originalidade que é perfeito para a época de São Valentim. E que nos oferece uma jornada repleta de entretenimento que capta a atenção desde o primeiro instante. É uma lufada de ar fresco com um lado selvagem pertinente e por vezes, distorcido que nos traz um ponto de vista completamente inovador, em relação à inteligência artificial, tecnologia e o comportamento da humanidade. E como tudo isto pode ser transportado para a realidade, principalmente num futuro próximo.

A tecnologia em si pode ser perigosa, mas a maneira como os humanos utilizam é que pode vir a tornar-se realmente assustadora. Neste filme não existe medo em aprofundar as razões pelas quais muitos recorrem à tecnologia para obterem aquilo que querem. Aqui, de um modo particular, a humanidade é questionada nesse sentido. E também é colocada a questão de qual é o significado de ter um propósito e de estar ciente daquilo que vai sucedendo na vida de cada um.

Esta história foca-se maioritariamente no poder invisível que o controlo e a manipulação pode ter numa relação. E o quanto tóxica, violenta e até perversa, a humanidade se pode vir a tornar e como isso pode levar ao caos.

Divulgação. Warner Bros. Pictures Portugal e Cinemundo

Companion é uma obra imprevisível repleta de reviravoltas que é intensa, divertida e hilariante, sendo que transmite uma mensagem muito clara. Também é produzida de um modo muito inteligente, louca nos momentos certos e vai sendo alimentada com sangue e humor negro. O elenco fez um desempenho extremamente competente e tive pena do Rupert Friend não ter tido mais tempo de ecrã. Isto porque ele estava num registo muito diferente daquele que eu acompanhei de trabalhos anteriores dele. Por isso, a curiosidade para ver mais deste registo era bem elevada.  

Além disso, é acompanhada de boas piadas e com uma banda sonora que encaixou perfeitamente no ambiente da trama. Esta é daquelas produções que tem todos os ingredientes necessários para entreter o público. E por isso, conseguiu arrasar, surpreender pela positiva e deixar a pessoa às vezes, perplexa.

Assim, Companion consegue ser engraçado, chocante e até leve, apesar de não faltar momentos de perseguições e de violência. E é uma aposta imperdível que nem vão dar pelo tempo a passar!


quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Filme "A Complete Unknown" - o que esperar do biopic dedicado a Bob Dylan e protagonizado por Timothée Chalamet

 

A Searchlight Pictures apresenta A Complete Unknown, o novo filme realizado por James Mangold. Este é um biopic dedicado a Bob Dylan, onde Timothée Chalamet desempenhou este artista e compositor bem icónico, sendo que o resto do elenco é composto por Edward Norton, Elle Fanning, Monica Barbaro, Boyd Holbrook, Dan Fogler, Norbert Leo Buzt e Scoot McNairy.

Além disso, na 82ª edição dos Globos de Ouro teve três nomeações nas categorias de Melhor Filme de Drama, Melhor Ator de Drama (Timothée Chalamet) e Melhor Ator Secundário (Edward Norton). Já na edição dos Óscares teve oito nomeações nas categorias de Melhor Filme, Melhor Realizador (James Mangold), Melhor Ator (Timothée Chalamet), Melhor Ator Secundário (Edward Norton), Melhor Atriz Secundária (Monica Barbaro), Melhor Som, Melhor Argumento Adaptado e Melhor Guarda-Roupa.

O filme decorre na influente cena musical de Nova Iorque do início dos anos 60 e segue a ascensão meteórica do músico do Minnesota de 19 anos, Bob Dylan (Timothée Chalamet), como cantor folk até às salas de concerto e topo das tabelas – as suas canções e mística tornaram-no numa sensação mundial – culminando com a sua atuação inesquecível de rock and roll elétrico no Newport Folk Festival em 1965.

Aqui num cenário musical vibrante e de tumulto cultural, temos um enigmático jovem de 19 anos do Minnesota que chega a West Village com a sua guitarra e um talento revolucionário, destinado a mudar o rumo da música americana. Ao mesmo tempo que estabelece as suas relações mais íntimas durante a sua ascensão à fama, fica inquieto com o movimento folk e, recusando-se a ser definido, faz uma escolha controversa que se irá repercutir culturalmente em todo o mundo.

Divulgação: 20th Century Studios Portugal

Bob Dylan é uma pessoa complexa, rebelde e determinada com uma maneira de ser muito peculiar que nem sempre os outros têm a capacidade de compreender. Ele acaba por se sentir um completo estranho com ideias mais refrescantes que nem todos irão aceitar de bom grado, chegando a um ponto que mostra alguma indiferença perante os outros e luta por aquilo que quer. Mesmo assim com uma agitação cultural, ele cria relações mais chegadas com ícones da música em Greenwich Village que levaram a uma mudança súbita. E que mais tarde, iria revolucionar a música americana para sempre.

De um modo eletrizante, A Complete Unknown leva-nos a viajar de volta ao tempo para conhecermos a ascensão de um fantástico cantor e compositor, capturando uma história verídica e perspicaz. A música representa a alma deste filme, onde as atuações apresentadas são excecionais, inovadoras e por vezes, mais controversas. E também é uma homenagem bem elaborada e executada que teve um forte começo. Porém, acabou por deslizar um pouco nos últimos atos. Quando terminamos de assistir ao filme, ficamos com a sensação de que falta algo, sendo que as expetativas acabam por não serem totalmente correspondidas e chegamos à conclusão de que não tivemos um conhecimento suficiente deste artista.  

Divulgação: 20th Century Studios Portugal

No entanto, nós não estamos só a acompanhar a jornada artística de Bob Dylan durante os anos 60, mas também às respetivas mudanças históricas e culturais dessa altura que encaixam na perfeição. A produção contém um ritmo equilibrado, um som nítido e tem atenção aos detalhes para que o resultado seja o mais fidedigno possível, incluindo nos próprios cenários e guarda-roupa. O trabalho a nível técnico foi bem-sucedido e a implementação de um alívio cómico no argumento foi uma boa escolha.     

Além disso, também nos é mostrado de um modo impressionante como a música folk e as canções daquela época tinham muita relevância nas diferentes comunidades e ainda, como era o ambiente do Newport Folk Festival. E esse foi o local onde Bob Dylan teve no set a sua maior transformação, cuja receção não foi inicialmente bem aceite pelos espetadores desse festival. Um ato de coragem e impulsividade repleto de controvérsia que iria mudar para sempre a carreira de Bob Dylan.

Divulgação: 20th Century Studios Portugal

Este é um filme biográfico autêntico com um tom poético e ousado que tem o seu impacto e capturou eficazmente tanto a época, onde a narrativa é situada, como os traços característicos próprios de Bob Dylan, através da interpretação sublime e convincente de Timothée Chalamet, que também transmite a genialidade, o brilho e vulnerabilidade deste ícone bem influente da música internacional. Também possui um lado mais emocionante e envolvente que cria uma ligação especial do espetador para com as suas canções e com algumas das pessoas ao seu redor que foram essenciais para o seu crescimento no mundo da música.

A Complete Unknown também nos mostra a importância que a música tem para a nossa vida. Seja ela, um tipo de refúgio ou simplesmente uma forma para transmitir os ideais de alguém e assim, criar uma voz que nos possa ajudar a libertar das complicações pelos quais vamos passando. Naquela altura, a música tinha um poder único em implementar mudanças e mesmo nos dias atuais, esta arte continua a desempenhar um papel significativo na sociedade.

Este é um drama vibrante que não podem perder e que se foca na vida de Bob Dylan de 1961 a 1965, ou seja, os primeiros quatro anos da sua carreira musical. E complementando o que já foi referido anteriormente, depois de assistirmos, nós ficamos com a impressão de que este artista continua a ser um mistério com muitos segredos por desvendar. Contudo, continua a conquistar inúmeros admiradores com os seus maiores sucessos, por mais anos que possam vir a passar.



segunda-feira, 20 de janeiro de 2025

Vizinhos para Sempre | Entrevista exclusiva ao elenco desta série de comédia portuguesa

 

Vizinhos para Sempre é a nova série de comédia portuguesa que é constituída por duas temporadas (cada uma com dez episódios) que estreou no dia 18 de janeiro na TVI e que também podem acompanhar na plataforma de streaming Prime Video. Esta é a adaptação portuguesa do sucesso espanhol, La que se avecina.

O elenco conta com nomes, tais como: Diogo Morgado, Alexandra Lencastre, Tiago Teotónio Pereira, Bárbara França, Miguel Raposo, Miguel Guilherme, Paula Neves, Valerie Braddell, Cucha Carvalheiro, Samuel Alves, Márcia Breja, Mafalda Marafusta, Fernando Pires, Miguel Flor de Lima, Patrícia Tavares, Pedro Lacerda, Diana Nicolau, Diogo Valsassina, Dinarte Branco e Margarida Bakker.

Esta produção portuguesa conta a história do dia a dia de uma comunidade de vizinhos do condomínio "Terraços do Glamour", nos arredores de Lisboa. Para lucrar com as dificuldades de habitação em Portugal, o promotor prometeu caraterísticas que o condomínio não tem, deixando os moradores entregues a apartamentos defeituosos, intercomunicadores que não funcionam e paredes tão finas que a privacidade é uma ilusão.

No evento de lançamento desta produção que decorreu no Hub Criativo do Beato - Praça em Lisboa estiveram presentes alguns elementos do elenco desta sitcom.

A Geek Traveller apresenta em exclusivo uma entrevista com Diogo Morgado, Miguel Raposo, Paula Neves, Diogo Valsassina, Tiago Teotónio Pereira e Miguel Guilherme.

Nesta conversa, este grupo de atores esteve a partilhar as suas experiências em participar nesta sitcom, as cenas mais divertidas que filmaram e ainda, as razões pelas quais Vizinhos para Sempre pode ser diferente de outras produções de comédia!

Um obrigada à TVI e Prime Video pelo convite! E um agradecimento ao Diogo Morgado, Miguel Raposo, Paula Neves, Diogo Valsassina, Tiago Teotónio Pereira e Miguel Guilherme pela disponibilidade em responderem às minhas perguntas!

E vocês, vão acompanhar Vizinhos para Sempre? Uma produção de comédia com os seus momentos engraçados que podem acompanhar na TVI e Prime Video!

De seguida, partilho com vocês a entrevista que também podem encontrar na conta do YouTube do A Geek Traveller! E ainda, o vídeo de cobertura do evento de lançamento de Vizinhos para Sempre.



sábado, 18 de janeiro de 2025

Filme "Lobisomem" - será que esta produção acrescenta algo de novo para o género do terror?

Da Blumhouse e da Leigh Whannell, realizadora de O Homem Invisível, chega o Lobisomem (Wolf Man, como título original). Desta vez, temos um novo pesadelo protagonizado por Christopher Abbott, Julia Garner, Matilda Firth, Benedict Hardie e Sam Jaeger.

Nesta trama temos Blake (Christopher Abbott), um marido e pai de São Francisco, que herda a sua remota casa de infância na zona rural do Oregon depois do seu pai desaparecer e ser dado como morto. Com o seu casamento com a sua poderosa esposa, Charlotte (Julia Garner), desgastado, Blake convence Charlotte a fazer uma pausa da cidade e visitar a propriedade com a sua filha pequena, Ginger (Matilda Firth).

Mas quando a família se aproxima da casa de campo na calada da noite, eles são atacados por um animal invisível e, numa fuga desesperada, barricam-se dentro da casa enquanto a criatura ronda o perímetro. Contudo, à medida que a noite avança, Blake começa a comportar-se de forma estranha, transformando-se em algo irreconhecível, e Charlotte será forçada a decidir se o terror dentro da sua casa é mais letal do que o perigo lá fora.

Como referido anteriormente, esta é uma família que vive em São Francisco, sendo que um dia após o desaparecimento e presumível morte do pai, Blake herda a casa da família, numa pequena cidade do estado do Oregon. De modo a mudar de ares, eles resolvem fazer uma pausa do dia-a-dia e passar uns dias na propriedade. Mas, durante um acidente no percurso, são atacados por um animal invisível. Após terem conseguido escapar para dentro da casa, Blake começa a sentir-se mal. Com o passar das horas, Charlotte repara que, ferido pelo animal com que se cruzaram, ele está lentamente a transformar-se em algo inumano que parece ameaçar a segurança dela e da filha Ginger.

Na realidade acaba por tornar-se numa noite em que nunca nenhum deles se irá esquecer. Imaginem como seria se alguém que amasses se tornasse em algo mortífero? Inicialmente, a primeira coisa a fazer seria tentar salvá-lo, mas caso não houvesse nada a fazer, o instinto de sobrevivência acabava por chegar à frente e tomar conta da ocorrência.

Para além disso, também fica a questão. Será que o instinto paternal deste monstro vai prevalecer o instinto animal? É garantido que isto é uma das coisas que vai sendo testada ao longo da narrativa.

Divulgação: Universal Pictures Portugal e Cinemundo

As expetativas para este filme eram relativamente baixas, mas a minha maior curiosidade em ir assistir foi ver Julia Garner num outro registo que fosse completamente diferente do seu trabalho na série Ozark, por exemplo. Apesar da personagem não ter tido grande desenvolvimento, ela fez uma interpretação competente. Contudo, não foi algo que se destacasse.

Lobisomem é uma produção que tem a capacidade de entreter com o seu tom mais misterioso e com cenas visuais peculiares, onde vemos uma visão pouco usual desta criatura com instintos assassinos. Já viram como seria se conseguíssemos ver pelos olhos do Lobisomem? Isso, de certa forma, cria um resultado deveras engraçado. A fotografia em si também vai atraindo a atenção do espetador, mesmo possuindo uma história mais previsível.

Na minha opinião, apesar da tensão, perseguições e alguma violência à mistura, eu esperava muito mais. Esta obra poderia ter sido muito mais assustadora e assim, termos um lado mais de horror. Mesmo assim, filmes que estejam ligados a lendas criam-me sempre alguma curiosidade e este não foi exceção.

Além disso, quando estamos a ver este filme, ficamos com a sensação que parece a noite mais longa que tivemos na nossa vida e que nunca mais acaba. Podia até considerar-se irrealista. E se calhar, este argumento poderia ter sido aproveitado de outra forma, pois há momentos que podia suceder tornarem-se ligeiramente mais cansativos.

Lobisomem pode ser definido como uma aposta cheia de suspense que poderá ser facilmente esquecível, sendo que acabou por não arriscar o suficiente e assim, não se destacar no género do terror. E acredito que também se esperava um visual de uma criatura mais ameaçadora, primitiva e aterrorizante como já vimos anteriormente noutras produções de horror. Assim, não é um filme que desiludiu totalmente, mas também não surpreende e nem acrescenta grande coisa. 


quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Filme "A Verdadeira Dor" - o seu maior destaque vai para o desempenho impressionante de Kieran Culkin

 

A Verdadeira Dor (A Real Pain, como título original) é a nova produção da 20th Century Studios que sagrou Kieran Culkin com um Globo de Ouro na edição de 2025 e na categoria de Melhor Ator Secundário. Além de ser o protagonista, Jesse Eisenberg escreveu e realizou este drama apresentado pela Searchlight Pictures que também foi um dos filmes exibidos na edição de 2024 do Leffest – Lisboa Film Festival.

No elenco também inclui Will Sharpe, Jennifer Gray, Kurt Egyiawan, Liza Sadovy e Daniel Oreskes.

Esta trama segue dois primos muito diferentes entre si, David (Jesse Eisenberg) e Benji (Kieran Culkin), que se juntam numa viagem à Polónia para prestar homenagem à sua adorada avó. Imersas numa história familiar comum, as antigas tensões entre o duo acidental acabam por vir ao de cima.

Divulgação: 20th Century Studios Portugal

Estes primos judeus estão prestes a embarcar numa viagem que irá impactar a vida deles para sempre. Inicialmente, eles tinham uma ligação muito unida que acabaria mais tarde por ter um tipo de quebra, depois de seguirem caminhos diferentes. Mas será que esta viagem os vai aproximar mais ou simplesmente os vais distanciar ainda mais?

Estes são pessoas com personalidades completamente distintas que por vezes chocam entre si. Temos o David, um pai e marido com um coração gigante que possui uma carreira e que gosta de planear tudo ao seu redor. Ele organizou a sua vida bem ocupada para estar presente nesta viagem e foi o responsável pelo itinerário da viagem à Polónia. Apesar da distância, ele preocupa-se profundamente com o seu primo e tem dificuldades em partilhar as suas emoções.  

Enquanto Benji é o oposto, pois é alguém com uma maneira de ser muito peculiar que prefere improvisar e sentir as coisas mais intensivamente, aproveitando simplesmente o momento. Isso faz com que possam surgir alguns conflitos e tensões entre eles, que podem tornar-se numa tarefa difícil de se lidar.

De certeza que já ocorreu um momento em que ficamos na dúvida em como devemos abordar um determinado assunto com alguém, principalmente se for do teor mais sensível. E neste caso, é algo que acontece com muita frequência com estes dois protagonistas, maioritariamente para com David que por vezes, sente-se envergonhado e perplexo com alguns dos atos do seu primo e por isso, vai tendo dificuldades em comunicar com ele.  

Depois de algum tempo afastados, chegou o momento de David e Benji reencontrarem-se numa viagem à Polónia, onde vão saber mais sobre a vida da avó que perderam recentemente e que tinha sido uma das sobreviventes do Holocausto.

Uma das melhores formas para se conhecer melhor um local é sem dúvida, através de tours em que um guia turístico leva-nos a paragens pertinentes e explica de um modo prático e útil, a generalidade da história e uma visão genuína do sítio que estamos a visitar. Este enredo permite-nos ter a experiência de fazer parte de uma tour na Polónia, em que neste caso, era um grupo mais reduzido de judeus que tinham cada um, uma ligação específica com este destino. Logo, seria uma excursão mais personalizada e em certas alturas desconfortável ou até caricata, o que torna interessante de se acompanhar.

O maior destaque vai para o desempenho impressionante de Kieran Culkin que dá vida a Benji que acaba por mostrar excecionalmente a complexidade deste jovem caloroso com um espírito livre e sem filtros que tem um humor honesto e engraçado, sendo que brilha sempre que entra num espaço. Mas que de repente, está mais vulnerável e tem comportamentos mais explosivos, desequilibrados e inadequados. Tudo isso está relacionado com os traumas que possui e o sofrimento, a tristeza e a dor constante que nem sempre consegue esconder.  Esta é uma pessoa que acaba por não ser compreendida pelo seu primo e pelas restantes pessoas ao seu redor e assim, ele faz o melhor que pode para encobrir o que realmente sente. E é daqueles indivíduos em que conseguimos simpatizar, criar empatia, conectar e em certos momentos, identificar-nos com os seus altos e baixos e até entender a sua dor.

Divulgação: 20th Century Studios Portugal

A Verdadeira Dor é uma obra simples e emocionante que é envolvida à sua maneira numa essência bonita e profunda, enquanto transmite uma mensagem crua, dura e real sobre como muitas vezes lidamos com as pessoas e que inconscientemente, estamos a magoá-las ou até como o medo e a vergonha que sentimos em partilhar as nossas emoções, chegando a um ponto que optamos mais vezes pelo politicamente correto e acabamos por sofrer em silêncio. Tudo é apresentado com o máximo respeito e cuidado, criando assim, uma conexão especial e poderosa com o público que está a assistir.

Já a nível técnico, o trabalho foi excelente e dá para se perceber que foi tudo pensado ao pormenor e executado com a sensibilidade necessária, onde podemos observar boas escolhas a nível dos ângulos de filmagem e no modo como apresentam a Polónia. Uma coisa é garantida! Ficamos com uma vontade imediata de visitar este país, as suas bonitas vistas e experienciar na pele, todo o seu legado e respetiva cultura.

Esta é daquelas histórias mais tensas que toca em muitos temas difíceis que suscitam curiosidade, como é o caso do evento do Holocausto, as tradições do judaísmo, o sofrimento que os judeus suportaram e ainda, a fragilidade dos laços familiares, a relação complexa entre seres humanos e a dor invisível que podemos sentir e que nos molda enquanto pessoas. Estas personagens têm a chance de aprender mais sobre a sua religião, as suas raízes, as tragédias sentidas pelos seus antepassados e de uma certa forma, vivenciar a tragédia que a humanidade teve de suportar nas mãos de um ditador.

Divulgação: 20th Century Studios Portugal

Através das passagens por Varsóvia, a cidade história de Lublin e o campo de concentração de Majdanek, acabamos por nesta visita guiada presenciar ao mesmo tempo que as personagens, a realidade dura daquilo que aconteceu durante o Holocausto, levando a uma mistura de emoções. Por isso, podem existir alturas em que a narrativa em si torna-se mais complicada de se processar. No entanto, torna-se numa experiência intensa com a sua dose de desconforto que é composta por lições muito valiosas.

Apesar de uma boa parte da trama se situar nos locais referidos anteriormente, o maior foco é no relacionamento destes primos distantes e com maneiras de ser distintas que voltam a encontrar-se após a morte da avó polonesa. Primos esses em que um sente tudo e o outro não sente nada.

A Verdadeira Dor apresenta um argumento sólido, perspicaz e bem elaborado sobre os conflitos internos, as lutas e complexidades da experiência humana, que muitas vezes são envolvidas em perdas, traumas geracionais, frustrações, dores e também o próprio impacto que o sofrimento pode ter a longo prazo. E ainda, o poder que a comunicação, a resiliência, a determinação e a sobrevivência podem ter no ser humano e como as cicatrizes do passado continuam a moldar o presente. 

Este é um filme autêntico e pertinente repleto de boa qualidade que impacta de diversas maneiras e que mostra a luta diária de pessoas com problemas de saúde mental que procuram o seu propósito e a paz. Podem existir alturas em que até pode ser cansativo para alguns. Contudo, eu aconselho a irem assistir e o melhor é mesmo virem totalmente de mente aberta. E poderão vir a sair de lá com inúmeras reflexões e quem sabe, uma montanha-russa de emoções. Além disso, a distinção que Kieran Culkin tem tido com este seu desempenho é bem merecida, pois a construção e interpretação da sua personagem que foi rodeada de linguagem corporal e expressões faciais particulares que trouxe assim, um resultado fenomenal! 



terça-feira, 7 de janeiro de 2025

"Sorri 2" é um dos grandes filmes de terror de 2024 com os seus sorrisos traumáticos, arrepiantes e perturbadores

 

Ao longo de 2024, os amantes de terror têm sido presenteados com várias produções deste género e muitas delas surpreendentes. Sorri 2 é um terror psicológico cheio de suspense que estreou recentemente, tendo sido realizado e escrito por Parker Finn. E é protagonizado pela cantora e atriz britânica Naomi Scott.  

Desta vez prestes a embarcar numa nova digressão mundial, a sensação pop mundial Skye Riley (Naomi Scott) começa a experienciar acontecimentos cada vez mais aterradores e inexplicáveis. Subjugada pela escalada de horrores e pelas pressões da fama, Skye é forçada a enfrentar o seu passado sombrio para recuperar o controlo da sua vida antes que esta se descontrole.

Já imaginaram como seria ser vítima de uma maldição de uma entidade sobrenatural, que se alimenta de traumas e se manifesta através de um sorriso maléfico? E ainda, para mais quando esse alvo é uma figura mediática, cujos passos estão constantemente a serem vigiados?

Foi isso que aconteceu com Skye Riley, uma artista sensação do universo pop que após ter passado por uma fase complicada de vícios em álcool e drogas, o pior ainda estava para vir. O seu verdadeiro pesadelo estava prestes a começar.

Divulgação: NOS Audiovisuais

Sorri 2 é uma trama de terror psicológico bem sinistra e obscura que possui um nível de criatividade bastante acentuada, sendo ainda repleto de tensão, manipulação e mistério. Mas, sem nunca esquecer do seu próprio elemento de terror que deixa o espetador perplexo e até assustado, caso isso pudesse vir a suceder na vida real. O ritmo da narrativa em si é lento, onde vai criando todos os ingredientes necessários para cumprir com o seu objetivo final. Enquanto os efeitos visuais, especiais e sonoros trazem um ambiente intenso a cada uma das cenas mais perturbadoras e sangrentas.

De uma certa forma, isto acaba por ser um tipo de teste à personagem principal em relação à sua sanidade mental. Pois chega a um ponto em que a pessoa não consegue distinguir a realidade da alucinação, levando algumas vezes, a um colapso mental extremo. E neste caso, ainda juntando isso ao lago negro da fama, acaba por se vir a tornar mais grave.

Divulgação: NOS Audiovisuais

Naomi Scott faz um ótimo desempenho desta protagonista, onde tem a oportunidade de explorar diversas camadas da sua vulnerabilidade e da falta de controlo existente na sua própria mente. E também existe tempo para termos uma noção de como poderá ser o dia a dia de uma estrela pop e como lida com a fama, sejam quais forem as adversidades que estejam a ocorrer no momento.

No elenco também temos Ray Nicholson no papel de Paul Hudson, o namorado da personagem principal que teve uma prestação convincente, mas que infelizmente teve pouco tempo em cena.

Por isso, num geral esta é daquelas produções inquietantes que consegue manter o público prendido ao ecrã com a sua inovação e devido a esta viagem perigosa que tem a capacidade de testar a mente de qualquer um, e até levar a consequências totalmente devastadoras e por vezes, fatais. Assim, Sorri 2 com os seus sorrisos traumáticos, arrepiantes e perturbadores pode ser definido como um dos grandes filmes de terror de 2024!