O
filme de aventura designado por Enola Holmes estreou no passado dia 23 de
Setembro na plataforma da Netflix, tendo sido produzido e protagonizado pela
atriz, Millie Bobby Brown. Com produção da Legendary Pictures, realização de
Harry Bradbeer e escrito por Jack Thorne, esta história de cerca de 2 horas é
baseada na série de livros de mistério da personagem de Enola Holmes, de Nancy
Springer publicados a partir de 2006 (um total de seis livros), em que neste
caso designa-se por O Caso do Marquês Desaparecido.
Em
1884, Enola Holmes (Milly Bobby Brown) é uma jovem que sempre viveu no campo com a sua mãe, onde
aprendeu temas desde literatura, ciência, desporto e até exercícios
fundamentais para a sua sobrevivência, seja a nível físico e psicológico. No
dia do seu 16º aniversário, a sua mãe desaparece e deixa-lhe apenas alguns
presentes com enigmas por resolver e por isso, Enola resolve pedir ajuda aos
seus irmãos Mycroft (Sam Claflin) e Sherlock (Henry Cavil) neste caso de investigação, mas eles estão mais
interessados em enviá-la para um colégio interno para que tenha uma educação
adequada e digna para uma mulher. Enola resolve fugir para Londres e pôr em
prática o seu plano para resolver o mistério do desaparecimento da sua mãe, mas
não será uma tarefa fácil de se concretizar, pois a sua vida irá mudar, com um
caminho cheio de aventuras, enigmas e desafios, onde irá conhecer pessoas que
poderão fazer toda a diferença para alcançar o seu objetivo.
O
elenco é constituído por Millie Bobby Brown (Enola Holmes), Sam Claflin
(Mycroft Holmes), Henry Cavil (Sherlock Holmes), Helena Bonham Carter (Eudoria
Holmes), Louis Partridge (Lord Tewkesbury), Fiona Shaw (Miss Harrison), Adeel
Akhtar (Lestrade), Frances de la Tour (The Dowager), Susie Wokoma (Edith) e
Burn Gorman (Linthorn).

Quem
não se lembra das histórias do enigmático Sherlock Holmes, escritas por Arthur
Conan Doyle? Esta é uma história que conta as aventuras da irmã mais nova do
detetive sobredotado e de Mycroft Holmes chamada Enola Holmes, sendo que viveu
toda a sua vida na companhia da sua mãe no interior de Inglaterra, onde
ensinou-lhe várias lições que inclui tipos diferentes de literatura, tais como
Shakespeare, ciência, desporto que vai desde o ténis, o arco e flecha e
passando pelas artes marciais, como é o caso do jiu-jitsu, e também exercícios
que ajudassem a desenvolver a sua mente, como por exemplo, o xadrez.
Na
manhã do seu 16º aniversário, a vida de Enola muda por completo quando dá conta
que a sua mãe desapareceu misteriosamente, sem razão aparente, mas deixa-lhe
dinheiro para que ela possa desenrascar-se sozinha. Será que Enola terá pela
frente um mistério satisfatório para resolver, com a ajuda dos seus irmãos,
Sherlock e Mycroft? O regresso dos seus irmãos poderá não ser das melhores
ideias para Enola, pois pelos vistos eles preocupam-se mais com a reputação do
que com aquilo que realmente importa, sendo que nem tudo corre como o previsto.
Infelizmente, Mycroft e Sherlock querem mandá-la para uma escola de etiqueta
para ter uma educação decente e própria para uma jovem desta época tornar-se
numa mulher digna que seja aceite pela sociedade e assim, ter possibilidades de
encontrar um bom marido.

Eudoria
Holmes não é uma mãe típica como as outras e é fascinada por jogos de palavras,
em que aproveitou para dar o nome de Enola com um significado específico, pois
se colocarmos o nome da sua filha ao contrário temos Alone (sozinha, em
português). Ela tinha a sua maneira de fazer as coisas, principalmente no que
dizia respeito à educação de Enola, mas será que partilhava tudo com a filha ou
tem alguns segredos a esconder?
Eudoria
é uma mulher excêntrica e nada convencional que está determinada a criar a
filha, do modo que acredita que seja o melhor para ela, por isso, ensina-lhe
lições que tornam-se fundamentais para colocar na sua rotina e na sua vida nova
por uma Londres antiga e estas vão sendo mostradas em formato de flashbacks, em
alturas que Enola realmente precisa de se recordar.

Enola
Holmes é uma jovem inocente, extraordinária, inteligente, especial e com um bom
coração, cujo objetivo é tornar-se numa pessoa independente e seguir com a sua
vida, fazendo as suas próprias escolhas, encontrando o seu caminho, a sua
liberdade e o seu propósito e assim ser responsável pelo seu próprio futuro,
seguindo os conselhos que foram dados pela sua mãe, nos últimos anos.
Ela
é a filha mais nova da família Holmes, inteligente, resistente e com um talento
nato para a investigação, tal como o seu irmão, Sherlock, mas será que ela irá
superar as habilidades dele? Esta jovem quer criar o seu próprio caminho e quem
sabe, tornar-se numa detetive privada, tal como o seu irmão.

Enola
foi criada pela sua mãe no campo já que tinha perdido o seu pai quando era
criança e longe dos seus irmãos. Não teve uma educação tradicional, ao
contrário de Sherlock e Mycroft, por isso, ela sempre cresceu de uma forma
livre, sem qualquer tipo de preocupações, tendo uma ligação muito forte com a
sua progenitora que ensinou-a a ser independente e outras coisas, que nada
tinha a ver com as obrigações para as mulheres daquela altura.
O
mundo de Enola sofre uma reviravolta quando a sua mãe desaparece
misteriosamente e por isso, ela quer descobrir o que realmente aconteceu com a
pessoa mais importante da sua vida, mas será que esta teve razões suficientes
para ter desaparecido, sem deixar qualquer tipo de rasto que seja evidente?

Esta
jovem tem uma personalidade forte e corajosa, mas com algumas atitudes
arrogantes e rebeldes, em que parece fazer parte da sua família. Para além de
querer fazer a diferença no mundo em que vive, ela também quer criar a sua
própria identidade, mesmo que os seus irmãos queiram definir o seu futuro e
torna-la numa boa esposa, Enola já planeou exatamente aquilo que quer fazer,
mas não será fácil enfrentar o mundo real e os seus perigos. Será que Enola vai
conseguir encaixar-se numa sociedade que nada tem a ver com a sua
personalidade?
Enola
é uma personagem interessante, esperta, cativante, carismática, mas um pouco
desajeitada que tem uma missão a cumprir, mas ao mesmo tempo, quer ajudar as
pessoas, sendo que ela é a narradora da sua própria história, em que conta
aquilo que é fundamental o espetador saber, como por exemplo, apresentar a sua
família e chega a um ponto que torna-se realmente dinâmico, em que ela fala
diretamente com o público, dando a oportunidade de participar na sua aventura,
acabando por criar uma empatia e um relacionamento com o mesmo.

Após
ter sido obrigada a ir para uma escola de etiquetas pelos seus irmãos, Enola
resolve fugir para Londres e ir procurar pela sua mãe, seguindo as pistas que a
mesma lhe deixou. Durante a sua fuga, ela tenta criar pistas falsas para que
não seja encontrada tão facilmente, mas será que os seus irmãos vão ser enganados?
Enola
é perspicaz e gosta muito de disfarces, principalmente para enganar quem
realmente está à sua procura, por isso vestir-se de rapaz acaba por tornar-se
num hábito para ela e até tem a sua piada, principalmente quando ela pede a
rapazes para trocarem de roupa com ela.

Durante
a sua jornada, Enola vai passar por um período de amadurecimento e pela
primeira vez vai conseguir pôr em prática, tudo aquilo que aprendeu com a sua
mãe e isso é notório, principalmente quando são partilhados flashbacks entre as
duas sobre lições que podem ajudar, em determinadas situações que esta jovem
vai enfrentando e por isso, temos a oportunidade de ver uma boa evolução nesta
personagem e a forma como ela lida com a civilização. Para além disso, ela vai
desvendando mistérios, onde todos os detalhes da sua personalidade vão sendo
mostrados, de acordo com as circunstâncias que vão acontecendo.
A
primeira experiência de Enola com o mundo real vai ser um grande desafio, pois
ela teve uma educação diferente, relativamente aos seus irmãos e não gosta de
ver injustiças, mas será que ela está preparada para enfrentar sozinha a
sociedade e uma vida independente, numa cidade atribulada, como Londres?

Esta
é uma sociedade, onde as mulheres independentes e inteligentes não são
valorizadas, mas são tratadas como meras pessoas que só servem para servir os
outros. Por isso, as pessoas têm determinadas expetativas para com ela, mas esta
não dá importância e faz aquilo que realmente importa que é seguir o caminho
que quer, transmitindo assim, uma mensagem relevante para aqueles que estão a
acompanhar a sua jornada.


Durante
o seu período de fuga, Enola é interrompida da sua principal missão, quando
conhece num comboio, um jovem aristocrata que é fugitivo, mas que apresenta-se
como sendo o Visconde Tewkesbury, Marquês de Basilwether. Este está envolvido
num mistério que pode revelar uma conspiração e fazer toda a diferença no
futuro da política britânica, apesar de não se saber inicialmente, as razões
pelo qual ele saiu da sua mansão. Sem dúvida que a vida destes jovens vai
mudar, em que Enola deseja salvar este rapaz que corre perigo de vida e a
química partilhada entre esta dupla começa a tornar-se bem evidente.
Apesar
de ter determinados privilégios, o lorde Tewksbury resolve fugir da sua família
controladora que simplesmente quer que ele torne-se num soldado e não seguir os
passos do seu pai que já tinha falecido, que era fazer parte da Câmara de
Lordes Inglesa e apoiar uma reforma eleitoral e permitir que analfabetos e
mulheres tivessem a possibilidade de votar. Ao mesmo tempo ele é alvo de um
assassino misterioso que quer eliminá-lo a todo o custo, sem qualquer tipo de
justificação, mas será que é por razões políticas? Assim, Enola desvia-se da
sua missão principal e tenta resolver este mistério através da interpretação de
pistas e criação de planos que podem ajudar a resolver o caso que pode alterar
o rumo da história política em Inglaterra.
Millie
Bobby Brown interpreta Enola Holmes de um modo impressionante, real, natural e
único, mostrando o seu potencial como atriz. Vemos um lado bem diferente no
trabalho desta atriz que é fazer comédia e até fez com eficácia e com um tom
meramente sarcástico. Este é um trabalho mais maduro em comparação com os
anteriores, onde ela interpreta com naturalidade e descontração e tem muito boa
performance, conseguindo assim, criar empatia com o espetador.

Também
vemos uma ligeira vulnerabilidade de Enola, principalmente numa cena que ela
partilha com o seu irmão Mycroft. Segundo Mycroft, ela é uma criança selvagem
que não tem boas maneiras e que precisa de ser educada como deve ser, por isso,
coloca-la num internato é a única solução possível para que torne-se numa
mulher que não o envergonhe.
Mycroft
é um tipo de vilão, por ser uma pessoa cruel, irritante e interesseiro, tendo
constantemente mau humor, apesar de existirem outras personagens que também
funcionam como antagonistas. É uma personagem ligeiramente idiota e arrogante,
mas muito bem interpretada pelo seu ator que faz com que o espetador tenha
vontade de o odiar, devido aos seus atos.


Neste
filme é apresentado uma versão do Sherlock Holmes bem diferente daquilo que
estamos habituados a ver, pois é uma pessoa com empatia e até partilha as suas
emoções com a protagonista da história. Não tem urgência em
resolver o caso da matriarca da família Holmes, mas está mais preocupado com
Enola, mas é sem dúvida, um Sherlock charmoso que poderia ter aparecido muito
mais.
Sherlock
é um pouco indiferente aquilo que se passa à sua volta, mas acaba por dar-lhe
lições vitais a Enola que ela acaba por lembrar-se nas alturas certas. Eu
gostava de ver a Enola a unir-se ao seu seu irmão Sherlock em algum caso que
seja misterioso, de tal forma que só esta dupla de irmãos consegue resolver,
pois eu achei que a química entre eles foi muito interessante de se acompanhar
e tenho pena de não ter havido mais cenas partilhadas entre estas duas
personagens e sinceramente, eu espero que aconteça caso seja feita uma
continuação do filme.

Uma
das cenas que mais gostei deste filme foi sem dúvida, um dos momentos em que a
Enola fala diretamente com a câmera, dando a oportunidade ao público de fazer
parte da sua equipa e ajudá-la na sua investigação, criando assim uma ótima
interação com o espetador, pois vemos a história de acordo com a perspetiva, os
pensamentos da protagonista e aprendizagens respetivas, tornando-se assim, numa
visão bem única. Assim, o espetador acaba por ser cúmplice da protagonista,
devido à narração completamente confortável e descontraída perante a câmara.
Neste
drama, o tema do feminismo é abordado de um modo bem leve, por ser indicado a
um público mais jovem, sendo que não se sente grande intensidade quando o mesmo
é referido, apesar de ter sido uma boa ideia para ser implementada na história.

O
foco da história é no desenvolvimento desta jovem solitária que estava
habituada a uma vida de campo cheia de liberdade, experiências de química para
fazer juntamente com a sua mãe, livros para ler ou mesmo aulas de artes
marciais e sendo contada de acordo com uma perspetiva feminina e bem peculiar,
mas podendo ser constituído por alguns momentos de controvérsia.
Esta
história inicia-se em Ferndell e é dividida em pelo menos dois mistérios, sendo
que um deles não é muito bem explicado e é constituída por um ambiente sujo que
representa uma Londres do século XIX que mostra ligeiramente a sociedade mais
sofisticada e aquela com menos condições para sobreviver. É um filme de época
plenamente britânico pela forma como está todo construído e desenvolvido e pelo
sotaque tão caraterístico em que mostra como funciona a sociedade britânica
fundamentalista do século XIX.

Enola
é uma aventura dinâmica e cheia de mistério que tem uma história entusiasmante
e repleta de energia criada com algumas características dos dias atuais, apesar
de desenrolar-se numa época bem diferente, tendo uma boa montagem, edição e
cinematografia, mas acima de tudo, as vistas que representam a época em que se
insere a história. Também existem momentos que sente-se uma ligeira magia na
forma como a história foi decorrendo, principalmente pela escolha da banda
sonora respetiva que foi da responsabilidade de Daniel Pemberton e também pelo
próprio elenco que foi bem escolhido.
Este
filme contém uma história repleta de pistas para decifrar e de ação feita a um
bom ritmo que até pode incluir uns movimentos de artes marciais, esta produção
torna-se ainda mais como uma boa fonte de entretenimento, principalmente numa
fase que estamos a passar menos positiva. A fotografia está mesmo muito bem
escolhida, principalmente nas vistas, seja no campo ou mesmo na cidade de
Londres, com cenários e com figurinos muito bem adequados, representando assim,
a época do século XIX.

Quando
eu vi o trailer deste filme pela primeira vez fiquei com boas expetativas e
acima de tudo, curiosa com o desenrolar do mesmo, sendo que esteve ao nível do
que eu esperava, mas que desiludiu ligeiramente em algumas partes, mas também
me surpreendeu-me, principalmente quando a personalidade da Enola Holmes e
alguns momentos da sua história faz-me lembrar outra personagem de uma série
transmitida na Netflix chamada Anne with an E que também é baseada numa série
de livros das aventuras de Anne of Green Cables, mas neste caso, da autoria de
Lucy Maud Montgomery. É verdade, a personalidade da Enola Holmes tem algumas
semelhanças com a de Anne Shirley que faz parte de uma das séries que ficou sem
dúvida, na minha memória. Seja por cada uma destas histórias decorrer em épocas
mais conservadoras, na forma como cada uma delas vêem o mundo à sua volta ou
mesmo na maneira de ser de cada uma delas e para além disso, ambas cativam o
espetador.

Relativamente
aos pontos menos positivos, infelizmente, eu acho que houve uma perda de foco
em determinadas partes do filme, chegando a um ponto de que pode existir
ligeiras falhas no argumento e a personagem de Helena Bonham Carter não aparece
muito, mas acredito que possa ser desenvolvido mais a sua personagem caso haja
uma sequência do filme e aproveitem assim para fazerem algumas melhorias.
O
final deste filme, eu consigo descrever em meras duas palavras, inesperado e
estranho, mas quem for assistir ao filme vai perceber o que eu quero dizer e
questionando-se porque foi feita uma decisão daquele tipo.

Enola
é dirigido para um público mais jovem, mas não deixa de ser uma história
simples e divertida para toda a família, sendo que contém um humor inglês
sofisticado misturado com uma aventura empolgante e tendo no seu final, um
genérico criativo e bonito de se ver. Para além disso, também tem enigmas que
estão prontos para serem resolvidos, tanto pela protagonista como pelo público,
onde as pistas que são deixadas na história são divertidas de se descobrir que
vão depois ser essenciais para desvendar, um determinado mistério.
Este
filme é divertido, repleto de mistério e de aventura e com reviravoltas pelo
caminho e descobertas interessantes, com boas cenas de ação, edições bem
elaboradas e efeitos especiais bem implementados. Enola mostra que é possível
fazer tudo o que a pessoa deseja e sonha e tenta mudar o mundo, tornando-se
assim, numa forma interessante de entreter e de animar o público e para além
disso, estamos a acompanhar um lado bem diferente dos contos clássicos de
Sherlock Holmes.
Agora
fica a pergunta, será que vai acontecer uma nova saga sobre as aventuras desta
jovem investigadora?